O Canto da Fênix escrita por AnnaBrito190


Capítulo 9
Sol Nascente V


Notas iniciais do capítulo

Sobre a falta de atualização: minhas aulas na faculdade voltaram e tive um grande bloqueio.
Provavelmente vai ter semanas em que não conseguirei postar por conta do volume de trabalhos da faculdade.



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Azizi desejou não estar lá naquele momento, ele repetiu para si mesmo que deveria ter se despedido anteriormente, agora a situação estava estranhamente constrangedora. Os olhos de Hirun não deixavam Ravi ao mesmo tempo em que Violeta observava Hirun de forma nervosa e Ravi tentava disfarçar trocando de assunto.

“Vou ter que me despedir primeiro, tenho que encontrar o meu mestre” Azizi decidiu não continuar no meio e se apressar.

“Certo, certo. Nós já estamos indo também, nos vemos mais tarde”

Violeta se despediu de Azizi e começou a arrastar Ravi junto com ela, Hirun cumprimentou Azizi com as mãos em concha e seguiu os outros dois em silêncio. Azizi suspirou de alívio e desejou não estar perto quando algo assim acontecesse novamente.

A residência do terceiro ancião era discreta, Azizi foi capaz de avistá-la após atravessar um caminho ladeado por um bambuzal. Sorrindo ele pensou que a residência realmente combinava com o seu mestre.

Como se tivesse sentido a aproximação de Azizi o terceiro ancião abriu a porta principal e abriu um sorriso gentil para Azizi.

“Mestre” Azizi o saudou com as mãos em concha e se curvando.

“Venha, tenho algo para você” Erasto envolveu Azizi com um braço e o conduziu para dentro. “Nem se passaram duas semanas e você já cresceu”

Eles atravessaram um pátio composto de um grande lago artificial e ilhas de jardim através de uma ponte e se sentaram na varanda. Azizi se apressou em preparar o chá e serviu para o seu mestre. Erasto assistiu os movimentos ágeis de Azizi seguindo cada etapa e aprovou a diligência de seu afiliado e discípulo silenciosamente.

Após beber um pouco do chá preto Erasto pousou a xicara na mesa.

“Espero que não culpe esse mestre por não poder estar do seu lado durante esses dias”

“Não o faço, o mestre tem várias coisas para resolver agora que voltou para a seita”

“Eu consegui um pouco de tempo dizendo que estaria em cultivo de portas fechadas, não foi o suficiente.” Erasto suspirou “Os assuntos da seita não podem esperar por muito tempo, mas esse mestre não vai esquecer de você, certo?”

“Certo”

“O que tem feito? Alguém te causou problemas?”

Azizi obedientemente relatou os seus passos e progresso que teve na aula do Mestre em Ervas, no final contou sobre Hirun, Violeta e Ravi.

Olhando para a Azizi Erasto estalou a língua antes de comentar “Por que parece que estou a deixar porcos comerem o meu repolho? Realmente é questão de tempo para os filhos crescerem as suas asas”

Azizi sorriu e sentiu que tinha algo de errado com o comentário do repolho, parecia que ele era uma jovem que o pai relutava em deixar que pedissem a sua mão. “Não se preocupe, mestre. Mesmo que minhas asas cresçam estarei ao seu lado.”

“Essa minha criança sabe realmente fazer discursos doces” Erasto riu e pensou consigo mesmo que Azizi estava crescendo rápido, os anos estavam passando rápido demais.

Azizi desamarrou o pingente que estava pendurado em seu cinto e o colocou na mesa.

“Mestre, o sênior Hirun me entregou isso e disse que é necessário utilizar a força da alma”

“É um bom pedaço de jade e conforme você já adivinhou, não é tão simples. Ele deve ter dito que apenas discípulos diretos internos podem ter um desses?”

“Sim”

“Esse jade tem uma outra função além identificar. Quando você imprime a sua força da alma uma matriz de proteção é ativada, o pingente se quebra quando a força da alma se dissipa.” Erasto encarou Azizi e ponderou antes de completar “Se você usar a sua força da alma o que vai estar escrito é o seu nome de família”

“Nome de família?” Azizi olhou para o pingente e pareceu se perder, as lembranças da vila onde cresceu, de seu avô o amaldiçoado e expulsando preencheram a sua mente. Família?

“Você não precisa fazer isso” Erasto o olhou com uma expressão afável, ele só havia perguntado a Azizi uma vez sobre a sua família e a criança respondeu que os pais morreram, depois disso ele nunca mais o questionou.

Erasto retirou um livro de registros e colocou em frente à Azizi. “Mas se quiser espero que considere isso”

Azizi olhou para os caracteres desenhados na capa do livro e suas mãos tremeram, era o registro familiar do terceiro ancião. Os dedos de Azizi acariciaram a capa por alguns segundos então abriram o livro com delicadeza, após algumas páginas Azizi congelou ao ler os caracteres. No topo da página estava:

Azizi Cáspia.

Filiação: Erasto Cáspia.

