Amor e Ódio escrita por Olívia Ryvers


Capítulo 8
Que tipo de homem me tornei?




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​— Casamento?— Ela, confusa, repetiu a palavra enquanto se afastava um pouco dele.

 

​— Sim… casamento, união, matrimônio… como queira nomear.— Diminuiu a distância entre eles e envolveu-a em seus braços. — Quero que seja a Sra. Roxton… o que me diz?

 

​— Nada me faria mais feliz… entretanto…— Havia hesitação e dúvidas em sua voz. — Me parece um pouco precipitado, nós nos conhecemos há pouco mais de dois meses e… bem, nosso relacionamento não tem sido dos mais harmoniosos.

 

​— O que é o tempo quando temos certeza do que sentimos um pelo outro?— Insistiu ele. — Eu sei o que sinto por você, Marguerite. E você? Tem dúvidas sobre os seus sentimentos por mim?— Ele tinha consciência do quanto estava sendo manipulador, isto não o agradava, mas esta era a arma que tinha a sua disposição.

 

​— Claro que eu tenho certeza que te amo… só acho que não sabemos o suficiente um do outro para tomar uma decisão tão importante, às vezes somente o amor não basta para manter uma união.— Ponderou ela.

​John sabia que ela era sensata e concordava com cada uma de suas palavras, porém, esse não seria um matrimônio convencional, não era amor o que ele buscava e sim vingança. Deixando de lado a coerência ele decidiu dar sua cartada final.

 

​— Você não sentiu que foi especial quando nos conhecemos? Não sentiu que éramos predestinados a estar juntos?— Podia ver a expressão de dúvida se desfazendo no rosto da linda mulher e se transformando em um delicado sorriso. Por certo, ela se recordava, assim como ele, do momento que se conheceram e da magia que os envolveu. — Além disso, teremos muito tempo para nos conhecer depois, agora receio que não.

 

​— O que você quer dizer?

 

​— Estou me mudando para Escócia, pretendo assumir os negócios na destilaria que recebi de herança. Gostaria que você me acompanhasse, como minha esposa. Caso contrário, acredito que este seja um adeus.— Roxton se sentiu o pior dos crápulas por pressioná-la desta maneira, todavia, não se tratava de uma dama comum, estava na frente da mulher cruel que iludiu seu irmão e o condenou a morte. Não havia motivos para que ele se sentisse culpado pelo que estava fazendo.

 

​— Você mencionou que não tinha decidido o que fazer com essa herança…

 

​— Agora decidi. Vou aceitá-la. Minha viagem a Milão foi justamente para acertar com minha sócia os detalhes do meu afastamento e minha passagem por Londres foi unicamente para lhe propor casamento.— Ele estava mentindo. Estava ansioso por voltar a Londres porque não podia aguentar nem mais um dia sem vê-la. Suas intenções eram bem mais amorosas e louváveis quando chegou a mansão Summerlee naquela manhã, mas, foi tomado por uma ira sem fim quando ouviu as confissões de Maylenne. Precisava colocar seu plano inicial em prática ou então não teria coragem de fazê-lo jamais. — Marguerite, confie em mim, nunca desejei algo com tanto fervor quanto desejo me unir a você.— Isto era verdade, por vários motivos. Uma parte de si desejava que ela estivesse ao seu lado não somente para fazê-la pagar por sua maldade, mas, também  por que não conseguiria viver sem ela.

 

​A morena sentiu a sinceridade de suas últimas palavras, tocando em suas mãos ela começou:

​— Amar é um ato de coragem e compartilhar sua vida com alguém exige confiança. Receio, John Roxton, que você propôs casamento a mulher corajosa e muito confiante. Sim! Eu aceito ser sua esposa. – Sorriu entusiasmada e o beijou com paixão. John correspondeu e o aprofundou, entretanto, ela o interrompeu. — Mas tem uma condição…

 

​— Qual?— Perguntou ainda se recuperando das emoções causadas pelo beijo inesperado.

 

​— Quero a aprovação de minha família. É muito importante para mim que meu tio esteja de acordo com a minha decisão.

 

​— Eu compreendo. Farei o pedido oficial hoje, durante a refeição.

 

​— Obrigada!— Beijou-lhe novamente e como sempre, ele não recusou.

 

****

 

​— Casamento!!! Isto é um absurdo!— Arthur andava de um lado para o outro em seu quarto tentando aliviar sua tensão para não voltar a sala e despejar algumas verdades na cara de John. — Eu deveria ter expulsado aquele galanteador quando tive oportunidade! Agora ele quer levar embora minha menina para os confins do inferno. Quem ele pensa que é?

 

​— Acalme-se, querido! Isto não fará bem ao seu coração.— Anna queria apaziguar os ânimos do marido depois que Sir Summerlee deixou a sala de jantar de maneira pouco delicada. Ela sabia que não agradou em nada ao marido o pedido de casamento que o Sr. Roxton deferiu a sua sobrinha favorita.

 

​— Como me acalmar, Anna? Você ouviu o que aquele homem me pediu? A mão de minha Marguerite em casamento e não só isso, ele quer levá-la para a Escócia… longe de todos nós!

 

​— Ora Arthur, não seja dramático. Você poderá visitá-la quando quiser, e além do mais, eles estão apaixonados… nada os impedirá.

 

​— Quer então que eu abençoe esta união precipitada?

 

​— Querido, reflita comigo… Marguerite aceitou o pedido do Sr. Roxton, ela o ama e confia nele. Sabemos que nosso filho Benjamin jamais se resignará se conviver com Marguerite durante todo o tempo…

 

​— Está sugerindo que eu entregue nossa filha a um desconhecido pelo bem-estar de Benjamin?

