Bloody Devotion escrita por Eliander Gomes


Capítulo 11
Encontro de Nobres — Parte 2




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Todos olhavam com certa tensão para a mulher. Mesmo Lorius não parecia disposto a fazer piadas. Ela usava um vestido vermelho sangue e uma maquiagem forte e chamativa.

— Elena Banshee. — Diz Darius, se aproximando.

— Visconde. — Ela se aproxima do homem, agarrando sua gravata e puxando-o para próximo de seu rosto com um sorriso sugestivo.

O visconde começa a rir, enquanto segura o pulso da mulher.

— Não quer fazer isso.

— Não quero? Como sabe?

— Porque aí perderia toda a diversão que está por vir.

Eles ficam se encarando com sorrisos por alguns segundos, quando a mulher finalmente decide soltar ele e se aproximar do restante do grupo.

— Está bem, me convenceu! Uma boa noite a todos os presentes! A estrela da festa chegou!

Eles escutam uma interjeição irritada vindo do canto da sala.

— Francamente... a nobreza decaiu muito nesses últimos anos.

— Cornelia, claro. Só por que tem mais de trezentos anos acha que é melhor do que a gente?

— Minha querida Elena, minha idade não está em xeque neste momento, mas sim sua sanidade e a postura dos nobres aqui presentes. É impressionante que Drakon permita tais sujeitos comandarem as regiões de Hastermash.

— Relaxa um pouco, vovó, deixa os jovens se divertirem.

Cornelia estende seu leque novamente e desvia o olhar, ignorando-a. Após isso, Elena puxa seu servo pelo braço e vai até um banco se sentar. No meio do caminho, no entanto, ela para, fazendo um rosto sério.

— Esse... esse cheiro...

Lenore encarava Elena com um olhar tenso, enquanto tentava ficar entre a visão dela e seu servo.

— Qual o problema, senhora? — Perguntava Tulio, confuso.

— Não há dúvidas. — Ela olha para Lenore com um sorriso, se aproximando dela. — O que você está escondendo aí, Lenore, safadinha?

A mulher abaixa seu leque e fica em uma pose imponente, forçando a jovem Banshee a parar.

— O que foi? Perdeu a língua? É tão gentil de sua parte ter trazido um agrado desses para nós!

— Ele não é um agrado. Ele é meu servo. E peço que o respeite.

Elena da uma leve risada, olhando por cima do ombro da mulher.

— Não há dúvidas mesmo, é um elfo do Jofrir. Onde conseguiu isso?

— Não é “isso”, é “ele”. E não é uma iguaria, senhorita Elena.

— Tudo bem. — Elena faz um rosto inquieto e entediado, puxando de sua bolsa um pequeno bloco. — Me diga, quanto quer por ele?

— Não está à venda, senhora Elena.

— Ah, qual é! Não me venha com essa! Tudo está à venda! Não há nada nesse mundo que não possa ser comprado com dinheiro ou bens. Talvez você não se interesse por ouro, que tal terras? Prazeres? Posso te fornecer os dois se quiser...

— Ele. Não. Está. A venda.

As duas se encaram com olhares sérios e instigantes.

— Tudo bem... está certo! — Diz Elena se virando aos risos. — Me perdoe por minha insolência, senhora Hagara. Não é minha intenção fazer inimigos neste jantar. Só estava querendo me divertir um pouco, só isso.

Lenore permanece em silêncio, voltando a abrir seu leque.

A mulher de vermelho se senta em um banco no centro do ambiente, e com um sorriso implicante, começa a encarar a todos no local.

— Viu o que eu disse, Tulio? Chamar a atenção é um dom meu.

Depois de alguns minutos de espera, um pequeno grupo de empregadas adentra o local, carregando consigo algumas bandejas com garrafas e taças. Elas servem os convidados com o conteúdo, enquanto o grupo continua sua conversa em pequenos grupos.

— Sangue élfico de Ienvir. — Comenta Elena, enquanto sentia o cheiro do líquido.

— Consegue identificar só pelo cheiro? — Pergunta o visconde Horan.

— Eu sou meio que uma entusiasta de sangue élfico. Como uma sommelier, digamos assim.

O velho ri, colocando uma das mãos sobre o bolso enquanto sentia o cheiro da bebida.

— De fato. Tem um cheiro peculiar.

Elena volta seus olhares para a direção de Lenore, mais precisamente de seu elfo.

— Não tão peculiar quanto aquele ali...

Lenore volta seus olhos para a mulher no mesmo instante, fazendo-a entrar em estado de riso.

