Bloody Devotion escrita por Eliander Gomes


Capítulo 18
Uma Partida de Xadrez




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— Senhoras e senhores, gostaria de um momento de sua atenção. — Dizia Simon, se levantando, enquanto ajeitava sua roupa de gala.

— Pois já a tem, senhor Lumiya.

— Tenho algo que gostaria de mostrar aos senhores.

O lorde puxa um objeto de seu terno, algo pequeno, do tamanho de um relógio de bolso; não apenas o tamanho, mas o formato lembrava muito um. O objeto de metal era encrustado de pedras, quase como uma joia, mas em seu centro um grande e polido cristal preenchia toda a superfície do objeto circular.

— O que seria isto, senhor Lumiya?

— Algo que revolucionará a indústria e o mundo que conhecemos. Alice. — Ao comando de seu mestre, a jovem retira um objeto exatamente igual de seu bolso. — Gostaria de um voluntário que a seguisse, por favor.

Lenore rapidamente estala os dedos para seu servo.

— Barkar, acompanhe-a.

— Sim, M’lady.

Os dois se retiram da sala, deixando o resto do grupo curioso.

— O que vai aprontar, senhor Lumiya?

Simon, com um sorriso, coloca o objeto sobre a mesa.

— Como bem sabem, informações e mensagens são algo importante no mundo em que vivemos. Existem várias tentativas que evoluíram no decorrer dos anos para agilizar o processo de entrega de mensagens. Corvos mensageiros têm sido uma boa forma de resolver esta questão, mas eles muitas vezes não são rápidos o bastante. Tendo isso em mente, decidi estudar sobre uma nova forma de se comunicar com os que estão distantes.

O homem toca no cristal e uma luz azulada sai dele, projetando uma versão etérea dos rostos de sua serva e do elfo que a acompanhara.

— Estão me ouvindo?

— Sim, senhor.

O grupo faz um rosto surpreso.

— Com este dispositivo mágico, a comunicação se tornará mais fácil e rápida do que nunca.

— Que objeto fascinante. — Comenta Cornelia.

— De fato, nunca vi nada igual antes. — Diz Lorius com um sorriso. — Imagine o uso de algo assim para o entretenimento.

— Este é apenas um protótipo. Além da comunicação com outros objetos semelhantes, ele também permite o armazenamento de informações e imagens. Estou pensando em adicionar novas funções ao protótipo, mas ainda é cedo para revelá-las. Meu objetivo é que oito em cada dez casas em nosso território tenham ao menos um desses nos próximos dez anos.

“Entendo,” pensava Horan, “então é por isso que ele precisa das pedras mágicas.”

 Elena encarava o objeto com bastante interesse; seus olhos brilhavam enquanto ela vislumbrava a luz azul saindo dele.

— A imagem está sendo transmitida em tempo real, senhor Lumiya?

— Sim. Pergunte algo para seu servo, Lenore.

— Vejamos... Barkar, qual é a minha coleção de louças preferida?

Acredito que o conjunto feito pelos artesões de Falútia.

— Sim, está correto.

— Eu trouxe comigo alguns exemplares deste que chamo de “comunicador mágico”. Antes de irem embora gostaria de entregar um para cada um dos senhores. Podem voltar, Alice.

Assim que os dois chegam, se colocam novamente em suas posições.

— Me diga, senhor Lumiya, qual a segurança desse objeto?

— Não entendi sua pergunta, Elena.

— Devo admitir que é realmente fascinante tal aparato, mas será que é realmente seguro usá-lo? Nós nem sabemos como essa coisa funciona.

— Sintam-se a vontade de recusá-lo se acham que é perigoso por qualquer motivo, mas já adianto que não é este o caso.

— Bom, isso é o que você diz..., mas de qualquer forma, aquela nossa conversa de mais cedo...

— Sim, era sobre isso que eu me referia.

— Entendo.

O jantar seguiu normalmente após aquilo. Assim que deixaram a mesa, o grupo foi conduzido para um local diferente do castelo, uma área aconchegante com uma lareira e vários sofás, algumas mesas de jogos e várias estantes com livros, sem falar da decoração que contava com estátuas e pinturas, algo como um salão de visitas.

— Alguém gostaria de jogar uma partida de xadrez? — Perguntava o velho Horan.

— Eu serei seu oponente, Horan! — Disse Lorius com uma voz imponente, seguida de uma risada.

