O Dia em Que... (Coletânea de Oneshots) escrita por Vanilla Sky


Capítulo 9
O dia em que Visão aprendeu a fotografar.


Notas iniciais do capítulo

Boa tarde, gente! Hoje consegui postar essa oneshot um pouco mais cedo, felizmente. Como vocês estão, todos bem? Espero que sim!

Essa oneshot é curtinha, mas foi uma delícia escrever ela! Voltamos para a Base após mais um tempo em Westview. Na próxima eu não sei ainda se vamos permanecer na Base ou se vamos para Westview de novo... preciso de mais ideias em Universos Alternativos também, mas tá difícil ashuashuah.

Enfim, aproveitem a leitura! Falo mais da fic nas notas finais :)



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A fotografia é uma lição de amor e ódio ao mesmo tempo. É uma metralhadora, mas também é o divã do analista. Uma interrogação e uma afirmação, um sim e um não ao mesmo tempo. Mas é sobretudo um beijo muito cálido.

— Henri Cartier-Bresson

 

Visão segurou o objeto, recém-tirado da caixa, nas palmas das mãos, movendo-o com cuidado. Era aparentemente bastante caro, especialmente em sendo um presente de Tony Stark, e não podia arriscar de deixá-lo cair. Havia um espaço anatômico e confortável para segurar, e, com uma das mãos, fechou os dedos em formato de concha, enquanto passava uma faixa ao redor de seu pescoço.

Havia uma tela, até então desligada, bem como uma lente tão límpida acoplada na ponta a qual se assemelhava à claridade de um olho humano. Dos vários presentes que Visão poderia ganhar, jamais iria imaginar uma câmera fotográfica.

— Obrigado, Tony. – Ele alegremente agradeceu, o sorriso atenuando à medida que levantou o rosto para encará-lo. – Mas eu consigo catalogar as minhas memórias de maneira a jamais esquecê-las. Apesar da consideração, talvez não se torne muito útil.

— Você não pode imprimir suas memórias, Vis. E ver as suas memórias por outro ângulo vai fazer você perceber mais coisas do que imagina.

Tony Stark deu dois tapas no ombro de Visão, ao que este colocava a bateria na parte inferior da câmera e a ligava, a marca aparecendo na tela antes desta mostrar o chão sob seus pés. Com um toque, ele mudou o foco para o visor, e observou através da lente pela primeira vez. Usando a ponta dos dedos, moveu o anel de foco até o aparelho apitar e uma pequena luz vermelha no obturador indicar que o foco estava travado, permitindo-o apertar o disparador.

A lente se fechou e se abriu em um piscar de olhos, sendo que Visão, um tanto assustado, observou a tela para ver uma foto da janela da Base. As árvores estavam um pouco embaçadas ao fundo, pois a focagem estava nas laterais de metal do basculante.

— Podemos fazer uma exposição qualquer hora. – Disse Tony, orgulhoso. – Fotos tiradas por uma inteligência artificial devem valer uma nota.

Visão concordou devagar com a cabeça, clicando em um botão no canto inferior direito para entrar na galeria e observar a foto. Com as pontas dos dedos indicador e médio ele tocou a tela touch screen, ampliando os detalhes da foto para observá-los, como uma aula.

Era um começo.

~.~

O escudo do Capitão América. As dobras na armadura de Tony Stark. O tecido perfeitamente esticado da roupa de Natasha Romanoff. Triângulos perfeitos entre a janela da sala, inclinada para fora, e o parapeito. Quinas de mesa. Vidros. Quadros. Pés de mesa entalhados. Teclas de computador dispostas uma ao lado da outra. Monitores ligados no escuro.

Logo, a galeria da câmera de Visão se encheu com os detalhes humanos que ele mais gostava, matemáticas perfeitas as quais geralmente não prestava muita atenção em dias normais. E não foi até ele estar inclinado em uma posição pouco convencional para clicar o canto de uma sala que escutou uma voz familiar perguntar:

— O que você está fazendo...?

