Spotlight escrita por Fe Damin


Capítulo 8
Capítulo 08


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoas lindas.
Prontos para saber o que acontece depois que o Ron ficou solteiro?
Espero que gostem :)



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Meus informantes misteriosos me contaram alguns segredinhos que podem vir abalar as estruturas dos nossos frágeis corações. Só vou dar uma dica: o segredo é ruivo! #MinhaBocaÉUmTúmulo #BombaEmBreve

Rita Skeeter - via Twitter

 

O domingo de Ginny começou sem nenhuma pressa. Deixou a luz do sol bater em seu rosto enquanto ainda enrolava mais um pouco na cama. Sabia que logo a mãe viria chamá-la para tomar café da manhã, porém não se sentia inclinada a adiantar o processo.

Desde que começara no novo emprego como babá, sua rotina voltou a ser frenética da mesma forma que era no período em que trabalhara na empresa de telemarketing. Usava os momentos vagos das aulas para estudar e fazer os trabalhos que tinha para a faculdade, deixando o final de semana reservado para colocar em dia o que ficara faltando.

A única diferença era a de que agora realmente se sentia feliz com seu emprego. Rose era uma menina encantadora. Esperta, energética e falante, a garotinha não dava um segundo de trégua, mas isso deixava o trabalho ainda mais divertido. Rose não precisava de ajuda nenhuma nas lições, mas ela inventava perguntas e mais perguntas para que Ginny a acompanhasse.

Percebeu nos últimos tempos como Hermione era uma uma boa mãe para a menina, apertando a disciplina quando precisava e dando o carinho necessário e incondicional. Porém, notou também nas sutilezas o quanto Rose sentia falta da presença do pai que nem conhecia. Estava nos pequenos comentários da menina, coisas que Ginny pescava aos poucos e tentava trabalhar da melhor forma que sabia.

Ginny podia jurar que já ouvia os passos da mãe no corredor para acordá-la quando o som de seu celular vibrando acabou por distraí-la.

—Seria um milagre, Ronald Weasley acordado a uma hora dessas? - fazia um tempo que Ginny não via o irmão, já estava com saudade de provocá-lo.

—Você está ocupada hoje, Gin? - a voz austera do irmão acabou por preocupá-la, geralmente Ron era uma pessoa descontraída.

—Aconteceu alguma coisa?

—Tem como você vir aqui em casa? - a recusa dele em responder à pergunta foi toda a informação que Ginny precisava ter, em segundos já tinha pulado da cama.

—Estou indo, quer que leve alguma coisa? Comida? Remédio? Bebida?

—Não, só você - se Ginny fosse mais desesperada, ela estaria no meio de uma crise de nervos ao escutar a voz murcha do irmão, porém ela preferiu focar em chegar logo até ele.

—Em dez minutos eu saio, não faça nada sem mim!

Ginny tomou um banho recorde e saiu de casa sem dar muitas explicações à mãe de onde ia, disse apenas que estaria com o irmão, tentando passar a maior tranquilidade possível. Não era uma viagem longa de metrô da casa dos Weasley até onde Ron morava, porém a ruiva percorreu as duas quadras da estação até o prédio quase correndo. Ainda estava um pouco esbaforida quando abriu a porta, que se encontrava destrancada, sem cerimônias.

—Ron? - não tinha ninguém na sala e Ginny estranhou a falta da bola gigante de pelos que sempre cumprimentava os visitantes - cheguei.

—To aqui no quarto - a voz macia do irmão soou ao fundo.

Ginny largou a bolsa no sofá e foi se encontrar com Ron. A porta entreaberta escondia o rapaz afundado entre travesseiros e cobertas com Soneca enrolado aos seus pés.

—Ah, então é aí que você estava - Ginny acariciou o cachorro ao chegar perto da cama - tá doente, Ron?

—Não - ele chacoalhou a cabeça e indicou para que ela se juntasse a ele na cama, o que ela fez sem hesitar, embora ainda estivesse confusa com a situação. A expressão do irmão estava fechada, parecia aquela que ele usava para dar as notícias ruins no jornal.

