Lenora e Phillip — Um amor quase impossível escrita por Sami


Capítulo 9
Capítulo 8




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Capítulo 8

(...)

 

 

Três dias depois, Phillip encontrava-se sentado diante do que seria um belo espetáculo, apesar de não gostar muito dos eventos sociais, seu título como visconde de Pambley o obrigava a comparecer a eles. Apesar de sua mente vez e outra o levar a pensar no que seus irmãos estariam fazendo naquele momento.

Escolhera um lugar mais afastado dos outros, desde que chegara fora abordado por muitos convidados, em especial as mães casamenteiras. Somente naquela noite conhecera Janet e sua filha Lucinda, uma moça muito simpática, ele admitia, mas que não causara nele qualquer tipo de interesse. Não a culpava, a Srta. Lucinda era uma moça muito bela e atraente, percebera que por onde caminhava atraia os olhares de outros cavalheiros, mas não o dele.

Os olhos de Phillip conseguiam apenas focar-se em Lenora.

Em seu lugar, escondido de certos olhares e de futuras apresentações indesejadas, Phillip aguardava pelo início do recital, observava o movimentar de convidados até notar duas pessoas a caminhar em sua direção. Mais especificamente, na direção da fileira em que estava sentado.

Lenora e a mãe pareciam procurar por dois lugares vagos, ele conseguia notar o desespero da mais velha em achar dois assentos em outro lugar e precisou conter o riso que brotou em seus lábios quando dera-se conta de que tal desespero era apenas porque os dois assentos ao lado eram os únicos vagos.

— Milorde — ouviu a voz controlada de Lady Barrington lhe saudar.

Ele virou-se e rapidamente se colocou de pé, olhou para as duas mulheres Barrington com atenção antes de responder ao cumprimento. Lenora estava meio passo atrás da mãe, o rosto estava em uma expressão neutra e controlada demais, os lábios pareciam tremelicar levemente diante a cena.

— Lady Barrington — o visconde saudou a mais velha, beijou-lhe a mão conforme era exigido do decoro e se direcionou para Lenora. — Srta. Barrington.

Ao imitar a ação ele ouviu o que seria um curto resmungo da mãe, mas nada disse a respeito, pois estava achado graça de toda aquela situação para deixar-se aborrecer com algo tão bobo.

— Está uma noite muito agradável não acha? — perguntou ele, apenas para ser gentil.

Lady Barrington o encarou um tanto chocada e isso atraiu a atenção de alguns curiosos, qualquer interação entre os membros das duas famílias rivais era algo atrativo, muitos apenas torciam para que acontecesse alguma troca de ofensas, mas ambas famílias eram respeitosas o bastante para não dar o show que muitos esperavam acontecer.

— Oh sim — a mulher respondeu, esforçando-se para mostrar o sorriso mais gentil que conseguiu mostrar. — É uma noite maravilhosa.

Ela tentou disfarçar ao olhar ao redor em mais uma busca por outros lugares que pudessem estar vagos, mas não obteve muito sucesso com isso, pois Phillip viu isso acontecer.

— As fofocas não contaram que o milorde apreciava recitais — foi Lenora a comentar. Atraindo um olhar reprovador da mãe por iniciar uma conversa.

Ela o olhava como se o estivesse desafiando a continuar com a conversa, e ele percebeu que Lenora apenas o fazia para provocar a mãe.

— Quando tocada pelas pessoas certas, há o que apreciar, não concorda?

— Claro, claro. — ela responde com entusiasmo. — Felizmente as irmãs Hollow parecem saber muito bem o que fazer. 

O assunto pareceu finalmente dar por encerrado e, percebendo que não encontrariam outro lugar para sentarem, Lady Barrington pareceu finalmente aceitar que estaria próxima do visconde. Apesar de não trocarem nenhuma outra palavra, muitos dos presentes que viram o ocorrido esperavam que alguma confusão entre eles começasse.

