Lenora e Phillip — Um amor quase impossível escrita por Sami


Capítulo 16
Capítulo 15




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Capítulo 15 

(...) 

 

 

Por Lenora conhecer melhor a casa, ela guiou o visconde pelo corredor até encontrarem o escritório principal de Andrew; onde ninguém iria interrompê-los. Entraram e se trancaram ali mesmo. 

Phillip notou que o escritório era grande, semelhante com o que tinha em Pambley e igualmente desorganizado. A mesa aonde eram assinados papéis e contratos se encontrava com papéis demais, a bagunça dali era também bastante semelhante à que Phillip tinha em seu próprio escritório.  

O lugar estava pouco iluminado, Phillip contou apenas quatro lamparinas acesas que permitiam uma claridade precária ao ambiente, mas isso não pareceu ser um problema para ela.  

— Não vou poder mexer nas lamparinas sem que Andrew saiba que alguém esteve aqui então vamos precisar ficar perto de alguma para ler as cartas — disse ela, gesticulando para a lamparina próxima de uma estante.  

Os dois rumaram para aquele canto e finalmente Phillip lhe entregou as cartas. Quando as encontrou ficou tentado a lê-las, admitiria isso caso Lenora perguntasse, mas não o fez porque sabia que ela iria matá-lo assim que soubesse.  

Não esperava que toda aquela história despertasse nele tamanha curiosidade, claro, queria desvendar o que levou suas famílias ao ódio, porém tinha um interesse próprio em solucionar aquele mistério. Ele queria acabar com aquela rixa e parar de se esconder de suas famílias.  

— Vamos pela primeira e seguimos — sugeriu ele ansioso e impaciente também. 

Lenora assentiu devagar e desfez o laço amarelo que as mantinha juntas, pegou a primeira da pilha e entregou as restantes para Phillip. Com cuidado a desdobrou e mostrou o conteúdo para ele.  

— Está em italiano?  

— Não — respondeu ela. — Mas achei que iria querer ver, não acho que seja uma carta com depravações.  

O visconde riu, sim, ele iria mesmo querer verificar o que ela estaria lendo. 

 

“Amada Isobel… 

Odeio que nos escondamos de nossas famílias, mas sinto que isso é necessário. O que temos não é lógico para eles e tão pouco convencional, mas a senhorita me arrebatou de corpo e alma desde o primeiro momento em que a vi. 

Também sinto sua falta e conto os dias para meu retorno a Londres. Espero vê-la em breve. 

Com amor, seu Bartholomeu.” 

 

Lenora ergueu o rosto e olhou para Phillip, parecia esperar por alguma reação dele.  

— Um romântico — comentou ela, dobrando a carta e a deixando separada das demais.  

— Romântico demais para um libertino?  

Um meio sorriso brotou em seus lábios. 

— Um pouquinho — confessou. — Eles são sempre uns cafajestes, é incomum ler algo assim de um libertino.  

Phillip então lhe entregou outra carta, Lenora a leu em voz alta como fizera com a primeira e soltou alguns comentários depois. A carta não trazia novidades, eram mais juras de amor como a anterior e foi assim durante cinco cartas seguidas.  

Ele começou a pensar que talvez somente as cartas de Isobel continham informações realmente interessantes e cogitou dizer isso a ela, mas quando seus olhos se voltaram para Lenora mais uma vez viu o quão entusiasmada e decidida ela estava e deixou que o pensamento se perdesse em sua mente.  

— Está desistindo?  

Ela ergueu o rosto assim que pegou a sexta carta.  

— Eu? — questionou. — Jamais. Sou uma Barrington, somos teimosos demais para desistir de algo.  

Ele concordou mentalmente com sua fala.  

Aquela não era a primeira vez que via de perto sua teimosia e sabia bem que não seria a última. Claro, ele temia que, ao terminar a leitura de todas as outras cartas ela acabasse por ver que não encontrou nada de relevante e a conhecia bem o suficiente para saber que isso poderia chateá-la.  

