Lenora e Phillip — Um amor quase impossível escrita por Sami


Capítulo 8
Capítulo 7




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Capítulo 7 

(...) 

 

A temporada seguia a todo vapor e muitos arranjos para casamentos já estavam sendo feitos. 

Um pouco mais de quatro semanas se passaram e Lenora Barrington acumulava um total de doze candidatos que saíram correndo diante sua presença sem que eles ao menos tivessem tido a chance de cortejá-la ou iniciar uma conversa. E ela sentia-se completamente satisfeita com o feito. 

Sua mãe, Lady Grace, percebendo a grande disposição da filha em tornar-se uma solteirona cedo demais, pegou para si uma missão particular em fazer a filha atrair mais pretendentes; mesmo que ela os fosse negá-los. Isso resultou em uma mudança completa em seu guarda-roupa e em apresentações demais para que alguém achasse comum.  

Internamente, Lenora se preparava para o recital das irmãs Hollow — que fora adiado muitas vezes — e também para as futuras apresentações que sua mãe lhe feria. Solteiros de todos os tipos, falantes, calados, tolos, espertalhões que se achavam inteligentes quando não eram...  

O evento ainda não tinha acontecido e Lenora já estava prometida a ser apresentada a um ótimo cavalheiro — de acordo com sua mãe que, não aceitaria que a filha o colocasse para correr sem antes trocar algumas palavras com ele. E sabendo que poderia arrepender-se disso, aceitou.  

A contragosto.  

Era início da tarde e sua casa encontrava-se em mudanças também, sua mãe achou que era hora de liberar alguns quartos inutilizados e isso se referia aos cinco quartos extras que tinham na casa. O qual não eram usados há alguns anos. Lenora tinha acabado de retornar de um passeio demorado no parque, — onde encontrou inesperadamente com Phillip — e fora surpreendida por uma verdadeira confusão no interior da residência.  

Ela viu o mordomo da casa, Jeffs passar de um lado para o outro junto a algumas criadas, todos se mostrando ansiosos e um tanto confusos sobre o que deveriam estar realmente fazendo. Curiosa como sempre foi, ela os seguiu até os quartos, todos os cinco estavam com suas portas abertas, alguns móveis espalhados pelo corredor longo, sua mãe se encontrava no último quarto. E parecia agitada com a mudança que estava fazendo.  

— Por que está fazendo tudo isso mamãe? — questionou ela ao entrar no cômodo pela primeira vez. Não deixou de notar como era maior do que seu quarto.  

Lady Barrington virou-se brevemente em direção a filha, Lenora ainda estava com a capa que usou para o passeio sobre si.  

— Ora, passou da hora de liberarmos espaço na casa — respondeu a mulher. — Além disso, seu irmão Andrew irá assumir o lugar quando seu pai e eu morrermos. 

— Acabou de falar como se já estivessem para morrer — ela repreendeu a mais velha.  

— É a verdade — argumentou. — Andrew e Jane estão esperando o primeiro filho e não creio que ficará apenas em uma criança apenas. 

A moça nada respondeu porque sabia que era verdade, Andrew amava demais sua esposa Jane e não era surpresa que já estivessem esperando seu primeiro filho depois de quase três anos de casamento. Não seria surpresa se viessem dois ou três de uma só vez, como aconteceu com sua mãe.  

— E o que pretende fazer com todos os móveis? — perguntou outra vez.  

Lenora observou melhor o cômodo, antes era Andrew quem o utilizava e ainda era possível ver alguns de seus pertences espalhados. Os dois baús, sendo apenas um pertencente a ele dentre alguns livros e uma grande estante.  

— Doar para a caridade, jogar aqueles que estão velhos fora... Ainda não decidi — disse ela, também olhando para tudo o que estava dentro daquele quarto.  

A mulher caminhou até a grande cômoda e apontou para que Jeffs a trocasse de lugar, era claro que o homem sozinho não daria conta de movê-la e ao que indicou, essa não era a intenção de sua mãe no momento.  

