O Canto da Fênix escrita por AnnaBrito190


Capítulo 6
Sol Nascente II




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O sol já não brilhava como no alto verão, no ar pairava a antecipação da mudança. No pátio do líder da seita Sol Nascente um discípulo estava sentado em frente a entrada do salão principal, suas vestes amarelas pareciam brilhar com o sol e alguns fios rebeldes escapavam da fita e caiam no seu rosto.

Um vento fez o cabelo feito breu e a fita dançarem como se tivessem ganhado vida enquanto o discípulo levantava o rosto em direção à um barulho, então seus olhos se curvaram feito lua e pareciam brilhar enquanto ele sorria.

Hirun que acabara de entrar no pátio e já estava pronto para ralhar com Ravi ficou surpreendido com o sorriso e seu coração pareceu pular uma batida.

“Irmão mais velho!”

Hirun evitou olhar para aqueles olhos brilhantes.

“Júnior Lira já está jogando por aí de novo? A punição que recebeu não foi o suficiente?”

As palavras de Hirun foi como um balde de água fria, Ravi abaixou a cabeça como um cachorrinho molhado.

“Eu não estou jogando” Ravi resmungou baixinho.

Hirun olhou para postura lamentável de Ravi e apertou os lábios. Antes que ele pudesse falar algo a porta externa do salão foi aberta.

Azizi saiu distraído, com a cabeça abaixada. Ravi se levantou em um pulo em direção à Azizi, mas suas pernas ficaram dormentes e ele cambaleou para trás como se fosse cair.

Hirun se precipitou e o segurou por trás.

“Obrigada sênior Hirun” A voz de Ravi saiu como um fio, as orelhas dele ficaram vermelhas por ter perdido a face.

Os olhos de Hirun escureceram ao ouvir a mudança da forma de tratamento a ele vinda de Ravi.

“Hm. Tome cuidado”

Azizi estava parado a poucos passos observando a interação e sentiu que aquele momento estranho não iria passar se ele não interviesse.

“Você deve ser o sênior Hirun.”

A voz de Azizi fez os dois discípulos se afastarem como dois imãs se repelindo.

“Sim. Venha, vou te mostrar a seita, me considere como o seu monitor durante o seu período de adaptação.”

Hirun se virou, mas antes de começar a andar ele completou: “Lira, você deveria voltar para a prática”

“Sênior Hirun eu prometi ao irmão Azizi que o acompanharia” Ravi falou com a voz dócil, claramente agindo estragado com o seu sênior.

Hirun franziu o cenho, mas com o coração se suavizando não teve coragem de rejeitá-lo.

“Está bem.”

Hirun levou Azizi por um tour na seita, no caminho perguntou a Azizi se ele tinha algum conhecimento prévio sobre como funcionava a seita e após isso lhe explicou os pormenores. 

A Seita do Sol Nascente se localizava ao norte de Iwin, apesar de ser uma das mais antigas seitas do país, sua história não chega aos alicerces de Iwin.  

Ao contrário de algumas seitas o sistema de ensino não se dividia em casas internas, todos os discípulos internos ficavam em um único pátio composto por várias alas, os discípulos externos ficavam em outro pátio. As aulas eram aplicadas nos seus pátios designados, havia arenas onde os discípulos poderiam competir através de desafios ou nas competições organizadas pela própria seita. Havia dezesseis mestres, o líder da seita e os chamados segundo e terceiro anciões que comandavam a seita em conjunto com o líder.

Caso algum mestre aceite algum discípulo da seita como o seu próprio discípulo ficava a critério do mestre se o discípulo em questão passaria a morar no pátio do mestre ou não.

A seita não tem muitas regras, os motivos para expulsão são claros: cultivo demoníaco, entrar em lugares restritos sem autorização, desonestidade e estar em falta com os seus deveres para a seita.

Azizi escutou tudo atentamente enquanto ignorava Ravi, que parecia ter descoberto que Azizi era um tipo novo de doce e não queria largar.

Hirun fez uma pausa, eles estavam sob um alpendre no pátio dos discípulos internos.

“Irmão Azizi, você não parece ser mais velho que eu” Ravi disse pensativo enquanto encarava Azizi.

