Amor e Ódio escrita por Olívia Ryvers


Capítulo 7
Milão




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/799571/chapter/7

 

Havia se passado mais de um mês desde a briga entre John e Benjamin. O historiador decidiu se isolar por completo do convívio com a prima. Isto a magoava de um modo quase inexplicável. Ela de certo modo entendia a atitude de Ben, mas, isso não a impedia de sentir falta de sua companhia. Ambos cresceram juntos, compartilhavam gosto por coisas semelhantes e ela nutria por ele um afeto fraternal. Por vezes ela contava ao namorado da tristezapela ausência do irmão adotivo. No começo John acreditava ser mais uma de suas artimanhas para enredar todos os homens a sua volta, mas, com o passar dos dias até mesmo ele começou a acreditar nos sentimentos verdadeiros dela, e quase torcia para que ela e Benjamin voltassem a ter uma relação mais próxima.

​A cada dia que se passava, Marguerite enterrava um pouquinho mais os desejos de vingança de Roxton. Era inegável que estava apaixonado pela morena de olhos acinzentados. No último mês se viram com muitafrequência, se falavam ao telefone várias vezes por dia e no tempo que estava longe, dedicava-se a pensá-la e imaginar quão linda ela estaria na próxima oportunidade em que a encontrasse. Na verdade, sempre que a deixava no portão principal da mansão Summerlee, a sua vontade era de dar meia volta e buscá-la novamente. Em alguns momentos ele ria de si mesmo, parecendo um garoto que se apaixonava pela primeira vez em sua vida. E talvez fosse isto mesmo, pois nunca tinha experimentado tais sensações. Ela tinha mostrado a ele um outro jeito de viver, sem tanta cobrança ou formalidade. Marguerite era uma surpresa diária, sempre se reinventando e o encantando. Ele tinha a intuição que estar ao seu lado era como nunca cair na rotina.

​John tentou estar em Londres pelo maior tempo possível, mas, as obrigações em Milão o chamavam. Já se passavam mais de dois meses desde que deixou o escritório sobre os cuidados de Danielle, e, embora soubesse de sua competência, não podia negar que estava abusando da boa vontade da sócia. Ela jamais admitiria isso, era sua melhor amiga e desde que rompeu o noivado com ele, sempre foi leal e o apoiou. Na época, Roxton não entendeu o porquê do término, já que se davam tão bem em tantos aspectos, a italiana, muito madura apenas lhe disse:

 

​“John, o que temos é amizade e atração, não é amor e você sabe disso. Pelo menos não o amor que justifica um casamento e o mantém ‘la passione finisce presto’ — dizia  enquanto afagava o rosto do ex noivo.— Se insistirmos em algo mais íntimo colocaremos em risco tudo que construímos e acabaríamos nos odiando no fim. Temos muito a perder. ‘l'amore è più di questo e você o reconhecerá quando ele chegar.”

 

​Ela tinha razão, como sempre. Desde o rompimento, o arquiteto não havia se doado a nenhum relacionamento como estava fazendo com Marguerite. Se perguntava seeste seria o amor do qual Danielle mencionava. Precisava compartilhar com a amiga sobre esses sentimentos, ela era sua confidente e como todo o bom italiano, sabia falar doamor com propriedade. Não podia protelar mais, deviavoltar a Itália e conversar sobre estava acontecendo. Quem sabe o tempo e um pouco de distância o faria pensar com clareza sobre os rumos de sua relação com Marguerite.

​Decidido, agendou uma passagem para Milão ainda naquele dia e pediu a recepcionista uma ligação para a Itália.

 

​— Ciao...— Uma voz feminina preguiçosa respondeu do outro lado da linha.

 

​— Buongiorno bella.— Respondeu John em tom divertido. A mulher reconheceu a voz do amigo imediatamente.

 

​— John… que horas são na Inglaterra? Por que está me ligando de madrugada?

 

​— Já passam das 10 a.m., minha querida. Pelo visto você que dormiu além da cama. A noite deve ter sido longa.— Tinham atingido um grau de intimidade que este tipo de provocação era comum.