As bordas dos olhos de Azizi ficaram vermelhas, ele tentou se conter, mas suas mãos e olhos o denunciavam. Ele nunca imaginou que pudesse significar tanto assim para uma pessoa a ponto de ser incluído em um registro familiar.

“Espero que você possa aceitar”

“Sim” Azizi respondeu com a voz vacilante. A muito tempo ele considerava que onde Erasto estava era o seu lar, o considerava com o seu pai e apesar de Erasto muitas vezes o tratar com indulgência como se faz com um filho mais novo Azizi nunca ultrapassou a linha. Ele sabia que as pessoas que eram levadas como filhos adotivos / afilhados não entravam no registro familiar, afinal, eram pessoas de fora, não faziam parte da linhagem. Muitas vezes essas pessoas na realidade não passavam de subordinados nas casas das famílias. Afilhado normalmente era uma designação para mão de trabalho leal e não paga.

Erasto foi até Azizi e o abraçou, ele sabia muito bem que apesar de todos aqueles anos, apesar de Azizi confiar e se apoiar nele agora, ainda existia um nó no coração de Azizi, um nó que era difícil de desatar e tinha sido criado pelo que quer que tenha vivenciado antes de o encontrar.

Azizi aceitou o abraçou e logo as lágrimas não puderam mais ser contidas pela represa. Aquelas sombras no coração dele estavam sendo desfeitas, os sentimentos e pensamentos de falta de valor, de ser descartável, um problema ambulante, a falta de confiança, o medo constante tudo estava sendo dissolvido aos poucos por Erasto.

“Essa é a sua casa, você vai ser um dos pilares que vai guiar a seita para frente junto com os seus novos três irmãos.”

Azizi se afastou e enxugou o rosto, olhando para as vestes de Erasto ficou com vergonha por ter molhado elas com lágrimas.

“Sim, mestre.”

“Não pode me chamar de pai?”

“Sim, pai” Azizi corou e respondeu de forma tímida, sua foz saindo em um fio. Erasto sorriu satisfeito.

Azizi segurou o pedaço de jade branco e se concentrou em direcionar sua energia espiritual para ele, do seu núcleo, passando pelos meridianos até irradiar no jade gelado e canalizar a sua força da alma para o núcleo do jade. Aos poucos os caracteres foram esculpidos no pingente de jade.

“Continue diligente nos estudos e no cultivo. Ainda não encontrei nada que possa ajudá-lo, por enquanto continue praticando a circulação e manipulação da sua energia espiritual.”

Erasto retirou do seu anel de armazenamento um conjunto de livros escrito à mão por ele sobre formações e matrizes avançadas.

“Vou testar o seu progresso em três meses”

Azizi assentiu e guardou os livros em sua bolsa de armazenamento.

“Sobre o júnior que encontrei na biblioteca. O que devo fazer?”

“Não faça nada, ele deve ter o dom da visão, porém sem um mestre para guiar não irá se desenvolver. Eu irei investigar.”

“A seita recebeu um pedido de ajuda em uma vila ao sul que foi destacado para oportunidade de aprendizado. Como o terceiro jovem mestre da seita você e meu único discípulo direto você deve acompanhar os seus irmãos mais velhos, vocês irão supervisionar os seus juniores. Eles precisam ganhar experiência, mas vocês devem intervir se ficar complicado, certo?”

“Sim”

“Dos quatro você é o que mais tem experiência externa, mas procure não se destacar. Trabalhe em equipe e aproveite para aprender com o seu irmão mais velho Hirun, a base dele é sólida e ele vem supervisionando os juniores a muitos anos.”

Erasto mandou Azizi voltar e se dedicar depois que terminou de o instruir. Parado na entrada principal o terceiro ancião ficou olhando para o caminho entre o bambuzal, ele tinha a sensação de que seis anos se passaram em um piscar de olhos. Ele já estava chegando nos seus duzentos anos, poderia dizer que já viu de tudo do mundo humano e tinha uma vasta experiência sobre o mundo do cultivo, mas toda essa experiência se tornava inútil diante da estranha condição de Azizi. Caso não haja pistas nos livros raros do clã Boreal, a última opção seria ir até o clã Iwin. Essa era a opção que deixaria Azizi exposto, a barreira de ocultação que a pulseira criava provavelmente seria inútil diante dos imortais.

Após olhar brevemente para o céu que havia escurecido Erasto ativou uma matriz de transporte e desapareceu como se fosse levado pelo sopro de um vento.

Na primeira ora após o nascer do sol os discípulos externos estavam enfileirados no pátio principal, a escolha pegou a todos desprevenidos. O sistema de escolha fez os menos confiantes tremerem como vara verde, com os corações afundando e o humor caindo como uma repentina tempestade de neve que congelava tudo.

