Bloody Devotion escrita por Eliander Gomes


Capítulo 14
Acordos e Pactos




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— Um acordo?

— Sim. Vai beneficiar ambos os lados, o que me diz?

Elena parecia instigante e evasiva. Simon podia sentir a aura em volta da mulher, mas mesmo ele não podia dizer se era uma boa aura ou algo a se preocupar. Levando em consideração com quem falava, ele assumiu que coisa boa não deveria ser. Mas resolveu dar uma chance e ouvir o que a mulher tinha a dizer.

— Seja mais específica. Do que exatamente está falando?

— Não é óbvio? Dois lordes conversando em uma oportunidade dessas; o que mais poderia ser? Quero fazer algumas negociações com o senhor, é só isso.

— Que tipo de negociação, Lady Elena Banshee? Nossos dois feudos lidam com coisas semelhantes. A meu ver, eu sou apenas um concorrente e um importuno para a senhorita.

A mulher coloca a mão na boca soltando um grande suspiro.

— Ah, não! É assim que enxerga nossa relação? Não, claro que não! Nós dois fazemos um trabalho semelhante em nossos feudos, de fato, mas ambos somos essenciais para o desenvolvimento do país. Acha mesmo que um de nós apenas é capaz de alimentar todo o país sozinho?

— Claro que não.

— Não é? Então o senhor me entende, certo? E afinal de contas, não é apenas com a pecuária que você trabalha, não é?

— Entendo. Está interessada em meus animais?

— Sim! Veja bem, eu estou precisando reformular a minha queira. Meus escravos, ultimamente, têm se mostrado inúteis e rebeldes! O que eu gostaria é de alguns cavalos fortes para me ajudarem na locomoção. Alguns cães de caça também seriam essenciais. Por algum motivo, meu pai parecia não se importar muito com essas questões. Corvos mensageiros, mesmo animais de estimação; sinto falta de coisas assim na minha mansão. O que me diz?

— E o que teria para me oferecer em troca?

— Não é óbvio? Nós somos os maiores provedores de mão de obra escrava de Hastermash. Sei que teria algo que agradaria o senhor.

É claro que seria isso. Simon sentia que o objetivo dela era provocá-lo.

— Não me leve a mal, senhorita Banshee, mas não desejo escravos em minha mansão ou em meu feudo.

— Como assim? Todos precisam de escravos.

— Eu não preciso.

Ela encara-o com um sorriso sugestivo.

— Entendo. Mas eu ainda preciso dos animais. O que me diz? Quanto aceitaria por eles?

Simon começa a mexer no punho de sua camisa, pensativo. Recusar, sem nem mesmo fazer uma oferta, seria o mesmo que declarar uma guerra. Naquela situação, evitar o conflito seria a melhor escolha a se fazer.

— O que me diz de 50 peças de ouro por cabeça?

— Está se referindo aos cavalos? Não é um pouco caro demais?

— Meus cavalos são os melhores do país. Mesmo em Jasfik, não há criaturas mais fortes e prontas para o trabalho que eles.

— Entendo... o que me diz de abaixar algumas moedas? Eu vou precisar de uma grande quantidade. E vou comprar outros animais também.

— Pelo que me disse, vai querer que alguns domadores acompanhem os cães e os corvos, não é?

— Seria um agrado interessante de sua parte.

— 40 peças por cavalo. 2 pelos cães e posso dar 30 pelos corvos.

— Trinta?!

— Meus corvos não precisam de instruções complexas para irem onde precisam ir. Conhece bem o sistema, não é? E, também, ter um corvo mensageiro nos dias de hoje é essencial. É claro que não seria barato.

Ela faz um rosto emburrado, mas logo volta a sorrir.

— Tudo bem, eu imaginei que não seria fácil lidar com você.

“Era exatamente o que eu estava pensando sobre você.” Pensa o jovem lorde.

A mulher solta uma leve e breve risada e volta a falar.

— Bom, vou pensar em sua proposta. Podemos deixar para fechar acordo em outra hora, certo?

— Como desejar. Seria óbvio que a senhorita iria querer ver os animais antes de fechar o acordo. E tenho certeza de que em breve vai repensar sobre os corvos.

— O que quer dizer?

— Logo verá. — Diz Simon com um breve sorriso, instigando a mulher.

Ela o encara de volta com certa curiosidade.

— Mesmo? Bom, vou esperar ansiosa, nesse caso. Então, se me der licença.

Assim que a mulher sai de sua frente, o jovem percebe que Karen já havia sumido de seu raio de visão. Com um suspiro, o rapaz volta-se para o restante do grupo e vai até o velho Horan.

— Visconde, tem um minuto?

— Quantos quiser, “senhor” Lumiya.

