Bloody Devotion escrita por Eliander Gomes


Capítulo 20
Mercenários.




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Elena caminhava confiante pelos corredores do castelo. Ela permanecia pensativa, enquanto era seguida pelo seu servo.

— Que horas são, Tulio?

— Quase meia noite, senhora.

— Ainda está cedo, não é?

A mulher vê duas figuras vindo em sua direção. Elas caminhavam calmamente, duas mulheres, na direção oposta à de Elena. Aquela mulher de armadura tinha passos firmes, e a elfa que a seguia parecia sublime. Os olhares de Elena se chocaram com os de Yevrin por um segundo, e a mulher não pode deixar de abrir um sorriso.

— Indo a algum lugar específico? — Perguntou Elena.

— Apenas dando uma volta.

— Cuidado para não se perder, este castelo é realmente grande.

A mulher sorri com a fala de Elena. Assim que elas se cruzam, Jean rapidamente saca sua espada, jogando Elena contra a parede. A mulher responde com risos, enquanto Jean pressionava seu pescoço com sua espada. Arendril apontava uma flecha com seu arco para o sujeito que acompanhava Elena, mas este não demonstrava qualquer reação hostil.

— Não é como se eu não gostasse desse tipo de tratamento, Jean Yevrin, mas posso saber do que se trata isso?

— Não esqueça que sou a responsável pela proteção do reino e de seu território, senhorita Banshee. Meus olhos e ouvidos se estendem por uma proporção maior do que você sequer possa imaginar. Ameaças constantes aparecem em nosso território, e elas são muitas vezes previsíveis. Por coisas como essas eu tenho métodos específicos para lidar com tais ameaças.

— Me considera uma ameaça?

— No começo, eu considerava vossa pessoa um mero incômodo, mas pensando bem, posso ter mudado minha visão sobre.

Ela abaixa sua espada, se afastando um pouco de Elena. A elfa faz a mesma coisa. Elena faz um rosto confuso, ainda sorrindo, encarando a mulher com bastante cautela.

— E isso tudo foi por qual motivo?

— Eu ouvi sua conversa com Hugo.

Elena desfaz o seu sorriso, fitando-a com curiosidade.

— Não sei o que acha que ouviu...

— Não tente bancar a esperta. Não vai me enganar.

Ela fica pensativa, acariciando o pescoço no local onde a espada a apertara.

— Como? Fiz questão de não haver ninguém por perto.

— Arendril é uma druida.

Ela encara a elfa, soltando uma risada logo em seguida.

— O cachorro... mas que merda. Você estava controlando-o?

— Não se preocupe, eu não estou aqui para julgá-la ou puni-la. Para ser sincera... eu tenho um pensamento similar ao que você demonstrou ali.

— Mesmo?

— Mercenários e bandidos têm sido um problema frequente em nossas terras. Sei que há alguns lordes que escondem este fato, mas a verdade é que todos nós já fomos atacados ao menos uma vez por algum deles. A princípio, eu os tratava como meros incômodos, mas com o tempo eu percebi que, se as coisas continuarem assim, não vai demorar muito até que um dos lados quebre o tratado. Se a ideia desses seres para com os vampiros continuar mudando, em breve vão voltar a nos caçar, como faziam na antiguidade.

— Então você enten...

— Eu entendo que os seres inferiores são sim uma ameaça. Mas não pense que concordo com tudo que disse ali. Existem formas e formas de se tratar deste assunto. Uma delas é fazer-se ciente da situação para os outros lordes e pensarmos juntos em uma solução.

— Eu duvido que dariam a devida importância.

— Talvez você tenha razão. Mas como uma guerreira experiente, que já tomou frente em diversas batalhas, eu sei bem que a guerra não é a melhor solução possível para tal assunto.

Elas se encaram, ambas demonstrando bastante seriedade em seus rostos. Yevrin fecha seus olhos e suspira, abaixando levemente a cabeça.

— Mas... não vou interferir em seja lá o que está planejando. Pelo menos não por enquanto. Porém fique ciente de que vou estar de olho em você, Banshee.

Jean volta a andar, seguida por sua serva, enquanto Elena a encara, pensativa.

— E mais uma coisa, senhorita Banshee; a senhorita não é a única pessoa preocupada com o lorde Simon.

Após ouvir aquilo, a mulher abre um leve sorriso.

...

A noite estava quase acabando, e o grupo de lordes se reuniu uma última vez para se despedirem.