 

    — Você nem imagina o quanto.— Respondeu a provocação com um risinho malicioso.

 

    — Namorado novo?— Não era ciúmes, mas, John se importava com sua segurança e felicidade. Como um irmão mais velho, sempre gostava de se certificar das intenções dos pretendentes da amiga. Ela por sua vez fingia que não gostava de tal intromissão, porém, discretamente fazia o mesmo com as namoradas de John.

 

​— Não é bem um namorado… está mais para casual. –Ela falou a última frase mordendo os lábios inferiores enquanto observava o lindo moreno que deixava a sua cama e entrava no chuveiro de sua suíte. Havia conhecido o promissor escultor em uma exposição, entretanto, a relação estava longe de ser algo sério. Logo a mulher retomou as rédeas de seus próprios pensamentos e decidiu abreviar o sermão que ouviria do sócio.— Mas, não foi pra falar sobre a minha vida íntima que você me acordou, não é mesmo?

 

​— Na verdade não. Estou voltando a Milão.

 

​— Bem, já não era sem tempo, porém, por que eu acho que não é só isso?

 

​— Você é meio bruxa ou coisa assim?

 

​— Talvez, mas neste caso em especial, é porque eu o conheço tão ou melhor que você mesmo, ande, me diga o que está lhe incomodando.

 

​— Não posso conversar isso por telefone. Chego amanhã pela manhã, você consegue me buscar no aeroporto ou estará muito ocupada com o seu namoradinho? — Danielle revirou os olhos frente ao comentário do amigo.

 

​— Irei buscá-lo apenas porque estou muito curiosa em saber o que você tem pra me contar. — Seu amigo já não em era o mesmo John Roxton que partiu de Milão arrasado pela morte do seu irmão, algo havia mudado e ela só queria saber se para o bem ou para o mal. — Ciao, John. Arrivederci.

 

​— Até logo, Danielle.

 

​Roxton desligou o telefone e verificou o horário em seu relógio. Havia combinado de buscar Marguerite para o almoço e então lhe contaria sobre sua viagem a Itália. Quando estava se aproximando da cadeira para alcançar seu paletó ouviu o som estridente do telefone soar. “Quem será agora?” pensou impaciente.

 

​— John, bom dia! É Challenger.— Mais uma obrigação que o chamava. Tinha abandonado o amigo na administração da destilaria que herdara do irmão e não deu a George nenhuma outra explicação. Este também era umassunto que ele precisava decidir, manteria o sonho e esforço de William, ou venderia a tal empresa? Esta decisão, todavia, poderia esperar.

 

​— Bom dia Challenger, eu sei que deveria ter falado com você, mas, me envolvi em outras questões em Londres e…

 

​— Não se explique, eu entendo. Você está tendo que administrar muitas coisas, além do seu…— O bioquímico interrompeu a fala. Não sabia se era apropriado mencionar a morte de William.

 

​— O meu luto. Sem constrangimentos, George. Você tem razão, são muitas coisas na minha cabeça e sinto que as vezes tento afastar de minha memória o fato que meu irmão está morto. Como se eu só pudesse ser felizignorando isto.— John parou diante da própria conclusão. Entretanto, a voz rouca do amigo o fez se concentrar novamente.

 

​— John, eu não queria lhe incomodar com estes assuntos, mas, como você não deixou claro o que pretende fazer com a destilaria que herdou, talvez, se interesse por uma proposta que ofereceram na sua compra.

 

​— Estou ouvindo.

 

​— Um de nossos fornecedores, Capitão Andrew Askwitch, ex combatente da marinha britânica, se aposentou do serviço militar devido a uma lesão que sofreu em Falkland, desde então tem se dedicado ao cultivo de cereais nas terras altas da Escócia. Possui algumas fazendas na região de Inverness e pretende ampliar seus negócios empreendendo o ciclo completo de produção de uísque. Ele soube da morte de William, prestou suas condolências e disse que estava interessado na compra da Dusky Destilaria, caso fosse do seu interesse vendê-la.

