Amor e Ódio escrita por Olívia Ryvers


Capítulo 9
Até que o ódio os separe.




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/799571/chapter/9

—Marguerite, você está linda!_ disse enquanto se aproximava cambaleando.

—Benjamin, o que faz aqui? Eu estou me preparando para o meu casamento, você não pode ficar aqui. Saia!_ ordenou. Ela podia sentir o hálito etílico e percebia que seus olhos estavam esgazeados pelo efeito do álcool.

—Você não pode se casar! Não com aquele maldito traidor. Você é minha e sempre será minha._ o homem embriagado se aproximava na mesma velocidade que a mulher se afastava para trás._Você não percebe que não será feliz com John Roxton?

—O que eu percebo é que você está embriagado e que é um erro estar no meu quarto. Por favor, saia agora._Marguerite não tinha para onde fugir, estava presa entre a parede e o homem que a pressionava.

—Maldição, Marguerite! Eu não sairei e não a deixarei sair! Você será minha, por bem ou por mal._ as mão de Benjamin agarraram seus ombros nus e ela tentava evitar que ele a beijasse.

—O que pensa que está fazendo?! ME SOLTE!_ gritou. Embora fosse menor que seu atacante, Marguerite levava vantagem por conta de sua sobriedade frente ao adversário. Em um gesto rápido conseguiu empurrá-lo fazendo com que Benjamin fosse ao chão, porém, na tentativa de se equilibrar nela, o homem acabou rompendo o cordão que sustentava o relicário com sua inicial._OLHE O QUE FEZ?!_ gritou com mágoa vendo a peça arrebentada.

—Marguerite… eu…_ Benjamin tentava articular uma frase, mas sua fala estava comprometida.

—O que está acontecendo aqui?_ atraído pelos gritos de Marguerite, Arthur entrou no quarto se deparando com uma cena lastimável. Seu filho obviamente bêbado no chão e sua amada sobrinha vestida de noiva, assustada e aos prantos. Não lhe custou nenhum trabalho entender o que tinha ocorrido ali, porém precisava de uma confirmação._Benjamin, o que está fazendo aqui? O que você fez à Marguerite?

—Ele não fez nada, tio._a noiva se dispôs a tranquilizar Summerlee._Mas, não sei o que aconteceria se ele não estivesse tão embrigado.

—Eu sinto muito, Marguerite. Eu te amo._tentava argumentar ainda no chão, mas a prima sequer o olhava. Marguerite sentia desprezo e mágoa. Como ele teve coragem de tentar estragar o dia mais feliz de sua vida?

—Benjamim! Recolha o resto de dignidade que lhe resta e saia daqui. Não apareça na cerimônia, tampouco na recepção. Você me envergonha._ as palavras do pai eram duras, mas, necessárias. O que Benjamin pretendia fazer era imoral e inaceitável. Este não era o filho que ele se empenhará a educar e tornar um homem de valores nobres. Após o casamento eles teriam uma séria conversa, porém, agora não se daria ao luxo de estragar ainda mais o dia de sua filha favorita.

Assim que Benjamin deixou o quarto, o Arthur se aproximou de Marguerite e abraçou com carinho. A moça ainda chorava, entretanto, estava mais calma.

—Minha querida, não chore. Hoje deveria ser o dia mais feliz de sua vida._afagou sua cabeça.

—Eu não entendo… por que ele me faria isso?

—Ben é um homem fraco e não está acostumado a perder o que deseja. Peço perdão pelas atitudes do meu filho, mas, sei que não posso exigir seu perdão.

—Tio, você pode exigir tudo. Você é o homem que mais admiro. Eu estou magoada com Benjamin, entretanto, pelas boas lembranças que temos, eu não quero carregar rancores. Não aceito entrar nessa nova etapa de minha vida levando comigo fantasmas do passado.

—Você é um tesouro, querida. Eu sinto muito orgulho de você._ele a abraçou e ela sorrindo o retribuiu._Viu!? Você fica ainda mais linda sorrindo.

—Muito obrigada por tudo que você e tia Anna fez por mim e por Maylenne._disse com sinceridade.

—Vocês fizeram muito mais por nós, podem ter certeza. Adotar vocês foi a melhor decisão que tomamos em nossas vidas. Agora, já chega de declarações pois quem chorará sou eu._ambos sorriram._Seu noivo a espera, e já deve estar desconfiado que eu estou atrasando o casamento por que não quero entregá-la a ele. O que não chega a ser uma total mentira._gargalharam._A verdade, querida, é que eu desejo que você seja muito feliz, e que saiba que sua família sempre estará aqui para apoiá-la.

—Eu te amo… papai.

