Samael e Lianne escrita por Otakórnio


Capítulo 6
Capítulo 6




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            Aquele era mais um domingo terrível. Toda folga me provava que eu não estava fazendo nada além de sobreviver. Normalmente eu ficava deitada repassando minhas experiências ruins como um filme, mas no condomínio eu conseguia ouvir risadas de crianças e conversas de idosas. Tirou minha concentração do meu gatilho semanal. Tentei ler um livro, mas estava sem vontade. Pensei em sair e caminhar na floresta que tem ao lado do condomínio, mas a preguiça me fez mudar de ideia.

            Abri a porta e notei o caminho de barro e árvores para fazer caminhadas e trilhas. Decidi caminhar e observar a vida dos meus vizinhos, me imaginando em futuros paralelos. Me vi brincando com meus filhos; me vi idosa regando plantas; me vi jovem com pais que me amam. Fiquei estranhamente confortável com minha imaginação.

            Até que eu vi aquele rapaz hipnotizante outra vez. Lembrei-me de Lianne no dia anterior – então aquele era Samael. Alguma coisa nele me fazia ter vontade de socializar.

            – Boa tarde! – me aproximei da árvore. Ele estava deitado embaixo dela.

            Ele abriu os olhos e me olhou de lado. – Boa. – notei que ele usava uma saia longa.

            – Está relaxando? – ele apenas me olhou – Um dia tão bonito, deve ser aproveitado mesmo.

            – A beleza é aquilo que precisamos, mas nos falta. – sentou-se – O que tem de tão bonito pra você?

            Antes de eu conseguir responder um rapaz moreno nos interrompeu. Sem delicadeza ou educação, ele arrastou Samael para fora do nosso diálogo e foram embora sem se despedir.

            Tentei evitar pensar na extensa resposta para a pergunta dele, e nem precisei me esforçar porque notei Lianne atrás de um arbusto. Ela se levantou com pressa.

            – É, eu tava admirando esse ser divino!

            Eu ri. De verdade. – Por que você tava escondida?

            – Com Samael não tem atitude certa! Não consigo me aproximar dele. Na real, as únicas pessoas que eu vi conversar com ele foram tu e aquele cara que eu acho que é o irmão dele.

            – Não consegue se aproximar?

            – O destino nos impede de nos aproximarmos. Eu sei que é loucura, mas parece que todo mundo me impede de me aproximar dele. Propositalmente. – ela começou a caminhar e eu a segui – Quando ele se mudou eu fiz um bolo para dar as boas vindas, mas ele não me atendeu nem quando bati na porta por quase vinte minutos. Depois teve uma festa e toda vez que eu tentava me aproximar alguém falava comigo ou o irmão dele o levava para outro lugar. E isso aconteceu tantas vezes! Se ele estava sozinho, o irmão dele brotava e o arrastava pra longe.

            – Sério? – ela me parecia tão desesperada para conhecê-lo que acreditava que o universo conspirava contra.

            – Tentei falar com ele por algumas semanas, mesmo quando percebi o cross-dressing, até que o irmão dele disse na minha cara que Samael não quer saber de “reles humanos”. Olha o que o cara me diz! O que ele é pra me chamar de “reles humanos”? Eu desisti dele, mas é difícil resistir a tanta beleza. Mesmo com o cross-dressing. Ai, esse é o meu triste não-romance. O destino não quer que nos conheçamos.

            Eu não consigo resistir a um olhar triste, principalmente quando ele vem de uma pessoa tão alegre. Tenho o péssimo hábito de me meter (discretamente) na história dos outros porque quero um final feliz. Lianne estava interessada na aparência, eu sabia, mas achei curioso ela continuar interessada em um homem que se veste de mulher. Uma pessoa sem preconceitos, talvez? Bom, isso é impossível. De qualquer forma eu queria ajudá-la. Eu não conseguia ouvir um sussurro de ajuda sem correr ao chamado.


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