Bloody Devotion escrita por Eliander Gomes


Capítulo 15
Karen Solas




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Hodvar e seus dois irmãos eram conduzidos para dentro do barco, enquanto os dois coelhos terminavam de preencher alguns papeis com os donos do navio. A menina se aproxima do anão com um pequeno saco de moedas e entrega para ele, logo após soltar suas algemas.

— Isso deve ser o suficiente para vocês chegarem em casa.

O anão pega o saco de moedas e fica pensativo. Assim que a menina se vira, ele a chama, fazendo-a se voltar para ele novamente.

— Ei, garotinha, me diz a verdade. Aquilo que você injetou em mim não foi um sonífero, não é?

A menina ri, virando seu rosto.

— E isso importa agora? Você claramente não sofreu qualquer efeito, então por que se importar?

— Escuta... eu estou realmente confuso. Nós tentamos destruir sua mestra, mas vocês não nos trataram como inimigos. Mesmo agora, depois de tudo, está claramente apenas nos deixando ir.

A jovem permanece com seu olhar evasivo.

— Como sabe que não estou enviando vocês para uma morte certa através deste navio?

— Não, claramente não é este o caso. Eu sei quando estou sendo enganado. Não é o caso aqui. Durante toda a viagem eu fiquei me perguntando se isso era algum plano para se livrar da gente; mesmo meus irmãos me questionaram sobre isso, dizendo que poderíamos fugir, e de fato teria sido fácil fazê-lo..., mas alguma coisa me dizia para não fazer isso e confiar em vocês. Se vocês quisessem, teriam me matado a muito tempo.

— Nós estamos apenas seguindo as ordens de nossa Lady.

— É o que você me diz. Bom, não importa.

— Você parece estar confundindo as coisas, anão. Minha mestra até te torturou e arrancou seu dedo. Não pense que perdoamos você por atacar a mansão ou coisa do tipo.

— Perder um membro tão pequeno não faz falta para mim. Mas no fim das contas, vocês até usaram essa magia estranha para fazer meu dedo voltar. Sabe, depois que vocês fizeram isso, eu até me sinto como um vilão agora.

A menina fica em silêncio. O anão suspira e começa a caminhar para dentro do barco.

— Escuta, garota. Só quero dizer mais uma coisa antes de partir. Tomem cuidado.

A menina volta seus olhos para o anão.

— Cuidado? O que quer dizer?

— Não posso dizer muito mais do que isso, mas existem pessoas que não aceitam a ideia de vampiros continuarem vivendo neste mundo. É apenas o que eu posso dizer.

— Não é como se já não soubéssemos disso.

Ele assente com a cabeça, pensativo.

— Isso é bom.

Após aquilo o grupo de pescadores começa a embarcar, e eles se preparam para partir. O jovem de cabelos brancos acenava para o barco, enquanto gritava com um grande sorriso.

— Ai, anão! Espero que você volte para podermos terminar nosso jogo!

Sua irmã dá um grande tapa em sua nuca, repreendendo-o.

— Não faça amizade com o inimigo, seu idiota.

O anão encarava os dois, pensativo, enquanto o barco se afastava.

...

— Senhorita Karen, gostaria que permanecesse em pé por um momento.

A menina assentiu com a cabeça, ficando em silêncio completo.

— Eu fiquei sabendo que a senhorita possui uma saúde frágil, isso é verdade?

— Sim, meu rei.

— Entendo. Bom, todos sabem da tragédia que afligiu os Solas após o retorno da grande expedição. Mas o que vocês talvez não saibam é que a casa dos Solas fez uma expedição separada da nossa. Eles, em segredo, formaram um grupo de mercenários e partiram para o continente sem o consentimento do reino.

Os demais lordes encararam a menina com leve espanto nos olhos. O rei continuou.

— Mas isso não é algo necessariamente ruim. Explorar o continente é algo que já tínhamos a intenção de fazer, independentemente de qualquer outra coisa. Por isso, peço para que a senhorita relaxe, não é sobre isso que desejo lhe falar hoje.

A menina assente. O monarca continua.

