Amor e Ódio escrita por Olívia Ryvers


Capítulo 4
Aceita namorar comigo?




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— Por favor, você viu a senhorita que me acompanhava?— John questionou a recepcionista da chapelaria.

 

— A Srta. Summerlee fez checkout a alguns minutos.

 

— O que? E pra onde ela foi?— Ele não esperava que a moça soubesse, mas sua surpresa foi tamanha que sua pergunta íntima acabou sendo externada. A recepcionista por sua vez deu de ombros com expressão confusa. — Tudo bem. Obrigado. – Concluiu a conversa sem dar satisfações.

 

O arquiteto também encerrou sua conta e caminhou até o estacionamento na expectativa de que pudesse encontrá-la sentada em algum dos bancos do bonito jardim. Examinou com cuidado todo o ambiente e nenhum sinal de Marguerite. Ele começou a se preocupar. “Que mulher teimosa! Onde se meteu? Do jeito que é obstinada seria capaz de voltar caminhando pra Londres!” Pensou consigo mesmo. Mas, não era a obstinação de Marguerite que o incomodava. Na verdade, o fato dela ter saído sozinha, machucada pelo tombo do cavalo e com medo dele por sua atitude inescrupulosa, era o que lhe estava consumindo. “Maldição, John! O que você foi fazer! Se algo acontecer a Marguerite eu não vou me perdoar!”

Embarcou no carro e dirigiu até a Red Lion Station, a estação de trem mais próxima. Provavelmente Marguerite teria caminhado até ali e possivelmente ainda estava à espera do vapor que sairia com destino a Londres. Roxton conhecia bem as ruas que levavam a estação e a cidade estava exatamente igual a como ele se recordava. O prédio da estação era construção antiga e conservadora,típica daquela região da Inglaterra. Em frente a um círculo de pedras semelhante ao que ele e Marguerite haviam se beijado minutos antes. Estasformações rochosas são muito comuns em Wiltshire e atraem visitantes de todo o mundo por acreditarem que estes locais possuem energias místicas, como portais, capazes de fazer viagens no tempo e espaço. John queria que aquilo fosse verdade e teria a oportunidade de voltar ao momento que beijou Marguerite e evitar que ele agisse como um canalha em seguida. Entretanto, era cético demais para essas superstições e crendices, a única coisa que poderia fazer era correr por entre as pessoas tentando encontrá-la. Ela não estava em nenhuma parte. Buscou um guichê para perguntar o horário que o próximo trem partiria para Londres, o bilheteirofez menção a começar a falar quando o apito da máquina soou indicando que este estava partindo.

 

— Sinto muito senhor, a locomotiva acaba de sair.

 

— Droga!— Socou o balcão. O bilheteiro não entendeu, e Roxton sequer teve paciência de explicar. Calculou que ela levaria cerca de duas horas para chegar a Paddington Station, se ele fosse rápido o suficiente conseguiria chegar lá antes delae assim teria o elemento surpresa ao seu favor. Entretanto, ponderou que talvez ela não quisesse o ver tão cedo, a sua insistência poderia ser prejudicial ao perdão dela. Então, concluiu que precisava ser mais consistente em sua abordagem. Pensaria em algo que a impressionasse e também daria a ela um tempo para que a raiva que sentia por ele se abrandasse.

Em um vagões do trem Marguerite se acomodou na poltrona confortável, porém, nem a agradável sensação do banco macio a deixava melhor. Seu coração estava apertado pela decepção. Não era a primeira vez que algum homem tentava passar dos limites, ela não era ingênua, uma mulher bonita sempre atraia a atenção e o desejo, entretanto, ela confiava em John, ou pelo menos, queria que ele fosse diferente. E isso era o que mais lhe doía. Se ela contasse o que aconteceu a tia ou a irmã, era muito provável que elas insinuassem que Marguerite deu motivos para Roxton se exceder. Seu jeito espontâneo as vezes passava uma visão errada de sua personalidade. Ela era por natureza livre e transparente, falava o que pensava, não era contida e calculista como a irmã, mas, será que isso justificaria a atitude desrespeitosa de John? Ela acreditou que ele compartilhava com ela o mesmo interesse em se conhecerem, era nítida a química entre os dois, mas isso não significava que chegariam as vias de fato com tanta facilidade.