 

​— Na verdade ainda não tenho decidido o que farei, talvez seja uma boa oportunidade, mas, honestamente ainda não pensei nisto. Preciso de mais alguns dias, viajarei amanhã cedo para Milão e pretendo retornar com algumas respostas.

 

​— Tome o tempo que for necessário, apenas tenha em mente esta possibilidade. Você não tem nenhuma experiência no negócio do uísque e tudo o que aprendi é recente também…

 

​— Eu confio em você, Challenger. Prometo que pensarei a respeito, mas, agora eu, realmente preciso desligar. Tenho um compromisso. Nos falaremos em breve.

 

​— Tudo bem, John. Aguardo seu retorno. Até logo.

 

​Roxton desligou o telefone e saiu apressado. Marguerite já devia estar lhe esperando e ele não queria desapontá-la. “Ora que bobagem estou pensando, até pouco tempo queria fazê-la sofrer até se arrepender de sua existência, e agora, estava preocupado em deixá-la esperando. Isto era no mínimo uma ironia.” Porém, ele sabia o motivo de tal ansiedade, não era deixá–la esperando que o motivava a buscá-la depressa e sim sua necessidade constante de tê-la por perto. Aquela mulher tinha se tornado vital, e qualquer minuto longe já se apresentava incômodo e sufocante.

​Como o previsto, a linda morena o esperava no amplo estacionamento da indústria farmacêutica. Seus vastos e indomáveis cachos negros estavam esvoaçantes em resposta ao teimoso vento do outono. Ela vestia um despretensioso sobretudo escuro que contrastava com sua pele alva e seus olhos de um verde supremo. John não cansava de se surpreender com sua beleza.

​Quando reconheceu o automóvel do namorado, Marguerite sorriu aliviada. Não era comum atrasos e por isso estava começando a se preocupar. O arquiteto parou o veículo e desembarcou para gentilmente abrir a sua porta. A moça se encantava pela forma educada que seu namorado quase sempre a tratava, ela sabia que o seu cavalheirismo não era simplesmente para impressioná-la, era algo genuíno de seu caráter, e por isso, mesmo nas vezes que ele se fazia distante e até mesmo frio, Marguerite se prendia as lembranças de suas atitudes delicadas para concluir que John Roxton era uma boa pessoa, talvez com alguns mistérios e segredos, mas, ainda sim, um bom homem.

​Enquanto concluía seu cortês gesto, ele foi surpreendido por um beijo apaixonado, o qual foi incapaz de não corresponder. Os lábios de Marguerite eram macios e deliciosos. John se tornou um viciado inveterado do doce sabor de seus beijos desde a primeira vez que os provou e a cada novo evento, ele os queria mais e mais, não só os beijos como todas as suas carícias. Por sorte, antes que seu corpo começasse a dar sinais de seu desejo, Marguerite interrompeu o carinho para cobrá-lo.

 

​— Você demorou. Eu estava com saudades…

 

​— Tive alguns imprevistos essa manhã.

 

​— Espero que nada grave.

 

​— Nada com o que você precise se preocupar. Entretanto, tem algo que eu devo lhe falar. Por favor, entre no carro, falamos durante o almoço.

 

​A morena obedeceu, mas, estranhou o tom de voz do namorado. Sua curiosidade não permitiu que ela esperasse até chegar ao restaurante. Diante do silêncio dele, Marguerite decidiu confrontá-lo.

 

​— Estou curiosa. O que você queria me dizer?

 

​— Bem, já que insiste. Eu precisarei viajar a Milão.

 

​Ela se sentiu decepcionada com a maneira fria que lhe contou da viagem. Estava tão apaixonada e por mais que soubesse que em algum momento ele teria que voltar a Milão achou que isso causaria nele algum tipo de lamentação.

 

​— Mas quando? Talvez eu consiga algum tempo de licença ou férias para acompanhá-lo. Milão é uma cidade muito romântica, eu adoraria tê-lo como meu guia. Conversarei com meu tio.

 

​— Não será possível. Viajarei hoje mesmo, vim apenas me despedir e avisá-la. Além do mais, estarei ocupado, não é uma viagem a passeio.