— Senhorita Karen, sei que passou boa parte de sua vida longe da nobreza, e sei que deve estar enfrentando algumas dificuldades com seu feudo no momento. Por isso, gostaria de propor um acordo entre os lordes presentes. Como sabem, a região dos Solas é uma das mais importantes de Hastermash em um âmbito geral. É um local rico em bacias hidrográficas, tem um solo fértil e sua localização é privilegiada. A região é uma rota importante para o comércio, e seu povo é trabalhador e bastante ativo. Uma má administração da região poderia gerar sérios problemas para nosso reino.

A menina hesita, apertando levemente o seu vestido, de forma discreta. Elena tinha um sorriso expressivo no rosto, e logo que o rei se cala, ela se põe a falar.

— Senhor, posso fazer uma sugestão?

— Prossiga.

— Meu feudo tem sido um dos mais produtivos ultimamente, e tendo em vista que nós temos bastante liberdade devido à pouca atividade que exercemos, ficaríamos felizes de atuar como suporte para a região.

Tomando a palavra, Georgia se pronuncia.

— Senhorita Banshee, não creio que vosso feudo possa prestar um bom serviço neste caso.

Elena encara aquela que falou com bastante fúria nos olhos, embora não externasse a expressão com o resto do rosto.

— Mil perdões, vossa eminência, mas poderia ser mais específica quanto a sua fala?

— Em que uma família de assassinos e comerciantes de escravos poderia ajudar em uma situação como essa? A região dos Solas é uma região que vive em sua maior parte da agricultura e produção de alimentos. Eles são responsáveis por sozinhos proverem quase a metade do que consumimos no país atualmente. Mesmo o resto de nós, que trabalha com a mesma área, não produzimos a mesma quantidade que eles produzem atualmente.

— Georgia está certa. — Comenta Simon. — A verdade é que a melhor escolha seria entregar o feudo para alguém experiente e capaz de manter a economia da região em boas condições.

Elena solta um estalo com a língua, se calando logo em seguida.

— Porém? — Diz Georgia, olhando para Simon. — Pela forma que falou, imagino que não terminou seu raciocínio, estou certa?

O rapaz suspira, ficando pensativo. Ele volta seus olhares para a menina que permanecia em pé, apenas escutando tudo.

— Por que este assunto está em debate aqui?

Os lordes encaram Simon com confusão. O rei abre um leve sorriso discreto, fechando o rosto novamente.

— Explique-se, senhor Lumiya.

— Karen Solas está em pé perante nós. Ela está aqui.

— Achei que havia sido claro, senhor Lumiya. Uma má administração das terras não prejudicaria apenas a região. A região dos Solas é uma região importante para Hastermash. Acha que deixar isso nas mãos de alguém doente, que não teve acesso aos ensinos de administração dos Solas, é mesmo uma boa ideia?

A menina parecia inquieta. Simon encara-a e volta a falar.

— O que me diz, Karen Solas? Não disse uma única palavra sobre o assunto ainda.

Mesmo hesitante, ela levanta a cabeça e encara o restante do grupo.

— Eu realmente não estou em posição para falar, tendo em vista o que meus antecessores fizeram.

— Eu não vejo problema algum em ouvi-la. — Diz o rei, de forma mansa e tranquila.

A menina respira fundo e volta a falar.

— Obrigada, meu rei. Sei que todos aqui presentes têm dúvidas sobre minha pessoa, sobre meus poderes e aptidões. Minhas condições físicas, no entanto, não interferem em minha capacidade de governar uma terra. Como o rei disse, eu estive afastada da nobreza por muito tempo, e mesmo durante esse período, não tive muito contato com meus familiares.

— Sim. — Comenta o rei. — É exatamente por isso que estou te isentando de quaisquer problemas relacionados à atitude deles de montar um grupo de exploração para o continente sem nos consultar.

— Eu agradeço vossa atitude misericordiosa, meu rei. Tendo em vista nossa situação atual, eu peço-lhe que me dê, no entanto, mais um voto de misericórdia. Como a última herdeira da casa dos Solas, eu peço que me dê uma chance de provar minha capacidade de governar minhas próprias terras.