Azizi percebeu que não seria capaz de se livrar daquele bolinho grudento se não o agradasse respondendo pelo menos uma das suas milhares de perguntas.

“Creio que eu já tenha chegado aos dezesseis, irmão Lira”

“Oh...” Ravi pareceu se desligar do mundo exterior e ficou imerso em seus pensamentos.

Azizi suspirou de alívio internamente, ter alguém o rondando dava-lhe calafrios. A única pessoa em quem confiava era seu mestre.

Hirun observou brevemente o seu júnior e franziu o cenho. Se virando ele habilmente abriu as duas folhas que levavam a um aposento.

“Esses são os seus aposentos. Nos próximos dias de adaptação vou ser o seu monitor. Amanhã lhe entregarei o conjunto básico de livros da seita.”

Azizi adentrou o quarto, sua expressão revelou surpresa ao verificar o espaço. O cômodo era espaçoso e bem iluminado, havia uma cama escondida por um biombo, uma mesa de centro e um móvel de guarda.

Hirun o tirou do torpor ao entregar lhe um pingente de jade branco. “Apenas os discípulos internos diretos podem ter esse pingente de identificação.”

Azizi segurou o pingente, ele era frio com o a neve, mas ao mesmo tempo não trazia desconforto. Hirun o olhou pausadamente como se estivesse tentando ver através dele.

“Esse...” Hirun começou a falar, mas logo se interrompeu como se estivesse em conflito.

Azizi olhou para ele, em seus olhos havia uma curiosidade cautelosa.

“Imprima sua marca com a força da alma. Eu preciso voltar, caso queria ver a seleção vá até o pátio principal.” Hirun disse se apressando porta a fora.

Azizi ficou olhando para o local por onde ele saiu até que Ravi se aproximou e sussurrou.

“Não entenda o sênior Hirun mal. Com o tempo você vai começar a entender o humor dele. Você vai ao pátio?”

Azizi apenas murmurou que iria depois de se instalar e Ravi o deixou sem adicionar muitas perguntas, o que deixou Azizi desconfiado.

Olhando em volta ele decidiu fechar a porta e procurar por sinos de escuta e itens parecidos. Depois de constatar que não havia nada do tipo ele relaxou estabeleceu uma matriz simples de proteção, que lhe daria alguns segundos antes de alguém interromper pela porta ou pela janela.

Sentado na cama ele levou a mão ao pulso, acariciando a fina corrente que estava escondidas sob suas vestes. Ninguém pode ver através dele, como seu mestre garantiu anteriormente.

Manter o perfil baixo ocultando o seu núcleo foi a melhor opção. Seu mestre tinha tanta fé nele que Azizi não podia decepcioná-lo. Mas então o que fazer com o pingente? Não seria arriscado usar sua força da alma nele?  

Azizi tentou sondar o pingente de jade, aparentemente era um jade branco simples, sem flutuações de energia. Ele ponderou por um tempo e decidiu que era melhor confirmar com o seu mestre se aquele era um simples pingente de identificação mesmo. Se o pingente fosse um item superior com matriz de ocultação o seu cultivo não era suficiente para ver através.

No dia seguinte Hirun apareceu com o conjunto de técnicas básicas de cultivo e refino da seita, após poucas palavras o deixou sozinho para estudar.

Naquele dia os novos discípulos estariam nas aulas básicas obrigatórias. Apesar de ter entrado para a seita no mesmo dia que os outros Azizi é discípulo do terceiro ancião desde que tinha dez anos, então foi dispensado de ficar nas classes dos novos discípulos.

Hirun já havia explicado que ele poderia escolher as classes que frequentaria, seja de nível básico ao avançado. De qualquer forma não era obrigatório frequentar qualquer classe depois do período probatório, desde que o discípulo cumpra com os seus deveres para com a seita de forma satisfatória ninguém fará caso com isso.

Azizi se sentou sob uma almofada e deixou de lado os livros de técnicas de cultivo da seita. Nada daquilo o ajudaria, os únicos livros que não pareciam inúteis eram os de botânica e sobre combate a forças ocultas.

Depois de sondar o conteúdo dos livros ele tomou nota de que seria necessário consultar a biblioteca em breve.


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