Bloody Devotion escrita por Eliander Gomes


Capítulo 25
Devoção Firmada por Sangue.




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Enquanto a carruagem se aproximava, o grupo de empregados se preparava para recebê-la.

— Há mais alguém com eles... — Comentou a menina.

— É uma quantidade massiva de mana. Eu nem preciso pensar muito para saber que é.

— Você está certo, irmão. Mas não reconheço a quarta pessoa.

Os dois encaravam a carruagem ansiosos, assim como aqueles empregados que os acompanhavam. Quando a carruagem parou, o grupo se curvou de forma sincronizada, recitando em uníssono.

— Bem-vinda de volta, Lady Hagara.

A mulher desceu, juntamente com seu servo e os outros dois acompanhantes.

— Senhor Lumiya, seja bem-vindo.

— Akane e Akira, como vocês dois cresceram.

Os olhos de Alice se encheram de brilho com a visão a sua frente. Era a primeira vez que ela via humanos como aqueles dois. Peles pálidas, cabelos brancos como a neve, olhos vermelhos como o sangue. Eram tão belos, e ao mesmo tempo, tão ameaçadores. Ela ficara deslumbrada.

— Obrigado, senhor. Ficamos felizes em recebê-lo. Sinta-se em casa.

Lenore sorriu para os dois e se aproximou, acariciando a cabeça de ambos com bastante carinho. Aquele, exatamente aquele toque, chamou a atenção de Alice.

— Meus coelhinhos, tenho algo a pedir. Mas antes, vamos entrar.

Eles começaram a andar em direção a mansão, enquanto o restante dos empregados arrumavam as coisas da carruagem. Akane tinha um ar elegante, mas não deixava de ter um olhar curioso sobre a menina loira que acompanhava o grupo. Sua beleza e delicadeza chamaram a atenção da serva da vampira. E, claro, Alice percebera o olhar curioso dela, mesmo que ela tentasse disfarçá-lo.

O grupo era conduzido para uma sala aconchegante, com alguns sofás e poltronas, tal como uma enorme clareira e várias estantes com livros e objetos de decoração, que davam um ar requintado ao ambiente.

Lenore se joga em uma poltrona, suspirando.

— Barkar, sei que também está cansado, mas posso solicitar para que peça um chá à uma das empregadas?

— Sim, minha senhora.

Assim que o elfo saiu, a mulher voltou-se para os seus outros dois servos.

— Akira, Akane, gostaria de ouvir um relatório de vocês sobre aquele trabalho, mas isso fica para depois. Acho que o que o senhor Lumiya tem a discutir com vocês é mais importante.

— É claro, minha senhora.

— Fique à vontade, Simon.

Havia dois sofás no centro do lugar, próximos a poltrona e a clareira. Os dois eram separados por uma mesa de centro, que possuía alguns poucos objetos de decoração.

Simon se sentou em um dos sofás, juntamente com sua serva. Após Akira e Akane sentarem-se no sofá a frente de Simon, ele começou a falar.

— Preciso de um favor.

— Qualquer ajuda para um amigo de nossa mestra será um prazer.

— Esta menina que vocês veem se chama Alice, ela é minha serva. O favor que tenho a pedir é relacionado a ela. Preciso que vocês dois a treinem.

— Treiná-la? Em que exatamente?

— Em tudo que vocês puderem, mas em especial, em combate.

Akane franziu os olhos, descendo-os pelo corpo da menina enquanto analisava seu porte físico. Alice não tinha um porte de um guerreiro. Ela viveu bons anos na floresta, tendo de se virar como podia, então ela tinha sim alguns músculos, mas ainda era delicada demais.

Akira tinha um ar um pouco sério e desleixado. Ele estava sentado com uma das pernas sobre a outra, enquanto estendia um dos braços sobre o encosto do sofá, atrás de sua irmã. Ele analisava a menina com a cabeça inclinada para a direita. Alice podia sentir claramente aqueles sinais vindo dos dois. Eles tinham muitas dúvidas sobre as capacidades dela.

— Eu entendo... quer que treinemos ela. Mas... por que nós dois?

— Acredito que sejam as pessoas certas para isso.

— Entendo, mas por que pedir a outra pessoa para fazê-lo? O senhor é, certamente, uma pessoa muito mais adequada para ensiná-la.

— Eu já ensinei o básico de magia para ela, embora eu não tenha tido tanto tempo para focar nesse aspecto, já que havia outros assuntos mais importantes para passar a ela. Mas acredito que ter professores mais jovens possa ser bom para ela. E eu, infelizmente, temo não ter a delicadeza necessária para ensiná-la.

— E há o fato também de o senhor Lumiya sempre ter interesse em suas habilidades, meus coelhinhos.

