Bloody Devotion escrita por Eliander Gomes


Capítulo 9
Companhias




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A cada movimento que era feito naquele tabuleiro, uma novo pergunta surgia na mente de Simon. Havia muito tempo que ele não sentia um desafio tão intrigante como aquele. Ao mover um bispo no tabuleiro, ele segura-o por bons segundos, antes de soltar a peça. Ao olhar para o rosto da garota, ele percebe uma leve hesitação.

— Xeque. — Diz o homem, curioso.

A menina leva um tempo para pensar, voltando sua mão para uma torre e bloqueando o caminho da peça recém colocada de Simon.

— Xeque. — Diz a garota, parecendo bastante concentrada no jogo.

Simon solta uma leve interjeição de riso. Ele segura um de seus peões e o move uma única casa, abrindo o caminho de sua rainha.

— Xeque.

A menina levanta as sobrancelhas e suspira.

— Eu perdi, não é mesmo?

— Qualquer movimento que faça agora te levará ao xeque-mate.

Ela se levanta e se curva para o vampiro.

— Foi um excelente jogo, senhor Lumiya.

Simon vislumbrava a garota com um ar esplêndido de curiosidade. Nem parecia a mesma garota que ele acolhera uma semana atrás.

— Decorou em pouco tempo a etiqueta da nobreza.

— Sim, meu senhor.

— Não esperava menos de você. Também tem mostrado bons resultados nos assuntos referente a história e leis deste país. Isso me impressiona.

Há uma semana a garota estava sendo ensinada na mansão. Ela parecia pegar rápido tudo que o homem passava para ela. Ele nunca precisava repetir, a simples menção já era suficiente para gravar o assunto na mente da garota. O homem não sabia quem era aquela garota e de onde ela poderia ter vindo, mas fora um belo achado.

Alice não era normal, definitivamente.

— Senhor Lumiya... posso perguntar-lhe algo?

— Sim?

— O que espera de mim?

— O que quer dizer?

— Bem... pelo que andei estudando, a funcionalidade de um servo vampírico é única e exclusivamente servir ao seu senhor. A maioria dos servos, no entanto, têm habilidades de combate ou trabalhos braçais... acontece que não sou boa com nenhuma dessas coisas.

O homem sorri, levantando-se e indo até sua mesa.

— Você aprendeu a jogar xadrez em apenas uma semana, e já me propõe um desafio interessante.

Ela fica confusa com a fala dele, esperando-o continuar a sentença, mas ele simplesmente se calou.

— Sim?

— É isso.

— Me desculpe, senhor Lumiya... não entendi seu ponto.

— Você me deu um xeque hoje. Me diga, Alice, quando a última guerra entre lordes aconteceu?

— Cerca de duzentos anos atrás.

— Está correta. Agora me diga, quem foi o último governante dos Drakon antes do atual assumir? E quantos tiveram antes dele.

— Willian IV Tyran Drakon. O atual é o décimo sétimo governante.

— É isso.

A menina desvia o olhar de seu mestre e fica pensativa.

— Só queria alguém inteligente ao seu lado, senhor?

— É só do que preciso. Alguém para passar o tempo comigo, para me entreter no xadrez.

Ela faz um rosto confuso e volta seu olhar para ele.

— Não sei se entendi direito...

— Logo entenderá, você é esperta. Agora, volte para seu quarto. Deves descansar, em breve iniciaremos nossa viagem para o palácio real.

A menina o cumprimenta e deixa o aposento. Simon começa a encarar a clareira e passa a mão de forma tensa pelo rosto, pensativo, soltando um longo suspiro.

“Sim, a viagem. Isso me preocupa. Será um desafio e tanto ter de lidar com aqueles nobres. A única coisa boa disso tudo vai ser ver Lenore.”

Enquanto a mente do vampiro viajava em pensamentos, a menina fazia seu caminho calmo até seu quarto, sempre mantendo uma postura e um andar delicado. Suas mãos a frente da cintura, juntas, davam a ela um ar requintado e elegante. Em apenas uma semana ela conseguiu dominar os trejeitos de um nobre.

Enquanto andava pelo corredor, a menina vislumbra aquela silhueta andando de encontro a ela. Ela já havia a visto algumas vezes pela mansão, mas sempre a evitava, assim como todas as outras sombras que andavam por lá. Mas dessa vez, ela estava no caminho de seu quarto, então apenas continuou seu caminho calmamente.