Marguerite podia ter o homem que quisesse, sua lista de admiradores era tão extensa quanto orio Tâmisa, e isso era o que mais irritava Maylene. Embora tão adorada e desejada, a jovem bioquímica não cedia a sua própria vaidade. Tratava a todos com cordialidade, mas, nunca teve um namorado sério, alguém a quem ela achasse especial o suficiente para apresentar a sua família. Da mesma maneira que, jamais tinha entregado seu corpo e sua alma a um homem. Ninguém acreditaria nisso, observando-a tão sensual e atraente, mas, era verdade. Ela a muito tempo havia decidido, sem alardes, entregar sua intimidade a uma pessoa que tivesse uma conexão com seu espírito. Não se tratava de puritanismo, nem valores ou convenções estabelecidas pela sociedade. Tinha a ver com seu autoconhecimento, sabia que encontraria o prazer supremo com um homem que lhe nublasse a racionalidade, que fizesse seu coração acelerar e que todo seu corpo se manifestasse involuntariamente na sua presença. Alguém que tomasse conta de todos os seus pensamentos e que a fizesse fazer planos para um futuro juntos. Ela achou ter encontrado esse homem especial quando colocou os olhos pela primeira vez sobre John Roxton, entretanto, ele a decepcionou.

“Eu a decepcionei” era o único pensamento que ocupava a mente de John no caminho de volta a Londres “mas porque eu me importo com isso? Eu deveria estar me importando pela possibilidade do meu plano de conquistá-la ter ido por água abaixo” tentava se convencer de que os sentimentos de Marguerite não os importava, entretanto, se sentiu o pior dos homens ao ver medo em seus olhos quando se afastava dele. Agora, precisava se redimir. No trecho entre Avebury e Londres não haviam muitas curvas, John aproveitou essa característica da estrada para correr o máximo possível com o potente automóvel, torcendo para não encontrar trânsito ou uma patrulha rodoviária a sua frente. Descontava toda sua raiva e frustração no acelerador do carro que em certos momentos parecia flutuar sobre a pista. A viagem que duraria cerca de duas horas foi feita em pouco mais de uma.Precisava do tempo ao seu favor, uma ideia para conseguir se retratar com Marguerite havia lhe surgido e ele teria que a por em prática até a noite.

 

Assim que chegou na mansão Summerlee, Marguerite cruzou o jardim quase correndo. Não queria encontrar ninguém nem falar sobre o que aconteceu. Abriu a porta e quando estava alcançando as escadas que levavam ao andar superior, foi interrompida por Benjamin.

 

— Marguerite! O que pensou que estava fazendo quando aceitou viajar com John?

 

— Benjamim, agora não!— Ela pediu tentando manter a calma.

 

— Como agora não? Você me deve alguma satisfação quanto a isso?— Ele a intimou.

 

— O que? Satisfação? Benjamin eu acho que você não entendeu. Eu não lhe devo satisfação de nada. Na verdade, eu acho que passou do momento de termos uma conversa franca. Fui muito clara em dizer que você é  como um irmão, mas isso não lhe dá o direito de interferir na minha vida.

 

— Irmão, Marguerite?! Você sabe q eu quero ser qualquer coisa menos seu irmão.

 

— Mas, isso é tudo que eu posso lhe oferecer, Benjamin. Agora se me der licença.— Marguerite já estava subindo as escadas quando o historiador percebeu suas escoriações no rosto e camisa suja pela queda.

 

— Espere! O que aconteceu aqui? Está ferida?— Preocupou-se.

 

— Nada importante, apenas tive uma queda da égua que eu montava.

 

— Como assim nada importante?! O que John estava fazendo que não previu isto?

 

— Está tudo bem... apostávamos uma corrida e meu animal se assustou com algo. Não foi nada grave. Preciso descansar agora. — Ela fez questão de ocultar o ocorrido com John, não queria em hipótese nenhuma abalar a amizade que eles possuíam. Depois do que aconteceu provavelmente Roxton não a procuraria mais e no fundo ela lamentava por isso.

Sem dar muita importância para o que o primo lhe dizia, ela seguiu para deu quarto, seu santuário de silêncio e paz. Almejava ansiosamente um banho e esperava ser capaz de relaxar e dormir em seguida. Encheu a banheira com água morna e entrou, deixando todo seu corpo submerso, apenas a cabeça encostada na borda. Ficou assim por alguns minutos, evitando pensar em algo, apenas sentindo seus músculos tencionados relaxarem em contato com a água na temperatura ideal. Quando achou que era suficiente, ela se ergueu, esperou até que a água que escorria do seu corpo pingasse ainda dentro da banheira, alcançou um roupão próximo e finalmente saiu. Não era tarde da noite, o sol apenas tinha acabado de se recolher, mas, ela precisava dormir logo, e por isso, vestiu camisola de seda e permitiu que sua mente fugisse para o mundo dos sonhos.

