O Canto da Fênix escrita por AnnaBrito190


Capítulo 8
Sol Nascente IV




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Um jovem estava parado no meio do pátrio central da residência interna, seu leque balançava suavemente fazendo seu cabelo dançar. Os discípulos internos que passavam o cumprimentando respeitosamente. Ao abrir a porta de seu quarto Azizi se deparou com a cena e congelou.

Ao ouvir a movimentação o jovem se voltou para Azizi.

“Irmão mais velho!” Vendo Azizi saindo do quarto ele sorriu fazendo seus olhos se curvaram feito lua.

“Irmãozinho” Azizi se aproximou. “Está tudo bem?”

“Sim, sim. Eu ouvi dizer que você se inscreveu na turma do mestre em ervas”

“Já faz uma semana” Azizi levantou uma sobrancelha um pouco divertido.

Ravi sorriu sem jeito e mexeu em seu cabelo. “Bem, eu estou na mesma turma que você”

“Oh. Entendo. Você está indo para lá?”

“Sim”

“Faz tempo que não te vejo”

“Meu pai me fez entrar em cultivo isolado. Eu não estava me dedicando direito, segundo ele” Ravi resmungou e fez beicinho no final.

Ravi parecia estar pensando em algo quando seus olhos brilharam como se tivesse tido uma grande descoberta.

“Sentiu a minha falta, né irmão mais velho?”  O sorriso de Ravi era tão radiante quanto o nascer do sol no vale. Ravi se inclinou para Azizi e deu algumas batidinhas no ombro dele com o leque fechado.

Azizi apenas sorriu para Ravi, não havia muito o que dizer. Depois de ter um bolinho grudento envolta dele por um dia foi realmente estranho passar uma semana sem um sinal de vida, afinal aquele bolinho parecia muito interessado para simplesmente desistir do nada.

“Tudo bem, não precisa dizer nada. Eu sabia que sentiria a minha falta, eu também senti a sua, mesmo que você não fale muito. Sabe, não é muito divertido ficar em cultivo isolado. Bom, pelo menos eu cheguei ao estágio final da fundação. Com a minha idade era o que o meu pai esperava, o irmão mais velho Hirun e a irmã mais velha Violeta tiveram grandes feitos quando tinham a minha idade”

Azizi olhou para Ravi e franziu o cenho, ele ainda tinha a mesma impressão de que o outro deveria ser da sua faixa etária. Tal pressão seria demais para alguém muito novo, certo? Não importa quantos talentos internos a seita produziu, pressionar um discípulo assim não parecia certo. Além do mais, cria inimizade, inveja e competitividade, o que dificulta o senso de coletivo e o trabalho interno e externo.

“Seria indiscrição lhe perguntar a sua idade, irmãozinho?”

“Oh, certo. Eu não te disse. Vou fazer dezesseis antes do festival de outono, em breve teremos a mesma idade”

“Hm” Azizi apenas concordou, olhando para a paisagem ele guardou para si o comentário que em breve, no inverno ele fazia dezessete.

Depois de um tempo Ravi abriu o leque e bateu a ponta no nariz, era como se estivesse refletindo sobre algo.

“Alias irmão mais velho, qual é o seu nível de cultivo? Eu não consegui identificar quando nos conhecemos, deve ser acima do meu, né?”

Azizi se virou para Ravi e lembrou do dia em que se conheceram e suspirou, aquele irmãozinho sempre tinha novas perguntas na ponta da língua e só ficava satisfeito quando pelo menos uma era respondida.

“Na época sim, agora estamos no mesmo nível”

“Oh, é verdade. Estranho, naquele dia eu realmente não consegui ver, mas a diferença não era tão grande”

“Bem, isso pode acontecer. É algo ligado a percepção espiritual, certo?”

“É, talvez o meu pai esteja certo. Eu deveria me dedicar mais.”

Azizi apertou os lábios e olhou para baixo ao escutar Ravi falando com um tom de culpa, ele não concordava com tal conclusão, mas não poderia refutar pois só atrairia mais perguntas e atenção sobre a questão.

Os dois caminhara até o Pavilhão das Flores, no caminho Ravi contou que ele era filho do segundo ancião, enquanto Hirun era filho do líder da seita e Violeta veio de uma grande família da região chamada Buri e era afilhada e discípula direta do segundo ancião.

