Amor e Ódio escrita por Olívia Ryvers


Capítulo 3
Imbranato




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      Ela esperou que ele a convidasse para uma dança, desejava muito isso. Mas, ele não o fez. Vontade provavelmente não lhe faltava, entretanto, John estava tão absorvido em sua própria confusão interna que era incapaz de tomar qualquer atitude em relação a Marguerite. Isto a decepcionou, por um momento acreditou que a atração que sentia por aquele homem fosse recíproca, porém, percebeu que seu semblante havia mudado depois da conversa com Maylene. O que de desagradável a irmã poderia ter dito para essa variação tão drástica no humor de John? Perdida em seus pensamentos Marguerite não percebeu a aproximação de sua tia Jessie.

 

— Você não parece estar tão feliz quanto no início da noite, minha querida. – Ela depositou as mãos sobre as de sua sobrinha. Jessie, ao contrário da irmã, sempre teve um carinho especial por Marguerite. Ela gostava de Maylene, mas Marguerite sempre a cativou. Por vezes levava a jovem para passar semanas em sua casa, depois que havia ficado viúva se sentia sozinha e a jovem era uma companhia agradável.

 

— Impressão sua, tia. – Ela sorriu tentando tranquilizar a mulher. — Estou muito feliz, comemorando meu aniversário rodeada das pessoas que eu amo.

 

— Ele é um belo rapaz, não concorda?— A mulher havia percebido que a sobrinha não tirava os olhos do amigo de Benjamin.

 

— Quem? — Ela sabia exatamente de quem a tia estava falando, mas, disfarçou.

 

— Você sabe... John Roxton, ele é muito bonito e também não tirava os olhos de você durante todo o jantar.

 

— Bem... de alguma maneira parece ter perdido o interesse, sequer me dirigiu a palavra depois que conversou com Maylene.

 

Jessie sorriu, era a primeira vez que via a sobrinha tomada pelo ciúme.

 

— Sua irmã sabe ser inoportuna quando quer, provavelmente seja isso.

 

A tia tinha razão, Marguerite ponderou, mas, ainda sim, gostaria que a conversa com ele continuasse. No curto momento que se trataram puderam notar tantas coisas em comum. A jovem era uma mulher da ciência mas também possuía uma sensibilidade nata para assuntos de arte e decoração, além de uma habilidade incrível com linguística. Isso o impressionou, poderia conversar com Marguerite por horas sem se sentir entediado. William devia sentir o mesmo. Lamentou profundamente ser ela a pessoa a quem deveria odiar, pela primeira vez em muito tempo ofereceu silenciosamente um pedido a Deus, que ele fosse capaz de cumprir a promessa que fez ao irmão, por seu nome e sua honra. Reunindo o que lhe restava controle e dissimulação se ergueu de onde estava e caminhou charmosamente até Marguerite, curvando-se estendeu-lhe a mão.

 

— Daria-me a honra? — Ele tentava se convencer que estava no controle da situação, que a tiraria para dançar porque essa era sua vontade e parte do seu plano para seduzi-la, mas, em seu íntimo sabia que na verdade esperou por esse momento toda a noite. A simples ideia de conduzi-la em uma dança já o excitava. Estava curioso por sentir seu perfume, o calor de suas mãos, tatear sua fina cintura sobre o refinado tecido vermelho, sua delicada mão tocando seu ombro e, talvez, por sorte, ouvi-la sussurrar alguma frase em seu ouvido.

Ela não respondeu ao convite, apenas sorriu e cedeu-lhe a mão. No aparelho começou a tocar uma canção em idioma italiano. Roxton a reconheceu no mesmo momento:

È iniziato tutto per un tuo capriccio
Io non mi fidavo era solo sesso
Ma il sesso è un'attitudine
Come l'arte in genere
E forse l'ho capito e sono qui
Scusa sai se provo a insistere (...)