— E você? — perguntou ela, olhando-o com leve suspeita. — Vou entender se não quiser fazer isso, está perdendo o baile. 

Phillip deu com os ombros.  

— Honestamente você encontrou uma desculpa aceitável para que eu fugisse, não queria ser abordado pelas mães casamenteiras — disse. — E parte de mim quer saber o que vamos encontrar nessas cartas.  

Ela estreitou os olhos.  

— E a outra parte?  

— Se preocupa para o caso de não encontrarmos nada.   

Ela esticou o braço em sua direção e deu dois tapinhas leves em seu ombro em um gesto companheiro.  

— Vamos encontrar algo. — assegurou. A certeza em seu tom de voz era quase assustadora, mas contagiante. 

Lenora começou a ler a carta e parou após duas linhas quando seu conteúdo se mostrou algo que apenas um verdadeiro libertino escreveria. Phillip pegou a carta e a rasgou.  

— Por que fez isso? — Lenora protestou. — Era uma prova!  

— A prova de uma depravação! — respondeu. — Imagine o que aconteceria se seus pais ou seus irmãos descobrissem que guarda uma carta assim?  

Lenora cruzou os braços. 

— Eles não iriam descobrir.  

— Mas eu saberia e não iria ter descanso se permitisse algo assim.  

Ela colocou as duas mãos sobre a cintura.  

— Phillip, essa não é a primeira carta depravada que leio — o lembrou. — Não se preocupe, não será uma carta que irá manchar minha honra.  

— Vamos para a próxima sim? — pediu ele. — Seus irmãos e cunhadas já devem estar procurando-a.  

Ela assentiu e pego de sua mão a sexta carta.  

— Pambley é de fato uma linda propriedade… — Lenora se interrompeu ao ler a primeira frase e olhou esperançosa para Phillip. — Acho que ele irá falar sobre o passeio que eles fizeram! 

Phillip percebeu pelo seu tom que ela se animou.  

— Prossiga!  

 

“Pambley é de fato uma linda propriedade, é uma pena que esta tenha sido minha única visita ao lugar…” 

 

Ela parou de ler, uniu as sobrancelhas.  

— O que houve?  

— Está em italiano. — Lenora lhe entregou a carta.  

Quando Phillip a teve em mãos concordou, o restante estava todo em italiano e isso despertou nele muita expectativa, pois o diário de Bartholomeu tinha escritos em italiano e continham informações valiosas — diamantes — ele achava que iria encontrar isso com a carta também.  

“… Creio que esconder os diamantes na propriedade seja o melhor para o momento, afinal, quem pensaria em procurá-los em Pambley? 

Do seu Bartholomeu.” 

 

Quando Phillip leu ambos ficaram em silêncio por um tempo.  

— Só isso? — questionou ela. — Ele não fala mais nada?  

Phillip negou.  

— Não nessa carta, pelo menos — disse de maneira positiva.  

— Se as cartas não disserem nada sobre os diamantes ou algo sobre a rixa, o que vamos fazer?  

— Daremos um jeito de descobrir sobre os dois assuntos — garantiu. — Mas precisamos continuar, não é? Ler todas essas cartas, descobrir o que houve entre nossas famílias e acabar de vez com essa rixa e saber sobre esses diamantes.  

Lenora assentiu rapidamente e se inclinou em direção a Phillip. No mesmo segundo seu coração bateu um pouco mais forte devido a aproximação tão inesperada dela. Mesmo que já estivessem próximos antes, aquela simples ação fez com que seu corpo entrasse em um estado alarmante e ele precisava controlar seus sentimentos.  

— … Amada Isobel — começou ele.  

… Certo homem um dia disse-me que apenas um verdadeiro covarde esconde seus sentimentos de alguém. Não sou covarde, sou um louco apaixonado por uma mulher que tanto me negam…  

Ele fez uma pausa quando as palavras se engasgaram em sua garganta, sentiu que aquele pequeno trecho fora escrito por ele e sobre a mulher que ele amava em segredo.   