“Nós crescemos juntos como irmãos de sangue, mas ultimamente o irmão mais velho Hirun sempre pega pesado comigo. Às vezes eu me pergunto se ele realmente me vê como irmão”

Azizi apenas sorria e acenava com a cabeça ocasionalmente, ele não tinha muito o que dizer e se sentia um pouco deslocado já que não tinha experiência com esse tipo de relação. Até os dez todos o odiavam e depois disso sempre foi o mestre e ele, isso era tudo que ele conhecia e essa era a única relação em que ele se apoiava e confiava.

Durante aquela semana Azizi estava no entorno de Violeta e Hirun, mas não falava muito, na maioria das vezes ele apenas escutava as conversas e os acompanhava durante as refeições, sendo assim a breve experiencia que teve não era uma base.

O Pavilhão das Flores ficava no meio de um jardim e por conta da variedade de flores e arvores estava sempre florido. O Mestre das Ervas gostava de dar aula ali durante a primavera e verão, pois o local fornecia matéria prima fresca e de qualidade para as aulas de botânica, além de ser bem arejado. De qualquer forma que se olhasse para essa escolha não havia desvantagem, até a localização era boa, o pavilhão não ficava muito longe do campo de ervas dedicado a estudos e da edificação onde ocorria as aulas durante o outono e inverno.

Os alunos já estavam chegando e tomando os seus lugares no pavilhão, Azizi e Ravi não estavam com pressa, pois ainda estavam adiantados. Próximo à entrada do pavilhão eles encontraram com o mestre.

“Tio”

“Professor”

Ravi e Azizi o saudaram ao mesmo tempo. O mestre sorriu ao ver Ravi ao lado de Azizi.

“Finalmente apareceu, criança. O seu pai deve estar orgulhoso, já alcançou o último estágio da fundação! Não fique brincando por aí o tempo todo, continue diligente no seu cultivo”

 “Sim, tio.” Ravi corou e passou a mão na cabeça sem graça, vendo Ravi concordar ele ficou satisfeito e abriu mais ainda o sorriso.

“Nossa seita produz inúmeros talentos” O mestre comentou orgulhoso, então se virou para a entrada e torceu os lábios enquanto olhava os alunos que se acomodavam no pavilhão “Esqueci de avisar que hoje a aula seria no campo de ervas. Que problemático, todos já deveriam estar lá, vamos perder tempo”

“Tio, não temos um monitor?”

“Sim, sim. Por isso que é tão problemático, se ele não tivesse se ferido ao descer a montanha vocês teriam sido notificados sobre a aula. Ele que lembrava dessas coisas, mas agora nem acorda”

“É tão grave assim, tio?”

O mestre olhou para Ravi e comentou que o discípulo dele ficaria bem, então começou a enxotar Ravi.

“Vá, vá criança. Não tem trabalho para fazer?”

“Vamos primeiro então, professor” Azizi anunciou enquanto o saudava com as mãos em concha, Ravi seguiu a saudação e seguiu Azizi para o campo de ervas.

Enquanto caminhavam a paisagem inebriante das flores ficou para trás junto com o perfume suave, o caminho levava para a parte lateral direita de trás da seita, subindo um pouco a montanha. Em poucos minutos a paisagem se tornou um belo campo com diversos tons de verde e pontos coloridos. À primeira vista ficava implícito que não era apenas um campo de ervas, o nome era apenas simbólico. Na metade do terreno havia diversas plantas organizadas por tipo e níveis, na outra porção havia apenas terra.

O campo era como um grande laboratório a céu aberto, ali as mãos inexperientes estavam liberadas para participar de cada etapa sem ter medo, ao contrário do jardim do Pavilhão das Flores, onde os alunos só tinham permissão para retirar pequenas porções de amostras para estudo sob supervisão.

Tanto as plantas medicinais comuns e as espirituais possuem níveis de 1 a 9, quanto maior o nível mais raro são. A seita possuía alguns exemplares raros, mas com o acesso restrito os discípulos apenas podiam vê-los em livros. No campo de ervas o maior nível encontrado era o 7, pode-se dizer que os discípulos da seita Sol Nascente certamente estavam colhendo a boa fortuna que semearam nas outras vidas, pois boa parte das outras seitas não poderiam se dar ao luxo de um sistema como esse.