—Me fala logo o que aconteceu, Ron, você está me deixando preocupada.

—Não estou mais noivo de ninguém - a ruiva notou como ele tentava desviar o olhar, mas mesmo assim ela conseguiu perceber o quão triste ele estava.

—Ah, Ron… - não tinha o que dizer naquele momento, ela apenas se aproximou, envolvendo o irmão em um abraço apertado - você quer me contar o que aconteceu?

—Querer eu não quero…

—Se quiser colocar pra fora, sou toda ouvidos - Ginny não poderia fazer nada mais do que apoiar o irmão.

—Eu fui promovido, me ofereceram a posição permanente de âncora no jornal.

Por um instante Ginny ficou confusa com a mudança de assunto, mas logo as peças se encaixaram.

—Ela não quis ficar, não é?

—Não… nem seria justo que eu pedisse isso a ela, não era o nosso combinado.

—Entendo… também não seria justo você desistir dessa oportunidade maravilhosa, aliás, parabéns, Ron!

—Obrigado. Eu sei que não tinha jeito de sairmos os dois contentes dessa história. Ela escolheu a vida dela e eu escolhi a minha…

—Não deixa de doer, né - ela passou a mão pelos cabelos do irmão segurando as pontadas no peito de vê-lo assim tão para baixo.

Ron sempre fora seu porto seguro, era estranho presenciar um momento em que ele era a pessoa que precisava de apoio.

—Dói pra caralho… a gente já tinha tudo planejado.

—Eu sei, Ron, mas agora é um capítulo novo da sua vida, vai saber o que aguarda? Pode ser ainda melhor.

—Não sei se algum dia vai ser melhor do que era com a gente.

—Você não está falando sério, não acredito que pense isso - Ginny torceu o nariz, entendia que o irmão estava desiludido com os acontecimentos, mas não o deixaria se afogar em autocomiseração.

—Vou pensar só por hoje, posso?

—Não, não pode! Sabe o que você precisa? - Ginny já tinha pulado da cama e começou a colocar o cérebro para funcionar, não permitiria que o irmão passasse o dia nessa fossa.

—Que você deixe de lado a ideia maluca que teve agora?

—Nada disso, precisamos comemorar!

—Comemorar o que? Que eu acabei de levar minha ex noiva para o aeroporto? Anos de relacionamento terminado…

—Claro que não, sem se fazer de desentendido, Ron. O final do seu noivado é uma droga mesmo, mas você foi promovido! Isso não pode passar em branco - a ruiva deu a volta na cama e tentava puxar o irmão pelos braços para fazê-lo levantar.

—Não to no clima, Gin.

—Eu sei. Eu até poderia te deixar nessa bad por hoje, mas te conheço, Roniquinho, não vai sair dela tão cedo sem um empurrão. Nós vamos comemorar, considere isso o empurrão.

Ginny desistiu de tentar levantar o irmão à força e foi para a próxima etapa de seu plano. Correu até a sala em busca de sua bolsa e voltou com o celular na mão.

—O que você vai fazer com isso? - Ron se empertigou no colchão, dando os primeiros indícios de que sairia da cama.

—Vou organizar a comemoração, ué - a ruiva deu de ombros, procurando o número que queria discar.

—Vamos comemorar só nós dois, já está bom… - a mudança de discurso começou a agradar Ginny, mas ela sabia que o irmão precisava tirar a cabeça do relacionamento que terminara, se fossem só os dois, ele não faria isso.

—Claro que não, seus amigos do jornal vão querer comemorar com você também.

—Amigos do jornal? Pera aí, pra quem você está ligando? - Ron deu um pulo da cama pronto para tirar o celular da mão da irmã, mas já era tarde demais.

—Oi, Mione, tudo bem? Espero não estar te atrapalhando…

A cara de horrorizado de Ron quase desconcentrou Ginny, mas ela tinha um plano em mente e sabia que o irmão não reclamaria agora, pois corria o risco de Hermione ouvir.