— Antes que me esqueça, mandei um convite a seus irmãos para um jantar informal, faz tempo desde que eles nos visitaram da última vez então quero que se apronte hoje — pediu a mais velha.  

Lenora assentiu, desde que os três mais velhos se casaram era difícil vê-los, todos tinham suas responsabilidades agora que eram casados é claro, mas ela sentia falta da vivência que tinha com os irmãos e sabia que seus pais também.  

— Claro.  

Ela prolongou sua estadia no quarto, vasculhando com curiosidade alguns móveis, observando a mãe fazer alguns planos mentais enquanto tentava encontrar uma forma de arrumar a bagunça que ela mesma fizera. A filha caminhou para perto dos dois baús que Andrew sempre guardou no quarto, um deles estava com uma grande letra A gravada em sua tampa, deixando claro a quem pertencia. Já o outro, era coberto por um pano escuro que não o cobria completamente.  

Curiosa como sempre foi, Lenora ajoelhou-se diante o baú, retirou o pano escuro e empurrou sua tampa para cima, o abrindo. O mesmo rangeu alto, pela falta de uso. Ela ergueu-se para olhar o que existia dentro dele e sentiu-se um pouco frustrada, imaginou que um baú guardaria alguns tesouros ou qualquer coisa que pudesse parecer interessante, mas tudo o que ela viu foi um diário com o nome Bartholomeu Terrew escrito em sua capa. 

— Um diário?  

Murmurou, o retirando de dentro do baú com cuidado, pois o mesmo parecia um pouco velho demais. 

Bisbilhotar um pertence de outra pessoa não era cortês, mas Bartholomeu era seu tataravô e bem, ele era sua família. Não iria se importar. 

— No que está mexendo? 

Ela quase pulou quando ouviu a voz de sua mãe, Lady Grace estava atrás dela, olhando-a tão curiosa quanto a filha.  

— Encontrei um diário — comentou, levantando-se. — Não se importa se lê-lo?  

Sua mãe não pareceu se importar muito com o achado, deu com os ombros e apenas sacudiu a mão soltando um não muito baixo. Lenora encontrou ali sua deixa para sair, segurou o diário contra o corpo e levantou-se, deixando o quarto e correndo para o seu. Fechou a porta e sentou-se em sua escrivaninha, ansiosa para os segredos de Bartholomeu Terrew. 

Ela começou pela primeira folha, esforçando-se mais do que imaginou para entender a caligrafia do homem, demorou até que ela se familiarizasse com a letra e quando enfim conseguiu entender melhor o que estava sendo dito, já conseguia ler sem precisar de uma pausa para verificar se leu a palavra corretamente. 

Lendo aquela página, ela se deu conta de que não tratava-se apenas de um diário qualquer, Bartholomeu narrava seu dia e afazeres e tinha anexado uma carta junto a folha. Esta estava muito bem dobrada e Lenora precisou de cuidado para abri-la.  

Querido Bartholomeu, 

faz muitos dias que não nos vemos e a saudade de tê-lo apenas cresce em mim. Londres não tem sido a mesma desde que partiu em viagem e ouso dizer que ela encontra-se desanimada sem você... 

Ela pulou para a assinatura e soltou várias blasfêmias quando leu quem as enviou. Isobel Weston.  

Lenora quase caiu da cadeira ao ler o nome da correspondente e precisou ser rápida ao levar a mão até os lábios para impedir que várias blasfêmias fossem ditas. Leu e releu a página inteira do diário e incluiu a carta, ela não sabia muito sobre a família de Phillip, mas ter uma carta escrita por Isobel Weston em um diário que encontrou em sua casa era no mínimo incomum.   

Ela prosseguiu com a carta:  

"Odeio que essa viagem tão urgente tenha nos separado, mas creio que isso apenas torna o que temos mais especial e único. Amo-te e tenho essa estranha necessidade de tê-lo ao meu lado. 

Espero ansiosamente por seu retorno e torço para que possamos nos encontrar mais vezes. 

De sua amada Isobel Weston." 

