Samael e Lianne escrita por Otakórnio


Capítulo 5
Capítulo 5




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            – Você gosta de filmes, Cíntia? – Guilherme me perguntou quando a loja estava sem clientes.

            – Quem não gosta?

            – Verdade. – ele riu e ajeitou os óculos – Tem um filme legal no cinema e nós temos desconto pra funcionário nesse shopping...

            – Que bom. Você vai assistir? – eu não sabia qual era o intuito dele, mas não importava porque eu não tinha mais prazer em sair com pessoas.

            – O filme realmente parece ser bom... Você não quer vir comigo? Eu pago.

            Eu fiquei em dúvida se ele queria apenas uma saída entre colegas ou um encontro. Mesmo sem nunca ter me envolvido com homens eu sabia que dificilmente um homem chama uma mulher pra sair com tudo pago sem segundas intenções. Guilherme conversava comigo com frequência, tínhamos uma relação de paz. Eu não o considerava meu amigo porque eu já tinha esquecido o que é amizade. Ainda assim inconscientemente eu me preocupava com ele, o que eu não havia percebido até então.

            – Hã... Quem sabe outro dia, eu tô sem clima pra sair.

            Eu não quis rejeitar o pedido que eu decidi que era inocente. Guilherme era a pessoa que mais conversava comigo, mesmo que eu evitasse falar com qualquer um.

            Passei o resto do dia me convencendo que não havia mentido. Eu realmente não tinha vontade de sair. Minha vida se resumia ao shopping, as flores e sexo casual; fora isso eu vivia num grande vazio. Eu evitava amizades desde o meu emprego de Call Center. Naquela época eu ainda tentei criar laços, mas todas as mulheres me trataram estranho quando uma delas me viu beijando um mulher numa boate. E alguns homens se aproximaram de mim apenas para me perguntar bobagens. Minha covardia nunca me permitiu ser forte.

            Quando larguei eu fui ao bicicletário, onde encontrei Guilherme.

            – Tas bem, Cíntia? – essa pergunta é um gatilho mental – Falasse que tas sem clima e você me parece meio triste.

            – Sim, só tô um pouco cansada... – eu não conseguia falar das bobagens que sentia.

            – Você vai pra onde agora? Posso te acompanhar.

            Rejeitei e ele, provando que me respeita, me seguiu. Eu estava de bicicleta e ainda assim ele encontrou a Lojinha. Guilherme ainda entrou na loja e ficou puxando assunto por horas. Minha salvação foi Lianne!

            Lianne tinha visitado a loja mais três vezes desde a primeira. Ela só falava de flores, o que não aprofundou nossa relação. Até aquele dia.

            – Desculpa, mas você pode me fazer um favor? Aquele homem é um colega de trabalho e me seguiu até aqui, mas eu não quero falar com ele...

            – Opa, minha irmã, vamos prum bar! – ela deu uma solução inesperada.

            Lianne chamou um táxi e dei uma desculpa esfarrapada para Guilherme. No bar, Lianne prometeu que pagaria a conta.

            – Não precisa, sério! – falei, envergonhada.

            – Relaxe, meu bem. Eu trabalho numa grande empresa de tecnologia, dinheiro não é problema. Escolha o que quiser. Eu não quero me exibir, tenho certeza que ganho mais que você, mas tu tem sorte por trabalhar em um lugar tão colorido e perfumado. A Lojinha foi a primeira floricultura que entrei, ainda tô pasma! Tô até me perguntando se escolhi a área certa.

            – Acho que dinheiro vale mais que flores!

            – Não sei, eu praticamento tenho uma estufa dentro de casa. Dizem que faz mal dormir com plantas, mas eu me sinto mais confortável numa floresta. Ai, tô adorando os novos vizinhos. Tu é florista e eu adoro flores. Antes de tu foi Samael, e ele é tudo!

            – Samael? – forcei uma risada – Não conheço...

            – É o homem maravilhoso que mora ao lado da sua casa. Um loiro de olhos azuis, tu não deixaria um homem desse passar batido!

            Lianne realmente não combinava comigo. Mal nos conhecíamos e ela já me mostrava tanto de si, enquanto eu escondia tudo de mim. Além de tudo ela era claramente feliz e eu sou o tipo que estraga tudo. Tinha medo de me aproximar de pessoas felizes e torná-las tristes, como sempre fiz.


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Notas finais do capítulo

Amanhã tem capítulo novo



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