“Não faça contato visual” pensou a garota.

A mulher de cabelos longos e presos com um rabo de cavalo tinha olhos vermelhos intensos que encaravam a menina com certa cólera. A menina pôde ouvir o barulho de metais batendo misturado ao barulho natural do andar e das roupas à medida que a mulher se aproximava.

Ela continuava a manter sua postura elegante, mesmo evitando o olhar da mulher. Em um piscar de olhos, no entanto, a menina perdeu-a de vista, no exato momento em que sentiu uma forte brisa percorrer o corredor inteiro. Seu coração dispara e ela fica temerosa.

— O que pensa que está fazendo, Coraline?

A voz masculina chamou a atenção das duas, que olharam para a direção dela. Foi quando isso aconteceu que a menina percebeu o que realmente tinha acontecido.

— Como... cegou aqui tão rápido? — Dizia a mulher, subjugada pelo seu irmão. Simon segurava o braço da mulher contra suas costas, enquanto a espada da mulher agora estava no chão.

— Por que tentou atacar minha aprendiz e serva?

— Aprendiz? — Repete a mulher com deboche em sua voz.

— Sim. Ela está sob os meus cuidados agora.

— Desculpe, senhor, mas eu não havia recebido nenhuma ordem direta de que isso era proibido.

Simon da uma leve risada, soltando sua irmã.

— Sim, está certa. Pois estou a dando agora. Não encoste um dedo nesta garota, entendeu?

Ela solta um estalo com a língua, se abaixando para pegar sua espada.

— Sim, senhor...

Coraline da uma última olhada para a garota, que parecia levemente assustada, mas ainda mantinha sua postura elegante.

Após ela se afastar, Simon se vira para a garota e toca sua cabeça gentilmente.

— Está tudo bem?

— Sim, senhor Lumiya.

Ele se vira e começa a andar em direção a seu escritório. A menina, levemente hesitante, solta um grito curioso em sua direção.

— Senhor!

Ele se vira, encarando-a com complacência.

— O que foi?

— Como... como fez aquilo?

— O que quer dizer?

— O senhor se moveu como o vento, agora mesmo. Chegou tão rápido que nem pude sentir sua presença... como fez isso? Foi exatamente como da primeira vez que nos vimos. O senhor fez algo parecido lá também...

Ele fecha os olhos e sorri, voltando suas costas para a garota.

— Em breve saberá, criança. Agora, vá dormir.

Ela, ainda hesitante, da um passo na direção do homem.

— 0,16 segundos.

Curioso, o homem se vira para ela novamente. Ela continua.

— Esse foi o tempo do meu piscar de olhos. O senhor demorou isso para vir de seu escritório até aqui. Levando em consideração a distância e os obstáculos no caminho, isso quer dizer que o senhor percorreu mais de quinhentos metros em uma fração de segundo.

— Como sabe fazer este cálculo?

— Matemática e física sempre foram meus pontos fortes, senhor. Os meus antigos senhores se aproveitavam dessa minha habilidade para tirar vantagens em negociações e ataques. Meu primeiro dono foi um estudioso de uma grande academia de Jasfik.

— Seus antigos donos. É verdade, eu nunca cheguei a perguntar a você sobre isto, não é mesmo?

Ela hesita, olhando para baixo. O jovem mestre, ao ver a atitude, desvia seu olhar da garota e volta suas costas para ela.

— Bem, tanto faz. Eu sou seu mestre agora. E como seu mestre, sugiro que vá dormir.

— Sugere? — Pergunta ela de forma confusa.

Ele volta-se para ela novamente.

— Sim. Isso não é uma ordem, mas um conselho.

Ela se curva para ele, segurando um sorriso.

— Sim, senhor.

Após o vampiro sumir da visão da menina, ela volta-se para o corredor vazio, pensativa.

— Um conselho... não uma ordem...

...

— Maravilhoso! — Gritava a mulher em êxtase.

Ela acariciava o próprio corpo nu enquanto se banhava no sangue das garrafas à sua volta. O som na porta de seu quarto chamou a sua atenção.

— Senhora, está disponível?

— Sim, pode entrar, Tulio.

Assim que o homem abre a porta do quarto, o cheiro de sangue e suor soca sua cara, mas nada que ele já não esperasse.

— Vejo que se divertiu bastante esta noite, minha senhora.

— Sim! Ah, mas eles eram tão fracos... aquele próximo a parede durou apenas dois segundos.