Summerlee se surpreendeu com a expressão de carinho da filha adotiva. Por mais que ele tivesse almejado, desde criança, Marguerite nunca o chamou de pai. Ele não a pressionou, sabia que o sentimento está no coração e nas atitudes, ela era sua filha, independente de como o chamasse. Entretanto, a súbita mostra de carinho fez seus olhos marejarem de água. Ergueu os óculos para secar as lágrimas e em seguida completou com igual emoção.

—Eu também te amo, filha.

 

****

 

Com o prestígio de Sir Summerlee e de sua família, o casamento de John e Marguerite podia ser facilmente realizado na abadia de Westminster. Anna inclusive insistiu bastante nisto, entretanto, Marguerite foi irredutível. A noiva fazia questão de se tornar a Sra. Roxton, perante Deus, na bucólica capela que a família mantinha no jardim da propriedade, assim como os convidados seriam recepcionados na área externa da mansão, rodeada pelas flores e árvores que ela mesma e o tio, tão graciosamente cultivavam. John não se opôs, e agora diante da decoração minimalista escolhida por ela, concluiu que não poderiam se casar em um lugar melhor. Sua futura esposa era requintada e tinha muito bom gosto. “Mais uma qualidade a ser adicionada a sua lista” pensou.

A escolha dos tecidos, cores, flores, a disposição das mesas, a organização das tendas, tudo era muito harmonioso ao olhar do arquiteto. Ele quase sentia prazer por estar ali, esforçava-se para concentrar-se no objetivo de que aquilo tudo era uma mera encenação, de que tinha domínio sobre seus sentimentos e de que não estava apaixonado pela sua noiva.

Todas suas teorias cairiam por terra quando ele a viu entrando na pequena igreja, guiada pelos braços de Arthur. A imagem de Marguerite vestida de noiva não perdia em nada para grandiosidade de uma obra renascentista digna de Michelangelo ou Da Vinci. Nunca tinha visto algo tão belo, inesperadamente lembrou da frase que Danielle lhe disse uma vez “riconoscerai quando è amore”, você reconhecerá quando for amor. Ela tinha razão. Não pode evitar o sorriso ao vê-la vindo ao seu encontro. Não tinha como negar, ele amava Marguerite.

 

****

 

Marguerite alisou com suavidade o tecido fino da camisola de cetim escarlate que estava esticada sobre a cama. Era tão delicada e ao mesmo tempo sensual. Observou o quarto, tentando memorizar para sempre cada detalhe. John havia reservado, para suas núpcias, a suíte presidencial de um dos hotéis mais luxuosos de Londres. Situado em uma localização privilegiada, o Shangri-la London oferecia todo o conforto que o dinheiro podia comprar. Diferente das outras acomodações tradicionais e conservadoras na cidade, o hotel escolhido pelo marido tinha instalações modernas e uma vista panorâmica da cidade que fez a jovem esposa perder o fôlego.

—É impressionante._ murmurou ao se aproximando da parede de vidro.

—Fique a vontade. Resolverei algumas coisas e logo retorno._ disse John sem dar muita importância a suas próprias palavras.

—Mas eu achei que…

—Eu logo retorno._ a interrompeu já saindo do quarto principal.

Marguerite se sentiu um pouco decepcionada com a indiferença do marido. Durante a cerimônia ele, embora não confessasse, parecia apaixonado. Seus olhos não negavam isso. Não tiveram muito tempo para conversar durante a recepção, tinham que dar atenção aos convidados e aos jornalistas. Por mais que ela tivesse sugerido a tia que queria algo intimista, Anna não se conformou tornou o casamento um evento social. A jovem percebeu certa irritação do noivo diante do sensacionalismo dos tabloides, ainda sim, foi cavalheiro o suficiente para não tecer nenhum comentário.

A verdade era que ela ansiava por um momento a sós com o marido. Durante o período de namoro e noivado, o arquiteto se mostrou extremamente respeitoso. Marguerite quase lamentava por isso. Entretanto, entendia que tal atitude do noivo se devia ao começo um pouco desastroso de sua relação. Recordou com carinho a corrida a cavalo que culminou no primeiro beijo do casal. Ela já estava perdidamente apaixonada quando o beijo aconteceu, mas insegura, reprovou a atitude ousada dele em aprofundar os carinhos sem certeza do seu consentimento. Desde então ele havia se comportado como um verdadeiro Lorde, deixando que ela ditasse o ritmo e a intensidade do relacionamento. Fazendo uma retrospectiva dos acontecimentos, teve novamente a certeza de que casar com Roxton era um desdobramento inevitável. Ela era sua, sempre seria, e agora estava pronta para provar do amor em sua forma carnal pela primeira vez.

