O Canto da Fênix escrita por AnnaBrito190


Capítulo 10
Vale Das Sombras III


Notas iniciais do capítulo

Antes de qualquer coisa peço desculpas pela demora na atualização. Bom, basicamente as novas atualizações vão ter um bom espaço entre elas devido a carga de trabalhos na minha faculdade.
Sobre o capítulo: como o anterior ele não foi revisado, então me desculpem qualquer erro.
Espero que gostem ^-^



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Durante a viagem o grupo manteve um nível de harmonia e ritmo aceitável. Todos apreciam estar empenhados em ganhar experiência, ansiosos para provar a si mesmos.

Andar por aí com um grupo inconsistente em termos de cultivo e experiência era uma preocupação constante, não se sabia os perigos que poderiam se deparar na estrada, assim o arranjo foi feito com Azizi observando o grupo a uma curta distância, enquanto Violeta estava no meio e Hirun liderava o caminho. Ravi não parecia nem um pouco infeliz com sua posição flutuante, constantemente transitando entre Hirun e Azizi enquanto conversava animadamente com os seus irmãos de seita.

Em certo ponto da viagem a estrada ficou extremamente deserta, a paisagem era constante e monótona. No começo Azizi se permitiu relaxar já que não havia possíveis ameaças constantes, porém conforme o tempo foi passando a inquietude começou a tomar conta dele. Havia uma sensação de ameaça oculta crescente. Cada árvore, cada folha, cada pedra, nada parecia certo.

Azizi se aproximou do grupo e puxou Ravi que estava conversando com os juniores. Ao sentir uma mão quente segurar o seu ombro e o puxar Ravi arregalou os olhos e quase gritou de susto. Segurando o ombro de Ravi e se aproximando do ouvido do mais novo Azizi sussurrou: "Preste mais atenção ao seu redor, está muito disperso"

Ravi prendeu a respiração e seu coração acelerou ao sentir o outro tão próximo, a respiração quente de Azizi acariciou a orelha de Ravi, fazendo com que ele corasse.

"Repasse. Vamos fazer uma pausa"

"Sim" Ravi respondeu apressadamente e foi em direção à Hirun o mais rápido possível enquanto tentava esconder de Azizi sua reação.

Azizi achou que o outro estava um pouco estranho, mas não pensou muito no caso. Naquele momento a inquietude tomava conta dele, e sua atenção estava toda no entorno, esperando algo sair das árvores.

Eles logo avistaram um local a beira da estrada com um poço e Hirun os conduziu até lá. O poço parecia não ser usado a bastante tempo, mas isso não impediu os juniores de buscar mais água para se refrescarem de forma entusiasmada.

Violeta se aproximou Azizi que continuava observando o grupo e o entorno a pouca distância. Um arrepio percorreu o corpo dela, esfregando os braços como se estivesse com frio ela olhou em volta.

"Esse lugar é esquisito" Violeta murmurou para si mesma.

Hirun se juntou a eles seguido por Ravi. Seus olhos pausaram brevemente em Violeta antes de se voltar para Azizi e analisar o outro.

"Cáspia, você sentiu?" A voz suave de Hirun soou límpida, sem nenhum traço de apreensão e como se fosse direcionada especialmente para Azizi.

"Sim"

"O que você acha?" Os olhos de Hirun não deixavam Azizi como se ansiassem por algo.

"Um feitiço" Azizi respondeu quase sussurrando para não alarmar os juniores, em seguida olhou nos olhos de Hirun e completou "Ou uma matriz"

Os olhos dos dois não se deixaram, como se estivessem tendo uma conversa silenciosa, chegando a um entendimento mútuo da situação e do que fazer.

"Não teríamos percebido se fosse um feitiço?" Ravi se virou para Hirun em busca de esclarecimento.

"A pessoa que fez é muito boa"

Azizi voltou a observar o entorno e sussurrou: "Mas nem tão boa assim, o nível dela está acima do nosso, isso ajuda"

"Irmãozinho, você acha que tem um rastreador?" Violeta se aproximou mais de Azizi, os ombros quase tocando os dele, olhos dela vagavam de forma preocupada. "Sinto como se estivéssemos sendo observados"

"Se for um rastreador significa que a situação pode ser pior que imaginamos"

"Como vamos saber se é um feitiço ou se é uma matriz?"