 

 

Antes que pudesse raciocinar sobre a letra que era de uma de suas canções favoritas, John se viu acariciando involuntariamente as costas nuas de sua dama. Marguerite recostou o rosto no lado esquerdo de seu peito musculoso. Ela podia sentir seu coração acelerado, e também se sentia assim.Roxton segurava a mão dela muito próximo de onde ela havia apoiado a face. O ritmo os embalava como se sempre houvessem feito aquilo.

 

— Eu adoro essa música. – Ela lhe confessou em um sussurro. Ele sorriu e se deixou levar por aquela magia. Estar com ela em seus braços era indescritivelmente prazeroso.

O arquiteto evitou pensar como seria fazer amor com Marguerite, se com apenas uma dança ela já arrancava dele sensações como aquelas. Entretanto, não se iludiu, sabia que a fantasia de tê-la em sua alcova o perseguiria daquele instante em diante. Quando a música terminou eles não se largaram imediatamente, aliás, este não era o desejo de nenhum dos dois. Porém, perceberam que era inevitável, se afastaram alguns centímetros, o suficiente para manterem contanto visual. Todos os instintos de John gritavam para que ele fizesse seus,aqueles lindos lábios rosados, entreabertos a sua frente e ele lutava com todas as forças para controlar este desejo. Ficou muito próximo de sucumbir a esta necessita, se não fosse a voz de Benjamin o interrompendo.

 

— Acho que ‘la danza è finita’. – Por mais ingênuo que pudesse ser o historiador, era claro para todos que havia uma nítida atração entre o amigo e sua amada prima. Ele não permitiria tamanho atrevimento.

John sorriu, tentou levar a situação de forma natural, não era sua intenção causar nenhum tipo de conflito com a família Summerlee, ao contrário, precisava ganhar a confiança deles, principalmente a de Marguerite.

 

— Você tem razão, Benjamin. Está tarde... eu preciso ir. Muito obrigado pelo jantar e pela companhia.

 

— Até quando você fica na cidade?— Num ímpeto Marguerite perguntou ansiosa, sem se importar com a impressão que causaria nos demais.

 

— Tenho um assunto importante a resolver, não partirei enquanto não conseguir concluí-lo. – Ela não poderia imaginar que o assunto urgente e inadiável era seduzi-la a ponto deixá-la completamente a mercê dele.

 

Rapidamente Roxton se despediu dos demais e seguiu dirigindo seu utilitário alugado até o hotel. No caminho ia traçando estratégias para se aproximar de Marguerite, tentava ser frio e calculista, mas cada vez que se lembrava do seu olhar cristalino só pensava que queria estar com ela novamente. O mais depressa possível.

Na mansão Summerlee, todos já haviam se retirado, apenas Arthur e Benjamin compartilhavam uma dose de uísque.

 

— O que sabe sobre esse seu amigo John Roxton?— Perguntou o pai com curiosidade. Não havia gostado em nada da maneira como se comportou com Marguerite. Não era segredo que fazia gosto pelo relacionamento da filha adotiva com Benjamin e ficaria desapontado se alguém atrapalhasse seus planos. Além disso, seu pressentimento não era bom em relação aquele homem. Ele escondia algo, Arthur podia perceber isso a distância.

 

— Estudamos na mesma universidade em Milão, éramos em poucos ingleses e acabamos nos aproximando por isso. Depois John e a namorada Danielle abriram um escritório de arquitetura, nada além disso. Não é um homem ruim, foi um bom amigo enquanto estive na Itália.

 

Arthur tomou o último gole de uísque.

— Espero que ele não tenha perdido esses bons valores... — Concluiu antes de se retirar para o quarto.

 

A noite passou mais depressa do que John esperava, boa parte do tempo passou pensando nela, em William e no seu plano de vingança. Ponderou que talvez magoaria Benjamin ao se aproximar de Marguerite, mas, lembrou que ela era uma oportunista e interesseira, então, tirá-la dele seria um favor.

