Bloody Devotion escrita por Eliander Gomes


Capítulo 16
Votação




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O primeiro a falar foi Horan, que parecia pensativo e inquieto antes de assumir a postura de fala.

— Meu rei, sinceramente eu não sei dizer se a ideia é competente e válida... porém, vinda do mestre Lumiya, acredito que não seria de todo ruim. A casa dos Lumiya detêm uma grande quantia de dinheiro e poder; mesmo que ele perca esta aposta, acredito que eles seriam sim capazes de custear os prejuízos deste tão egoísta pedido. Eu voto a favor da senhorita Karen.

— Entendo. Obrigado pela avaliação, visconde. Senhorita Cornelia.

— Eu não vejo problema algum em dar uma chance a esta tão educada donzela. Diferente da maioria aqui presente, ela pelo menos tem alguma classe. Voto a favor também.

— Senhor Dorian Garm.

O homem acaricia a barba, pensativo.

— Minha região é uma região desértica e de fraca produção. Nós dependemos exclusivamente da alimentação provida de outras regiões. Embora eu simpatize com a senhorita, não acho válido colocar em xeque algo tão importante. Infelizmente, vou ter de votar contra a senhorita. Não me leve a mal.

A jovem assente com a cabeça para o lorde, em complacência.

— Eu entendo, senhor.

— Clériga Georgia.

— Voto a favor de Karen, meu rei.

— Três a um até o momento. Senhorita Yevrin.

— Voto contra. Penso exatamente como Garm. Minha região também exerce um papel importante em nosso país. Nós protegemos as fronteiras, por isso não nos focamos em produção. Dormiria mais tranquila se soubesse que nosso alimento está recebendo o devido cuidado.

— Três a dois. Lady Lenore.

A mulher encara a jovem com bastante preocupação; mesmo isso tendo sido ideia de Simon, ela tinha suas dúvidas se deveria ou não confiar em seu julgamento. Após pensar por alguns segundos, ela finalmente se pronuncia.

— Vou votar a favor, meu rei.

— Quatro a dois. Senhor Bara.

O rapaz ri, se colocando em um ar sério logo em seguida.

— Não, não é assim que uma votação deve seguir. Vou votar contra.

— Quatro a três. Senhor Gargoyle.

— Está havendo um claro equívoco aqui. Vejo que os que votaram a favor são as regiões que produzem alimentos ou podem se manter de alguma forma sem o reabastecimento diário das provisões. Eu claramente não vou fazer parte disto. Voto contra.

— Quatro a quatro.

Lorius ri levemente ao escutar o placar da votação. O rei continua.

— Korhil.

— Eu... eu acho que vou votar contra também.

— Quatro a...

— Não, espera, vou votar a favor.

— Vai votar a favor de Lady Karen? — Pergunta o homem de óculos.

— Sim, me recuso a ficar no mesmo lado que você.

Lorius dá uma leve risada com a atitude do homem. Cornelia solta um leve bufo, virando seu rosto.

— Quanta infantilidade.

O rei suspira, voltando seus olhos para a próxima.

— Cinco a quatro. Acho que não preciso perguntar a senhorita, não é?

Elena ri.

— Nesse caso, temos um empate. Como foi o senhor Lumiya quem deu a ideia, eu estava pensando em não contar o seu voto. Mas no fim das contas, ficaria sob meu poder dar o voto final, de qualquer forma.

O rei faz uma pausa e fica pensativo, encarando seu prato vazio. Karen permanecia com seu olhar concentrado sobre o nada, mas ouvindo atentamente o estalar das tochas do lugar. Após muito refletir, o monarca se decide, se levantando e fazendo sinal para os que ainda estavam em pé se sentarem.

— Tudo bem. Vou acatar a este pedido egoísta do jovem mestre Lumiya. Senhorita Karen Solas, terás a oportunidade de nos provar que tem a condição de lidar com seu feudo. Em caso de falha nesta tarefa, o senhor Lumiya será responsabilizado e estará encarregado de arcar com todas as consequências que esta escolha porventura vier acarretar sobre o país. O próprio povo de seu feudo sofrerá, senhor Lumiya, pois se faltar alimento para nossos cidadãos... obviamente vamos priorizar a alimentação dos vampiros. Está de acordo com isso?

— Sim, meu rei.

— Pois bem. Quanto ao resto, vejo que seria injusto deixar tudo ao cargo de Lady Karen; neste pensamento, me veio à mente permitir que o senhor Lumiya auxilie-a no que precisar. Já que serás o maior responsável, acredito que deveria ser aquele que percorrerá este caminho ao seu lado, está de acordo com isso?