"Somos muitos para um feitiço de confusão, e estamos vendo a mesma coisa. Um feitiço de confusão nessa escala é muito complexo e o nível da pessoa tem que ser muito alto"

Ao ouvir a resposta de Azizi Violeta franziu o cenho e pareceu se perder em pensamentos, ao mesmo tempo Ravi começou a questionar Azizi para obter mais respostas. "O quão alto?"

"Transcendente, talvez ou profundo"

"E uma matriz?"

"Depende da matriz, mas eu diria que no nível do despertar"

Hirun suspirou e olhou para o mais novo, pela primeira vez a preocupação transpareceu em seu olhar. "O melhor cenário é estarmos lidando com alguém do nível do despertar"

"Falta pouco para o anoitecer. Seja o que for, estaremos ao sereno esta noite. Irmã, coordene os juniores com o mais novo, eu e Azizi iremos estabelecer uma proteção no perímetro."

Após Violeta e Ravi se afastarem em direção aos juniores Hirun escutou atentamente as instruções de Azizi, então os dois começaram a trabalhar silenciosamente no estabelecimento de um perímetro, enquanto Violeta e Ravi faziam o levantamento dos mantimentos e organizavam os turnos de vigia da noite.

Azizi retirou algumas pedras espirituais de nível cinco de sua bolsa de armazenamento, satisfeito por ter decidido trazer uma boa quantidade de pedras espirituais de alta qualidade e nível médio.

Fazer parte da seita Sol Nascente tinha suas vantagens, por ser aprendiz direto e sucessor do Terceiro Ancião ele tinha fácil acesso as pedras espirituais, se fosse antes ele teria que ter gastado muito ouro para obtê-las.

Após posicionar as pedras e terminar o arranjo Azizi ativou a proteção. Assim que o arranjo foi ativado Azizi sentiu sua força espiritual ser sugada e uma pontada em seu núcleo, o gosto metálico de sangue preencheu sua boca, mas logo as pedras espirituais tomaram o lugar de sua energia espiritual, alimentando o arranjo.

Aquele não era um arranjo simples, ele estava usando pedras espirituais de todos os elementos, o que aconteceu já era esperando. Azizi engoliu o sangue e respirou fundo enquanto olhava em volta, com um sorriso fraco ele pensou que ao menos durante a noite todos estariam em segurança.

Na manhã seguinte Azizi acordou com a voz de Ravi o chamando. O corpo de Azizi estava estranhamente pesado, suas pálpebras pareciam pesar cem quilos. Piscando os olhos com dificuldade sua visão turva aos poucos ficou nítida, o rosto aflito de Ravi denunciava que algo havia acontecido, a voz dele soava baixa como se não quisesse acordar outros, mas ao mesmo tempo alarmada.

O coração de Azizi deu um salto. Azizi se levantou rapidamente tropeçando em algo. Confuso ele olhou para baixo e viu o que parecia uma peça de frio de outra pessoa, então ele lembrou que durante a noite alguém o cobriu, pelo tamanho deveria ser do seu irmão mais novo.

"Oh, desculpe. É seu, certo?" Azizi pegou o manto e o sacudiu. "O que aconte.." Azizi estendeu o manto para Ravi, então seus olhos se desviaram dele para o que estava atrás do mais novo "...ceu?"

O choque dominou Azizi por alguns segundos, seus olhos captam um cenário que ele não havia cogitado. Do outro lado do arranjo de proteção havia bestas demoníacas rondando o perímetro. Os olhos de Azizi percorreram o local, só havia ele e Ravi acordados.

"Desde quando?"