Enquanto os dois se acomodavam, Lenore se aproximava de Simon com um sorriso sugestivo.

— Dessa vez você não vai escapar de mim, senhor Lumiya.

— Nunca foi minha intenção.

— Olha para você, causando comoção e admiração. Tem certeza de que é isso que quer? Chamar tanta atenção para si pode ser perigoso.

— Aprecio seus conselhos, Lenore, ainda mais sabendo que são conselhos sinceros de uma velha amiga. Mas não precisa se preocupar comigo, sei me cuidar.

— Eu sei que sabe. Porém...

Ela encara a pequena Alice, que permanecia parada pouco atrás de seu senhor.

— Algum problema, Lenore?

— Não... bom, na verdade eu não sei ainda. Eu tenho uma dúvida, apenas.

— Eu entendo que sua aparência possa gerar certas dúvidas sobre minha escolha. Mas ela é uma boa menina.

— Boa menina ou não, ela não me parece alguém que eu escolheria...

Simon ri com a colocação de sua amiga.

— Logo você dizendo isso, Lenore, não me passa muita confiança.

A mulher abre um sorriso, sabendo bem do que o homem se referia.

— Mas deixando isso de lado, Simon... eu... senti saudades de você.

— Lenore, me desculpe por ter sumido assim.

— Não, eu entendo. Sei que foi algo importante para você. Aqueles tempos te drenaram muito, e se eu não tivesse sido agraciada com minha posição tão cedo, eu também teria feito o mesmo.

— Sei que o que te prendeu a este lugar não foi apenas a sua posição, não é?

Ela abaixa a cabeça com um sorriso.

— Você me conhece.

— Melhor que ninguém.

— E o que esteve fazendo todo esse tempo? Sei que não sumiu apenas para criar um dispositivo de comunicação mágico.

— Isso é algo que pretendo discutir com você em um momento e um local mais apropriado.

— Talvez eu devesse então convidá-lo a minha mansão?

— Essa é uma boa ideia.

Alice e Barkar permaneciam parados próximos aos seus respectivos mestres, apenas ouvindo aquela conversa. A menina vislumbrava o ambiente, mais precisamente a mesa em que Lorius e Horan estavam sentados. Próximo aos dois, um pequeno grupo assistia a disputa, com bastante interesse.

Barkar não parecia tão curioso sobre o jogo, mas percebeu os lábios da menina se moverem pouco antes de uma jogada de Horan.

— Gosta de xadrez? — Perguntou o elfo se aproximando da menina.

— Sim. Aprendi há pouco tempo.

— Seu mestre lhe ensinou?

Ela apenas assente com a cabeça, sem tirar seus olhos dos dois jogadores. Barkar percebeu o foco e concentração da criança, então decidiu permanecer em silêncio, apenas assistindo o momento junto a ela. Após alguns segundos, seus devaneios são interrompidos pela voz da menina.

— Horan venceu.

— Mesmo? Para mim parece que ele está em apuros. A quantidade de peças dele e as posições...

— Não, ele venceu.

O elfo a encara com certa dúvida, mas volta seus olhos para o grupo mais a frente, apenas para ver a jogada final do visconde.

— Xeque-mate, jovem Lorius.

— O que está dizendo, seu velho caduco, ainda posso..., ah, não... então... como?!

O pobre rapaz havia sido encurralado de uma forma sublime pelo velho Horan, que se levantava em risos.

— Foi um bom jogo, devo admitir.

O jovem rei se aproxima do visconde e o convida a se sentar novamente.

— Pode jogar uma partida comigo?

— Seria uma honra, majestade.

O resto do grupo para o que está fazendo e voltam-se para os dois. Parecia uma oportunidade única ver uma partida entre Horan e o rei. O visconde era conhecido por ser um ótimo jogador e estrategista, mas no caso do rei, era uma boa oportunidade para os outros lordes o analisarem quanto a suas tomadas estratégicas.

Lenore e Simon param sua conversa assim que veem o movimento do restante do grupo.

— O rei vai jogar contra o visconde Darius.

Simon fica em silêncio enquanto encara os primeiros movimentos das partes.

— Tem muito o costume de jogar xadrez, vossa majestade?

— Ultimamente não tenho tido muita a chance. Depois que meu pai se foi não me sobraram muitos adversários bons.