— Acredito que vai começar — ele ouviu Lenora comentar com a mãe.

— Ótimo, isso deve mantê-la calada por um tempo. — a mais velha resmungou. E Phillip quase riu disso.

E ela estava certa sobre o início do evento, alguns criados começaram a apagar as velas acesas, deixando apenas uma e outra para iluminar o palco e depois de alguns minutos as seis irmãs Hollow entraram e começaram sua apresentação, todas com um instrumento exceto pela mais nova que era a responsável por cantar.

O recital seguia normalmente, a música entoada era agradável assim como a voz da jovem Hollow e todos os convidados estavam gostando do que ouviam.

Depois de quase trinta minutos que para ele demorou para passar, o concerto terminou e apesar de não recordar-se de nada do que acontecera, pois tinha parte de seus pensamentos distantes demais da realidade, Phillip aplaudiu de pé a apresentação — como os demais convidados faziam.

Ao seu lado, Lenora também aplaudia, recebendo da mãe uma pequena bronca quando ela forçou demais as próprias palmas.

— Sobreviveu?

Ele inclinou-se para o lado de Lenora, sussurrando a pergunta e a surpreendendo ao fazê-la, pois ambos estavam ali apenas interpretando um papel que não seguiam.

Lenora segurou o riso, mas não conseguiu fazê-lo por mais tempo, ele viu quando seus lábios se esticaram e mostrando um sorriso muito leve e quase desafiador.

— Dividir o mesmo espaço não foi assim tão ruim, — murmurou baixo. — Estou pronta para mais uma.

Ela o olhou com o canto dos olhos, tempo o suficiente para ver que ele também a olhava naquele momento. Mesmo que a troca de olhares tivesse sido algo como dois cúmplices tivessem cometido algum crime, Phillip sentiu-se estranho com aquela simples troca.

Ele foi o primeiro a desviar os olhos, voltando a um estado normal de fingir odiar a jovem Barrington ao seu lado. E ela passou a fazer o mesmo. Foi necessário ignorar a atenção extra que estavam recebendo dos demais, afinal, duas Barrington estavam ao lado de um Weston, todos esperavam o desenrolar de ofensas e confusão.

E como se percebesse isso, a mãe de Lenora dirigiu ao visconde uma reverência breve e o segundo melhor sorriso ao despedir-se de sua presença. Seguindo o decoro como se sua vida dependesse disso.

— Milorde — disse ela, os lábios esticados em um sorriso gentil. Apesar do brilho nada agradável em seus olhos castanhos.

  Lenora ao imitar a mais velha mostrou um sorriso mais sincero.   

— Milorde Weston.

Phillip seguiu o decoro também e isso apenas atraiu a atenção de curiosos.

— Lady Barrington, — primeiro beijou as costas da mão da mais velha. — Srta. Barrington.

Ao beijar-lhe as mãos, as duas se retiraram. Caminhando pelo salão até finalmente se misturarem com os demais convidados.

O que acabara de acontecer entre os três foi um vislumbre simples do que geralmente ocorria quando as duas famílias se encontravam em eventos como aquele. Não houve troca de ofensas, mas estar próximos demais era algo que parecia incomodá-los. Phillip já presenciou o pai agir igual um tempo atrás e lembrava de uma vez que um dos irmãos de Lenora também.

Como ambas faziam parte da alta sociedade e consequentemente eram influentes e conhecidas por todos, eles não podiam simplesmente dar início a uma discussão ou brigar diante de todos como muitos sempre esperavam. Agiam normalmente, apesar do claro desconforto que presenciou no rosto de Lady Barrington. E era isso. Agiam com decoro e deixavam a falta de respeito para outras ocasiões.

Phillip continuou em seu lugar durante poucos instantes, conseguia ver a imagem de Lenora se afastar por entre a multidão de convidados presentes, naquela noite ela usava um vestido azul claro que combinava com seu tom de pele — a destacava entre as demais — ela olhou para o lado e depois, de forma muito discreta, virou o corpo para a esquerda e olhou diretamente para a mesma direção na qual viera.