"Quando o sol começou a nascer. Só havia um, parece que estão se juntando"

"Acorde nossos irmãos mais velhos. Tome cuidado pra não acordar os juniores"

Azizi caminhou até a borda do arranjo, as bestas demoníacas se juntavam cada vez mais, ossos expostos e sangue chamaram atenção de Azizi, ele podia sentir o cheiro podre que vinha das bestas. A barreira deveria criar uma ilusão e impedir que cheiros e sons saíssem dela, mas de alguma forma aquelas bestas não só não caíram na ilusão e sabiam onde era o limite do arranjo, elas pareciam estar trabalhando juntas. Alguém as controlava.

Os lábios de Azizi se apertaram em uma linha fina. O cenário não era bom, havia muitas delas e poucos deles.

Violeta se aproximou de Azizi e ficou parada encarando as bestas. Hirun atrás dela tinha uma expressão seria.

"Não é um feitiço, estamos em uma matriz" Azizi disse se voltando para Hirun.

"Porque acha isso? Isso poderia ser uma ilusão" Violeta murmurou.

"Seria mais fácil fazer matarmos uns aos outros. Seja quem for está muito interessado em um grupo com baixo poder espiritual"

Os olhos de Hirun e Azizi se encontraram, então a voz de Hirun soou de forma sombria: "Ou está se dedicando muito para que cultivadores não pisem naquela vila"

"Precisamos nos preparar" Ravi disse enquanto olhava apreensivamente para o que os esperava.

"Sim, não podemos ficar dentro da proteção indefinidamente, uma hora teremos que sair"

Para não serem atacados de todos os lados eles decidiram criar uma falha na barreira e direcionar os as bestas demoníacas. Aquela seria uma manobra delicada, a Vitória dependia de não deixarem a barreira cair durante a batalha e manterem a formação de batalha.

Na metade da manhã o grupo estava em formação de batalha, Azizi estava pronto para criar a falha, apenas aguardando o sinal. Dentro da formação de proteção estava um silêncio mortal, os guinchos das bestas demoníacas faziam os menos experientes suarem frio. Com um pouco de concentração podia-se escutar o coração dos juniores batendo loucamente pela antecipação.

Ao sinal de Violeta Azizi criou uma brecha com espaço o suficiente para duas bestas passarem. As bestas demoníacas avançaram loucamente por entre a brecha, a sede por sangue as fazia brigar entre elas para passarem.

O primeiro impacto logo chegou na frente da formação, o barulho de carne sendo cortada, gritos e guinchos poderiam ser ouvidos por mais de um quilômetro de distância.

Azizi estava por trás de toda formação de batalha mantendo o controle sobre a matriz de proteção, mas ele podia ver o chicote de Violeta estava no ar. Não demorou muito para que uma besta conseguisse furar a formação, Hirun coordenou para que a formação ficasse uniforme na frente enquanto Ravi tentava contornar a situação na parte de trás.

A besta avançou em um júnior e logo estava com o braço dele na boca, Ravi atacou por trás, abrindo um grande sulco é fazendo a besta perder muito sangue. A besta guinchou e soltou o braço do júnior, se voltando para atacar Ravi.

Ao ver a besta avançar em direção à Ravi, Azizi retirou um leque laminado que Ravi havia deixado com ele, concentrou sua energia no leque e o lançou em direção à besta, cortando uma de suas pernas e a fazendo cair. Aproveitando o momento Ravi e um júnior terminaram de abater a besta.

Com o passar do tempo na batalha havia muitos feridos, os menos experientes tinham tendência a serem feridos com mais facilidade. Não havia muito o que fazer, eles já eram a última linha da formação, as bestas eventualmente conseguiam quebrar a linha de frente e avançar.

Sangue encharcou o solo, o metálico do sangue se misturou com o odor podre das bestas. Azizi sentia que estava se esgotando para mantendo a fenda e agindo quando parecia que os juniores não dariam conta de alguma besta que furou a formação.

Quando o número de bestas havia abaixado ao nível que permitia que a barreira fosse abaixada Violeta sinalizou para Azizi. Automaticamente ele abaixou a barreira, não perdendo tempo ele se lançou ao ataque.