Ah. Wanda Maximoff. A Vingadora cuja presença Visão costumava achar... um tanto distrativa. Ele rapidamente levantou a cabeça para notá-la parada ao seu lado. Seus cabelos, compridos e castanhos, deslizavam por cima de uma roupa preta e vermelha, e um poncho cobria os braços finos com desenhos que julgou serem originários de Sokovia.

Subitamente, o sintozóide notou que não estava em uma posição digna para falar corretamente com a colega, por isso, levantou-se imediatamente, tomando cuidado com a câmera, e sorriu para ela, notando um rubor muito leve preenchendo as maçãs do rosto da moça.

— Olá, Wanda. – Cumprimentou. – Está de folga hoje?

Wanda esticou os braços e se espreguiçou enquanto respondia:

— A Nat está em Vermont, visitando a família do Clint. Steve foi com o Sam no Brooklyn. Acho que somos só nós dois por aqui hoje. – Depois, encolheu os ombros. – Vim ver se você queria fazer alguma coisa, e cá estou eu.

— Cá está você. – Visão repetiu, mudando o agente da oração, e a ressonância das palavras provocou uma risada leve antes de prosseguir: – Estava apenas fotografando um pouco.

— Aproveitando o presente? – Wanda mexeu a cabeça. – Pensei que pudéssemos ler um pouco na sala, porém não quero atrapalhar seus planos.

Com a mão que não segurava a câmera, Visão alcançou o pulso de Wanda antes que ela pudesse virar de costas para ele, suplicando com o olhar para que não o deixasse. Em algumas tardes de folga, os dois costumavam ler as obras dispostas em uma estante ao lado da televisão na sala principal do Complexo dos Vingadores. Por algum motivo, não gostaria de perder a chance de aproveitar uma tarde tranquila junto dela.

E Wanda apenas torceu os lábios em um sorriso, inicialmente apenas alongando as pontas sem mostrar os dentes, causando um ar místico que deixava Visão totalmente enfeitiçado. Depois, assentiu com a cabeça, partindo os lábios na continuação do gesto antes de sugerir:

— Que tal você fotografar o jardim enquanto eu leio? Poderia usar um pouco de ar fresco agora.

Visão concordou. No fundo, sabia que, com aquele sorriso, ela poderia mandá-lo para o quinto dos infernos que ele iria satisfeito.

A jovem buscou um livro sobre a cômoda através de um movimento de dedos, fazendo-o flutuar e parar diretamente nas suas mãos envolto por uma bela aura vermelha. Visão caminhou atrás dela, estupefato, e com a câmera em mãos. Enquanto ela sentava na relva entre a Base e a floresta, ele flutuou até o céu para fotografar alguns detalhes do revestimento pelo lado de fora, até ouvir a voz de Wanda novamente o chamar.

— Sim? – Ele perguntou ao se aproximar dela.

— Vizh, que tal fotografar um pouco a natureza?

Confuso, Visão inclinou a cabeça para o lado. Nunca havia considerado clicar a natureza que rodeava o lugar onde moravam, talvez porque fosse fascinado demais pelos humanos para lembrar que eles também possuem fascínios bastante próprios.

— Claro. – Cedeu ele. – Mas o que daria para fotografar, Wanda?

Ela correu os olhos pelo ambiente, indicando com uma das mãos a imensidão ao redor deles.

— Há beleza nas coisas simples. – Ela disse, tornando os olhos para o livro aberto em seu colo. – Basta você observar.

Visão se afastou e começou a observar os arredores da Base, os olhos atentos em cada detalhe que conseguisse achar.

Logo, seus sistemas começaram a rodar novos diagnósticos. Sensações distintas das usuais, monótonas, e provocando a vontade de se aventurar um pouco mais. Clicou a grama, ainda que por um ângulo pouco usual, as copas das árvores, as flores no canteiro contornando a Base. Novas tonalidades vivas no minúsculo monitor da câmera também provocavam novas sensações. Tocar a relva. Respirar o mesmo ar das árvores. Observar Wanda e seu livro no chão, os olhares de ambos eventualmente se encontrando antes de mirarem o infinito do céu, ou a finitude da terra, apenas para um não se perder em meio à vastidão que a íris do outro proporcionava.