—Sabe o que é… não sei se você ficou sabendo, mas o Ron foi promovido - a ruiva continuou.

—Ah, sim, fiquei sabendo - a voz de Hermione respondeu do outro lado da linha - então ele já decidiu ficar?

—Pelo que estou vendo aqui, está tudo decidido. Mas então… estou tentando convencer o rabugento a comemorar a notícia, só que ele está meio pra baixo hoje.

—Como ele pode estar triste com uma promoção? - Ginny quase podia ver o rosto de Hermione com as sobrancelhas frisadas.

—Exatamente o que eu falei pra ele.

—Quem é que tá triste, mãe? - a voz de Rose se misturou à conversa.

—O tio Ron - Gin escutou Hermione se afastar do telefone para responder à filha.

Foi aí que Ginny teve a brilhante ideia que transformaria aquele plano em infalível: adicionar a Rose na mistura.

—Coloca a chamada em viva voz, Mione - a chamada ficou muda por alguns instantes.

—Oi, tia Gin! - Rose cumprimentou.

—Oi, Rose, vou precisar da sua ajuda também.

—Eu ajudo! - a menina era energética para tudo.

—O meu irmão ganhou umas boas notícias no trabalho e acho que temos que comemorar, mas ele está desanimado hoje… como a gente pode convencer ele? - a ruiva deu uma olhada rápida para Ron que ainda estava de pé ao lado dela, passando as mãos pelo rosto em puro desconcerto.

—Ele não pode ficar triste se tem que comemorar, já sei! Mãe, faz aquele seu bolo, ninguém fica triste depois de um pedaço do seu bolo - a menina parecia tão empolgada, Ginny sabia que acertara ao promover um encontro com aquele poço de agitação.

—E o que tem nesse bolo?

—Nada demais, Ginny - Hermione parecia sem graça, mas Rose não percebeu nem um pouco.

—Claro que tem! É de chocolate, com recheio de chocolate e cobertura de chocolate, o melhor do mundo! Não tem como ele continuar triste.

—Sem exageros, pequena - admoestou, Hermione.

—Mas você faz, não faz, mãe?

—Eu… faço, claro, mas temos que sair para comprar as coisas.

—Acho que ele vai gostar - Ginny já tinha um sorriso de orelha a orelha.

—Que horas eles podem vir, mãe?

—Hum… que tal ser um lanche da tarde? Assim o bolo fica pronto com calma.

—Parece ótimo. Já que você vai ter todo esse trabalho, eu me encarrego do resto das comidinhas.

—Eu posso chamar o padrinho, mãe? É o bolo favorito dele.

Não estava nos planos de Ginny encontrar Harry Potter aquele dia. Talvez o plano estivesse começando a sair do controle, mas não existia nenhum motivo sensato para impedir a menina de ver o padrinho, além do fato dele ser amigo de Ron também.

—Pode, pequena, ele vai gostar de comemorar. Que tal as 17h, Ginny?

—Combinado! Nos vemos mais tarde então! - no momento que Ginny finalizou a ligação, Ron voltou à vida.

—O que você tem na cabeça, Ginevra?

—Ah, não começa, Ron, você vai se divertir e ainda vai comer o tal bolo de chocolate delicioso da Hermione.

—Bolo da Hermione? O que? - Ginny não sabia se ria da confusão do irmão, ou se dava um tapa nele para que parasse de frescura.

—A Rose disse que você não vai conseguir ficar triste depois de comer o bolo de chocolate que a mãe dela faz, então está incluso na comemoração.

—Você não entendeu que eu não quero comemorar nada? Ainda mais com a Hermione, por Deus… - ele correu os dedos pelos cabelos, deixando um suspiro sair pelos lábios.

—Ela é sua colega de trabalho, que mal tem? Vão trabalhar juntos por muito tempo ainda.

—Você não entende ou está se fazendo de besta, Ginny? Eu não quero ter que explicar pra ninguém que eu e a Lilá terminamos, principalmente… - ele se interrompeu e foi ao banheiro jogar uma água no rosto.