— Sim, Lenore, há este ponto também.

Akira encarava Alice com um silêncio assombroso. O rapaz puxa uma moeda do bolso e joga em direção a menina, que reage no mesmo instante, tentando pegar o objeto. A moeda passa entre os dedos dela e bate em sua testa, fazendo-a soltar um som melancólico de dor, enquanto levava suas mãos sobre a contusão. O rapaz suspira, decepcionado.

— Sem chance...

Akane dá um tapa no pescoço de seu irmão, se levantando e se curvando em direção a Simon logo em sequência.

— Perdoe meu irmão, senhor Lumiya. O que ele quis dizer foi que faremos o possível para ensiná-la.

— Há mais uma coisa, vocês dois. — Dizia Lenore, com uma expressão cansada. — Vocês vão ficar com Simon por um tempo.

— Senhora? Têm certeza? — Disse ela, espantada.

— Não se preocupem, já conversei com ele sobre isso.

— Quanto tempo vai durar o treinamento?

— Por agora, apenas um mês. Mas dependendo do que se suceda, pode ser que este tempo aumente um pouco.

— Ficar tanto tempo longe de nossas obrigações seria...

— Akane, não se preocupe com isso. A quantidade de mana que despejei em seus corpos da última vez é mais do que o suficiente para que vivam alguns anos sem minha presença. Não precisam se preocupar.

— Sim...

Alice imediatamente percebeu a hesitação de Akane. Sim, ela podia lê-la com muita facilidade. Não era uma expressão comum no rosto de um empregado, ou de um escravo. Aquela expressão, somada com a atitude que ela via desde que chegou, era mais como a de uma filha. Akira tinha um ar mais calmo, e desviava seu olhar do resto do grupo, com um rosto sério e emburrado. Mas por trás daquilo ela ainda podia sentir.

— Estão tristes... — Sussurrou a menina para si mesma.

Lenore levantou levemente a sobrancelha olhando em direção a Alice, voltando-se novamente para os dois irmãos.

— Essa preocupação não é sobre virarem carniçais, não é?

Akane tremulou com a fala de sua mestra, abaixando a cabeça.

— Se é o desejo de minha senhora, e se vai ajudá-la de alguma forma, não tenho o porquê ir contra.

— Akane, seja sincera comigo.

A menina apertou as mãos sobre seu vestido, vacilante, enquanto evitava olhar para sua mestra.

— A senhora... acabou de chegar.

— Entendo.

A mulher se levantou com um suspiro, aproximando-se dos dois. Fazia aproximadamente um mês que eles não se viam. Akane e Akira estavam em missão, escoltando aqueles mercenários para fora do país. Ao chegarem na mansão sua mestra havia saído para o jantar.

— Estavam com saudades? Por que não disseram logo?

Lenore abraçou a garota de cabelos brancos, puxando a cabeça da menina contra seus seios. Ela era tão alta que fazia aqueles pequenos seres parecerem coelhos. Akane não pôde fazer mais nada, a não ser responder o abraço com seus braços. A cena a seguir chocou levemente Alice; a mulher soltou Akane, abaixando a cabeça gentilmente em direção a seu pescoço. A mordida dela fez escorrer um pouco de sangue dos cantos de seus lábios. Akane, por sua vez, fazia uma leve expressão de dor e prazer em seu rosto, enquanto deixou sair um leve suspiro ao toque de sua mestra. Alice olhava a cena assustada, mas curiosa.

Assim que Lenore afasta seus lábios do pescoço da menina, ela fraqueja em direção ao sofá, apoiando-se nele com o rosto fatigante. Akira tentava desviar o olhar, com uma expressão envergonhada.

— Não podia deixar para fazer isso em um local mais apropriado? — Perguntou Simon, de forma bastante casual.

— Não entendi o seu comentário. Qual o problema? Foi apenas uma recarga de mana comum.

— Não foi o que me pareceu.

— Você que tem uma mente muito poluída então, senhor Lumiya.

A mulher sorriu, encarando Akira. O garoto escorava seu cotovelo sobre o braço do sofá, enquanto apoiava sua cabeça sobre sua mão fechada.

— Não quer uma recarga também, Akira?

— Hã? Que? Ah, eu estou bem, minha senhora. Obrigado.

— Tem certeza?

— É sério, eu não preciso não, tá tudo certo.

Lenore se aproximou, deixando o garoto acanhado. Ela o prensou contra o sofá, colocando seus braços em volta da cabeça de Akira e seu rosto bem próximo do garoto.

— Não seja tímido, Akira. Está com vergonha por que tem outras pessoas olhando?

— Se... senhora Lenore, com todo respeito...