Simon ri com a fala do velho, levando-o para um canto isolado.

— Lembra-se de uma conversa que tivemos anos atrás?

O senhor acaricia a barba, pensativo.

— Minha memória já não é como costumava ser, Simon.

— Vamos, Darius, sei que se lembra. E sei que sabe de qual conversa estou falando.

O homem ri, batendo levemente no ombro do jovem.

— Antes disso, o que pensa em fazer com os acordos que seu pai tinha com as outras regiões? Tendo em vista que estamos em um jantar com todos, acho que não teria hora melhor para reformular pactos, ou mesmo criar novos.

— Eu fiz questão de checar todos os acordos que meu pai tinha antes de vir até aqui.

— E o que me diz? Pretende mantê-los? Eu te conheço, Simon, desde que você era uma criança.

O velho olhava para o rapaz quase que com um olhar de pai. O jovem Lumiya encarava-o de volta com um rosto pensativo. Ambos tinham pensamentos nebulosos sobre a situação. Simon possuía um desejo que não seria fácil de se realizar; seu pai tinha certeza de que ele era a pessoa certa para isso, mas mesmo ele não tinha confiança sobre isso ainda.

— Eu não vou mexer nos pactos já existentes, a menos que os outros lordes queiram. O que quero é fazer novos acordos.

O velho assente com a cabeça em silêncio várias vezes, enquanto voltava seus olhos para o ambiente a sua volta.

— Entendo.

— E é sobre isso que desejo falar-lhe.

— Sim. Eu imaginei. Vi que estava conversando com Elena agora a pouco.

— Ah, não, aquilo não entra no assunto de agora...

— Pois deveria, Simon.

O rapaz encara os olhos do visconde com bastante curiosidade.

— Ela está interessada em alguns de meus animais, é só isso.

— Entendo. E ela propôs o que em troca?

— Exatamente o que você pensou.

O velho faz um rosto preocupado.

— Então é bem provável que ela já tenha ciência de sua postura.

— Não é como se eu escondesse isso. E, com todo respeito, visconde, ela é uma pessoa perigosa, mas eu não estou preocupado com ela.

— Pois deveria. Simon, sabe como a casa dos Banshee escolhem seu sucessor?

— Eu já ouvi falar sobre isso.

— Um teste sanguinário onde apenas um sai vivo. Eles são uma família de assassinos experientes. Elena já fez diversos trabalhos para a corte, mesmo antes de se tornar alguém com influência.

Simon fica pensativo.

— Acha que pode ter sido algum plano para se aproximar do meu feudo?

— Não tire conclusões precipitadas. Ela pode apenas ter sido sincera em seu pedido. Aquela mulher é espontânea e imprevisível. Bom, o que me diz? Naturalmente você deve ter recusado a oferta dela a princípio, certo?

— Eu pedi que ela me pagasse em ouro. Ela pediu um tempo para pensar na oferta.

— Bom, isso já é alguma coisa, ao menos.

— Mas... eu gostaria de deixar este assunto de lado, por enquanto. Tenho algo mais importante a tratar com o senhor.

Darius suspira, encarando seus arredores.

— Tudo bem. Diga, o que deseja deste velho?

— Pedras mágicas.

O homem faz um rosto confuso.

— O que planeja fazer com isso?

— Tenho certeza de que tem ao menos uma noção do que eu andei fazendo durante minhas expedições pelo mundo, certo?

— Tenho uma noção.

— Eu quero expandir o conhecimento que adquiri. Tal como começar a produzir algumas coisas por conta própria também.

— Estou ficando curioso... continue.

Simon ri, voltando a falar.

— Vamos deixar este assunto pendente. Em breve o senhor vai descobrir do que se trata.

— O que? Tem coragem de fazer isso? Deixar um velho como eu curioso desse jeito?

— Isso faz parte do meu plano, afinal. Mas o que me diz, acha que teria alguma chance?

Darius fica pensativo, encarando o chão enquanto acariciava o queixo.

— Bom, a mineração de pedras mágicas têm andado bem parada ultimamente, justamente porque não estamos tendo muita demanda. Os meus maiores clientes são os Gargoyle, e eles têm reduzido bastante os pedidos desde que as expedições ao continente negro voltaram.

— Entendo. Bom, nesse caso, peço que reflita um pouco quanto ao meu pedido. Antes de fazer minha oferta, gostaria de pedir que aguarde até o fim do jantar, tudo bem? Sei que não vai se arrepender se o fizer.

— O que tem em mente?

— O senhor verá.

O senhor Horan parecia curioso sobre a fala do jovem Lumiya, mas mesmo que sua curiosidade o atiçasse, ele apenas sorriu, vislumbrando o jovem com um certo orgulho.