Lenora parou de ler, havia muito a ser dito com o que acabara de ler, não apenas pelo conteúdo do diário, mas a carta que leu deixou claro que seu tataravô vivia um romance com uma Weston. E ela sabia que teria de contar isso a Phillip.

 

●●●

 

Naquela mesma noite, a casa Barrington encontrava-se cheia e muito barulhenta do que era costume.  

Os trigêmeos Barrington para a alegria de Lady Grace responderam ao seu convite de um jantar informal e com eles vieram suas esposas.  

De onde estava, ela tinha uma visão total de sua família completa, à sua frente o marido se atentava a estranha conversa dos filhos e parecia não entendê-la completamente; assim como as três mulheres com quem casaram-se. 

Lady Barrington gostava da visão de ter seus quatro filhos juntos num mesmo ambiente, era algo barulhento e sempre muito, muito agitado. Contudo o que era a bagunça deles perto da sensação que corria em seu corpo quando os quatro conversavam alto e tentavam sempre falar ao mesmo tempo? Verdade seja dita, ela não se agradava na maneira como pareciam quatro crianças diante a mesa, mas não podia reclamar. Afinal, era eles quem lhe traziam a alegria que apenas uma mãe era capaz de sentir. 

A confusão de vozes era estranha e o assunto sempre variava a cada novo segundo. Lady Grace Barrington ouvia algumas fofocas, exclamações chocadas, resmungos e claro, risadas altas demais para serem ignoradas. Até mesmo as esposas de seus filhos se misturaram a conversa depois, tornando assim o assunto mais interessante; apesar de ela não parecer compreender ao certo o que era conversado ali. 

Lenora gostava dos irmãos, isso era um fato. Mas gostava ainda mais por eles não tratá-la apenas como uma caçula, sabia que eles omitiam alguns assuntos quando estavam junto a ela, mas pouco se importava. Ela gostava de ouvir as fofocas que os três traziam.  

Mas o assunto que se seguiu foi diferente do que ela esperava. 

— E os pretendentes, Lenora? — o mais velho dos trigêmeos, Andrew, perguntou. — Ouvi dizer que já colocou ao menos oito para correr nessa temporada. 

— Oito? Ouvi que foram dez! — Christopher olhou para o mais velho quase chocado. 

— Foram quinze, seus desinformados. — Benjamin completou.  

Lenora revirou os olhos, pois estavam errados. Foram doze.  

— Não quero ser o assunto da vez — reclamou. — Muito menos quando esse assunto se relaciona a casamento.  

Os três se olharam, pareciam conversarem entre si e não demorou para que estivessem novamente falando sobre a quantidade de pretendentes que Lenora afugentou. Até mesmo Jane. Violet e Isabella deixaram seus comentários, uma traição do próprio sexo, Lenora observou.  

— Se não casar-se com alguém ficará solteira — o trigêmeo mais novo provocou.  

Andrew, Benjamin e Christopher eram os mais velhos. E Lenora nunca soube o motivo pelo pai escolher seus nomes seguindo a ordem alfabética. 

— Lady Coublepett é solteira e vive muito bem.  

— Não vai imitá-la, não é? — questionou Andrew, quase preocupado.  

Lenora arqueou uma sobrancelha e franziu os lábios como se pensasse no assunto, se vivesse como a mais velha, ela não acharia ruim tornar-se uma solteirona.  

— Isso não vai acontecer — interveio a mãe. Olhando com firmeza para a filha caçula. — Lenora está apenas brincando.  

— Não sei, não mamãe — disse Benjamin. — Se ela continuar a espantar os moços não sobrará ninguém para ela casar-se.  

Os três filhos concordaram ao mesmo tempo.  

— Londres não é o único lugar habitável, meu querido. — murmurou Lady Grace, tomando um gole de sua bebida.  

— Ouvi dizer que há um duque na Itália em busca de uma moça — contou Jane, esposa de Andrew. 