— Mas você mesma disse que havia permanecido tempo demais longe da nobreza. — Comenta Elena.

— Sim. Posso estar desatualizada quanto à alguns assuntos, mas tenho plena convicção de minha capacidade de governar.

— É mesmo? Não é querendo mudar de assunto nem nada, mas você chegou atrasada hoje, certo?

— O que isso diz respeito ao assunto?

— Bom, levando em consideração que sua região é mais perto da região central do que a de Garm ou Yevrin, ter chegado depois só mostra o quão pobre é vossa organização de tempo ou espaço.

— Não foi uma questão de organização; eu tive alguns imprevistos.

— Que tipo de imprevistos?

Ela hesita por um segundo, fazendo Elena sorrir.

— Não importa agora. São assuntos pessoais.

— Teriam esses assuntos algo a ver com sua saúde? — Pergunta o monarca.

— Digamos que sim, meu senhor.

— Entendo.

A situação não parecia estar muito favorável a Karen. Talvez, se aquela discussão continuasse, a garota acabaria perdendo o controle da pauta em questão. Os lordes no ambiente tinham total noção disso, e mesmo aqueles que eram contra a garota, pareciam preocupados sobre o assunto. A região era muito importante para Hastermash; aquela não era uma discussão vã. O mordomo atrás de Karen parecia muito hesitante e trêmulo; ele sabia que as coisas poderiam ficar complicadas para a menina se aquilo continuasse. É, no entanto, sobre a fala de Simon, que todos os ânimos se acalmam.

— Meu rei, qual a diferença entre mim e a jovem mestre Solas?

— Perdão?

— A meu ver, eu também permaneci por tempo demais longe da nobreza. A doença de Karen deveria ser um ponto tão importante desta conversa?

— Disserte.

— Olhem para ela. O que veem?

Os lordes voltam seus olhos novamente para a jovem Karen. A menina parecia controlada, embora estivesse certamente nervosa.

— Uma garota.

— Correto. Uma jovem donzela, aparentemente saudável. Mesmo que sua doença fosse algo importante a ser discutido, ela não foi algo decisivo para impedi-la de estar entre nós hoje. Sua fala e postura mostram que ela detém certo conhecimento de assuntos nobres, e também mostra sua educação e etiqueta.

— Um bom comportamento não é algo determinante para decidir se alguém é apto para governar ou não.

— Têm razão, senhorita Banshee. É por isso que volto a perguntar; por que este assunto está em debate?

Elena bate sobre a mesa, levemente alterada.

— Por que a região dela...

— É uma região importante, sim. E é esse o real motivo de toda essa discussão. Não é sobre a Karen Solas, mas sobre a região dos Solas. Sugiro uma proposta para resolução parcial desta situação.

— “Parcial”? — Pergunta o rei.

— Assim que disser, todos irão entender o porquê de eu ter usado tal palavra.

— Vá em frente.

O jovem se levanta.

— Sugiro que deem uma chance a Karen Solas de provar seu valor, de provar que ela é capaz de governar suas próprias terras. A proposta é que, em um ano, voltemos a nos reunir a fim de decidir de uma vez por todas o que será feito. Mas, até lá, vamos dar a oportunidade de Karen governar sem a interferência dos outros lordes.

— Essa é uma proposta ousada, senhor Lumiya.

— Sim, eu sei disso. E é por isso que digo que me responsabilizarei por qualquer transtorno que esta decisão venha causar.

Todos encaram o mestre Lumiya com bastante curiosidade, em especial, Karen. O rei encara-o com bastante interesse e um quase sorriso.

— Tem certeza disso, Mestre Lumiya? Sabe o que aconteceria se ela falhasse?

— Sim. Eu arcarei com todas as consequências dessa escolha.

O rei vislumbra a mesa e seus convidados com um olhar pensativo. Ele começa a mexer nos talheres de forma aleatória, enquanto mexia seus lábios, ansioso.

— Vou abrir essa proposta para votação. Eu desejo ouvir a opinião de todos, em especial daqueles que ainda não se pronunciaram.


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