A irmã, no entanto, o seguiu.

—Principalmente pra Hermione? Posso saber por quê?

—Não enche o saco, Gin, por favor - ele escondeu o rosto por detrás da toalha, mas a irmã viu o tom de carmim que ele se encontrava.

—Só me parece estranho…

—Ginny, a internet já enche a nossa paciência sem saber que eu agora sou tão solteiro quanto ela! Imagina o inferno que vai ser.

—Hum… tá - por algum motivo, a ruiva achava que tinha mais naquela história, mas não forçaria a barra. Já estava suficiente fazer o irmão sair de casa - mas ela não precisa saber dessa parte - é só você não contar.

—Ah, claro. E como eu explico o fato da minha noiva não estar na comemoração?

—Se alguém perguntar, diz que ela não tá em Londres no momento, não deixa de ser verdade. Eles nem conhecem a Lilá, vai dar tudo certo.

—Eles?

—A Rose pediu pra chamar o padrinho - Ginny deu de ombros, como se não lembrasse o quão bonitos eram os olhos verdes do padrinho mencionado.

—Claro que pediu… - Ron deixou um riso escapar, o que já trouxe um certo alívio à Ginny - eu devia arrancar a sua cabeça, pirralha!

—Você não ia fazer isso porque me ama muito que eu sei - Ginny abusou da sorte e ficou na ponta dos pés para dar um beijo rápido na bochecha do irmão.

—Sorte a sua - ele torceu o nariz, mas aceitou de bom grado o carinho da irmã - o que temos que levar então? Não vamos ser cara de pau de pedir um bolo e chegar só com nossa presença.

—Jamais! A mãe nos mataria! - os dois acabaram rindo da possibilidade nula de ver a Sra Weasley fazendo uma visita sem levar comida - vai logo se arrumar, eu vou te levar pra almoçar e aí na volta a gente compra alguma coisa. Temos até as 17h.

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Hermione encerrou a ligação com Ginny ainda sem entender como seus planos de domingo tinham ido de ver pela centésima vez algum filme da Disney com a filha para fazer um bolo de chocolate para animar Ron Weasley. Nem se tivesse tentado imaginar a opção mais fantasiosa, nada chegaria perto do que a realidade se tornara.

—Vamos logo comprar as coisas pro bolo, mãe - Rose tirou Hermione de seus devaneios.

—Você não quer ver primeiro se seu padrinho vai poder vir? 

—Sim! Ele podia vir almoçar com a gente, né? Faz um tempão que eu não vejo ele - Rose fez um biquinho dramático como só ela sabia.

—Não seja exagerada - Hermione gargalhou, enquanto buscava o número de Harry no celular - Oi, Harry.

—Oi, Mione - Harry atendeu com sua simpatia costumeira.

—Deixa eu falar, mãe! - Rose ficou na ponta dos pés, fazendo menção de pegar o celular, mas a mãe a impediu.

—Espera, pequena, daqui a pouco eu te passo o telefone.

—O que a minha formiguinha quer comigo? 

—Puxar o saco do padrinho, como sempre - ela escutou a risada de Harry e se apressou para sair da sala e falar com o amigo num ambiente onde Rose não escutaria.

—E o que a mãe da minha afilhada quer comigo? - Harry não era bobo, sabia que uma ligação de Hermione perto a hora do almoço de um domingo ou era um convite ou era uma crise de algum tipo.

—Bom, a Rose me colocou numa enrascada e eu vou precisar de você para me ajudar a passar por isso, então só diga sim.

—Enrascada? O que uma inocente criança de 6 anos poderia fazer? - Hermione quase riu do tom debochado do amigo, os dois sabiam muito bem que Rose conseguia criar as situações mais improváveis quando queria.

—A Ginny ligou aqui em casa agora há pouco…

—A irmã do Ron? - Harry interrompeu a amiga.

—Isso, aquela que você conheceu.

—Ah sim… - a voz de Harry soou um pouco vaga, mas Hermione não tinha tempo para pensar no que isso significava.