 

​— Hoje? Mas, você não tinha comentado sobre…

 

​— Sinto muito, Marguerite, mas nem todos os homens estão a disposição de suas vontades. Tenho que viajar e assim que resolver o que eu preciso retorno, não há motivos para lamentações ou questionamentos.— Ele não gostava de tratá-la de tal forma, porém, toda vez que ele se lembrava de como Marguerite podia ser manipuladora se fingindo de vítima, todo o remorso pela morte do irmão vinha à tona e um outro Roxton tomava conta de suas atitudes.

 

​A bioquímica, por sua vez, não estava disposta a suportar este tipo de comportamento injustificado. O que ela estava pedindo era apenas uma explicação, afinal, eram namorados, por vezes, havia notado que John a tratava de forma acusadora e ela nunca entendia o porquê. De qualquer modo, desta vez não seria assim. Se Roxton pretende cuidar de seus assuntos sozinho, deixando-a a margem, talvez seja assim que ele deva ficar.

 

​— Pois não volte se o motivo de seu retorno for eu.

 

​— O que você quer dizer com isso?

 

​— Quero dizer que você não me deixa fazer parte da sua vida, não se abre, não me conta seus planos. Não acho que isto seja uma relação.

 

​— Você está sendo exagerada. Nem tudo gira ao seu redor e…

 

​— Basta! Eu não suportarei nem mais uma insinuação de que eu quero ser o centro das atenções. Se isto o incomoda tanto, se minhas atitudes e personalidade são tão insuportáveis para você, não há razão para estarmos juntos.

 

​— Marguerite, eu não queria…— O arquiteto sentiu um aperto no peito quando percebeu que Marguerite estava terminando o relacionamento deles.

 

​— John, eu quero ir para casa.

 

​— E o nosso almoço?

 

​— Eu perdi o apetite. Você pode me levar pra casa, ou me deixar aqui, eu posso ir sozinha. – Ela o desafiou.

 

​Roxton conhecia seu temperamento o suficiente para saber que não adiantaria discutir com ela naquelas circunstâncias, o melhor a fazer era levá-la para a mansão Summerlee em segurança, ou ela seria capaz de saltar do carro em movimento, tamanha era a raiva em seu olhar. Marguerite era como um vulcão adormecido, uma bela e calma paisagem até que uma pequena perturbação o fazia entrar em erupção de forma violenta e devastadora. Para ele, isto era estranhamente hipnotizante e quase prazeroso, às vezes se perguntava se ela era assim em todos os aspectos. Repreendeu-se por, novamente, estar tendo pensamentos libidinosos em meio a uma discussão séria. Todavia, optou pelo silêncio, qualquer tentativa de conversa só pioraria situação.

​Em alguns minutos estavam em frente da luxuosa casa. A moça se quer se despediria, mas John foi mais rápido contendo-a pelo antebraço.

 

​— Eu sentirei sua falta.— Disse com sinceridade. Percebeu que a raiva na expressão da mulher se abrandou. Mesmo assim ela não disse nada, apenas, abriu a porta e se foi. Ele a acompanhou com os olhos até que entrasse na mansão. Ainda ficou ali algum tempo, suspirou, fechou os olhos e depositou a cabeça no encosto do banco de couro. Ele realmente sentiria saudades dela. Lamentou a discussão que tiveram, não queria magoá-la, entretanto, não conseguia se controlar. O tempo longe seria bom, ele estava perdido e precisava se encontrar.

 

​Danielle Moretti era uma típica cidadã de Milão. Bonita, elegante, sofisticada e independente, ela dirigia apressada seu Maserati conversível vermelho, tentando chegar ao aeroporto antes da aterrissagem do avião que trazia John. Havia prometido ser pontual, mas, esta era uma habilidade dos britânicos, não dos italianos. De qualquer modo, ela sabia pela voz do amigo que algo estava errado, e a lealdade era uma virtude da qual se orgulhava.

 

​— Sei in ritardo.— Uma voz conhecida soou atrás dela, enquanto ela buscava o amigo pelo saguão do terminal.

 

​— John!— Ela abraçou o sócio, aliviada por tê-lo encontrado. — Eu sinto muito… sabe como é… muito trânsito. – Encolheu os ombros se justificando.