Era hora de começar a fase dois. Levantou-se da cama, ele vestia apenas a parte de baixo do pijama de cor azul clara. Pegou as toalhas que o serviço de quarto havia deixado sobre a cadeira e rumou para o banheiro. Parou em frente a pia e ligou a torneira, lavou o rosto com a água fria e depois de secá-lo, olhou-se no espelho medindo–se. Estava no auge de seus 34 anos e provavelmente na sua melhor forma física. Era atraente, másculo, sedutor e tinha adquirido algumas experiências que só o tempo poderia lhe atribuir. Concluiu que nada lhe faltava para fazer com que Marguerite se apaixonasse por ele, embora a insegurança nunca foi uma de suas características, era a primeira vez que realmente se importava em impressionar alguém. Insistiu em pensar que essa preocupação fosse apenas motivada pelo sucesso do plano.

Com agilidade tirou o resto da roupa e entrou no chuveiro. Era fevereiro, o dia não estava quente, mas, mesmo assim, ele optou pela água gelada. Esperava que a baixa temperatura aliviasse sua tensão e esclarecesse seus pensamentos. Permitiu-se fechar os olhos sentido a sensação quase dolorosa das gotas tocarem seu bronzeado corpo. A imagem da morena de cabelos cacheados surgiu em sua mente. Seu sorriso e a maneira alegre com que falava, tudo era tão encantador, se odiava por pensar nela com tanto entusiasmo. Quando finalmente achou que tinha encontrado equilíbrio emocional, ele desligou o chuveiro e ainda com a toalha enrolada em sua cintura começou a barbear-se, inevitavelmente imaginou como seria sentir as mãos delicadas de Marguerite fazendo a ele tal tarefa. “Isto é bobagem, John Roxton!” disse para si mesmo. “Maldita mulher! Está me enfeitiçando como fez com meu irmão!” Socou a cuba de mármore e logo sentiu o punho latejar pelo golpe. Não se importou com a dor, nada era comparável a sua confusão interna. Depois que acabou de se arrumar percebeu que já era próximo das dez da manhã, se quisesse executar o planejado precisava ser rápido. Pegou seu casaco e ligou para recepção pedindo que preparassem seu carro. Antes de sair do hotel passou pela floricultura que ficava no hall principal do luxuoso prédio e escolheu um belo arranjo de tulipas vermelhas.

Em poucos minutos cruzava a Albert Gate e a estacionava em frente aos portões da mansão Summerlee. A casa de arquitetura conservadora era imponente em comparação as demais residências do famoso bairro. Embora luxuosa, a propriedade não contava com uma portaria, de modo que os visitantes podiam adentrar sem serem anunciados.Roxton cruzou os portões de ferro com as insígnias da família esculpidas nas duas abas, atravessou o exuberante jardim cultivado e cuidado com carinho pelo próprio dono da casa em seu tempo livre, subiu o pequeno lance de escadas que dava a porta principal, tocou a campainha e foi recebido pela governanta. Não houve tempo para ser anunciado,  Lady Anna vinha logo atrás da empregada e se apressou em cumprimentar o amigo do filho.

 

— John, que surpresa vê-lo em tão pouco tempo.

 

— Lady Summerlee, creio que não agradeci o suficiente a recepção que recebi ontem, por isso trouxe essas flores para a senhora, em demonstração da minha gratidão. — Ele beijou a mão da mulher, fazendo-a sorrir.

 

— Quanta gentileza, não era necessário, mas, muito obrigada.

 

— Hoje está um belo dia, pensei se Benjamin, Maylene e Marguerite não se interessariam em me acompanhar a Avebury. Faz muito tempo que não visito meu condado natal e conheço uma hípica,podíamos cavalgar um pouco nos campos de Wiltshire.

 

— Seria adorável, mas, infelizmente, Benjamin está em uma audiência com os curadores do Museu Britânico, possivelmente conseguirá uma posição no quadro de historiadores e Maylene não é adepta ao convívio com animais. Entretanto, Marguerite talvez tenha interesse em acompanhá-lo. Ela é uma excelente amazona. Você irá se surpreender.

 

Como se estivesse sentindo a presença de John na casa a morena desceu rapidamente as escadas sendo notada imediatamente pela tia.