 

​— Não foi isso que eu disse! Apenas estou sendo prática. É melhor termos dois filhos felizes do que eles amargurados. Com Marguerite longe, Maylenne terá a oportunidade de alcançar o coração de Benjamin e resgatá-lo deste abismo da depressão em que ele se encontra.

 

​Summerlee ponderou o que a esposa sugeria, ela não estava de todo errada, muito embora não lhe agradasse em nada a união de Marguerite e John. Algo naquele homem o inspirava cautela, mas Anna tinha razão quando afirmava que nada seria capaz de separar um casal jovem e apaixonado.

 

​— Darei minha benção a eles.— Concordou a contragosto. — Mas serei bem claro em alertar John Roxton sobre o tipo de tratamento que deve oferecer a minha filha… meu precioso tesouro.

 

****

​No jardim, Marguerite e John caminhavam em silêncio. Ela havia recusado o convite para passear durante a tarde. Estava visivelmente triste com a reação do tio. Após John pedir sua mão em compromisso, Summerlee se ergueu da mesa sem dar nenhuma palavra jogando o guardanapo sobre a porcelana com raiva. Não estava em seus planos desacatar o seu amado tio, mas, a ideia de perder Roxton fazia seu peito doer.

 

​— Você está muito silenciosa.— O arquiteto observou.

 

​— Estou um pouco triste.— Afirmou com sinceridade.

 

​— Tem relação com a reação de Sir Summerlee ao meu pedido?

 

​— Sim. — Limitou-se a responder.

 

​— Eu sinto muito, não queria causar conflito entre você e sua família.

 

​— Você não seria capaz de entender.

 

​— Porque não tenta me explicar.

 

​— John, eu o amo. Entretanto, não serei capaz de fazer nada sem que meu tio esteja de acordo. Quando eu era apenas uma menina, e, perdi minha família, foi ele quem me acalentava quando eu acordava chorando após um pesadelo. Ele me deu muito mais que um sobrenome, me deu um lar, uma família… foi o meu maior incentivador e meu melhor amigo. Nunca poderia decepcioná-lo.

 

​— Você não seria capaz, nem que quisesse, minha querida.— A voz de Summerlee os surpreendeu. — Marguerite, minha menina, você é o meu maior tesouro, e é por isso que reagi daquela forma quando ouvi o pedido de Roxton.— O velho homem desviou os olhos para o arquiteto com certa repreensão. — Não queria perdê-la, perder minha filha.

 

​— Isso jamais vai acontecer, titio. Sempre serei sua filha do coração.

 

​— Eu sei disso querida, e é por isso que dou minha bênção para a união de vocês. Ainda que eu sofra com a sua distância, acredito no sentimento que sente por este cavalheiro e confio que saiba o que está fazendo.

 

​Os olhos de Marguerite estavam rasos d’água e ela abraçou o homem a sua frente com muita ternura.

 

​— Obrigada, titio. Eu te amo.

 

​— Eu também te amo, querida.

 

​Roxton observava a cena comovido. Ele quase se arrependia do que estava prestes a fazer. Tentava em sua mente compreender como Marguerite conseguia despertar nas pessoas sentimentos de afeto tão verdadeiros. Só havia uma explicação: sua dissimulação era tanta que conseguia enganar a todos.

 

​— E quanto a você, John Roxton, entenda que eu estou lhe concedendo meu bem mais valioso, saiba que se ousar fazê-la sofrer comprará uma briga comigo. Espero sinceramente entregar minha filha a um homem honrado e de bem.

 

​ O arquiteto sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Não eram medo, apenas, não lhe agradava mentir, mas, em tais circunstâncias era necessário. Apertando a mão do senhor ele respondeu:

 

​— Pode estar certo disso.— Embora nem ele mesmo soubesse que qualidade de pessoa estava se tornando.

 

****

 

​Summerlee, Anna, Marguerite e John depois de algum debate chegaram a conclusão que três meses era um tempo razoável para os preparativos para o casamento. Arthur defendia um noivado de seis meses, no mínimo, mas, Roxton achava tempo demais, para ele, um mês era mais que o suficiente. Anna por sua vez, argumentava que um casamento tão apressado daria margens a fofocas e sua família prezava por sua moral sempre inabalada. Tentando conciliar o desejo de todos, Marguerite sugeriu a data para as bodas no prazo de três meses. Estando todos de acordo, as duas mulheres começaram imediatamente a preparação.

 

​Os dias passaram de forma rápida. John precisou se ausentar algumas vezes da cidade e dedicou-se a ajeitar todas as instalações em Inverness para sua chegada com Marguerite. Por mais que quisesse fazê-la sofrer, se importava com seu conforto. Essa dicotomia entre os sentimentos que o habitavam faziam com que o homem oscilasse entre momentos de euforia por casar com a mulher que amava e momentos sombrios de amargura por saber que jamais poderia ser feliz ao seu lado.

 

****

 

​Marguerite retocava o batom rosado frente ao espelho. Aproveitou para admirar a si mesma. Estava vivendo um sonho. O vestido branco de seda bordado com fios prateados e pérolas foi considerado por sua irmã e por sua tia, simples para a ocasião, mas, ela nunca se sentiu tão bela. Também abriu mão das joias da família, preferiu usar apenas seu pingente de letra e as pérolas que foram de sua mãe. Eram peças significativas, e era assim que Marguerite queria se entregar a essa relação, de corpo e alma, levando em seu coração apenas as boas recordações e a transparência de quem ela realmente era.

 

​O som da porta a fez se virar com entusiasmo, porém, não era quem esperava.

 

​— Benjamin?!


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