O sol já havia avançado do meio do céu, indicando que já passava da primeira hora da tarde quando a batalha acabou. As vestes de Azizi estavam impregnadas de sangue assim como as de seus irmãos, o leque em sua mão pingava sangue rançoso.

Para onde ele olhava havia bestas demoníacas mortas, a sua volta os que estavam em condições razoáveis ajudava os mais feridos. O núcleo de Azizi doía e o sangue escorria em um filete de sua boca, ele havia se excedido para manter o controle sobre o perímetro

"Irmão mais velho"

Ao ouvir Ravi o chamar ele limpou o sangue que escorria de sua boca e se virou para ele.

"Você está bem?" Os olhos preocupados de Ravi o examinava como se tivesse medo de perder qualquer detalhe.

"Sim" Azizi deu um sorriso fraco em uma vã tentativa de tranquilizá-lo. Vendo o baixo efeito ele escolheu desviar o foco. "Você acha que eles perceberam?"

"Talvez alguns desconfiem. Uma hora teremos que contar"

"Não podemos ficar aqui por muito tempo"

"Sim, irmã Violeta já está verificando o estado de todos para prosseguimos"

Azizi balançou a cabeça levemente então observou Ravi. O sangue parecia apagar todo o brilho que o mais novo costumava ter, seus olhos pareciam conter todo o peso que uma juventude não deveria ter.

"Você... Você está bem?"

Os olhos de Ravi pareceram brilhar por alguns segundos quando ele escutou a pergunta de Azizi.

"Sim, apenas arranhões"

"Bom"

O grupo utilizou a água do poço para se higienizar e fizeram a troca das vestes de cima por outras limpas. Para não utilizarem todo o suprimento de pílulas medicinais Azizi e Ravi prepararam decocções de plantas espirituais com princípios ativos de cura e distribuíram entre os feridos.

Antes da terceira hora da tarde o grupo já estava se movendo, decidindo caminhar à beira estrada, não ficando facilmente à vista. Devido à boa parte do grupo estar ferida o ritmo era lento e o temor por outro ataque pairava no grupo.

Em certo ponto quando os ânimos começaram oscilar debaixo do sol quente eles encontraram um fazendeiro que parecia estar levando sua colheita para a cidade mais próxima. O grupo parou enquanto observava o fazendeiro se aproximar, Hirun, Ravi, Violeta e Azizi se entreolharam ansiosamente, não se sabia se era uma armadilha ou se haviam de alguma forma sido libertos por quem controlava s matriz. Uma luta no momento não seria vantajosa para eles.

Hirun decidiu testar as águas quando o fazendeiro estivesse próximo o suficiente, ao ser questionado sobre a vila o senhor levantou o chapéu de palha, e franzindo o cenho perguntou "Porque estão indo para aquela terra de ninguém?"

"E é da sua conta?" Um júnior resmungou já irritado de baixo do sol quente.

Hirun automaticamente olhou atravessado para o júnior, que se escondeu atrás de seus amigos ao perceber que falou alto demais. Violeta sorriu e se apressou em se desculpar com o senhor e salvar a situação, afinal, só os deuses sabiam quando veriam uma alma viva novamente. "Peço desculpas por esse irmãozinho, não fique ofendido senhor, ele é muito novo e ignorante"

"Vocês já passaram pela estrada que leva a vila. Se ainda quiserem ir para aquele lugar peguem a esquerda na próxima bifurcação, é mais rápido que voltar."

"Obrigada, senhor"

O senhor acenou com a cabeça e seguiu viagem enquanto resmungava sobre como as crianças ficavam cada vez mais sem educação a cada geração. O grupo seguiu diligentemente a instrução de entrar na estrada à esquerda da bifurcação, e por um momento tiveram a sensação de estarem voltando. Pouco tempo depois, quando a posição do sol indicava estar na quinta hora da tarde eles chegaram na entrada da vila.

Parado em frente a placa com grandes caracteres "Vila Colinas" Azizi teve um pressentimento ruim. Parecia que nada de bom sairia dessa viagem.

 


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Deixem um comentário.
Um spoiler do próximo capítulo: Moyuan vai aparecer.



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