— Foi uma noite maravilhosa, vossa majestade. — Comentava o visconde Darius, apertando a mão do rei com um grande sorriso. — Por mais eventos como este.

— Terão muitos, Visconde Horan.

— Ah, por falar nisso, posso ter a atenção das senhoras e dos senhores por um breve momento?

O grupo encara Elena com curiosidade.

— O que gostaria, senhorita Banshee?

— Tendo em vista a fala do mestre Horan, acredito que não há momento melhor do que este. Foi de fato bastante divertido tal jantar, mas gostaria de propor a todos aqui um convite bastante especial. Estou planejando um pequeno momento de descontração e gostaria de saber a opinião dos senhores a respeito.

— Bom, estamos todos ouvindo. — Diz o rei.

— Uma grande caçada.

Todos fazem uma expressão de surpresa.

— Oh, que bela ideia. — Diz Cornélia. — Me surpreende que tenha vindo justo da senhorita.

O rei fica pensativo, voltando-se para Elena novamente.

— E quando seria isso?

— Eu estava pensando em organizar para daqui a alguns meses, talvez? Poderia ser nas minhas terras. Se confirmarem, mandarei a data exata e o local.

— Muito provavelmente eu não poderei comparecer..., mas... incentivo os demais presentes a aceitarem tal oferta. Estreitar os laços e as relações entre os lordes é algo importante. Acredito que um evento como este seria essencial.

— Então posso contar com a presença de todos?

Os lordes ficam pensativos.

— Quanto tempo faz que não participo de uma grande caçada? — Se perguntava Horan. — Será uma excelente oportunidade para testar minhas habilidades. Ver se não estou tão enferrujado. O que me diz, senhorita Rakiya?

— Como uma dama, não sou tão chegada a este tipo de coisa, mas acredito que pode vir a ser uma experiência prazerosa.

— Não posso garantir minha presença devido aos assuntos do clero, — diz Georgia, — mas farei o possível para comparecer.

Elena encara Lenore e Simon, que estavam próximos um do outro.

— Enquanto a vocês? Eu gostaria, de verdade, ter pessoas um pouco mais jovens na brincadeira. Sem querer ofender aos mais idosos, claro.

Simon não sabia ao certo qual era a real intenção de Elena com aquilo, mas algo dizia que ele não deveria perder isso. Ele encarou Lenore, que o olhou de volta, e ambos assentiram.

— Tudo bem. Conte com nossa presença.

— Excelente.

Lorius começa a rir freneticamente.

— Eu realmente nem preciso dizer que vou ser o primeiro a chegar, não é?

— Conto com vossa presença, senhor Bara.

Jean encara a mulher com curiosidade.

— Quantos coelhos está pensando em usar, Banshee?

— Apenas um por lorde será o suficiente, mas sintam-se à vontade para levar quantos quiserem.

— Ah, então será este tipo de competição. Acho que será interessante, vou me esforçar para comparecer.

— Excelente! Karen Solas?

A menina hesita por um segundo, encarando Elena com certo receio.

— Ah, bem... eu... estou em dúvida ainda.

— Seria por causa de sua saúde?

— Bem... é que...

Simon encara sua aprendiz Alice, que o olha de volta, fazendo um sinal com a cabeça.

— Você não sabe do que se trata, certo? — Diz Simon, olhando para Karen.

Os outros lordes ficam surpresos, mas logo fazem rostos compreensivos. Para alguém que viveu tantos anos em isolamento, seria normal nunca ter participado de algo assim.

— Não se preocupe com isso, jovenzinha. — Diz Elena com um sorriso. — É apenas um jogo popular entre os vampiros. Explicaremos as regras. Prometo que será divertido.

— Bom... nesse caso...

— Sei que vai gostar.

Karen fica pensativa, mas apenas assente. Alguns minutos depois, após todos se despedirem, eles partem cada um para suas terras.

O jovem Lumiya se aproximou de Karen com um breve sorriso.

— Gostaria de fazer a viagem conosco, senhorita Solas? Lenore e minha pessoa faremos nosso caminho juntos para nossos feudos.

— Eu agradeço o convite, senhor Lumiya, mas prefiro fazer minha viagem sozinha. Melhor dizendo... eu preciso fazê-la sozinha.

— Entendo.

— Mandarei uma carta assim que chegar... não, farei melhor. Utilizarei este objeto que o senhor nos deu.

— Esperarei ansioso.

A garota assente, caminhando para sua carruagem logo em seguida. Após aquilo, Lenore e Simon partem. Enquanto se afastavam do castelo, os dois conversavam em sua carruagem.