 

​Ele sabia que não era verdade, mas, não se importou. Danielle não tinha por hábito a pontualidade, ainda sim era uma ótima confidente e conselheira. Em seu apartamento, ela preparava dois drinques enquanto ouvia a narrativa de Roxton sobre os últimos dois meses.

 

​— Você só pode estar pazzo! Perdeu totalmente o juízo? Se aproximar desta moça para vingar a morte de William? Esta é a coisa mais absurda que eu já ouvi.— Dizia indignada.

 

​— Ela foi responsável pela morte do meu irmão!

 

​— Não foi ela que segurou aquela arma!

 

​— Indiretamente sim. A carta que ela escreveu... aquelas palavras… você não entenderia. Marguerite é traiçoeira, ela seduz, parece ingênua e encantadora…

 

​— John, tu sei innamorato!

 

​— Não diga bobagens. Eu não nego que me sinto atraído, mas, apaixonado? Isso é impossível. Eu deveria odiá-la.

 

​— Mas, não consegue por que a ama!

 

​— Eu estou confuso, perdido. Pela primeira vez não sei como agir. Talvez eu deva apenas me afastar e esquecer de tudo. Vender a destilaria e voltar para minha vida em Milão.

 

​— E perder a oportunidade de ser feliz ao lado de quem ama?

 

​— Eu já disse que não a amo… você é tão boa em conselhos, então, o que você me sugere?

 

​— Volte para Londres, diga a Marguerite como se sente. Viva isso, meu amigo, ou se arrependerá pelo resto de sua vida.

 

​— Danielle, meu amor por Marguerite é impossível! – Finalmente, John admitia o que sentia. — Toda vez que a toco eu lembro de William, do seu sofrimento. Vivo um conflito constante dentro de mim. Tudo que eu queria era que ela não fosse a mulher responsável pelo infortúnio de meu irmão.

 

​— Você acha mesmo que ela é culpada ou está transferindo para ela um remorso que é seu?

 

​— O que está insinuando?

 

​— Que se sente culpado por não estar ao lado de William quando ele precisava. A quantos anos você não o via? No fundo você acha que se estivesse ao lado dele, ele não teria feito o que fez? E agora se sente culpado por amar a mesma mulher que um dia ele amou.

 

​— NÃO É MINHA CULPA! EU NÃO O ABANDONEI! — Exaltado John arremessa a taça contra a parede fazendo o cristal se espedaçar em milhões de partes. O líquido colorido escorria pela parede branca assim como as lágrimas que começavam a cair de seus olhos. John não se importou em escondê-las, precisava disto.

 

​— Não foi culpa sua… nem de ninguém... — Danielle se aproximou do amigo, o abraçando com carinho. Ele aceitou sua demonstração de afeto e suas lágrimas logo se transformaram em soluços, por fim, ele conseguiuexpressar o luto que o consumia. A mulher afagou os seus cabelos permitindo que ele se libertasse de todo sofrimento. Ela sabia que aquilo era necessário, John sempre assumiu uma postura protetora, cuidando de todos, entretanto, agora era ele que precisava de cuidado. Ela o amava como a um irmão, mas, não seria por isso que acataria todas as suas atitudes como corretas. O que ela falou foi duro e difícil, mas ele necessitava ouvir.

​Mais calmo, ele a ajudou a limpar a bagunça que tinha feito minutos antes.

 

​— Desculpe-me, Danielle, eu me descontrolei.

 

​— Não se desculpe, eu entendo. Só me prometa que não irá se machucar tanto. Este fardo que você estácarregando é muito pesado, você não merece isto. Se ama essa mulher, se permita viver este sentimento. William gostaria que você fosse feliz.

 

​— Eu tenho medo… medo de amá-la e depois acontecer o que aconteceu com ele…

 

​— Viver é arriscar-se…— Ela fez com que ele a olhasse.

 

​— Fala como se conhecesse o amor, você mesma se orgulha de dizer que nunca se apaixonou e por isso nunca sofreu por este sentimento. – Ele riu da amiga. Ela também riu da provocação.

