Bloody Devotion escrita por Eliander Gomes


Capítulo 26
Juntos.




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Escuro, úmido, abafado, frio. Essa era a situação daquele lugar.

As celas pareciam ser usadas com bastante frequência. A sujeira e a falta de cuidados com o ambiente mostravam que os donos não se importavam muito com a qualidade da estadia; já que a maioria dos moradores não ficavam por muito tempo.

Aquele também era o caso.

Os dois sujeitos ouviram passos se aproximando. Pareciam leves e delicados, como os passos de uma dama. E aquilo não poderia ser mais aterrorizante para os dois.

— Onde estão meus novos brinquedos?

— Na última cela, minha senhora.

— Ah, já não me aguento mais! Toda aquela chatice de jantar me deixou entediada, mas agora vou poder finalmente me divertir!

Elena parou em frente a cela, encarando os dois homens presos por correntes. Ela apressadamente abriu a cela, entrando em meio a risadas enquanto rasgava seu próprio vestido.

— Se... senhora, não seria melhor levá-los a seu quarto?

— Estou excitada demais para isso, Tulio!

Ela se abaixou, segurando as bochechas de um dos homens com uma das mãos.

— Tão fortes e belos, uma pena serem humanos. Eu não te contei, não é, Tulio? Como esses dois me deram trabalho aquele dia. Foram os únicos que aguentaram nossa brincadeira. Tão resistentes... ah... só de pensar...

— Eles parecem fracos.

— Eu injetei um pouco de meu mana neles. Não o suficiente para matá-los, mas para deixá-los um pouco mais... dóceis. Eu sei que se eu injetasse mana demais eles poderiam morrer, já que eles ainda não são compatíveis.

— O que pretende fazer com eles, minha senhora?

— Não é óbvio? Vou injetar um pouco de endorfina e...

— Não me refiro a agora, senhora, me refiro a longo prazo.

— Ah. Bom, se possível, gostaria de transformá-los em meus servos. Quando eu conseguir, tenho alguns trabalhos que gostaria de dar a eles..., mas agora eu desejo dar outra coisa a eles. Se não está aqui para assistir, Tulio, poderia nos deixar a sós? E a propósito, cuide daquele assunto que discutimos, por favor.

— Claro, minha senhora.

O homem deixou o lugar, ouvindo os risos e gritos da mulher à medida que se afastava. Assim que alcançou a superfície, Tulio suspirou, encarando o céu.

“Só preciso aguentar mais um pouco...”.

...

Simon se sentava em uma das camas de hospedes do lugar, quando escutou um pequeno e suave som vindo do bolso de seu paletó.

“Ela demorou para fazer contato” Pensou o homem.

Ele pegou o pequeno objeto circular e encarou-o com curiosidade, colocando-o em cima da mesa de canto do quarto, se sentando na cadeira logo em seguida. Ele passou sua mão sobre o cristal brilhante e uma imagem se projetou acima dele.

— Senhor Lumiya? Está me ouvindo?

— Sim, senhorita Solas. É bom poder conversar com a senhorita novamente.

— Devo admitir que este objeto é algo curioso e fascinante...

— E então, como foi a viagem?

— Foi tranquila, desta vez. Não tivemos quaisquer problemas ou imprevistos.

— Isso é bom.

Karen havia ligado, como prometido, mas não é como se tivessem muitos assuntos a tratar. De fato, Simon agora estava encarregado de ajudá-la com quaisquer problemas que pudessem aparecer durante os próximos dias daquele ano. Até que a data limite se completasse, os dois seriam parceiros; para o bem ou para o mal.

A garota ainda não sabia se podia confiar completamente em Simon, mas devido à sucessão de acontecimentos, ela decidiu em sua alma acreditar no homem. Afinal de contas, querendo ele ou não, suas terras também estavam em jogo ali.

— A senhorita recebeu o comunicado de Elena mais cedo, eu presumo... — Comentou o homem, quebrando o breve silêncio que se formara.

— Sim. Este também é um assunto que gostaria de discutir com o senhor.

— A data da grande caçada. Ela foi bem generosa quanto ao tempo de preparo.

— Eu imaginei que um mês seria pouco para nos prepararmos para um evento assim, mas não imaginei que ela o marcaria para daqui seis meses.

— Suponho que Elena tenha noção que marcar para uma data mais avançada e com antecedência faz com que recusar se torne cada vez mais complicado. Se ela marcasse para uma data muito próxima alguns lordes poderiam recusar usando desculpas simples. A senhorita nunca participou de uma grande caçada, não é? Imagino que tenha muitas dúvidas quanto ao evento.

— Sim... confesso que estou um pouco preocupada...

— Elena pode ser louca a ponto de propor uma grande caçada envolvendo servos, e colocar regras perigosas..., mas imagino que até ela saberia que se o fizesse, não seria benéfico para ninguém, muito menos para ela mesma. Os outros lordes recusariam perder seus servos principais com tal brincadeira fútil.