Por entre muitos rostos, seus olhares se encontraram mais uma vez, foi algo rápido para que outra pessoa percebesse, Lenora apontou na direção contrária, mostrando um canto do salão vazio; como se dissesse a ele que deveriam ir para o local de seus encontros.

Ele assentiu, dando o primeiro passo adiante quando foi abordado por uma mãe casamenteira. Ele não a conhecia por nome, mas seu rosto era muito familiar, pois aquela não era a primeira vez que era abordado pela mulher.

— Visconde Weston! — a mulher sorria largamente enquanto puxava a filha em sua direção. — Que prazer encontrá-lo aqui hoje.

Respirou fundo e fez o que sempre fazia em situações como aquela. Era gentil.

— Não perderia o recital das Hollow por nada — respondeu ele de forma descontraída, esboçando um sorriso divertido nos lábios.

A mulher sacudiu a mão algumas vezes e fez alguns comentários a respeito do recital, até que finalmente trouxe à tona o verdadeiro motivo para estar ali conversando com ele.

— Não costumo ser tão ousada, mas seu pai era um grande amigo da minha família.

O visconde assentiu, aquelas eram as piores mães. As que alegavam ser amigas de seu pai quando Phillip sabia não era verdade. Seu pai era muito popular quando vivo, era verdade, mas Phillip já tinha idade para ter conhecimento de suas amizades e bem sabia que o homem não confraternizava com mulheres. Especialmente aquelas que pretendiam jogar suas filhas para um casamento vantajoso.

— Essa é minha filha, Georgia Jenkins — a mulher puxou a filha para mais perto, a moça sequer o olhou nos olhos. Apenas sorriu e voltou sua atenção para o piso do salão. — Ela é um pouco tímida, mas em seu primeiro debute, o que é algo completamente comum, não acha?

— Claro — ele respondeu.

Ele beijou as costas da mão da moça. E notou o rosto da jovem ficar vermelho.

— Srta. Jenkins — a saudou, seguindo o decoro como qualquer bom cavalheiro o faria. 

Olhou para os lados, avistou Lenora mais a frente, caminhando para o lugar indicado e precisou pensar em uma maneira de esquivar-se daquela conversa da melhor maneira que conseguia sem que parecesse um verdadeiro mal educado.

Mas não conseguiu fugir.

A mãe da pobre moça começou a listar todas as qualidades da filha como se a estivesse vendendo a Phillip e, como bom ouvinte a escutou e as vezes fazia alguns comentários para elogiá-la. Sabendo que isso muito agradaria a mais velha. Georgia manteve-se calada durante todo o tempo, apenas assentia e sequer o olhava nos olhos; tímida. Lembrou-se.

— Foi um grande prazer conhecê-la, — começou a falar quando finalmente encontrou uma oportunidade de afastar-se. — Ficaria honrado se guardasse uma dança para mim no próximo baile.

O rosto da mulher pareceu se iluminar, mesmo que a dança fosse apenas um meio de agradar, Phillip sabia que ao fazer isso faria com que a jovem ganhasse a atenção de outros cavalheiros e quem sabe, acabaria sendo cortejada por um deles.

— Oh, é muito gentil de sua parte milorde — ela sorria com animação, como uma criança que acabara de ganhar um brinquedo. — Irei cobrá-lo.

Os três riram.

— Claro, claro — balançou a cabeça, sabendo que teria de memorizar não apenas o nome da jovem, mas a promessa que acabara de fazer. — Se me der licença.

Phillip afastou-se das duas e rumou em direção ao canto do salão indicado por Lenora, sentindo-se estranho com a incomum necessidade que surgiu dentro de si de vê-la.