— Seu pai era de fato um grande jogador. Lembro-me de sempre sofrer em nossas partidas.

— Xeque.

— O que?

O visconde encara o rapaz com certa surpresa, mas logo dá uma risada ao perceber o sorriso no rosto do monarca.

— Não me engana com essa expressão de surpresa, visconde. — Diz o rei.

Darius faz um movimento simples e sai do xeque do jovem rei facilmente.

— Eu já esperava por isso, estava apenas testando o senhor, rei Albert.

— Sei disso.

Simon encarava o momento com um leve sorriso.

— Ele é bom.

— Sim, eu percebi.

— Darius tentou-o com uma falsa armadilha, mas ele percebeu no mesmo momento.

— Você também costumava jogar bastante esse jogo, não é? Sei que era um dos melhores do país.

O jovem volta seus olhos para Lenore, que o encara de volta com um rosto rubro.

— A... algum problema?

Ele volta-se para Alice, que encarava os dois jogadores com bastante foco, enquanto mexia seus lábios de forma suave e discreta. Após fazer isso, o jovem mestre abre um leve sorriso, voltando-se para Lenore novamente.

— Quer descobrir por que escolhi Alice como minha serva, Lenore?

A mulher parecia confusa com a fala de seu amigo, mas ao vislumbrar a menina, sua confusão se tornou curiosidade.

Simon se aproxima de Alice e coloca gentilmente sua mão sobre suas costas, assustando-a. Ela encara Simon no mesmo instante e o rapaz percebe o quanto ela estava focada no jogo.

— Ah, perdão, meu senhor...

— Vamos. Sei que vai aproveitar melhor o jogo se assistirmos mais de perto. A propósito, quem acha que vai ganhar essa partida?

A menina volta-se novamente para o tabuleiro e fita-o com seus olhos.

— A estratégia do visconde Darius me parece mais sensata. Ainda é cedo para dizer, mas se eu pudesse dizer...

— Darius?

— Não. O rei vai vencer.

Lenore escuta aquilo e volta seus olhos para a partida, que parecia completamente o oposto do que a menina dissera. Não era como se Darius estivesse ganhando de lavada, mas sua estratégia era mais sólida.

Assim que se aproximam, Alice se coloca próxima do tabuleiro, para poder enxergar com mais precisão, passando na frente de outros lordes que estavam obstruindo a visão dela. A atitude gera uma leve comoção entre os lordes, que olham para a garota com certa repulsa.

— Simon, deveria tomar conta melhor de seus servos. — Diz Cornélia, com um tom sarcástico e rancoroso.

— Deixem-na assistir. — Diz o rei, voltando-se para Alice logo em sequência. — Gosta de xadrez, criança humana?

A menina assente com a cabeça, e o rei volta a falar.

— Diga-me, com base no que viu, quem acha que vai ganhar esta partida?

A menina volta seus olhos para o tabuleiro e fica em silêncio por alguns segundos.

— O senhor já ganhou, meu rei.

O monarca abre um sorriso e mexe uma peça.

— Xeque, visconde.

Darius faz um breve silêncio enquanto acariciava a barba, atônito.

— É a primeira vez que vejo essa jogada. Não há como escapar, acho que é um xeque-mate. Como sabia, criança? — Diz ele olhando para a menina.

— Vossa estratégia era sólida, senhor Horan, mas óbvia. O rei, por outro lado, parecia conduzir o jogo para um ponto específico, que foi o que o levou a vitória. Mas se eu pudesse dizer com clareza, em partes, parecia que o senhor estava pegando leve com o rei.

O monarca ri, encarando Darius.

— Ora essa, isso é verdade, senhor Horan?

O visconde se levanta em risos.

 — Longe disso, vossa majestade. O senhor jogou esplendidamente, apenas isso.

O rei vira-se novamente para a menina e sorri.

— O que me diz, criança humana? Quer jogar uma partida comigo?

A menina fica levemente surpresa com o convite, encarando as pessoas ao redor sem saber o que dizer. Ela vira-se para seu mestre, que assente com um sorriso; sorriso este que ela podia ver ser sincero.

— Sim. Seria uma honra, vossa majestade. — Diz ela segurando as bordas de seu vestido.

Ela se senta na cadeira com um olhar concentrado, enquanto o rei reorganizava as peças. Assim que ele termina, já faz o primeiro movimento.


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