—Pois então… ela disse que queria comemorar a promoção do irmão que, aparentemente, decidiu aceitar a posição no jornal.

—Mas que boa notícia! - Harry estava empolgado com a novidade.

—Hum… - Hermione ainda não tivera tempo de digerir se aquilo era uma boa notícia ou não para ela.

—Não achamos uma boa notícia?

—Não sei, Harry! Mas isso não vem ao caso agora.

—Não? Você me pareceu bem incomodada…

—Harry, foco no problema! A Ginny quer comemorar, mas disse que o irmão está meio pra baixo, não sei o que ela esperava de mim ao me ligar, mas a Rose ouviu e por fim eu tenho que fazer um bolo de chocolate e vamos ter um lanche de comemoração aqui em casa mais tarde.

—O seu bolo maravilhoso de chocolate?

—Sim.

—Estou me convidando, mesmo que essa não seja sua intenção! - embora a situação não fosse das melhores, Mione teve que rir da empolgação do amigo.

—Claro que você está convidado! Inclusive para o almoço, podemos ir naquele restaurante aí perto, depois passamos no mercado e você fica aqui distraindo a sua afilhada.

—Adorei o plano, mas me diz… como alguém fica pra baixo ao conseguir um emprego desses?

—Eu perguntei a mesma coisa. Ainda não entendi nada dessa história, Harry… não é como se eu e o Ron fôssemos amigos, não sei porque a Ginny inventou essa comemoração achando que ia ajudá-lo.

—Bom, vocês passam mais tempo junto do que com praticamente qualquer outra pessoa, já parou pra pensar nisso? 

—Eu… - claro que Hermione não tinha parado para pensar no assunto, na verdade, ela costumava não parar para pensar em situações que tivessem muito relacionadas à Ronald Weasley.

Ela tinha que dar o braço a torcer para o fato de que, ultimamente, o ruivo passara a ser menos implicante do que o normal. Talvez fosse apenas o fato de estar se acostumando novamente à presença dele, mas já não tinha vontade de ir na direção contrária quando ele aparecia. Fora isso, Hermione não podia negar que Ron se tornara um profissional competente, as edições do jornal estavam cada vez mais populares e bem feitas, era impossível que ela desse o crédito apenas a si.

No entanto, era estranho para Hermione lidar com essa noção de que as pessoas entendiam os dois como amigos. Passavam sim tempo juntos diariamente, mas isso significava alguma coisa? Tudo bem que fora Ron que a ajudara quando precisou de alguém para ficar com Rose, isso queria dizer que eram amigos? Não sabia como o ruivo a via, mas talvez ela pudesse dar uma chance a um tipo ameno de amizade. Não estava nem um pouco disposta a contar segredos de sua vida para Ronald Weasley, mas quem sabe pudesse ser uma amiga que faz um bolo para animar o outro. Não tinha nada de perigoso em ser amiga dele... 

—Não custa nada a gente se juntar e comemorar com o Ron, o cara passou tanto tempo fora, somos o mais próximo de amigos que ele tem por aqui - Harry continuou.

—Tudo bem, vamos comemorar e pronto! Daqui a uma hora estamos aí, vou passar rapidinho pra Rose, até daqui a pouco, Harry.

O almoço foi divertido como sempre era quando os três saíam juntos. Não era raro que as pessoas achassem que Harry era o pai de Rose e ela agradecia mentalmente ao amigo toda vez que ele não desmentia para dizer que o pai de Rose era outro. Assim como ela, ele não gostava de fazer Rose pensar que existia por aí um  homem que não a queria como filha. Ambos detestavam o olhar chateado da menina toda vez que alguém chamava Harry de seu pai, porém, nem ela fazia a correção, só sorria amarelo e continuava em frente.

—Rose, ajuda seu padrinho a ir tirando as coisas das sacolas que eu vou buscar o livro de receitas - Hermione assumiu seu modo organizadora assim que chegaram com as compras em casa, ela tinha um bolo “maravilhoso” para fazer.