Ravi e Azizi começaram pelas plantas espirituais do nível 1 ao 5, verificando a taxa de crescimento e a qualidade, depois verificaram as plantas medicinais. Separaram sementes, prepararam a terra, plantaram, regaram e colheram todas as plantas maduras do espaço designado para então separar as que serviam para refino de pílulas das que serviam para outros usos, cada categoria com sua subcategoria e níveis. Tudo deveria ser devidamente catalogado, os relatórios deveriam conter as descrições de cada lote.

No final levaram o que foi colhido para o armazém e retiraram algumas unidades para estudo. Azizi escolheu a flor de fogo e Ravi a erva-dragão. A flor de fogo era de um vermelho intenso das pontas das pétalas até as raízes, despontando bravamente do solo e absorvendo a energia do elemento fogo que havia no local. Já a erva dragão se situava no elemento oposto, era uma erva naturalmente fria e ligada ao elemento água, sua taxa de crescimento apresentava uma alta durante o alto inverno.

Os dois entregaram seus relatórios ao mestre e guardaram as unidades escolhidas em suas bolsas de armazenamento, Azizi não pode deixar de pensar que seria um belo desafio se ele tentasse combinar as duas plantas em um remédio.

Já passava da quarta hora da tarde quando a turma foi dispensada com a tarefa de escrever relatórios sobre os experimentos que fariam com as plantas escolhidas. Azizi decidiu acompanhar Ravi até certa parte do caminho que levava aos dormitórios, o ancião Cáspia deveria sair do cultivo isolado naquele dia, então Azizi planejava ir ver o seu mestre.

Violeta estava treinando em uma arena que se localizava ao longo do caminho para os dormitórios internos quando avistou Azizi e Ravi passando. Ela estalou a língua ao perceber que Ravi esqueceu que eles tinham combinado de se encontrar. Devido a sua distração a espada de sua dupla quase a acertou, o chicote de Violeta estalou no ar bloqueando o ataque nos últimos segundos.

Afastando-se Violeta recolheu o seu chicote e se desculpou com sua dupla. Ela correu e alcançou e parou Azizi e Ravi antes que ficassem fora de vista.

“Irmãozinho não se lembra da sua irmã mais velha?” Violeta olho para Ravi com olhos de filhote abandonado enquanto falava, mas antes que Ravi pudesse reagir ela o questionou sobre Azizi que permanecia calado.

“Ele falou mais que dez frases hoje?” Os olhos de Violeta brilharam de curiosidade, ela achava aquele irmãozinho extremamente fofo, no primeiro dia ela gostou dele, achava que era a peça que complementava o trio.

“Sim, porque?”

“Aí, esse irmãozinho é realmente tendencioso. Antes de você aparecer ele não falava mais do que dez frases no dia. Isso não é justo, faz parecer que o intimidamos”

“Como ele não gostaria mais de mim? Certamente sou o mais charmoso entre nós três” Ravi contou vantagem provocando Violeta.

Um brilho de divertimento passou nos olhos de Violeta e ela se aproximou de Azizi com um sorriso duvidoso “Irmãozinho não me diga que você se apaixonou por esse rostinho novinho. Esse rostinho de bebê não se compara ao do irmão mais velho, garanto que o irmão mais velho Hirun é bem melhor”

“Quê?” Azizi olhou para Violeta confuso, então se perguntou o que havia perdido.

Violeta começou a rir enquanto Azizi permanecia confuso e Ravi corava.

“Irmãozinho Azizi, só estou brincando com você”

“Sênior” Azizi percebeu a presença de Hirun e se apressou em saudá-lo. Violeta deu um sobressalto de surpresa, só os deuses sabiam quando ele havia chegado.

“Oh. Você escutou?” Violeta perguntou sem jeito.

“Sim” Os olhos de Hirun não se desviavam de Ravi que estava estranhamente quieto.

Os olhos de Azizi dançaram entre Violeta, Hirun e Ravi. Diante do clima estranho que havia se instaurado entre eles Azizi percebeu que estar entre os três poderia ser bem problemático.


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Notas finais do capítulo

O que acham do desenvolvimento de Azizi e da relação em formação entre os quatro?
Sobre o enredo já adianto que a fase tranquila na seita está perto do fim.



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