— Sim, meu rei.

— Enquanto a senhorita, Lady Karen? Estas condições lhe satisfazem o apetite?

— Sim, majestade.

Ele se senta e assente.

— Pois bem. Apetite. Espero que ainda o tenham, pois isso tudo me deu fome.

Ele estala os dedos e várias servas começam a entrar no ambiente, trazendo consigo o tão esperado banquete. Em sua maior parte, constituído de carnes de animais e alimentos crus, tal como cereais cozidos — arroz, soja, e outros grãos do tipo.

Enquanto as servas serviam os pratos e destampavam os alimentos, a jovem Karen Solas parecia pensativa, voltando seus olhares para o prato de louça fino que estava a sua frente. Os talheres lhe pareciam brilhantes e traziam consigo certas dúvidas e inseguranças, mas de dentro de seu coração a menina sentia algo que a confortava. A oportunidade que lhe fora dada; ela não a desperdiçaria.

Em meio ao seu devaneio, a menina repara na conversa que fora iniciada na outra ponta da mesa.

— Ah, sim, eu estava pensando sobre isso.

— Sei que faria bom uso desse arsenal.

— Tem certeza, senhor Garm?

— Sim, minha cara Yevrin. Nossos feudos têm se ajudado mutuamente a anos. Eu estou apenas retribuindo um favor à senhorita.

— Então, vou aceitar.

Lorius solta uma grande gargalhada ao ouvir aquilo.

— Estão se referindo aquelas coisas feitas com pólvora? Eu tenho usado alguns como entretenimento nos meus parques. Embora, em muitos sentidos, sejam menos eficientes que magia, são uma boa alternativa. Qual é o nome mesmo daquilo?

— Canhões, senhor Lorius. Fico feliz que tenha gostado dos fogos de artifício. E sim, apesar de o uso militar ser mais comum, a sua ideia de usá-los como atração tem se mostrado uma boa ideia.

— Não é? Você tem que ver como fica o céu quando eu os uso, aquilo é magnífico!

 Yevrin parecia pensativa, mexendo na comida em seu prato levemente distraída. A mulher volta-se para Garm com um rosto indagativo.

— Senhor Garm, só me esclareça uma coisa; esse equipamento é mesmo sustentável? Não vejo como eu poderia aproveitar tal poder de fogo...

— O que quer dizer, senhorita?

— Flechas e pedras são facilmente substituíveis, mas o mesmo não pode ser dito dessa tal “pólvora”. Não está me dando estes canhões apenas para me vender a munição com um preço abusivo depois, não é?

O homem ri, mexendo na comida em seu prato enquanto encara a mulher.

— Não diga isso, Jean; somos amigos há quantos anos? Eu não faria algo assim com o feudo responsável pela proteção de nosso país.

— Mas faria com o resto, não é? — Comenta Lorius, às risadas.

Karen encarava os três com bastante curiosidade. Embora não estivesse em posição de se pronunciar, ela estava realmente curiosa sobre o assunto. Simon logo percebeu a curiosidade estampada no rosto da menina; o jovem Lumiya parecia constantemente manter seu interesse sobre a pequena vampira. Ele volta-se para Garm e se pronuncia.

— O que seriam esses “canhões” da qual vocês falam tanto?

A menina volta seus olhares para o jovem mestre, como se ela tivesse percebido o que ele acabara de fazer.

— Oh, senhor Lumiya, está interessado?

— Talvez esteja. Poder de fogo é sempre bom para ajudar-nos a nos proteger dos monstros.

— Sim, você está certo. Os canhões são grandes armas capazes de disparar uma munição explosiva. Ao contrário de equipamentos mágicos, estes que eu criei não necessitam de magia para serem ativados, sendo assim, seu proprietário não precisa saber magia para manipulá-lo.

— Eles também geram um excelente show de luzes, se me permite acrescentar. — Diz Lorius, rindo levemente.

— Entendo. É como uma cadeia de runas explosivas.

— Mais ou menos algo assim.

Ele volta-se sutilmente para a jovem Karen, que desvia seu olhar logo em seguida. Após um breve suspiro, Simon vislumbra o ambiente, de forma analítica. Os servos de cada um dos vampiros permaneciam silenciosos e com um ar formal. Normalmente, aos servos só era permitida a alimentação após seu mestre estar satisfeito. Simon sabia disso, e assim como todos os lordes normalmente faziam, ele havia alimentado sua serva, Alice, antecipadamente.

O jovem permaneceu observando o grupo de lordes por mais alguns segundos. Eles pareciam, em sua maior parte, relaxados.