— O que será que ela tem em mente com isso? — Dizia Lenore, com um ar pensativo encarando a paisagem.

— Não acho que devemos nos preocupar. É apenas uma grande caçada.

— Se você diz. Isso me lembra da última que fizemos juntos.

— Sim. Aquele dia foi bastante divertido. Naquela época éramos bastante competitivos.

— Você nem tinha um servo, mas participou mesmo assim.

— E mesmo assim eu ganhei.

— Como é? Acho que sua lembrança está um pouco bagunçada. Eu fiquei na sua frente, não se lembra?

— Querida Lenore, esqueceu-se que fui o responsável por capturar seus dois coelhos?

Ela encara Barkar, que evitava o contato visual enquanto segurava sua risada.

— Nã... não! Eu...

Simon abre um sorriso encarando a paisagem. Ele volta seus olhares para sua serva, que estava sentada ao seu lado, com um semblante curioso sobre o nada.

— Algum problema, Alice?

— Não, meu senhor... é só que...

— “É só que”? Não seja tímida, diga.

Ela respira fundo e volta seus olhos para Simon.

— O que é uma grande caçada?

— Ah, era isso que lhe perturbava? É só um jogo famoso entre os vampiros de Hastermash. Acho que todos temos o costume de jogá-lo alguma vez na vida, por isso nem me toquei que você talvez não o conhecesse. As regras são simples: cada vampiro leva uma caça consigo para o local. As caças são marcadas com o nome do vampiro. Sua própria caça vale cinco pontos, e qualquer outra caça de outro vale um ponto. Geralmente nós usamos coelhos como caças, mas entre os nobres é comum que...

Simon para sua explicação por um momento, ficando atônito e hesitante.

— Qual o problema, Simon? — Pergunta Lenore, preocupada.

— Lenore... é comum entre os nobres usarem servos durante a grande caçada, não é?

— Sim, qual... ah... — Ela encara Alice, entendendo no ato o problema.

— Droga, fui descuidado...

O jovem mestre coloca sua mão em seu queixo, pensativo e hesitante. Uma grande caçada utilizando servos geralmente não é perigosa para eles, mas se tratando de Elena, as regras poderiam ser diferentes. Alice era frágil e não possuía habilidades de combate, mas Simon se atrelou à uma outra questão em seu devaneio; esta que o preocupava ainda mais.

— Teria sido essa a intenção de Elena? — Perguntava-se Lenore, com um olhar sério sobre o solo da carruagem.

— É possível que sim. Ela sabe que não possuo muitos servos próprios... e também...

— Karen Solas.

A menina só possuía seu mordomo.

Se a mira de Elena estava sobre esses dois pontos, Simon deveria tomar bastante cuidado. Ele não tinha certeza sobre as regras que a mulher utilizaria, mas sabia que não poderia contar com a sorte.

— Preciso me preparar...

O homem encara a mulher a sua frente. Sua amiga de infância, em quem ele sempre depositou confiança e apreço. A mulher o encara de volta com um olhar tão sério quanto o dele.

— O que tem em mente?

— Poderíamos adiantar aquela visita a sua mansão?

— Bom... eu não vejo problema...

O homem percebe certa incerteza e insegurança na voz da mulher, que o deixa curioso.

— Qual o problema?

— É que... digamos que minha mansão não está nas melhores condições de receber visitas no momento..., mas não entenda errado! Sendo você, acho que não teria problemas.

— O que houve?

A mulher fica pensativa, olhando para os olhos do lorde logo sem seguida.

— Mercenários. Contratados por alguém de Jasfik.

— Mercenários?

— Sim. Eles atacaram minha mansão recentemente. Me atacaram em busca de minha vida.

O homem já havia ouvido sobre o assunto antes. Mercenários e bandidos humanos que têm causado certo problema pelo continente.

— Por que isso tem acontecido com tanta frequência?

— Eu também gostaria de saber.

Enquanto falavam, Alice ouvia tudo com um olhar evasivo e distante. Simon percebera em seu rosto tal expressão, mas absteve-se de questioná-la, pois o homem provavelmente já sabia do que se tratava. Seus antigos donos foram mercenários, afinal.

Enquanto continuavam seu caminho, os dois lordes permaneciam pensativos. Um brusco movimento da carruagem, no entanto, quebrou o momento, deixando-os alertas imediatamente. Tanto Lenore quanto Simon se encararam confusos.

— Saiam agora, vampiros! Seus dias de tirania acabam aqui!


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