 

●●●

 

Lenora nunca foi de apreciar os recitais como o restante de sua família e passou a odiá-los verdadeiramente quando sua mãe começou a usar tal evento como desculpa para apresentações de possíveis candidatos a casamento. Ela não queria estar presente aquela noite, mas sabia que Phillip estaria presente e bem, ela tinha ótimas novidades.

Após encontrar o diário de seu tataravô, Lenora se viu envolvida em uma história que desconhecia e que ninguém de sua família comentara antes. Ela também não fez nenhum comentário a respeito, pois sempre que citava o nome Weston em alguma conversa, recebia resmungos e a mesma resposta de sempre: O que precisa saber é que nossas famílias se odeiam. E isso nunca vai mudar.

Isso bastou para que ela se colocasse em uma missão própria para desvendar o que houve entre as duas famílias para que esse ódio se estendesse por tantos anos. O relacionamento citado pelo homem talvez seja o estopim para tamanho ódio, mas para isso precisava ler mais páginas, saber mais sobre Isabel Weston e Phillip poderia lhe ajudar com isso.

— Posso andar pelo salão? Adoraria um pouco de ar. — disse a jovem. Usando uma de suas clássicas desculpas para se encontrar secretamente com Phillip.

Conhecia a mãe e ela não recusaria uma caminhada inocente pelo salão.

— Claro, mas não demore muito, há um cavalheiro que quero lhe apresentar.

Lenora fez uma careta, mas não reclamou. Aproveitaria o tempo que teria com Phillip para lhe contar a novidade e não o perderia com resmungos sobre as artimanhas da mãe em casá-la logo.

Avistou Phillip não muito longe de onde estava, ele conversava com uma mãe casamenteira que queria a todo custo jogar a filha solteira para ele e como sempre fazia ele seguia uma conversa amigável e gentil. Ela o invejava às vezes. Sim, ele tinha a obrigação do casamento — ainda mais sendo visconde —, mas essa cobrança não era tão intensa como para as moças. Se ele simplesmente anunciasse que esperaria por mais um ano, ninguém iria fazer objeções, algumas mães iriam reclamar, mas apenas isso.

Já ela, se ousasse dizer que esperaria mais um ano, sua mãe enlouqueceria e toda a sociedade já a veria como uma solteirona.

— Por favor, da próxima vez que você me ver sendo abordado por uma mãe casamenteira, me salve disso. — ele a surpreendeu ao finalmente encontrá-la no canto.

Ela riu.

— E fazer você perder a melhor parte da temporada? Jamais. — respondeu num tom animado.

Com ele ao seu lado, Lenora sentia-se menor. Não era assim tão baixa como as outras moças, mas Phillip era um dos cavalheiros mais altos da sociedade e sempre que ficavam próximos do outro sentia-se um tanto intimidada com tamanha altura.

Naquela noite ele vestida preto — como os demais — e azul, uma cor que ela notou que apenas o favorecia em sua aparência e que coincidentemente combinava com o tom de seu vestido azul.

— Elas estão mais ousadas nessa temporada — comentou. Ele fingiu estremecer diante de seu próprio comentário.

— Elas querem fazer de tudo para que suas queridas filhas se casem com o visconde Weston — contou Lenora. — Acredite, elas ainda não fizeram metade do que realmente querem.

Os dois riram dessa vez. Conversar sobre as mães casamenteiras era um assunto divertido para eles, pois ambos tinham histórias cômicas sobre, mas se encontro naquela noite não tinha relação alguma com casamento ou as mães desesperadas por um bom casamento.

— Tenho que lhe contar algo — anunciou ela. Atraindo a atenção completa de Phillip. — É uma descoberta, na verdade. Uma que vai mudar completamente tudo o que sabemos sobre nossas famílias.

Phillip se animou.

— Está me deixando curioso.

— Dias atrás encontrei um diário do meu tataravô e você sabe como sou curiosa e sim, eu comecei a lê-lo. Não me julgue.

O visconde levantou as duas mãos e nada disse.

— Descobri que meu tataravô se relacionava com uma Weston!

 

 


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