— Deveria tomar mais cuidado, Elena. Irritar a senhorita Hagara pode ser perigoso.

— Eu não estou fazendo por mal, Darius. É apenas diversão. Eu jamais tocaria em propriedade alheia sem a devida permissão.

— Bem, contanto que não cause problemas, acho que tudo bem.

Eles escutam mais alguém chegando. A pessoa que entrou tinha um aspecto muito diferente de todos ali. Assim que a garota apareceu, todos os presentes se colocaram em uma postura respeitosa; os que estavam sentados, mesmo Elena, se levantaram e prestaram respeito. A menina que entrava tinha um vestido religioso branco, quase como uma freira, usava um véu que cobria boa parte dos seus belos cabelos loiros, tinha uma pele clara e um ar sublime. Seguindo-a, estava um velho humano de óculos, vestindo uma roupa sacerdotal.

Um guarda se põe a porta e faz uma apresentação formal da mulher.

— Clériga Georgia Abrogar IV está no recinto.

A jovem mulher levanta sua mão direita, e no mesmo instante todos voltam ao que estavam fazendo.

Darius se aproxima e estende sua mão para a jovem, que em resposta segura a mão do homem; ele leva-a delicadamente até sua testa, encostando enquanto curvava-se.

— É um enorme prazer ter a presença de alguém tão sublime, minha jovem donzela.

— Agradeço o elogio.

— Como foi a viagem, minha senhora?

— Cansativa, mas também muito proveitosa. Ter a oportunidade única de poder vislumbrar paisagens e criaturas criadas por nossas divindades é algo divino.

Enquanto os dois conversavam, Lorius se aproxima de Elena com um sorriso, falando em um baixo tom para ela.

— Não vai tentar fazer piada com ela também?

— Tá maluco? Nem eu sou tão cara de pau ao ponto de fazer gracinhas com os Abrogar.

Logo ao dizer isso, a mulher é surpreendida pela voz de Georgia, que a chama com um tom delicado.

— Sim, minha Senhora.

— Vejo que teve êxito no desafio de seu pai. Fico feliz em ver que mais uma mulher assumiu o comando de uma casa.

— Eu agradeço profundamente seu elogio, Clériga.

— Mas me pergunto o motivo por trás de ter trazido consigo um necromante.

Todos encaram Elena com certo gosto em seus olhares.

— Senhora, com todo respeito, a necromancia não é nada tão assustador ou maligno como é difundida. Nós mesmos, os vampiros, já fomos tratados como demônios em épocas mais remotas, sei que deve se lembrar disso.

— Sim, de fato. Mas deveríamos deixar os mortos descansar. Se estivesse sobre meus domínios, este ser seria condenado à morte por brincar com a vida. Mas eu não vou fazer uma cena fora da região de Abrogar por causa disso. Ainda mais em um momento tão importante.

— Eu agradeço vossa benevolência e sabedoria, minha Senhora.

A Clériga se afasta, sentando-se em um banco isolado enquanto o grupo via Hugo entrando na sala novamente.

— Olha só, ele voltou mesmo...

Ele trazia consigo um cão em uma coleira e um sorriso orgulhoso.

— Não me diga que este aí é o seu servo? — Pergunta Lorius em meio a risos.

— Não disseram que tinha que ser uma criatura inteligente! Afinal de contas, o quatro olhos ali trouxe uma criação dele.

Alguns deles dão risada da situação, enquanto Hugo se ajeitava no lugar.

Depois de mais um tempo eles veem um grupo de quatro pessoas entrando no local.

— Oh, parece que já tem bastante gente aqui.

— De fato, chegamos bem atrasados.

A primeira a entrar era uma mulher com uma armadura cerimonial; seus cabelos eram brancos e batiam logo abaixo dos ombros, mas seu rosto era bem jovem, e ela tinha um par de olhos dourados. O outro sujeito era um senhor de óculos e cavanhaque com um chapéu redondo; suas roupas chiques eram do tipo usado nas regiões desérticas de Hastermash, a região do povo de Garm.

Os dois servos que vinham logo atrás tinham aspectos completamente diferentes. O homem negro usando roupas do deserto tinha uma aparência forte e poderosa; já a donzela vestindo roupas de coro e um arco nas costas, parecia uma típica elfa da floresta.

— Sempre acho intrigante a forma como vocês continuamente chegam juntos às festas.

— O que posso dizer? — A mulher se aproxima do velho visconde com um sorriso. — Nossas regiões são vizinhas, e são as regiões cujo as faces são voltadas para o continente negro. Talvez enfrentar os possíveis perigos que as águas daquele lugar nos trazem acabou nos aproximando um pouco.

