Bloody Devotion escrita por Eliander Gomes
Carregando consigo diversas folhas de papel, Simon seguiu junto com alguns servos em direção a vila mais próxima da mansão. Enquanto andava, Anúbis era o único irmão que o acompanhava, em silêncio completo. No entanto, sua caminhada silenciosa não durou muito. Em meio a várias perguntas que rodeavam sua mente, ele decidiu começar com a que mais o incomodava.
— O que são essas folhas que carregas consigo, irmão?
— Um teste de QI.
A resposta de Simon o pegou de surpresa.
— O que?
— Ouviu bem. É um teste. São vários enigmas e perguntas. Veja.
Ele entrega um dos papéis ao irmão, que o lê, curioso.
— O que planeja fazer com tudo isso?
— Você verá.
Mesmo curioso, Anúbis resolveu não se aprofundar no assunto. Talvez fosse melhor para ele apenas acompanhar com os olhos. Assim que alcançam a visão da vila, o grupo é notado ao longe pelos seus moradores. Quase que de imediato, eles começam a escutar um sino vindo de lá, enquanto vislumbram o movimento de seus aldeões. Crianças e mulheres começaram a correr desesperadas para suas casas, os moradores mais idosos também faziam seu caminho em passos mais lentos. Os homens que ficavam pareciam fortes e todos carregavam armas, embora não demonstrassem sinais de hostilidade. Um único velho, no entanto, permanecia fora de sua casa; este vestindo roupas mais chamativas e decoradas. Simon sabia quem era, ele era ninguém menos que Pahir, o líder daquele vilarejo humano.
Assim que Simon chegou a poucos metros da entrada, o velho se curvou em respeito, sendo seguido em sua reverência por seus guardas. Simon parou a poucos metros com sua comitiva e fez sinal para que se levantassem.
— Senhores, gostaria de capturar sua atenção por alguns minutos.
— Ela é toda sua, meu lorde.
— Então já sabem que sou o novo lorde dos Lumiya?
— Vosso pai fez questão de avisar todas as vilas em sua posse antes de partir, meu senhor.
— Bom, isso vai encurtar um pouco as coisas.
Simon andou para o centro do vilarejo, sendo acompanhado pelo grupo. Ele ergueu sua voz e começou a falar.
— Prestem a atenção ao que eu vou dizer, é muito importante! Todos os moradores desta vila receberão uma folha destas que está em minha mão! Eu quero que todos vocês realizem este teste e em uma semana o recolherei! Não o abneguem a ninguém da vila! Quero que todos, sem exceção, façam-no! Se por algum motivo eu ficar sabendo de alguém que não o fez, eu punirei toda a vila! Desde crianças com algum entendimento até os velhos que ainda não perderam sua lucidez!
Ele entrega o masso para o velho, que fazia um rosto confuso encarando os papéis.
— Meu senhor... se me permite perguntar-lhe, o que seria isto?
— Não consegue ver? É um teste.
— Um teste? Para que propósito?
O vampiro sorri e volta a erguer a voz.
— Já devo deixar avisado a todos! Distribuirei este mesmo teste para todas as vilas sobre o comando dos Lumiya, e se por algum acaso eu não encontrar o que busco, eu destruirei vila por vila!
O velho hesita ao ouvir isso, ficando temeroso.
— Isso é alguma piada? — Dizia um morador aleatório para sua esposa. — Ele quer que passemos neste teste? E mesmo se recusarmos fazer, ele vai destruir a vila?
— Amor, silêncio! Não se esqueça que ele pode nos escutar...
O rapaz hesita. E a mulher tinha razão. Mas mesmo escutando o comentário, Simon o ignora.
— Agora, senhor, espero que não recuse nenhum morador deste vilarejo. Em uma semana retornarei para ver os resultados. Deixarei um de meus sevos aqui para checar o progresso. Não me decepcionem.
Após dizer isso, Simon segue caminho, deixando o velho hesitante e pensativo enquanto olhava para os folhetos. Anúbis, que seguia o irmão, parecia curioso sobre o que ele tinha em mente com aquilo. Ele decide fazer-lhe mais uma pergunta.