O quarto estava repleto de pedaços de corpos e sangue, espalhados de forma quase aleatória por todo seu espaço. Os móveis, em sua maior parte, e com exceção da cama, estavam destruídos e danificados. Ao lado dela, coberto por lençóis, dois homens permaneciam desmaiados e nus.

— Bem, senhorita, eu peço para que não desperdice minhas mercadorias desta forma. Eles foram os melhores escravos que encomendei.

— Melhores. Bom, você até que me surpreendeu, sabe. Esses dois aqui ao meu lado ainda estão vivos...

— Posso perguntar o que aconteceu aqui?

— Não está óbvio? Bem, vou dizer-lhe. Existe apenas uma coisa que valorizo mais que testículos humanos, e é o sangue de um elfo de Jofrir. Bem, isso e seu sangue, é claro.

Ele da uma breve risada, aproximando-se.

— Quando a senhora estiver pronta, podemos partir.

— Partir? Ah sim, a viagem é hoje... desculpe, havia me esquecido completamente.

— Bem, e esses dois, minha senhora? O que faço com eles?

— Prenda-os na cela. Dê instruções precisas a suas esposas para que os tratem muito bem. Vou brincar mais com eles quando chegar.

Assim que diz isso, a mulher aproxima sua boca dos pescoços dos dois, mordendo-os levemente. Após isso, ela se levanta e começa a andar para fora do quarto, ainda nua.

— Vou tomar um banho, peça para alguém limpar o quarto também, se não for pedir demais.

Assim que ela sai, Tulio suspira, encarando os dois sujeitos desmaiados sobre a cama.

— Vocês são homens azarados. Deveriam ter morrido como seus companheiros.

Ele fecha seus olhos e junta suas mãos, recitando uma língua estranha ao fazê-lo. Uma brisa suave começa a circundá-lo, trazendo consigo um brilho esverdeado que subia do chão e iluminava todo seu corpo. Pequenos focos de luz começaram a surgir em volta do homem, tomando a forma de mulheres; eram como grandes véus luminosos que se moviam como fantasmas.

— Carreguem-nos.

As criaturas etéreas recém invocadas começaram a juntar-se em volta dos dois homens sobre a cama, levantando-os e carregando-os para fora do quarto vagarosamente.

...

Enquanto a menina entrava dentro da carruagem de luxo, o mordomo terminava de carregar suas malas.

— Tudo pronto, M’lady.

— Então vamos partir.

Ele sobe na condução da carruagem, e logo começa a movê-la.

O caminho calmo e tranquilo da floresta parecia trazer consigo um mal agouro. A garota já havia sentido e percebido tudo, e mesmo o mordomo sendo um humano, ele tinha uma boa ideia do que era aquilo.

— Marcos. — Diz a menina de dentro da carruagem.

— Sim, minha senhora, eu estou sentindo.

— Não os machuque, por favor.

— Farei o possível, senhora.

Enquanto a carruagem passava pela estrada da densa floresta, o mordomo ouvia o farfalhar das árvores com o vento, ao mesmo que a baixa iluminação do ambiente escondia as sombras que se moviam.

— Estão tentando fazer parecer um ataque de monstros, pelo visto.

Os cavalos da carruagem, de repente, caíram, derrubando também a carruagem. Os dois integrantes, no entanto, saíram ilesos. Marcos havia pegado a garota e a tirado bem a tempo.

— Eles são tolos de tentarem algo assim...

— Talvez seja o desespero.

“Sim.” Pensava o mordomo. “Eles perceberam a fraqueza de Lady Karen. Ela não está em condições de governar, muito menos de protegê-los caso precisem. Tirando ela do caminho, eles abririam a oportunidade de um novo lorde se apossar destas terras, sendo assim, eles não precisariam temer uma possível guerra.”

— Para trás, minha senhora.

— Não.

Ele abaixa levemente os olhos na direção dela, confuso.

— Eu farei isso, Marcos.

— Senhora, não está pensando em usar magia, não é?

— Eu sou a lady destas terras, a senhora da mansão dos Solas. Não ouse tentar passar por cima de minha autoridade, Marcos.

Ele, hesitante, se afasta dela.

— Sim, M’lady...

O silêncio preenchia o local, trazendo consigo a tensão. A menina apenas permaneceu parada ali, encarando o nada.

— Tudo bem. — Disse ela. — Chega disso.


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