Eventualmente, Visão deitou próximo dela, à sua horizontal, mirando a lente em sua direção. Enquadrou cuidadosamente Wanda, seu rosto angelical um pouco acima, os cabelos espalhados em meio ao verde, e seus olhos, igualmente verdes, se mantinham no ponto fixo que era uma das páginas do livro. Ele observou, antes de apertar o disparador, o caminho partindo do topo de sua cabeça, passando pela subida do nariz arrebitado, pelos lábios partidos e levemente umedecidos, descendo pelo queixo até a concavidade de seu pescoço, linear até o colo coberto pelas roupas. Visão indiscretamente pensou em sentir o calor daquela pele sob suas mãos, e especialmente sob seus lábios, tal pensamento sendo forte o suficiente para provocar uma ardente palpitação em seu peito, que ele prontamente ignorou para mover o anel de foco e disparar.

Alguns cliques sucederam, e Visão estava tão absorto olhando o resultado das fotos na tela que apenas deitou com o abdômen para cima, e não sentiu Wanda se mexer, deixando seu lugar e parando ao lado dele. Em verdade, o sintozóide apenas notou quando ela sentou sobre a barriga dele, dois dedos acima de sua pelve, e segurou o tecido da blusa a qual ele vestia. Visão afastou a câmera e observou a plenitude da mulher sobre ele, um pouco atônito demais para dizer qualquer coisa; e todos os pensamentos voltaram com a força de um soco quando ela se inclinou para beijá-lo.

O gesto foi terno, sereno, o som da brisa envolvendo os dois corpos. O coração de Wanda palpitava dentro do peito – e não poderia ser diferente, após tamanha coragem – e ela manteve os lábios pressionados contra os dele por um tempo considerável, apenas parando para tomar um pouco de ar e deitando sobre seu peitoral, encaixando o rosto entre o pescoço e o ombro de Visão.

— Existe beleza nas coisas simples. – Ela sussurrou, baixo como uma prece dita ao vento para jamais ser esquecida.

Visão compartilhou um sorriso enquanto soltava a câmera sobre o livro no chão e carinhosamente envolvia Wanda em um abraço.

~.~

Flores. Folhas. Copas das árvores. Ninhos de passarinho. Pipoca recém-saída do fogo. Borbulhas em refrigerantes. Wanda Maximoff. Seu sorriso. Seus olhos. O calor de seu toque. Suas mãos sobre o peitoral de Visão. Amor. Coisas que ele não podia fotografar, mas podia sentir, e nunca se sentiu tão feliz por essa dádiva.

Não demorou para o quarto de Visão ter várias fotos impressas, e a especial foto de Wanda pendurada em lugar de destaque, para ele admirar sempre que quisesse.

A beleza estava, realmente, nas coisas simples.


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Notas finais do capítulo

Então, eu já lidei um pouco com fotografia na vida (e o Cartier-Bresson sempre foi uma inspiração, então eu precisava colocar uma frase dele)! E essa ideia surgiu um dia antes de eu cair no sono. Lembro que segurei a ideia o máximo possível para não esquecê-la ao acordar, e, assim que acordei, coloquei em prática. Acabei me baseando em uma fic Vivheart, mas em que a Vivian gosta de escrever as pequenas coisas que a deixam feliz (inclusive a Riri) em um pequeno caderno. A semelhança maior entre aquela fic e essa está nos momentos que enumero as fotos.

Aliás Vivheart é um casal que merece mais amor ♥ eventualmente eu vou escrever algumas fics delas e postar aqui, e também planejo traduzir para o inglês e postar no AO3.

Espero que tenham gostado, e nos vemos em breve! Recebam um abraço bem quentinho ~ ♥ ~



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