Entre risos, farinha espalhada pelo chão e chocolate sujando o rosto de todos, o bolo de chocolate ficou pronto já passando das 16:30.

—Está lindo, mãe! - Rose admirava a criação chocolática com água na boca.

—Mal posso esperar para experimentar - Harry fez menção de passar o dedo pela cobertura e ganhou um tapa de Hermione.

—Você já comeu bastante disso aí, controle-se.

—Sua mãe é uma estraga prazeres - Harry cochichou para a afilhada.

—A Ginny e o Ron vão chegar daqui a pouco e olha essa bagunça! - Hermione olhou em volta da cozinha, horrorizada com a pia atulhada de coisas - e você, mocinha, já pro banho! Deve ter chocolate até nos seus cabelos.

—Mas e se eles chegarem, mãe?

—Não importa, primeiro o banho - Rose ainda resmungou mais um pouco, porém acabou sendo convencida.

—Vai lá se arrumar também, Mione, eu dou um jeito na cozinha - Harry puxou o pano que estava na mão da amiga, direcionando-a para a porta.

—Já falei que te amo hoje? - ela brincou, fazendo-o rir.

—Nada como alguém para limpar uma pia.

—Ainda bem que você continua apresentável - Hermione espiou o amigo de cima a baixo.

—Estou sempre apresentável - Harry deu de ombros e se virou para sua missão.

As meninas ainda estavam no banho e Harry tinha os últimos utensílios para lavar quando escutou a campainha que anunciava a chegada dos Weasley. Sabia que Mione ficaria mortificada por não estar ali para receber os convidados, porém não podia deixar os dois esperando na porta. Secou as mãos no pano de prato de foi atender.

—Ah, oi, Harry - Ginny vinha na frente com as mãos cheias de sacolas, enquanto o irmão pagava o taxi e trazia o resto.

—Oi, Ginny - ele não se interrompeu de observar que a moça continuava tão bonita quanto da primeira vez que a viu - deixa eu te ajudar com isso.

Ele pegou algumas das sacolas que pesavam nas mãos de Ginny e esperou que Ron chegasse para convidá-los a entrar.

—O bolo atrasou um pouco e a Mione e a Rose ainda estão terminado de se arrumar, mas fiquem a vontade, podemos deixar as coisas aqui na mesa da sala, vou só terminar de dar um jeito na louça - Harry indicou a cozinha.

—Precisa de ajuda? - Ginny perguntou o que fez Harry morrer de vontade de dizer sim, mas decidiu ir com a verdade.

—Não, estou quase acabando.

—Que isso, quatro mãos são melhores que duas - ela nem esperou pela resposta e foi em direção à cozinha.

—Vou desembalando as coisas aqui então - Ron respondeu, se colocando a arrumar a mesa com as comidas e bebidas que trouxeram..

—Ótimo, já volto, Ron - Harry se seguiu na mesma direção que a ruiva e a encontrou com a esponja em mãos, terminando o que faltava.

—Acho que você conhece o lugar melhor que eu, vai guardando que eu termino de lavar - ela indicou a pilha de louça limpa.

—Ainda não deu tempo de se familiarizar com tudo? - Harry sabia que não tinha muitas semanas que Ginny começara a trabalhar, mas quisera achar algum assunto para puxar conversa, sem nem saber exatamente o porquê.

—É difícil eu vir fazer muita coisa na cozinha, não sou das melhores cozinheiras - ela deu de ombros - agora, do quarto da Rose estou totalmente entendida, ela sabe guardar as coisas nos lugares mais escondidos - a ruiva riu e Harry não pode deixar de admitir que ela tinha uma risada muito gostosa de ouvir.

—Imaginação não falta naquela criança.

—Sim.. Aliás, eu não devolvi sua chave ainda, me desculpe!

Harry se lembrou do momento em que deu seu número para a ruiva que, claramente, não estava interessada e quis se enterrar.

—Não se preocupe.

—A Mione já me deu uma cópia há séculos, mas eu sempre esqueço de trazer.