 

— Marguerite, querida, venha cá. Veja! Temos visita.— Anna era bastante astuta e havia notado o interesse recíproco entre a jovem e o belo homem. Seria uma oportunidade única tirá-la do caminho de Benjamin jogando-a nos braços de Roxton. — O Sr. Roxton veio convida-los para o acompanhar a Avebury... eu estava acabando de dizer a ele que você adoraria acompanhá-lo.

 

Marguerite ficou sem reação diante do convite. É claro que ela queria passar o dia com aquele estranho que havia lhe tirado o sono na última noite, mas, não sabia se era adequado. Por mais moderna que ela fosse, prezava pela aprovação do tio em suas atitudes, e sair com um desconhecido o desagradaria com certeza.

 

— Bem, eu não sei se meu tio...— Começou a argumentar.

 

— Ora, querida, divirta-se. Deixe que eu me entenda com o ranzinza de Arthur. – Anna piscou de forma arteira. Marguerite sentiu seu coração aquecer quando desviou o olhar da tia para John. Ele a mirava com um sorriso convidativo, e, ela tinha certeza que se arrependeria pelo resto da vida de não aceitasse.

 

— Sendo assim, me aguarde um minuto enquanto coloco uma roupa mais apropriada.

 

— Estarei esperando ansioso.

 

A jovem subiu as escadas depressa, também estava ansiosa por um momento a sós com aquele charmoso homem. Não sabia exatamente o que estava fazendo, mas, parecia que estava sendo conduzida por uma força imaginaria que o atraia inevitavelmente para ele.

Em poucos minutos ela estava pronta, vestida com calças de montaria é uma camisa de botões branca, a roupa se ajustava perfeitamente as suas curvas e Roxton de surpreendeu com fato dela estarsensual até mesmo vestindo roupas tão triviais. Calçava botas marrons e sua composição terminava com um colete feminino na mesma cor dos calçados. O cabelo estava preso em uma trança frouxa e John lamentou, ainda que silenciosamente, que ela não tenha optado por deixar seus lindos cachos soltos. A ele lhe agradava a liberdade que seus cabelos possuíam, era como se eles tivessem vida própria e adornando aquele rosto precioso.

Logo estavam deixando Londres com destino a Avebury, no condado de Wiltshire. O arquiteto conduzia o veículo com segurança e Marguerite relaxou ao seu lado falando sobre assuntos do cotidiano,  sua formação em bioquímica e seu trabalho nas indústrias Summerlee. Em contrapartida, Roxton lhe contou sobre seu escritório em Milão, sua paixão por criar e também mencionou o fato de ter herdado uma destilaria em Inverness, todavia, omitiu o fato de que o primeiro proprietário tinha sido irmão, William.

 

— E quando você pretende voltar a Milão?—  Perguntou com medo da resposta, queria que ele ficasse o máximo de tempo em Londres, queria conhecê-lo melhor, e pressentia que sentiria sua falta assim que ele se fosse. Era tolice pensar esse tipo de coisas por alguém que mal conhecia, mas não podia controlar o que estava sentindo.

 

— Na verdade, não pretendo voltar tão em breve para Milão. Deixei o escritório sobre administração de minha sócia, e pretendo me dedicar a produção de uísque. Não existe nada que me prenda a Itália.

 

A última declaração de John fez o coração de Marguerite sobressaltar. Será que ele não tem nenhuma namorada ou noiva? Ou talvez ela já esteja na Escócia, por isso não se importou em abandonar  a Itália. A morena não poderia conviver com essa dúvida.

 

— Você tem namorada? — Foi tão rápido e direto como um tiro a queima roupa. Ele achou encantadora a maneira quase ingênua que ela lhe perguntou algo tão íntimo. Não pôde evitar o sorriso.

 

— Não... eu não tenho namorada. Mas... estou abrindo um processo seletivo, caso, lhe interesse.— Brincou.

A moça se enrubesceu. Como podia ser tão indelicada, sua tia tinha razão, jamais ele teria os modos de uma dama.

