Amor e Ódio escrita por Olívia Ryvers


Capítulo 2
Encontros e desencontros




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— Você é linda.

 

Ela sorriu encabulada, foi impetuoso o comentário do desconhecido homem, mas, ela precisava admitir que tinha adorado. Ela mesma o havia achado muito charmoso durante o rápido exame que fez nele. Os dois ainda ficaram se olhando por alguns instantes, incapazes de dizer algo. Era urgente se apropriar de cada detalhe um do outro, aquele tinha sido um momento único em uma existência, em algum lugar no universo umaestrela acabara de surgir tamanha energia que emanava daquele encontro. Os dois sabiam queesta não seria a última vez que se veriam, o destino se encarregaria de fazer com que novas oportunidades surgissem, e esse era o desejo mais íntimo dos dois.

 

— John?! — A voz de Benjamin quebrou a magia que os envolvia e Roxton rapidamente voltou a realidade e ao motivo que o trazia ali. Por um instante, desde quando soube da morte do irmão, o arquiteto se permitiu pensar em algo que não fosse seu desejo de vingança. Aquela mulher lhe trouxe um lampejo de luz onde só haviam trevas.

 

— Benjamin!— Ele forçou um sorriso animado. — Espero que não esteja atrapalhando algo... estava de passagem por Londres e decidi fazer uma visita.

 

— De maneira alguma... é um prazer recebê-lo. – Apertou a mão do amigo e em seguida tornou o olhar para Marguerite. — Vejo que já conheceu Marguerite. Acho que mencionei sobre ela quando estávamos em Milão.

 

— Sim, claro, Marguerite... mencionou muitas vezes, na realidade. – Ele apertou a mão da bela mulher não desviando de seus olhos cativantes. Ele sabia quem era Marguerite e o que ela significava a Benjamin. O historiador era obsessivo ao falar decomo a prima era linda, inteligente e encantadora. John podia comprovar pessoalmente que o amigo não havia exagerado em nada, Marguerite era de uma beleza hipnótica. — É um prazer Srta. Summerlee, John Richard Roxton, para servi-la.

 

Marguerite sorriu da maneira cortês e atraente do homem. Ele não deixava nada a desejar para ser considerado da nobreza, um duque, um conde ou talvez um lorde... sim, um lorde, um cavalheiro de armadura cintilante. Esse seria o apelido íntimo com o qual ela pensaria nele sem que ninguém percebesse, ‘Milorde’, pensou sorrindo ainda mais.

 

— Pode me chamar de Marguerite, se é amigo de Benjamin é meu amigo também. – Ela apertou a mão de Roxton e pode sentir a força de seus músculos e a textura de sua pele. Imaginou aquelas grandes mãos percorrendo seu corpo, procurando desesperadamente o fecho de seu vestido. Por Deus, o que ela estava pensando? Ela não o conhecia, e não era seu costume ter tais sensações ainda mais por um desconhecido. Que espécie dedomínio aquele homem tinha sobre ela que chegava a nublar sua racionalidade? Desejou desesperadamente conhecê-lo melhor, talvez para eleva-lo da categoria de estranho para conhecido e assim ter a liberdade de fantasiar situações com ele sem ser constantemente recobrada pelo seu bom senso de que só sabia seu nome e que era supostamente um amigo que seu primo havia conquistado na Itália.

 

— Aceito tratá-la por Marguerite se fizer o favor de me chamar de John. – Ele piscou.

 

— Proposta aceita. – Ela piscou também,firmando ainda mais sua mão na dele. — Esperoque ainda não tenha jantado. Estávamos prestes a servir o jantar, adoraria que nos acompanhasse.—Ela se surpreendeu com o que disse, no momento que as palavras saíram incontrolavelmente de sua boa. Ela tinha perdido o juízo, só podia ser isso. O que ela estava fazendo? Sempre foi tão cuidadosa e, embora a espontaneidade fosse uma de suas características principais, ela não era dada a tanto desprendimento dos bons modos. Sequer havia perguntado aos tios se podia trazer um novo convidado. A verdade era que Marguerite não queria que John se fosse, não tão rapidamente, nem sem ter mais informações a seu respeito.

 

— É verdade, John... adoraríamos que você nos acompanhasse. Hoje celebramos a vida de Marguerite e advinha, por coincidência ou não, ela escolheu a culinária italiana como prato principal. –Por sorte Benjamin comungava da mesma sugestão que ela, claro, por motivos muito distintos. Na inocência do historiador nem imaginou que estava convidando para sua casa o homem que acabaria com todas as suas chances de conquistar o amor de Marguerite.

 

— Na verdade é o meu aniversário e de minha irmã Maylene, mas tenho certeza que ela também ficará contente em recebê-lo. – Que diabos ela estava dizendo de novo? Maylene odiaria um estranho em seu aniversário. A irmã sempre foi tão reservada e odiava surpresas, mas, dane-se agora já estava feito, John Roxton estava convidado a jantar com eles, e Marguerite sentia uma satisfação pessoal por isso.

 

— Um amigo sempre diz que coincidências não existem, mas, eu acredito que o destino possa ter suas artimanhas... Não posso recusar um convite da aniversariante, seria muito indelicado, além disso, quem recusaria ‘una bella pasta italiana’?— Elesorriu para a mulher, e, era um sorriso verdadeiro.Há semanas não tinha um momento genuíno de felicidade. Estar na companhia de Marguerite surpreendentemente o fazia bem. Ele mal a conhecia, embora Benjamin fosse bastante detalhista em descrevê-la, e, definitivamente ela era muito mais do que qualquer descrição que o amigo pudesse ter feito. John se sentia atraído por ela como nunca aconteceu antes. Nem mesmo com Danielle. Ele e a sócia viveram bons momentos,mas, com o tempo a relação foi se desgastando.  Para John ainda restava a amizade, porém, tinha consciência que para ela os sentimentos eram outros, em memória do que tiveram sido juntos decidiu manter a sociedade e o convívio com a moça.