— Bom, já ofereci diversas vezes minha ajuda para lidar com essas coisas. Sabem que podem contar comigo.

— E mais uma vez agradeço sua oferta, visconde Darius, mas prefiro manter-me segura de que nenhuma das casas vá aproveitar a oportunidade para nos dar um golpe.

Ela falava isso com total segurança e sem qualquer escrúpulo. É claro, conhecendo todos ali, aquelas palavras não trariam ira ou furor.

— Direta como sempre.

A mulher cumprimenta-o e se dirige aos outros convidados, enquanto o outro lorde a seguia.

Lenore, no entanto, parecia inquieta. Simon ainda não havia dado sinal, e já estava ficando tarde. O horário marcado para o encontro já estava quase em seu limite. Ainda faltavam duas famílias, os Lumiya e os Solas.

Todos no lugar já imaginavam que, talvez, os Solas nem dessem as caras. O que tinha acontecido com sua casa era algo a ser discutido por todos ali. Deixar a casa nas mãos de uma vampira inexperiente e doente poderia vir a ser um problema; não só para os moradores daquela região, mas para todo o país. Todos os lordes dali sabiam disso, e já pareciam estar se movendo para agir.

— Ela não vem mesmo, não é? — Comenta Elena, encarando seu servo.

— Não podemos dizer com certeza ainda. Mas se ela não vir, isso poderá causar sérios problemas para ela.

— Bem, é bem provável que alguém tente terminar as coisas de forma diplomática, se oferecendo para apoiar a região ou coisa do tipo..., mas sendo bem sincera...

— Sim, Elena, todos sabemos qual é o seu objetivo quanto a este assunto. — Diz o visconde com um sorriso, interrompendo-a.

— O que dizer de uma família de assassinos, não é mesmo? — Dizia a mulher de armadura que chegara a pouco.

— Jean, você me diz isso, mas também é uma guerreira, não é? Se você tem a oportunidade de resolver as coisas com suas mãos, por que não o fazer?

— Eu posso ser uma guerreira, Elena, mas sei a importância de tentar resolver as coisas na diplomacia.

Elena ri, trocando suas pernas cruzadas de lugar.

— Vocês são mesmo hilários.

Lenore permanecia em seu devaneio pensativo.

“Isso não é bom. Se Karen não aparecer a sua região será um alvo de uma guerra política. Isso pode acabar gerando sérios problemas para Hastermash...”

Faltava menos de um minuto para a hora marcada, e é quando eles escutam passos vindo além do corredor.

— Mais alguém está chegando.

Eles se atentam para a entrada e veem aquele que seria um belo assunto entre eles mais tarde. Assim que aparece na entrada, o homem vislumbra os convidados com um rosto sério, quase abrindo um sorriso ao ver Lenore, mas ele se segurou. O homem mais velho, como fez com todos os outros, se aproxima do sujeito.

— E aí está ele, Simon Lumiya.

— Visconde Darius.

Os dois se abraçam.

— Fico feliz que esteja bem. Como vai seu pai?

— Ele está bem. Mas sei que já sabia disso, afinal, ele te visitou recentemente, não foi?

Ele sorri e assente com a cabeça, piscando para o rapaz com um ar brincalhão.

— Está certo.

Darius abre o caminho para o homem entrar mais a fundo na sala. Ele, como já era de se esperar, vai direto na direção da senhora Hagara.

— Fico feliz que veio. — Dizia ela, estendendo sua mão para o rapaz. Ele gentilmente recebe sua mão e a beija, de forma polida.

O rapaz percebe os olhares sobre si, que pareciam bem disfarçados. Mas uma em questão o chamou a atenção. A mulher de vermelho encarava-o com bastante curiosidade.

— Simon Lumiya, onde está o seu servo?

O rapaz sorri para Elena, voltando seus olhos para a porta. A jovem menina que entrou chamou a atenção de todos os presentes; não apenas por sua beleza, mas por sua extrema delicadeza e polidez. Ela deu alguns passos além da entrada, segurou as laterais de seu vestido, e se curvou do forma educada para os presentes no recinto. Seus movimentos foram elegantes, tão finos, que mesmo Cornélia ficou fascinada. A mulher levantou as sobrancelhas, impressionada, voltando seus olhares para Simon com um rosto admirado.

— Que jovem educada, Simon. Ela até mesmo esperou a permissão para adentrar o recinto.

O resto do grupo, no entanto, a olhava com uma atitude um pouco diferente. Elena sorria com bastante interesse sobre a menina.


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