—Eu posso ir buscar se você quiser - o que tinha sido aquilo? Harry quis se dar um chute, parecia que seu cérebro dava curto circuito com Ginny do lado.

—Magina, não vou te dar esse trabalho.

—Não é trabalho nenhum - Harry decidiu que se já tinha começado a merda, qual era o problema de continuar?

—Depois combinamos isso então - ela desconversou e voltou à louça.

Trabalharam em silêncio até escutar passos ligeiros entrando na cozinha.

—Tia Ginny! - Rose se agarrou à cintura da ruiva sem nenhuma cerimônia.

—Tudo isso é saudade de mim? - a ruiva brincou, se abaixando para aceitar o beijo de boas vindas da menina.

—A gente não se vê tem um tempão… - Rose parou para pensar um pouco no assunto - desde dois dias!

—Realmente muito tempo - Ginny brincou - e a sua mãe?

—Ela disse pra eu ser educada de dar oi pra você e pro tio Rin que ela já descia.

—Sua mãe está se arrumando para um casamento, por acaso, formiguinha?

—Não, mas ela disse que teve que lavar os cabelos porque achou chocolate neles - Rose riu e os adultos se juntaram a ela.

Ron tinha conseguido tirar quase todos os itens das sacolas no momento em que Rose apareceu pelas escadas em passos rápidos. Ele riu com a animação que a menina demonstrou ao vê-lo e quase se culpou por ter esquecido momentaneamente que estava triste. Assim que ela passou para a cozinha, ele voltou a atenção para dobrar os sacos de plástico e deixar tudo em ordem, não estava em seus planos ser a pessoa que iria quebrar a ordem meticulosa da casa de Hermione Granger.

No meio de uma dobra  e outra, ele escutou novos passos se aproximando e levantou os olhos para ver a dona da casa cruzando a sala no conjunto de roupas mais informal que a vira usando em muitos e muitos anos. A blusa lisa de cor clara combinava bem com a saia que ajustava sua cintura e descia esvoaçante pelas pernas.

—Desculpa o atraso, Ron - Hermione parou a alguns passos dele e o ruivo percebeu que estava encarando demais.

—A gente chegou meio cedo também… - mesmo tentando desviar a atenção, tinha alguma coisa de diferente nela que ele não estava conseguindo disfarçar.

—O que foi? Tem alguma coisa na minha roupa? - ela olhou em volta do tecido que cobriam seus braços.

—Não! É só… - foi aí que ele percebeu do que se tratava - é o seu cabelo! Tinha esquecido que era cacheado assim.

As madeixas molhadas tinham o formato natural que ele lembrava de ver na faculdade. A memória havia ficado pra trás com a nova imagem de jornalista que surgiu.

—Ah, sim… tenho que fazer escova todo dia pra ficar liso do jeito que você vê hoje em dia - ela explicou e ele percebeu que não era algo que a agradasse por completo.

—Por que não deixa assim? Fica bem bonito - o que raios ele estava fazendo? Era um momento menos do que apropriado para ele estar elogiando outras mulheres, seu relacionamento havia acabado horas antes.

—Hum… obrigada

Os dois ficaram sem saber muito bem como continuar aquela interação, porém foram salvos pela comitiva que chegou da cozinha, encabeçada por Rose que estava mais do que interessada em saber do bolo.

—Tá vendo, padrinho, minha mãe já tá aqui com o tio Ron! - ela foi até o lado de Hermione, para quem lançou sua melhor cara pidona - Já podemos comer o bolo?

—Ainda não pequena, primeiro o lanche, depois a sobremesa.

—Poxa - a menina esboçou um bico que quase fez Ron ir lá buscar o bolo para ela, mas não queria arriscar a ira da mãe, ainda mais quando andavam se dando… bem? Sim, ele diria que andavam até se dando bem nesses últimos tempos, prova de que o mundo podia mudar mesmo.

—Vamos ver o que eu e o tio Ron trouxemos - Ginny puxou Rose pela mão, já estava expert em distrair a menina - tenho certeza que você gosta de alguma coisa.