A menina loira encarava tudo com bastante estranheza, foi quando ela voltou seus olhos novamente para Akane, que naquele ponto já estava sentada de forma sonolenta sobre o sofá, quase como um zumbi. Ela estava praticamente inconsciente, embora ainda mantivesse parte de seu olho aberto.

Lenore acariciou o rosto de Akira, pondo seus dedos em seu queixo de forma carinhosa, fazendo-o olhá-la nos olhos. Mas, diferente do que Alice esperava, apesar de todo o contexto anterior dos acontecimentos, os olhares dos dois não foram lascivos.

Os olhos de Lenore expressavam preocupação, e os olhos do garoto, antes envergonhados, ao se encontrarem com os dela, ficaram tristes.

— Me desculpe, Akira... eu não queria deixá-los sozinhos por tanto tempo.

— Não se desculpe, mestra. Somos seus coelhos. É nosso dever servi-la como pudermos. Se isso significa ter de deixar o calor de nossa toca por alguns dias, semanas, ou mesmo meses e anos... nós faremos com prazer. Essa é a nossa vontade; a nossa devoção.

— Sim. Uma devoção de sangue que foi imposta a vocês.

— Não, não diga isso, não é verdade. E a senhora sabe muito bem que não é verdade.

A mulher hesitou, levando seus lábios ao pescoço do garoto logo em seguida.

Alice não entendeu naquele momento muito bem o que tinha acabado de acontecer, mas ao voltar seus olhos para seu mestre, ele parecia já estar preparado para respondê-la.

— Assustada? — Perguntou ele em baixo tom com um sorriso.

— Não exatamente... eu diria mais confusa.

— Você sabe que vampiros podem injetar muito mais do que apenas mana no corpo de seus servos, não é?

— Sim.

— A maioria das substâncias que injetamos em alguma criatura só tem efeito quando o corpo dessa criatura tem afinidade suficiente para o efeito se manifestar. É por isso que a maioria das vezes só é útil com servos.

— É por isso que não era possível utilizar alguma substância para fazer aqueles mercenários falarem, certo?

— Exatamente. Como eu já disse, as substâncias só têm efeito em corpos que estejam propícios para tal. No caso de servos, se a pessoa for contra a ideia de se transformar em um servo vampírico, o mana injetado pode acabar sendo fatal para ela. É exatamente por isso que nós não transformamos todos os nossos escravos em servos, e é por isso que a maioria dos servos vampíricos são pessoas devotas ao seus senhores. A maioria escolheu esta posição. Nós chamamos isso de Devoção Sangrenta.

— Uma devoção firmada por sangue.

— Exato. Vampiros também podem se especializar em uma substância específica. No caso de Lenore, sabendo de tudo isto que falei, ela decidiu se especializar em um tipo específico de substância. Algo como uma forma de recompensa aos seus servos.

— Você sabe que eu estou ouvindo tudo, não é, Simon? — Comentou a mulher, sem olhar para trás.

— Sim.

— Bem, não importa. É como seu mestre disse, pequena Alice. Já que eu não sou uma mulher que se engaja em batalhas, ou alguém que precisa constantemente de novos servos, eu decidi me especializar em uma substância mais... benéfica.

Akira voltou a sua expressão envergonhada.

— A senhora diz isso com esse sorriso...

— É só uma forma de compensação. Por todo o trabalho que eu despejo em cima deles.

Após dizer isso, a mulher dirige seus lábios em direção ao pescoço do rapaz, que mesmo com protestos, acaba cedendo ao sentir o toque da mulher. Diferente de sua irmã, no entanto, o rapaz não demonstrou tantas reações. Fechando seus olhos, ele adormeceu em poucos segundos.

A menina encarava tudo com certa dúvida no olhar.

— Que tipo de substância exatamente é essa...?

— Por que não experimenta?

Alice arregala seus olhos ao escutar a mulher dizendo isso. Havia um pouco de sangue nos cantos dos lábios dela, enquanto ela se aproximava com um breve sorriso da menina. Porém, antes que Alice sequer pudesse pensar na oferta, Simon se pronunciou.

— Lenore, não ofereça este tipo de coisa a minha serva, por favor. Alice, a substância dela tem efeitos similares a de um alucinógeno. Mas não produz efeitos viciantes.

— Não, é muito melhor do que uma simples droga, na verdade. E você sabe disso.

— Claro.

— Na verdade, Alice, seu mestre por si só já a provou.

A menina fica confusa com a colocação da mulher.

— Mas o senhor não disse que apenas corpos propícios... oh...

A menina ficou bastante corada, enquanto olhava para o rosto envergonhado de seu mestre.

— Os detalhes não são importantes...

— Tudo bem..., mas não imaginei que isso funcionasse em vampiros também.

— Não é tão forte e duradouro, mas sim, funciona.


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