 

​— Tem razão, eu nunca me apaixonei de verdade, mas, não é por isso que eu desisti de encontrar o amor. Minha outra metade deve estar por ai, me procurando também.

 

​— Este será um homem de sorte.— John afagou carinhosamente o rosto da amiga.

 

​— Disso eu tenho certeza. – Ela gargalhou. — Mas enquanto não o encontro, vou me divertindo com os errados.— Ela lhe ofereceu uma piscadela, e ambos gargalharam. A amizade deles era um presente a ambos.

 

​Conversar com Danielle o deixou mais tranquilo. Talvez ela tivesse razão, talvez este fosse o momento de enterrar suas mágoas e se entregar de corpo e alma a esse novo sentimento. Dúvidas ainda o cercavam, mas dividir suas angústias com alguém deixou seu coração mais leve.

​Os dias que se seguiram foram de intenso trabalho para os dois amigos. Visitaram alguns clientes e obras que Danielle conduziu sozinha no tempo em que ele estiverafora. Roxton não se surpreendeu com a desenvoltura e talento da sócia, confiava cegamente em sua capacidade, por isso, decidiu passar a ela o controle total do escritório até que resolvesse todas as suas questões. Ela aceitou, mas, impôs como condição, que John se esforçasse para ser feliz. Ele sabia exatamente o que ela queria dizer com isso, e prometeu que tentaria, mesmo não sabendo ao certo por onde começar.

​Ao retornar a Londres, o arquiteto tinha apenas um objetivo em mente: Encontrar Marguerite. Era domingo e ele sabia que ela estaria em casa, Sir Summerlee prezava pelos almoços em família neste dia. Como de costume, foi recebido pela governanta que recomendou que Roxton esperasse pela Srta. Summerlee na sala de estar. Ele não tinha boas recordações daquele local, mas, naquela manhã a casa estava tão silenciosa que John pôde ouvir vozes exaltadas vindas do escritório. A porta estava entreaberta, não era certo ouvir uma conversa que não lhe dizia respeito… ou… talvez lhe dizia. De repente notou que falavam de Marguerite, identificou como sendo o ex-amigo o historiador e Maylene. Ben estava com a voz arrastada pelo abuso de álcool e a mulher parecia muito irritada.

 

​— Você não percebe que está destruindo sua vida por Marguerite? Ela não merece tanta consideração.

 

​— Eu não entendo, porque fala isso? Ela é sua irmã.

 

​— E é justamente por isso que eu sei quem ela é. Marguerite é falsa e manipuladora.

 

​— Do que está falando?

 

​— Estou falando de William Montgomery.

 

​— Quem é esse?

 

​— Ele trabalhava com Marguerite e era seu amante. — John ouvia atencioso o que Maylene tinha para contar a Benjamin. — Ela o iludiu, fez com que o pobre coitado largasse sua posição na indústria do tio, fosse tentar a sorte e fazer fortuna longe da Inglaterra. Fez com que ele acreditasse que só assim seria digno de estar ao seu lado. Se divertia com as mensagens que ele lhe mandava. Nunca foi sua intenção ter algo sério com ele. Inclusive, quando soube que você voltaria a Londres, tratou de terminar com o William por carta. Agora, ela viu em John Roxton uma boa oportunidade de se divertir. Talvez esteja apaixonada, mas a conhecendo como eu a conheço, duvido muito. Marguerite é dissimulada e não é confiável. Não perca seu tempo sofrendo por ela.

​Roxton sentiu seu estômago revirar, suava frio e tentava controlar sua respiração. A maneira como Maylene descrevia a irmã… Marguerite era repugnante. Como ele podia estar apaixonado por uma mulher tão desprezível? Estava tão perturbado em seus pensamentos que não percebeu quando a namorada chegou e o abraçou pelas costas.

 

​— Eu também senti sua falta...—disse carinhosamente.

 

​Ele precisava ser rápido em se recompor, não podia deixar que ela percebesse seu descontrole. Respirou fundo antes de virar-se.

 

​— Marguerite... você aceita se casar comigo?


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Amor e Ódio" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.