— Desejas, por algum acaso, obter um servo desta forma?
— Talvez. — Diz o irmão com um sorriso.
— Método curioso, se me permite dizer.
Simon se vira, encarando-o com um rosto neutro. Anúbis não demonstrava a mesma hostilidade de seus irmãos, embora ele claramente não gostasse de Simon.
— Diga-me, Anúbis, por que não me trata da mesma forma que nossos irmãos?
— A educação é algo crucial para um nobre, meu irmão. Por mais que eu não goste de você, como meus irmãos, diferente deles, eu sei a importância de manter as aparências.
Sim, Simon sabia disso. Anúbis era, talvez, o melhor candidato para assumir a mansão no lugar de seu pai.
— A próxima vila é Rumbra, certo?
— Sim, um vilarejo vampírico.
— Vamos ignorá-lo.
Anúbis fica confuso com a fala de seu irmão.
— Por quê? Se teu objetivo é achar um servo, creio que aquele lugar seria um bom local... fora que você não teria que se preocupar com lealdade vinda de um vampiro. Aposto que eles adorariam servir a casa de um lorde.
— É justamente por isso que não vamos para lá.
...
— Crivela, Masterotus, Martini.
— O que?
— Os nomes delas!
— Eu não acho que sejam nomes adequados, M’lady.
Em meio a risadas descontroladas, a mulher se afasta do grupo. As mulheres de joelhos e acorrentadas perante eles choravam em silêncio. Duas grandes carroças estavam paradas ali, na entrada da mansão. Ao redor delas, Elena e um grupo de empregados checavam o seu conteúdo. Tulio permanecia com sua prancheta em mãos, anotando algumas coisas e checando outras.
— Qual a raça delas? — Perguntava Elena.
— As três são humanas, minha senhora.
— Não, não! Sem graça! Por que as trouxe aqui? Eu achei que me traria os melhores!
— Mas elas são as melhores, M’lady. — Ele segura o queixo de uma delas, obrigando-a a levantar-se. — Esta, por exemplo, é uma excelente cozinheira.
— Se eu quisesse comer algo bom, eu simplesmente arrancaria a cabeça delas e me alimentaria do seu sangue! Estou procurando bons guerreiros! Bons soldados!
— Entendo o que quer dizer, minha senhora, e é por isso que a próxima carroça está aqui.
Tulio conduz a mulher para a carro de trás. À medida que Elena se aproximava, ela sentia um cheiro bem peculiar, cheiro este que a agradava.
— Hum, suor masculino! É disso que estou falando, Tulio!
O homem abriu a carruagem lacrada e os homens começaram a descer. Todos pareciam guerreiros, musculosos e saudáveis.
— Estes homens foram presos por um comerciante de Farkar. Eles são todos bandidos e imigrantes ilegais. Sendo assim, ninguém se preocuparia com o que acontecesse com eles. Eu fiz questão de aplicar uma magia de controle sobre alguns deles, para mantê-los na linha.
— Isso não será necessário, Tulio, eu sou uma lorde vampira, esqueceu-se?
— Claro que não, minha senhora. Mas para trazê-los aqui foi necessário.
— Entendo...
Ela começa a andar em volta dos homens, que pareciam hipnotizados.
— Ah não, que olhares vazios! Tulio, desfaça a magia agora!
— Sim, minha senhora.
— Não tem graça se eu mesma não os quebrar com minhas mãos.
O homem fica a poucos metros do grupo de homens acorrentados e recita uma magia, enquanto fazia sinais no ar. Em poucos segundos, os olhos sem vida dos prisioneiros começaram a tomar forma.
— O que... onde estou?
— Eu me lembro... nós fomos capturados.
Elena bate palmas, chamando-os a atenção.
— Atenção aqui, meus queridos servos! Vocês agora são minha propriedade!
Eles encararam-na com olhos sérios, sem esbouçar qualquer medo. Em resposta àquela atitude, Elena sentiu algo percorrer seu âmago, descendo entre seu ventre e fazendo-a soltar um grande gemido empolgado.