Marguerite não sabe por quantas horas dormiu, entretanto, um som incomum começou a trazê-la de volta a realidade. Ainda atordoada pelo sono, ela tentava organizar as ideias e entender o que acontecia. “Isso são sons de... violões!” No momento que identificou do que se tratava a melodia pôde ouvir uma voz conhecida cantando:

 

Ti amo
Un soldo, ti amo
In aria, ti amo
Se viene testa, vuol dire che basta
Lasciamoci

Ti amo
Io sono, ti amo
In fondo un uomo
Che non ha freddo nel cuore
Nel letto comando io

Ma tremo
Davanti al tuo seno
Ti odio e ti amo
È una farfalla che muore sbattendo le ali

L'amore che a letto si fa
Prendimi l'altra meta'
Oggi ritorno da lei
Primo maggio, su coraggio

Io ti amo
E chiedo perdono
Ricordi chi sono
Apri la porta a un guerriero di carta igienica (...)

 

Roxton estava mais nervoso do que imaginou que estaria. Controlava sua voz para não demonstrar tanta ansiedade. Seus olhos não deixaram de mirar a janela do quarto de Marguerite. Se sentia como um adolescente tentando impressionar a primeira namorada. Uma serenata italiana havia sido a maneira mais romântica que arquiteto encontrou de pedir perdão a jovem. Correu contra o tempo para conseguir violeiros em Londres que o acompanhassem, e a escolha da música foi motivada pela situação e não conseguia pensar em outra se encaixasse melhor ao que ele sentia. Era a história de homem que lutava entre sua razão e emoção, amava e ao mesmo tempo odiava uma mulher, e acima de tudo estava ali oferecendo um pedido de perdão e esperava sinceramente que ela o aceitasse.

 

Não foi apenas Marguerite que acordou com a música. Todos na casa ouviram tal importunação. Porém, nem todos reagiram da mesma forma. Maylene espiou pela cortina e revirou os olhos achando uma grande besteira tudo aquilo. “Mais um tolo apaixonado por Marguerite” pensou com inveja. Arthur no quarto ao lado não gostou nem um pouco do atrevimento de John. Estava prestes a expulsa-lo, mas, foi contido por Anna.

 

— Querido, deixe que ela resolva isto. Não se preocupe, se confia tanto em Marguerite, sabe que ela fará o que é certo. Não queremos um escândalo, não é mesmo?— Embora indignado, o velho senhor aceitou que a esposa tinha razão, mas, algo ainda o preocupava: Benjamin.

 

O jovem historiador há muito tempo estava tendo problemas para dormir, e escondido de sua família fazia uso constante de ansiolíticos. Nem a música nem as vozes foram capazes de acordá-lo e provavelmente foi melhor assim.

 

A luz do quarto de Marguerite ainda não tinha sido acesa e John começou a acreditar que esta tinha sido a pior ideia que já teve na vida. Agora, além do frio e do nervosismo, ele também sentia vergonha pelo papel de bobo que estava fazendo. Quando suas esperanças estavam quase se esvaindo ele ouviu alguém chamar seu nome.

 

— John?! — Ela não havia acendido a luz, fez melhor, foi ao seu encontro. Ele a reconheceu de imediato mesmo sob a baixa luz, e ela o viu sorrir feliz pelo sucesso do ato romântico. Estendendo seus braços convidou que ela o abraçasse. Ela não recusou, emocionada correu para o seu carinho, e encontrou nele calor e conforto. Quando se afastaram alguns centímetros, os braços que antes a envolviam se flexionaram para que as mãos dele apoiassem seu rosto delicado.

 

— Perdoe-me.— Ele lhe pediu. Marguerite apenas sorriu e ao fechar os olhos deixou que duas lágrimas escorressem por seu rosto. John tratou de secá-las rapidamente com beijos que aos poucos foram descendo até encontrarem sua boca. “Que sensação deliciosa”, ele pensou. Os lábios dela eram doces e viciantes como o mais saboroso creme de avelã, queria poder beija-lá para sempre, talvez por isso não se conteve e em um impulso lhe perguntou:

 

— Você aceita namorar comigo?

 


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