 

— Então, o que estamos esperando? Estou faminta!— Brincou Marguerite. A irreverência da mulher encantou Roxton, era diferente de todas que conheceu. Tinha um brilho especial, uma naturalidade, uma leveza. Um homem facilmente se apaixonaria ela, pensou.

Os três seguiram rapidamente através da mansão até a sala de jantar. Os demais aguardava ansiosos e se surpreenderam com o novo convidado. Benjamin fez as honras e apresentou a todos John Roxton como seu amigo da Itália. Um a um o historiador foi nomeando ao arquiteto. Quando lhe foi apresentada Maylene, John sentiu todo seu sangue gelar. A jovem se assemelhava muito a irmã gêmea, mas não podiam dizer que eram iguais. Maylene não tinha a mesma naturalidade de Marguerite, os cabelos lisos, mais curtos e tingidos com mechas eram distintos as madeixas exuberantes da irmã. Também era notável a quilômetros de distância as diferenças no comportamento, John percebeu, enquanto Marguerite era espontânea, Maylene era contida e quase engessada fazendo movimentos ensaiados e não deixando transparecer suas reais emoções. Tudo isso ele notou, mas não o assustou tanto quanto o que a irmã de Marguerite ostentava no pescoço. Roxton não podia acreditar no que via. O relicário idêntico ao que achou entre os pertences de William. Como isso era possível? Ele precisava descobrir o que aquela joia significava. Esta era a principal pista para encontrar a mulher que traiu seu irmão. Ele usaria a noite como sua aliada e tiraria alguma informação de Maylene no tempo certo.

O jantar seguiu com conversas animadas. Arthur contava como as meninas eram adoráveis quando chegaram a família Summerlee. Tentava incluir narrações que remetessem a fatos agradáveis com Maylene, mas, a maior parte das histórias traziam como principal protagonista a perspicaz Marguerite. John observava a gêmea retraída com atenção e por isso podia notar o desconforto que ela apresentava toda vez que a irmã era lembrada com carinho, pôde até perceber, em alguns momentos, que a moça se controlava para não revirar os olhos com tédio. Era óbvio que se sentia ofuscada pelo brilho de Marguerite, e ele não podia julgá-la, esta era uma disputa covarde, a morena de cabelos esvoaçantes era única e digna de admiração, seu pai a descreveria como feita de fogo e aço, uma mulher que só se encontra uma vez em uma eternidade.

Após a refeição o grupo seguiu para a sala de jogos, Benjamin colocou uma canção no gramofone que era relíquia da família e se aproximou da adorada prima.

 

— Você me prometeu uma dança está noite. — Aintimou. Ela apenas sorriu e estendeu-lhe a mão.

 

Um desconforto irracional percorreu o corpo de John ao vê-la dançando com seu amigo. Era absurdo, mas, real. Ele sentia ciúmes daquela mulher que havia conhecido a poucos minutos. Seu ímpeto era arrancá-la dos braços de Benjamin e tomá-la para sim, mas, sabia que não havia justificativa plausível para isso.

Summerlee e Anna também se arriscaram a dar alguns passos de dança e enquanto Adrienne e Jessie conversavam despreocupadamente Roxton aproveitou para se aproximar de Maylene que parecia aborrecida.

 

— Se importa se eu me sentar?

 

— Sinta-se a vontade. – Respondeu sem entusiasmo.

 

— Você não parece contente para quem está de aniversário. Desculpe meu atrevimento, mas, algo lhe preocupa?

 

— Nada de importante, apenas estou cansada.

 

— Que pena, iria convida-la para uma dança.

 

— Sinto muito, talvez em outra oportunidade. – Ela estava achando o homem muito desagradável e não tinha paciência para galanteios.

 

— Sua corrente é muito bonita. É uma peça única?

 

— Não... existem duas, uma pra mim e outra para minha irmã Marguerite. Foi um presente de meu tio no nosso aniversário de 15 anos. Eu carrego o meu sempre comigo, mas, Marguerite é uma descuidada e sabe-se lá o que fez com a corrente dela.— Ela estava tão chateada com a irmã que inventou uma mentira descarada para desmoraliza-la. Não podia imaginar que condenara Marguerite a um castigo ao qual ela não merecia. Entretanto, mesmo que soubesse da culpa que cairia erroneamente sobre a irmã, provavelmente, não faria nada para protegê-la. A inveja que sentia por ela era maior que qualquer consciência ou consideração.

John não queria acreditar no que ouvia. Essa era a última coisa que queria saber. De todas as mulheres no mundo ele desejava do fundo de sua alma que não fosse ela a traidora de William. Logo Marguerite, a mulher que o encantou a primeira vista. Ele estava atordoado pela revelação. Precisava de ar para pensar como reagir. Caminhou a até a varanda e respirou o ar gelado do fim de fevereiro. Precisava se acalmar, precisava raciocinar o que acabara de ouvir. Fazia sentido o irmão ter apaixonado tão perdidamente por ela, ele mesmo estava experimentando essa doce e irresistível sensação. Num misto de racionalidade e raiva ele decidiu que precisava de um plano. Ela não faria com ele o mesmo que fez com seu irmão, se aproximaria dela e a faria se apaixonar, depois a faria se arrepender de todo mal que um dia fez a William. O que não havia previsto foi o risco de cair em sua própria armadilha.

 


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