— Sim, assim mesmo! Essa é a reação que mais me agrada!
Ela se aproxima de um dos homens, estendendo sua mão para seu rosto, mas rapidamente ele bate em sua mão, impedindo-a de se aproximar mais.
— Fique longe de mim, seu demônio.
Elena ri, se afastando.
— Não, não, não! Não é assim que um cachorrinho deve se comportar!
Ela tenta novamente, mas o homem segura seu pulso e gira seu braço, pressionando-o contra suas costas.
— Isso machuca! — Gritou Elena, em meio a gemidos e risadas.
Seus servos começaram a se mover, apenas para serem parados por Tulio.
— Não interfiram na diversão da Lady Elena.
— Diversão? Eles a subjugaram! — Gritou um dos soldados da mansão.
O prisioneiro apertava o pescoço da mulher, tentando sufocá-la.
— Prestem a atenção, se não querem que ela se machuque, façam o que eu digo!
Elena levantou a cabeça, tentando enxergar melhor o homem que a segurava. Com sua mão livre, a mulher acariciou o rosto dele com um sorriso.
— Você é tão perfeito... do jeito que eu gosto!
Ela cravou suas unhas sobre o rosto do homem, fazendo instintivamente soltá-la. A mulher derrubou o sujeito e pisou em seu abdômen, fazendo com que o pobre coitado gritasse de dor.
— Eu acabei de quebrar algumas costelas suas com isso. Mas se você jurar me obedecer, eu posso te concertar, o que me diz?
— Vai pro inferno!
— Ah, que pena... eu adoraria que você me seguisse por vontade própria. Bem, tanto faz.
Com um chute no rosto, ela desmaia o homem. Logo após isso, Elena se abaixa e se senta em cima da pélvis dele, aproximando seu rosto do dele.
— Você será um bom bichinho de estimação... — Dizia ela enquanto acariciava seu abdômen.
Cravando suas presas no pescoço do sujeito, ela começa a se alimentar de seu sangue. Os que assistiam a cena, pareciam meio enojados e perplexos, com exceção de Tulio, que já conhecia bem a sua mestra. Mesmo os vampiros que estavam ali sentiam certa vergonha alheia da madame. Sua atitude era sempre... excêntrica.
Após poucos segundos ela se levanta em risos histéricos.
— Tulio!
— Sim, madame?
— Eu vou ficar com eles!
— Já tinha imaginado isso...
— Só preciso conferir mais uma coisinha!
Ela aponta para os outros sujeitos com um riso frenético.
— Tirem suas roupas!
Os prisioneiros se olharam confusos.
— O que?
— Eu quero ver o tamanho, ora essa!
Tulio fechou os olhos com um suspiro, abaixando a cabeça.
— Então, foi por isso que deixou ele te agarrar daquele jeito...
— Sim! Eu medi usando minha bunda!
Ele solta um interjeição de decepção e se vira, se afastando.
— Senhora, com todo respeito, preciso resolver alguns assuntos importantes no escritório da mansão. Me ajudaria se a senhora não ficasse perdendo tempo com essas coisas.
— Hum, sem graça! Não me diga que está com ciúmes?
— A senhora é a mestra desta mansão, não cabe a mim dizer o que a senhora deve ou não deve fazer. Apenas gostaria de lembrá-la de seus compromissos com o feudo e o reino.
— Droga, seu chato! Tá bom!
Elena desaparece em um rápido movimento; no mesmo instante, os prisioneiros desmaiam, caindo um por um no chão. Depois de uma fração de segundos, ela reaparece, encarando Tulio com um rosto extremamente irritado.
— Satisfeito? Estraga prazeres...
— Sim, podemos ir?
Ela suspira, olhando para os homens caídos.
— Alguém os levem para meu quarto? Vou brincar com eles mais tarde, quando terminar com meus “afazeres”! — Diz ela, dando uma ênfase nervosa à palavra marcada.
Após aquilo, ela segue Tulio, que caminhava tranquilamente para dentro da mansão.
— Se você não fosse meu preferido, te arrancava a cabeça agora, tá me ouvindo? Ei, não me ignora!
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