Jane era a mais velha de cinco filhas. Todas as suas irmãs também já estavam casadas, Lenora gostava dela, Jane era inteligente e sempre permitia suas visitas inesperadas em sua casa de campo. Já Violet e Isabella eram uma mistura perfeita das personalidades de seus maridos, ambas tão engraçadas e agitadas quanto Benjamin e Christopher.  

Na verdade, Lenora gostava de suas cunhadas e como todas as três cuidavam e amavam a seus irmãos, mesmo que estivessem casados a quase dez anos, ela ainda via muito amor em cada casal. Como via nos pais. 

— Mamãe irá mandá-la para a Itália agora — troçou Christopher, muito sério em sua fala.  

Todos o olharam, até mesmo Lorde e Lady Barrington, mas não demorou muito para que Lenora e os trigêmeos começassem a rir sem que se importassem com decoro. As esposas de seus irmãos também riram, ainda que de maneira mais cortês e menos escandalosa.  

Já os pais dos quatro irmãos Barringtons, limitaram-se em apenas trocar olhares cúmplices e sorrirem para o outro sem nada dizer.  

— Podemos mudar de assunto? — pediu Lenora quando percebera que chegara ao seu limite, não queria falar sobre casamento ou pretendentes em potencial. Queria apenas um jantar.  

Nada mais.  

— Tenho certeza de que não há assunto mais interessante do que sua possível solteirice, irmã — desafiou Andrew. 

A mais nova pensou um pouco e lembrou-se do diário que encontrou mais cedo, poderia contar que descobrira que seu tataravô parecia estar se relacionando com Isobel Weston, mas achou que isso seria escandaloso demais para um jantar. Além disso, sabia que se mencionasse o sobrenome da família rival uma verdadeira onda de ofensas começaria e Lenora não queria ouvir isso.  

— Já que estão pedindo por um novo assunto, eis um — seu pai atraiu a atenção de todos. — Sua mãe e eu acreditamos que há uma possibilidade de um novo membro vir. 

Todos concordaram. 

— Não é novidade a gravidez de Jane, papai — disse Andrew com um sorriso para a esposa.  

— Não estamos falando de Jane, querido. — respondeu sua mãe, gesticulando para a própria barriga.  

Foi então que aconteceu, os quatro filhos engasgaram ao mesmo tempo e cuspiram suas comidas, já suas esposas se olharam assustadas e logo depois maravilhadas pela novidade.  

— Como é?  

— Como assim?  

— Isso ainda é possível? Vocês não são um pouco velhos?  

— Ora Lenora, — resmungou Lady Grace. — Tenha modos.  

— Ela está certa mamãe, — retrucou Benjamin. — Na idade de vocês isso não parece possível.  

— A senhora está ou apenas desconfia que está grávida? — questionou Christopher. 

— Sua mãe não gosta de surpresas — respondeu John Barrington. — É apenas uma suspeita, mas se realmente existir um bebê a caminho, queremos estar prontos para esse momento e por isso já queremos deixá-los cientes.  

— Essa gravidez me parece uma surpresa e tanto — murmurou Andrew com humor.  

— Eu deveria ter notado — comentou Lenora. — Mamãe está fazendo mudanças com os cinco quartos desocupados.  

Todos olharam para Lady Barrington. 

— Acho que é mais do que apenas uma suspeita. — disse Violet.  

— Imagina se vier mais três de uma vez? — pensou Jane.  

Todos riram alto, já Grace e John pareceram um pouco assustados com a possibilidade, afinal, mais três filhos de uma só vez seria uma surpresa e tanto.  

O restante do jantar seguiu com muitas perguntas sobre as duas gestações da família, e suposições sobre quantas crianças viriam.  

— Quando o jantar terminou, Andrew e Jane anunciaram oficialmente o baile que dariam dentre três semanas e convidaram Lenora para passar alguns dias em sua casa de campo após o baile. E Lenora aceitou ao convite, sem saber o que a aguardava para essa noite. 

 

 

 

 

 


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Notas finais do capítulo

Barrington e Weston já se envolviam antes...



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