…, Mas nunca seguimos as regras, não é? 

Minha família desconfia de algo, não tenho certeza do que seja, mas ouço cochichos pelos cantos. Envio-lhe os diamantes para que os guarde até que tudo se acalme. 

Do seu Bartholomeu.  

 

— Vamos logo para a próxima! — pediu ela impaciente. — Esse vai e vem dos diamantes está começando a me irritar.  

O visconde suspirou, desdobrou o papel e começou a ler seu conteúdo da nova carta.  

— Minha Isobel…  

… Tenho questionado tudo e a todos, mas jamais o faria com nosso amor. Amo-te fortemente demais para me importar com os diamantes.   

Londres é escura sem seu sorriso e seu humor afiado, o sol não brilha como antes durante sua ausência e até os diamantes parecem perder seu valor quando está longe.  

Volte, volte para mim. Volte para Londres o quanto antes, precisamos conversar! 

Seu Bartholomeu.  

 

— Um libertino romântico — comentou ele, guardando a carta junto as outras.  

Lenora parecia chocada.  

— Como é possível ele ser um verdadeiro cafajeste e ainda sim ser habilidoso com as palavras? — murmurou Lenora com certa indignação. — É quase desconexo.  

Phillip riu.  

— Ele é um libertino apaixonado — respondeu. — O amor muda as pessoas, Lenora. Até o mais libertino de Londres.  

Ela o encarou com o cenho franzido.  

— Não ao ponto de fazê-lo escrever palavras assim — apontou para a carta. 

— Lenora, o amor nos faz tomar atitudes que muitas vezes não compreendemos, nos enlouquece, nos arrebata… Bartholomeu amava Isobel e mesmo sendo um libertino conseguiu mostrar seu amor através de palavras — disse muito calmamente.  

Era um romântico. Aquilo era uma verdade para ele.  

— Eu sempre esqueço que é um romântico, Phillip.  

Seus lábios se esticaram.  

— Não digo isso apenas por ser um romântico, — uma pausa. Ele guarda as demais cartas junto as outras já lidas. — O que Bartholomeu sente é real, algo que irá acontecer com todos nós.  

Ela demorou para respondê-lo, parecia pensar sobre algo. Enquanto isso, Phillip também pensava a respeito do que dissera a ela. Porque era exatamente assim que se sentia em relação a Lenora. Podia até mesmo dizer que era como Bartholomeu, a diferença era que ela não fazia ideia sobre seus sentimentos e ele não tinha a coragem de assumi-los. 

— Eu os invejo, na verdade — ela admite. — Quero dizer, eles viveram tantas aventuras por causa desse amor, fizeram coisas que muitos julgariam como insano e mesmo assim não deixaram que isso os impedisse.  

Phillip concordou. 

— De fato, é algo invejável mesmo.  

Calaram-se. Phillip não apenas invejava o que o tataravô de Lenora viveu com Isobel, como também invejava sua coragem e ousadia de assumir de vez seus próprios sentimentos.  

— É melhor retornarmos para o baile. — ele diz, de repente. Limpando a garganta, como se sentisse que existia algo preso nela. — Seus irmãos e cunhadas provavelmente a estão procurando e não quero que se envolta em confusão por estar comigo.  

Ele se apressou em guardar as cartas de volta em seu terno, ignorando que bagunçou aquelas que foram lidas com as que não foram abertas. Parte de sua pressa em sair daquele escritório não era apenas por temer os irmãos de Lenora, sim, eles o matariam se soubessem que ela estivera sozinha com um Weston. Mas ele sentia que precisava sair da presença dela, estavam próximos demais do outro, com apenas a chama singela da lamparina iluminando-os, tudo aquilo era muito sugestivo e ele não confiava nos próprios pensamentos.  

— Vamos. — anunciou ele, com a mesma pressa de antes. Ignorando muitos detalhes que deixou de lado.  

— Não — Lenora avançou também, mas com uma intenção diferente. — Ainda nem terminamos as demais cartas!  