 

— Eu sinto muito, John. Não queria ser indelicada.

 

— Não se preocupe, na verdade, você abriu espaço para que eu lhe perguntasse algo que me intriga desde a última noite.

 

— E o que seria?

 

— Você tem namorado?

 

— Não!— Foi a vez dela sorrir. Este flerte estavamuito agradável embora ela não fosse acostumada a jogos de sedução.

 

— Benjamin não faz segredo a ninguém de que lhe tem muita consideração.— Ele começou a sondá-la.

 

— Ele é meu irmão, embora não tenhamos o mesmo sangue, este é o sentimento que tenho por ele.— Entendendo a intenção de John ela foi ríspida em responder.

 

— Desculpe, eu não queria ofendê-la.

 

— Você não o fez.

 

— Bem... é que você é uma mulher muito bonita, com toda certeza deve haver muitos rapazes interessados em ser seu namorado.

 

— Pode até haver, mas, eu sei exatamente o que eu quero, e, não costumo dar confiança a todos os rapazes que me dão algum elogio. Sinto muito se você entendeu a mensagem errada.

 

— Marguerite, me desculpe, realmente essa não era a minha intenção.

 

— Então qual é a sua intenção? Diga-me.

 

— Apenas queria me certificar que o que me interessa não tem dono.

 

A mulher ficou calada imediatamente, virou o rosto envergonhada para a estrada evitando que ele notasse seu rubor. Talvez fosse melhor mudar de assunto e ignorar tal declaração. Dentro de si uma felicidade a inundava, mas, ela não podia dar sinais disso agora, pelo menos não tão cedo. Precisava conhecer mais sobre ele para depois lhe mostrar que seu interesse encontrava nela reciprocidade.

 

— Porque Avebury? — Depois de alguns minutos ela interrompeu o silêncio. Os belos Campos do Sulda Inglaterra começavam a apontar no horizonte e ela tinha curiosidade em saber porque ele havia escolhido esta localidade para o passeio.

 

— Como?— Foi despertado de seus pensamentos pela pergunta dela.

 

— Porque você escolheu Avebury para opasseio de hoje?

 

— É minha terra natal, e faz alguns anos que não volto aqui.

 

— Olha que coincidência, meu amigo William Montgomery, também nasceu em Avebury... você o conhece?

 

John sentiu sua garganta fechar e suas mão soarem de nervosismo. Como ela poderia ser tão dissimulada a ponto de falar com tanta naturalidade de seu amante. Ele precisava manter a calma e jogar seu jogo.

 

— Não tive a oportunidade. — Respondeutentando parecer indiferente. A encenação teve sucesso, pois Marguerite sequer notou o instabilidade de Roxton.

 

— Oh, é uma pena. Ele é uma pessoa extraordinária, você ia gostar de conhecê-lo.

 

— Tenho certeza que sim... e onde ele está agora?

 

— Bem, esse é um grande ministério. Ele desapareceu sem deixar rastros. Abriu mão de uma posição de destaque na empresa e se foi.

 

— E você não se interessou em saber onde e como ele está?

 

— Interesse eu tenho, mas, William traçou seupróprio destino como todos nós, e devemos arcar com as consequências de nossas escolhas.

 

Como ela podia ser tão cínica, ele pensava. Não demonstrava nenhum tipo de remorso pelo desprendimento do irmão, e nem sabia de sua morte. John usaria essa informação a seu favor.

 

— Chegamos!— Ele estacionou o carro em frente a hípica.

 

O lugar era esplendoroso e os animais incríveis. Marguerite escolheu uma égua puro sangue inglês para montar e Roxton optou por um alazão árabe. Ele não sabia o quão talentosa era a amazona que o acompanhava e por isso, no início do passeio optou por um ritmo mais lento. Entretanto, a Marguerite lhe agradava o desafio. Quando ela avistou ao longe o círculo de pedras de Avebury ela fez a proposta.

 

— Uma corrida até o círculo das fadas. Aceita?

 

— Depende de qual for o prêmio.

 

Ela pensou alguns segundos.