De forma aleatória dezesseis discípulos foram escolhidos pelo quarteto de jovens mestres da seita. Alguns discípulos seniores que estavam presentes quiseram contestar a validade da posição de Azizi para poder estar escolhendo quem iria para a campanha, porém ao avistarem o pingente de jade com os caracteres Cáspia que indicavam que ele era reconhecido como filho do terceiro ancião além de ser seu discípulo direto engoliram as palavras e abaixaram a cabeça obedientemente com os seus intestinos ficando verdes de arrependimento por terem poeira nos olhos e não conseguirem reconhecer um palmo a sua frente. Pela estrutura organizacional Azizi seria sênior de qualquer um que não fosse da geração dos três grandes anciões da seita.

Divididos em grupos eles desceram o vale montados em grandes pássaros em direção à grande cidade Três Pontas. Das nuvens eles avistaram a cidade se revelar ao horizonte, com seus grandes três portões erguidos imponentemente. Largas ruas partiam de cada portão e se interconectavam em uma praça central onde ficava o edifício do governo local, os principais comércios ficavam localizados nessas três ruas principais.

Os discípulos da seita Sol Nascente aterrissaram próximo ao portão sul antes da segunda hora da tarde. Dali em diante a viagem seria a pé, a diversidade do grupo impedia a viagem em espadas, pois nem todos possuíam um nível de cultivo suficiente para a utilização a habilidade, outro ponto de impedimento era que nem todos possuíam uma espada como arma espiritual.

Ao descerem dos pássaros alguns discípulos tiveram seus ânimos levantados ao lembrarem que havia outras opções, mas Hirun logo jogou um balde de água fria neles, pois a resistência física dos discípulos também seria um ponto a ser avaliado, então matrizes de transporte e atalhos engenhosos estavam fora de questão.

As aves partiram em direção a seita e o grupo se dirigiu ao portão da cidade. Como a Seita Sol Nascente fazia negócios de forma constante na cidade os guardas os deixaram entrar sem fazer qualquer tipo de pergunta.

“Aish, eu realmente estou com fome!” Ravi exclamou com a intenção de chamar a atenção de Hirun enquanto o olhava pelo canto do olho.

Azizi sorriu discretamente e lançou um olhar para o mudo Hirun, então decidiu seguir a pequena peça de Ravi. “Seria bom encontrarmos um lugar para comermos, o restante da viagem será cansativo. Melhor aproveitar agora, certo?”

Violeta sorriu para os dois, nos olhos um brilho de cumplicidade. “Certo, certo. O que o irmãozinho diz é realmente sensato, comer uma bela refeição eleva o espírito, não irá nos prejudicar em nada”

Como líder e sênior responsável Hirun se sentiu realmente prejudicado, agora ele não tinha apelas dois, mas três irmãos que se juntavam para vencê-lo. Não querendo debater a questão de prejudicar ou não a avaliação Hirun se deu por vencido, pensando a longo prazo era só questão de ceder um passo para ganhar dois em troca posteriormente.

“Certo, escolham um lugar”

“O irmão mais velho é realmente generoso.” Ravi e Violeta exibiram o sorriso mais descarado possível, não se incomodando em agir estragado na frente dos seus juniores.

Podia-se dizer que a rua principal era barulhenta e movimentada, não havia falta de opções para qualquer tipo de negócio. Após passarem por algumas lojas o grupo escolheu um restaurante após escutarem uma propaganda barata sobre um licor de ameixa.  O jovem servente que estava fazendo a propaganda barata em frente ao restaurante os conduziu ansiosamente para dentro.

Os quatro irmãos se sentaram juntos em uma mesa separados dos juniores. Violeta e Ravi começaram a tagarelar sobre os tipos de comida regionais e bebidas. Os pratos foram servidos em pouco tempo junto com duas garrafas do famoso licor de ameixa local.

Após beber um gole do licor Hirun segurou o copo pensativo antes de falar. “Como a brisa delicada e suave do primeiro sopro do dia”  

Um pouco surpreso Azizi levantou a sobrancelha, ele não imaginava que Hirun apreciasse bebidas alcoólicas, aquele irmão mais velho normalmente tinha exalava rigidez como se condenasse os prazeres mundanos. O entusiasmo de Violeta e Ravi aumentou fazendo com que Azizi engolisse o que pensou em dizer.

Após poucos minutos Azizi se desligou da conversa e calculou mentalmente o tempo restante de viagem e começou a se perguntar sobre o pedido de ajuda em questão. A seita do Sol Nascente por ser renomada e relativamente grande possuía um extenso território, mas a vila em questão estava fora do território normalmente coberto pela seita.

O pedido de ajuda teve uma classificação baixa o suficiente para que os mestres da seita o usassem como oportunidade de aprendizado e teste para discípulos de nível baixo. Aparentemente era uma situação simples e certamente deveria haver seitas pequenas a poucas horas de viagem da vila que seriam capazes de lidar com a situação rapidamente com os seus recursos. 

Azizi titubeou por mais um tempo e suspirou percebendo que tentar decifrar a questão agora seria como dar um tiro no escuro e não levaria a nada. Receber um pedido de ajuda de um lugar tão distante não era algo usual, mas a seita nunca recusava os pedidos. Descobrir o porquê da escolha dos moradores em enviar o pedido para o vale seria questão de tempo.


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