Quando Lenora o puxou pela mão, Phillip não imaginou que ela o faria com força e, em seu momento de distração, isso obteve um resultado inesperado por ambos. Ele tombou para trás, devido a forma como ela o puxou para fazê-lo recuar, Phillip tropeçou nos próprios pés e conseguiu evitar uma queda vergonhosa, mas isso fez com que ele se chocasse contra ela.  

Lenora bateu o rosto em seu peito e quicou para trás e ele precisou segurá-la para que ela não batesse as costas na parede logo atrás dela.  

— Desculpe-me — ele disse rapidamente.  

— A culpa foi minha — Lenora deu com os ombros. — Mas falei sério, não podemos voltar para o baile sem ter terminado de ler as cartas.  

Phillip suspirou. 

— Lenora — ele fez uma pausa. — Seus irmãos... 

— Eu cuido deles depois — assegurou. — Não farão nada com você, pode ter certeza disso. 

E ele tinha, mas temia como ela garantia isso. 

— É arriscado, você não pode perder o baile de seu irmão... 

— Por favor — pediu ela num tom suplicante, dando meio passo para frente. Ficando próxima demais dele, de seu corpo. — Precisamos disso, por favor, Phillip. 

Encarando-o com os olhos grandes e castanhos, Phillip soube que cedeu ao pedido no momento em que ela dissera por favor. Afinal, não existia nada nesse mundo que ele negaria a ela.  

— Tudo bem — respondeu. — Lemos a cartas e apenas isso, independente do que descobrirmos retornamos ao baile logo em seguida.  

— Claro, claro — disse ela animada como antes.  

Lenora viu o momento em que Phillip tirou as cartas do terno e separou as que já tinham lido, ela sentiu-se estranhamente motivada a desvendar de vez toda aquela história e precisava fazer isso com Phillip. Afinal, parte da história tinha a ver com eles.  

— Depois de lermos voltamos para o baile — ele a lembrou de forma cautelosa e como ela fizera antes, assentiu de maneira apressada.  

Nem se importava muito com o baile, queria saber sobre os diamantes, aonde estavam e como toda aquela rixa começara e as respostas — ela sabia e sentia — estavam nas cartas.  

— Não é uma carta dele e sim uma folha de seu diário — Phillip fez uma pausa e respirou fundo, sentiu os dedos tremerem de ansiedade, ele mostrou a folha para ela. — Viu como fora arrancada? Provavelmente estava escondendo algo.  

— Eu sabia que ele tinha arrancado uma página — murmurou ela animada. — Leia logo! 

Pediu ansiosa. 

 — Isobel, envio-lhe isso para que saiba sobre eles, minhas correspondências têm sido vigiadas e por isso estou mandando um de meus criados para Pambley, para que receba essa carta tão incomum. — Phillip limpou a garganta antes de prosseguir. — No quarto leste da casa Barrington há uma escrivaninha, fora um presente de meu tio e creio que logo pertencerá a você — pense como um presente —. Os pássaros gravados em sua madeira representam a liberdade que possuem e a liberdade que teremos em breve... Os diamantes estão escondidos nela. Ninguém sequer desconfia, é óbvio e está sempre a vista... 

— Oh céus! — Lenora o interrompeu. 

— O que foi?  

— A escrivaninha, ele disse que está no quarto leste da casa Barrington, certo?  

Phillip voltou os olhos para o trecho, o leu novamente e assentiu.  

— Eu sei onde os diamantes estão — disse ela, sua voz abaixou o tom, como se não estivessem mais sozinhos. — Eu sei onde estão, Phillip!  

Ele piscou surpreso. 

— O quê?  

Lenora balançou a cabeça de forma frenética, levou as duas mãos para os lábios contendo o riso que ameaçava sair. Algo a dominou, uma euforia única e descontrolada.  

— Essa escrivaninha do quarto leste nunca saiu do lugar, do quarto leste. — ela fez uma pausa dramática. — O quarto leste, é o meu quarto! 


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