— Tudo bem. Vou aguardar ansioso para ver o que têm para nos mostrar.

Eles ouvem um bater de palmas vindo da porta do lugar; era o jovem rei, que os chamava a atenção.

— Senhores, gostaria de pedir que me sigam para nosso jantar. Estamos prontos para prosseguir.

O grupo é conduzido para a sala de jantar; uma grande sala decorada com estantes de livros, cabeças de animais, armas e armaduras, uma iluminação fraca a luz de velas e, em seu centro, uma enorme mesa retangular com quatorze cadeiras.

O rei se sentou na ponta da mesa, enquanto ao seu lado esquerdo se sentou o senhor Horan e ao seu lado direito, a senhora Rakiya. Em sequência a fila, os lordes mais antigos foram se sentando primeiro. Após todos se acomodarem, os servos de cada um dos senhores entraram na sala, se colocando logo atrás das cadeiras de seus respectivos senhores. Eles vêm um décimo terceiro entrar na sala; um humano, vestindo uma grande armadura sem o capacete. Seus cabelos eram grandes e lisos, ele tinha uma barba cerrada e parecia bem imponente. O senhor se posicionou atrás da cadeira do rei, e os lordes logo puderam pressupor que aquele era seu servo principal.

Assim que o grupo se posiciona, o jovem rei volta seus olhos para um dos lordes em particular, com bastante seriedade no rosto.

— Senhor Korhil...

O homem hesita, sorrindo logo em seguida para o rei.

— Sim, meu senhor?

— Isso é alguma piada?

Os outros lordes pareciam desconfortáveis, enquanto Elena tentava claramente segurar seu riso.

— N-não... não senhor. É só que... é que não havia nenhuma regra dizendo que os nossos servos deveriam ser de alguma raça inteligente, e eu me sinto mais à vontade com animais, então...

— Já basta. Não quero mais ouvir. Vou ignorar isso, por enquanto. Não vamos estragar nosso jantar por causa de algo tão trivial.

— Bom, mas eu não sou o único que trouxe algo assim, não é? — Diz ele olhando para o senhor Gargoyle.

— Não compare minhas criações com cães de rua, senhor Korhil.

O rei suspira, fechando os olhos e abaixando a cabeça em tédio.

— Por favor, vamos deixar este assunto de lado. Hoje é um dia especial, e eu os chamei aqui porque gostaria de comemorar este dia com todos os lordes. Bom, como já sabem, a expedição foi um sucesso. Trouxemos muitos objetos instigantes, das quais os senhores já puderam vislumbrar alguns. Conquistamos um pequeno território na entrada daquelas terras também, tal como fizemos boas descobertas sobre o que é aquele lugar. Visto o quão especial foi toda esta investida, eu, como novo rei, me senti na obrigação de convidá-los para, não só elogiar os esforços de cada feudo, como também alegrar-nos juntos. Nos últimos meses as casas de Hastermash, tal como o próprio trono real, sofreram algumas mudanças. Aproveitando isso, eu decidi organizar este banquete. Aos novos integrantes, vou pedir que se levantem à medida que chamar seus nomes, tudo bem?

O jovem rei fez uma breve pausa, encarando os lordes um a um, vislumbrando seus rostos com um olhar sério e concentrado.

— Pois bem. Frankie Gargoyle.

O jovem de óculos se levanta, fazendo um breve cumprimento.

— É uma honra ser convidado para um jantar com vossa majestade, meu rei.

O jovem monarca assente respeitosamente com a cabeça. Assim que Frankie se senta, o monarca continua.

— Hugo Korhil.

O rapaz se levanta com um rosto levemente desconfortável.

— Prazer...

A mulher a direita do rei apenas abre seu leque, tampando a visão do sujeito enquanto virava o rosto. Ele se senta e o rei continua.

— Elena Banshee.

A mulher de vermelho se levanta com um sorriso, se curvando para os demais logo em seguida.

— É realmente uma honra estar perante a mais alta classe dos vampiros de Hastermash. Obrigada mais uma vez pelo convite, majestade.

Ela se senta e o rei chama o próximo.

— Simon Lumiya.

O jovem se levanta e cumprimenta o grupo com a cabeça de forma respeitosa.

— Faço das palavras dos meus companheiros as minhas, senhores.

Simon se senta, e o rei faz uma breve pausa, encarnado a garota na ponta mais afastada da mesa.

— Karen Solas.

A menina parecia levemente hesitante, mas ela se levanta e faz seu cumprimento formal, sem dizer nada. Antes que pudesse se sentar, no entanto, o monarca faz um sinal para ela.

— Aguarde um momento, senhorita Karen. Gostaria de discutir algo que envolve a senhorita e seu feudo.


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