Aquele momento de paz trazia consigo um sentimento estranho a Simon. Embora a mesa se mante-se a todo instante agitada com conversas paralelas descontraídas, ele sentia certo receio em estar ali. Em sua mente, o jovem chegou a se perguntar se estava mesmo fazendo a coisa certa. Seu real objetivo ainda não havia sido cumprido, e ele tinha medo de que sua posição como um lorde pudesse atrapalhá-lo. Sim, seu real objetivo; o mesmo que o fez deixar a casa de seu pai, o mesmo que o fez deixar o país. O motivo pela qual ele foi até àquela região sombria de Soulstinger.

Aquele pequeno devaneio o fez voltar seus olhos para a pequena Karen solas novamente; o sentimento que ele teve ao vê-la chegando ao castelo o atingiu novamente.

Karen parecia levemente distante, pensativa, enquanto comia do banquete lentamente. A menina pegou um guardanapo e limpou sua boca, se levantando logo em seguida, chamando levemente a atenção do grupo.

— Eu preciso ir ao toalete.

O rei assente.

— Eu posso pedir alguma de minhas servas que a auxilie.

— Meu rei, se permitir, eu poderia mostrar o caminho para a jovem Karen. Eu já estive no castelo em ocasiões passadas. — Os presentes na mesa olharam para o sujeito que se oferecera. O mesmo que defendeu Karen mais cedo. — Gostaria de aproveitar a oportunidade para ter uma palavra a sós com ela, se me permite.

— Entendo. Tudo bem, não vejo problema.

Simon se levanta e encara a jovem, que o olhava de volta com um rosto desconfiado. Ele dá um sorriso simpático para ela e estende sua mão em direção a porta, dando passagem a senhorita. Ambos saem da sala, acompanhados de seus servos, em direção ao corredor, deixando o resto do grupo, em especial Elena, com bastante curiosidade. A mulher de vestidos vermelhos sorria com um olhar bastante sugestivo; ela sutilmente faz um sinal com sua mão, sinal este que não é visto por outro senão seu servo, Túlio, que entende no ato o que havia de fazer.

Enquanto andavam, o grupo permanecia em silêncio completo. Simon e Alice caminhavam em paralelo na frente, seguidos a uma distância de dois metros dos outros dois. Karen encarava as costas do homem com certo cuidado e curiosidade, em um forte tom de dúvida. Será que ela poderia confiar neste homem? Ele defendera a garota com tanto afinco mais cedo, e parecia constantemente interessado nela. Suas dúvidas só cresciam em torno de Simon.

Enquanto a garota pensava, Simon parecia com sua cabeça em outro lugar; ele volta-se para Alice, que parecia neutra, com seu rosto pacato e inerte.

— E então?

A menina faz um sinal de mãos para seu mestre; sinal este que é interpretado imediatamente por ele. O jovem sorri e assente para ela; a menina começa a falar assim que recebe o consentimento de seu mestre.

— O rei parece gostar do senhor. Ele mostrou claros sinais de estar ao seu favor e parece ter percebido algo sobre teu plano. Eu o vi expressar uma leve interjeição de um sorriso no canto da boca quando o senhor sugeriu trazer Karen ao toalete.

A menina atrás dos dois podia ouvir claramente a conversa, e isso a deixava levemente confusa.

— Entendo.

— Ele parecia bastante cuidadoso, e em todo momento expressava um nível quase imperceptível de preocupação. Mesmo para mim, foi difícil dizer, mas ele parecia com medo.

Simon fica pensativo após ela dizer isso, colocando a mão sob o queixo.

“Não o culpo. Se ele realmente é como meu pai disse, seria natural essa atitude.”

Ele suspira e volta a falar.

— O que me diz sobre os outros?

— Elena Banshee é alguém com quem o senhor deve ter cuidado.

— Isso não é novidade.

— Lenore pareceu inquieta sobre confiar em vosso julgamento.

— Não a culpo, mas vou explicar tudo a ela mais tarde.

Karen para de andar, encarando-os com muita seriedade. Seu mordomo se coloca a frente, ficando em uma postura levemente defensiva.

— Sabem que estamos a ouvi-los, não é?

Os dois à frente param e se viram levemente para Karen e seu mordomo. Alice se volta para a menina com seu ar neutro e analítico.

— Dorian Garm não pareceu sincero quando se desculpou para a senhorita.

— O que?

— Yevrin também pareceu agressiva ao julgar suas atitudes. Sugiro que tome cuidado quanto aqueles dois.

A menina encarava Alice com muita confusão; o que estava acontecendo ali? Era o que ela se perguntava.


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