 

— Um sorvete de chocolate!

 

Ele riu com vontade da sugestão. E antes que pudesse concordar observou a mulher açoitar a égua fazendo com que o animal saísse em disparada. John seguiu logo atrás. Ela era muito habilidosa na montaria, um ato de coragem que a fez ganhar sua admiração. Por mais que ele esforçasse o animal que conduzia, não conseguia alcançá-la. Quando ela estava quase chegando ao local combinado, ele pode assistir incapaz de fazer algo, a égua de Marguerite se assustar com alguma coisa que viu no campo e erguer as patas dianteiras derrubando a mulher no chão.

 

— Marguerite! Nãoooo!!!— Gritou desesperado açoitando ainda mais seu alazão.

 

Em segundos estava ao seu lado. Ela não parecia reagir e ele sentiu muito medo, se ajoelhou ao lado dela e examinou se havia algum ferimento grave. Não parecia existir nenhuma lesão preocupante, então, por que ela não acordava?

 

— Marguerite, acorde! Responda, por favor. Diga algo!

 

— Eu venci!— Gargalhou satisfeita.

 

John suspirou aliviado.

 

— Você merece umas palmadas por me deixar assim preocupado, mas, ao invés disso vou fazer algo ainda mais torturante.

 

Ela o olhou curiosa.

 

— Cócegas!!

 

— Oh, John, por favor, pare hahahaha — Ela mal conseguia respirar entre os risos que a sensação lhe causava.

 

Roxton também gargalhava, não se lembrava a quanto tempo se divertia tanto. Em um momento ele se desequilibrou e caiu sobre ela, no mesmo instante cessou as cócegas e conseguiu apenas concentrar-se em admira-la. Ela fazia o mesmo. Seus olhos não se desviavam, suas bocas estavam muito perto. Ambos se desejavam, não podiam negar isso. Era impossível resisti a atração que os aproximava. E então, o beijo aconteceu. Os lábios de John se aproximaram dos dela os tocando com suavidade. As não de Marguerite entrelaçaram-seenvolta do pescoço dele. Ousou trazê-lo mais pra perto e ele entendeu sua mensagem. A mão dele se emaranhou no cabelos da parte de trás de sua cabeça. Seus cachos eram exatamente como ele imaginava: macios, assim como seus lábios. Seu beijo era quente e ele explorou sua boca com a língua enquanto ela fazia o mesmo. Era delicioso tudo que estavam experimentando pela primeira vez.John queria morar naqueles braços pelo resto de sua vida. Ele tentava nomear o que estava sentindo, e sabia que era o mais próximo do que significava paz.

Paz?! Como ele poderia sentir paz nos braços da mulher de arruinou a vida de seu irmão? Sentiu um ódio fumegar dentro do peito. O beijo que até então era doce e apaixonado começou a se tornar intenso e logo violento. Marguerite sentiu a mudança e tentou se soltar, mas ele não a obedeceu, continuou a apertá-la e sabia que a estava assustando, mas não se importou. Queria puni-la pela culpa que ele mesmo estava sentindo. Em um ato desesperado ela mordeu os lábios dele. John se afastou, sentindo o gosto férrico do sangue em sua boca.

 

— O que pensa que está fazendo?!— Ela selevantou rapidamente e ganhou distância dele.

 

— Marguerite, eu... eu... sinto muito! Eu... não queria. – Ele tentou se aproximar mas ela o rejeitou.

 

— Afaste-se de mim.— Subiu em sua montaria e galopou de volta a sede da fazenda.

 

John chutou com raiva uma pedra fazendo-a voar para longe. O que diabos estava acontecendo com ele? Essa vingança não poderia estar transformando-o em um monstro. Ainda que ele quisesse puni-la existiam limites entre o castigo e a dignidade. Por pior que ela possa ter agido com William, Marguerite era uma mulher e merecia seu respeito e seu pedido de desculpas. Montou em seu cavalo e cavalgou o mais rápido que pôde de volta a recepção. Precisava urgentemente encontrá-la.

 

 


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