O senhor parece conhecer bem ela...

— Na verdade, não a conheço muito. Tudo que sei dela são rumores e histórias, assim como a maior parte dos lordes. Elena é de certa forma famosa por seus feitos como assassina, e estrategicamente falando ela também não deixa tanto a desejar. É por isso que quando falo sobre sua postura posso ter um pouco de firmeza em meu raciocínio.

Ela não colocaria tudo a perder, como a estrategista que ela é; este é o pensamento, certo?

— Sim. E tem mais, ela mesma garantiu. Em seu comunicado ela mencionou que levaria em consideração que usaríamos os nossos melhores e favoritos servos, então ela garantiu que eles voltariam da mesma forma que chegassem. Usar tais palavras em um comunicado como este e depois voltar atrás seria um ataque contra ela mesma.

Mas e se ela não for tão cuidadosa assim? Ou pior, se ao ser descuidada, ela tiver um plano...

— Acho que só está pensando demais, senhorita Karen.

Sim, bom... não queria parecer tão negativa.

A menina ficou levemente pensativa, encarando o nada por alguns segundos. Simon deixou de lado a hesitação da garota e decidiu mudar o tópico.

— Enquanto a seus afazeres como lady? Precisa de ajuda em algo por agora?

Acredito que não, senhor Lumiya. Creio que devo ser capaz de cuidar da papelada que tenho em mãos no momento. Agora que minha saúde não é mais um problema, minha produtividade deve dar um belo salto.

“No fim das contas não precisarei acudi-la então” pensou ele. “Posso concentrar meus esforços para o treinamento de Alice”.

— Senhor Lumiya, posso lhe pedir um favor?

— O que deseja?

— Poderia me dar uma visão geral de Hastermash? Como bem sabe, eu passei muitos anos fora, e por este motivo careço um pouco de coisas básicas.

— Posso ajudar sim, mas acredito não ter muito o que dizer além do que já sabe. Após a expedição ao continente negro, os ares das casas mudaram bastante. Creio que esta nova leva de acontecimentos que se procedem pegarão a todos de surpresa igualmente.

Entendo o que quer dizer...

— Mesmo assim, não acho que devemos nos preocupar tanto. Apenas faça seu trabalho e dê o seu melhor. As fichas que depositei em você não são por pena ou interesse. Eu realmente acredito que a senhorita é capaz de grandes feitos.

Como pode ter certeza? Nem me conheces direito...

— Eu não preciso de mais do que já sei para crer no que disse. Pode parecer meio ilógico da minha parte, mas... eu confesso que estou confiando em meus instintos um pouco.

A menina soltou uma leve risada frustrada.

Seus instintos, não é? Bom... de certa forma, eu agradeço por confiar neles.

— Senhorita Karen, estamos juntos nisso.

A menina ficou pensativa. Após aquilo, eles trocaram mais algumas poucas palavras e se despediram. Simon guardou o objeto e se deitou na cama de hóspedes, pensativo, enquanto encarava o teto.

— Espero que saiba o que está fazendo, lorde Lumiya...

O homem levou seus olhos a porta, vislumbrando Lenore, que estava escorada ao batente da porta, encarando-o.

— Por que se preocupa tanto?

A mulher deu de ombros, fechando a porta atrás dela e andando na direção dele. Ela vestia uma espécie de camisola longa feita de um tecido leve. Ao vê-la se aproximando, o homem se sentou, sem tirar os pés do colchão.

— Não me preocupo.

— Não é o que parece.

— Eu só acho que você deveria confiar mais em mim, ao invés de confiar tanto em uma garota que mal conhece.

— O que está dizendo? Ainda está chateada com nossa discussão?

— Simon...

Ela se sentou na cama, colocando uma de suas pernas dobrada inteira sobre o colchão.

— Eu entendo sua preocupação, Lenore...

— Entende mesmo?

A mulher colocou suas mãos sobre as bochechas do homem.

— Sim...

— Não me pareceu uma afirmação confiante. Durante todos estes anos, Simon, eu fiquei te esperando. Durante tantos anos eu fiquei aqui, servindo ao rei Drakon, sustentando este feudo. Todas as vezes que pensava em desistir eu me lembrava de você, do seu rosto.

— Eu sinto muito...

— Por quê?

— Por te abandonar em um momento tão importante para você...

— Não, Simon, você nunca me abandonou. E sabe o porquê? Porque você esteve sempre comigo, em meus pensamentos.

— Lenore, eu...

Ela colocou seu indicador sobre os lábios do homem, calando-o enquanto emitia um suave chiado com sua língua.

— Não diga mais nada. Não com suas palavras...

— Obrigue-me.