Parecia um pouco antiquado da parte dela preservar sua castidade por tanto tempo, houve muitas oportunidades e pretendentes, porém, em nenhum dos casos ela sentiu a conexão necessária a ponto de confiar a entrega do seu corpo e de sua alma. Em nenhum momento havia mencionado a noivo sobre sua inexperiência, nem a ninguém, não que isso a envergonhasse, também não julgava um mérito próprio, era apenas uma escolha íntima que só dizia respeito a ela e eventualmente ao homem com quem compartilharia este momento. E agora, estava preparada para vivê-lo, mais que isso, estava ansiosa por unir a John em um só ser. Não estavam no século XVII, era óbvio que na teoria ela sabia o que aconteceria, mas o desconhecimento das emoções a deixava excitada.

Livrou-se das roupas que vestia e colocou a luxuosa camisola vermelha. Logo seu marido estaria de volta e ela não queria perder tempo com nada, se sentia livre e disposta a viver seu amor e as sensações que ele a proporcionaria.

 

****

 

Na sala anexa a suíte que reservou para suas núpcias, Roxton demorava, propositalmente, para ingerir o líquido contido na elegante taça. Buscava encontrar no álcool a coragem que precisava para fazer o que devia ser feito. Era necessária uma força de vontade sobre-humana para rejeitar o que ele mais desejava. Apenas uma parede os separava, era fisicamente doloroso imaginá-la o esperando ardendo no mesmo desejo que o consumia e ainda sim, ter que negar o apelo de seus corpos.

Entretanto, não havia decido tão baixo em seus valores. Não era um crápula, nem um traidor. Sua consciência falaria mais alto e ele não a tocaria. Por pior caráter que ela tivesse, nenhuma mulher merece ser usada de tal forma. Se era seu objetivo fazê-la pagar com sua felicidade pela morte de seu irmão, John se resignaria a triste realidade de nunca conhecer o amor de Marguerite. Era um preço alto a pagar por sua vingança, mas, ele tinha feito sua escolha e não podia voltar atrás.

Entornou o último gole e depositou a taça sobre a mesa de centro. Ergueu-se decido, todavia, ao abrir a porta do quarto perdeu as palavras ensaiadas dentro de sua própria boca. Seu raciocínio ficou nublado frente ao que via. Sua esposa estava de costas mirando a imensidão de Londres. Seus cabelos negros caiam como cascatas por suas costas, a lingerie escarlate se contrastava com sua pele alva, e as luzes brilhantes da cidade à noite pareciam emanar de seu próprio corpo. O impulso de possuí-la era quase insuportável, ele controlava sua respiração e sentia seu suor frio. Ela finalmente notou sua presença.

—Você chegou… _sorriu ao vê-lo._demorou…_Marguerite diminuía a distância entre os dois, e isso era definitivamente perigoso para os planos de John.

—Tive alguns imprevistos_ era necessário ser rápido com as palavras ou cederia a seus instintos.

—Espero que nada grave._ sua voz era morosa e ela enlaçou o pescoço dele enquanto falava. Estava muito próxima e sentiu-se à vontade de ficar na ponta dos pés e beijar-lhe os lábios.

Roxton deixou-se levar por aquela prazerosa sensação. Num impulso a colocou em seu colo. Caminhou com ela em seus braços até a cama, suavemente a deitou sobre a roupa de cama macia e cheirosa, era tudo perfeito. Seus beijos deixaram a sua boca e migraram para os ombros logo depois que as mãos haviam afastado a alça da camisola.

—John… eu preciso lhe falar… _Marguerite viu a necessidade de lhe contar de sua falta de experiência, porém, tal iniciativa fez o corpo do marido retesar. Ela logo notou que ele se tornou hesitante e então se preocupou._ Algum problema?

—Eu sinto muito, Marguerite._ as palavras dela o fizeram despertar para seu próprio juramento. Não só por ela, mas por ele também, era necessário parar. Caso chegassem a fazer amor entregaria sua alma aquela mulher e jamais conseguiria cumprir a promessa que fez a memória de seu irmão._Vista-se, precisamos ir_ disse enquanto se levantava de cima do seu atraente corpo.

—Vamos aonde?_ perguntou confusa.

—Surgiu um imprevisto em Inverness, partiremos imediatamente.

—Mas… e nossa noite de núpcias, não poderíamos viajar amanhã?

—Nem tudo gira em torno de suas vontades e desejos. Existe agora assuntos mais sérios que nossas núpcias, portanto, vista-se… eu a aguardo no saguão._ Roxton saiu se olhar para trás. Não suportaria ver a decepção nos lindos olhos de Marguerite. Assim que travessou a porta apoiou sua testa na parede buscando algum discernimento. “Deus, por quanto tempo suportarei este tormento?” pensou.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Amor e Ódio" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.