A mulher sorriu, aproximando seus lábios dos dele, abraçando-o e subindo em cima da cama por completo. Simon se deitou, obrigando-a a se colocar acima de seu corpo.

— Tem certeza de que deseja fazer isso aqui, em um quarto de hospedes?

— Toda essa mansão é minha. Eu decido onde é o lugar apropriado para meus afazeres.

Lenore o beijou, enquanto as mãos de Simon percorriam seus ombros, abaixando as finas alças de seu vestido. Assim que ele tocou seus cheios seios, percebeu que ela já estava preparada para o momento. Não havia muito mais para retirar. As mãos de Lenore percorreram o peitoral do homem, descendo até as bordas de sua camisa, que ela sutilmente levantou, desprendendo seus lábios dos do homem.

A respiração dos dois estava pesada.

Embora o momento parecesse tão situacional, para os dois não havia dúvida sobre seus sentimentos; nunca houve. Lenore e Simon se conheciam a tanto tempo.

Para os dois, naquele momento, mesmo a distância, mesmo o tempo, nada disso foi capaz de diluir o que sentiam um pelo outro.

Para os dois parecia a primeira vez.

A mordida de Lenore sobre o pescoço do homem o obrigou a agarrar a mulher e virá-la contra a cama.

— Ainda está tão bela quanto naqueles tempos. Eu quase posso dizer que está mais bela.

— Não foi o que me disse há algumas horas atrás...

— Sabe que não pode competir com a beleza de minha irmã.

— Mesmo sabendo que isso foi uma piada, esse não é o tipo de coisa que se diz para alguém durante o sexo. Te faz parecer um incestuoso.

— Além disso, tenho quase certeza de que isso é efeito dessa sua mordida.

— Quer que eu morda de novo?

— Consegue me fazer achar que você é minha irmã?

— Imbecil! — Dizia ela aos risos.

O homem chegou seu nariz perto do dela, fechando os olhos.

— Lenore, eu te amo. E eu nunca amei outra mulher, nem nunca amarei. E você sabe que meu amor por você vai além de mera atração física.

— Sim, Simon... eu sei...

— Mas você ainda se sente insegura, não é?

Ela permaneceu em silêncio. Ele afasta seus rostos e ambos abrem os olhos, se encarando profundamente.

— O que posso fazer para que essa insegurança desapareça?

— Não, eu não me sinto insegura... você me entendeu errado, Simon...

— Qual o problema, então?

— É... você sabe qual é o problema... nós somos de casas diferentes.

— E qual o problema? É natural que casas diferentes se unam em matrimônio.

— Mas esse tipo de coisa não é comum entre líderes.

— É essa sua preocupação? O que há de errado em desafiarmos as normas deste país?

A mulher riu.

— Fico feliz que pense assim, mas nossa união geraria certos problemas políticos...

— Se isso for um problema para você, Lenore, eu deixaria o controle da casa dos Lumiya com prazer.

— Não, Simon! Nem pense nisso.

— Sim, não vamos pensar nisso. Não agora.

Com um grande suspiro, ele beija novamente a mulher.

Após o momento, os dois se perderam em seus sentidos e instintos e se viram cobertos pelos lençóis macios e sedosos daquela cama. A mulher se abraçava no corpo nu de Simon enquanto o homem acariciava seus cabelos.

— Sabe quantos anos esperei para sentir isso novamente, Simon?

— Lenore...

— Não comece a lamentar novamente, ou vou me levantar e ir embora.

— Não faça isso.

Ela deu uma breve risada.

— Tem certeza de que deveria estar perdendo tanto tempo aqui, desta forma?

— Não tenho muito para fazer como lorde da região Lumiya por agora; meus irmãos já têm o costume de mexer com boa parte da papelada e afazeres da mansão. Suspeito que meu pai tinha outros planos em mente ao me pôr no controle da casa.

— Outros planos, não é? — Dizia ela com uma voz sonolenta.

— Sim... ele sempre conheceu meus ideais. E mesmo quando decidi deixar Hastermash, ele nunca foi contra.

A mulher não respondeu aos estímulos dele, fazendo-o soltar uma leve risada.

— Já dormiu? — Perguntou ele, enquanto mexia nos cabelos de Lenore.

Simon encarou o teto sério e pensativo.

Ele ainda tinha muitas dúvidas que o cercavam cruelmente sobre seus próximos passos. Mas de uma coisa ele tinha certeza.

Ele não estava sozinho.


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Notas finais do capítulo

Aviso aos leitores: Não darei mais suporte à história neste site. Não tenho tido um bom retorno por aqui, e por isso resolvi não fazer mais atualizações nos capítulos daqui. Para quem desejar continuar a ler pode migrar para o Inkspired, onde estou continuando a história normalmente ainda de forma gratuita.

Obrigado pela compreensão.

Link: https://getinkspired.com/story/134942/bloody-devotion



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