Os cinco sentaram na sala de jantar começaram a se entupir com as tortas e sanduíches que os Weasley haviam trazido. 

—Ah, compramos um vinho, Mione, lembra? Vou buscar - Harry, afastou a cadeira e sumiu em direção a cozinha de onde voltou trazendo uma garrafa de vinho tinto - quem quer?

Os adultos todos sinalizaram que sim e ele começou a servir.

—Nem peguei as taças, me perdoem a falta de classe - Hermione riu, ligeiramente envergonhada.

—Que isso, Mione, somos de casa e o gosto é o mesmo no copo - Ginny pegou seu copo da mão de Harry e talvez fosse maluquice da cabeça do rapaz, mas ele podia jurar que os olhos dela se prenderam aos dele por alguns instantes.

—Dá próxima vez você mostra sua coleção de taças pra gente, Mini - Ron devia estar com as ideias um pouco abaladas mesmo, quem ali tinha combinado algum tipo de próximo encontro?

—Da próxima vez eu posso experimentar esse vinho? Vocês nem deixaram pra mim - Rose reclamou com toda a imponência que sua idade permitia.

—Essa aqui é bebida de adulto, pequena - a mãe explicou - e você nem ia gostar.

—Mas olha, tem uma uva na garrafa, igual ao suco que eu levo pra escola, então eu posso tomar - a conclusão parecia óbvia em sua mente.

—Sabe o que é, Rose? Esse aqui tem uns negócios dentro que faz mal pra criança, você não quer passar mal, quer? - Ron estava sentando de frente para Rose, ela tinha toda a atenção nele enquanto falava.

—Eu não! - ela arregalou os olhos, deixando de lado a ideia, mas algo claramente ainda a incomodava - mas não faz mal pra adulto também?

—Não, porque nós somos bem maiores, não acontece nada com a gente - ele explicou.

—Dependendo da quantidade… - Hermione deixou escapar entre os dentes, mas da ponta da mesa onde estava sentada, logo ao lado de Ron, o ruivo pode escutar.

Ele quase perguntou se ela se referia a algo em específico, mas se lembrou da última vez que tinha visto Hermione Granger tomar mais álcool do que devia e decidiu que ficar de boca fechada era a melhor escolha. Não precisava vir a tona o tanto de bebida que ele próprio tinha tomado na mesma ocasião.

Rose acabou por se distrair com outra coisa e voltaram a comer até a hora mais aguardada de todos em que Hermione foi buscar o famoso bolo.

Ron observou enquanto ela cortava pedaços simétricos e aguardou com água na boca até que um pratinho com o doce chegasse em suas mãos.

—Eu posso colocar um filme pra gente ver comendo o bolo, mãe? - Rose pediu como se fosse o sonho de todos ali.

—Pequena, não é todo mundo que gosta de ver filmes… - Hermione tentou enrolar a filha para não ter que abusar da paciência dos convidados, mas ela não era o tipo de menina que desistia fácil.

—Mas eu ia colocar Zootopia, mãe, todo mundo gosta de animais, né? - ela olhou com expectativa de rosto em rosto.

—Claro que gostamos - todos responderam em uníssono.

—Tá vendo - Rose rebateu como quem sabia das coisas.

—Vamos, eu te ajudo a colocar - Ginny se levantou com o prato de bolo na mão e uma Rose pulando atrás.

—Precisa que busque o DVD? - Harry indagou, se juntando às duas.

—Esse tem na Netflix, padrinho - ela abanou a mão, mostrando que o padrinho estava totalmente por fora das informações.

—Bom, então vai ser Zootopia, espero que você não tenha mentido sobre gostar de animais - Hermione olhou sem graça para Ron, mas ele estava achando aquilo tudo muito mais aconchegante do que esperara. Não parou mais para pensar o porquê de estar ali, estava contente de ter uma menina espevitada para distrair sua cabeça.

—Se a Rose gosta deve ser legal, acho que vou descobrir, aliás ela tava certa, é mesmo melhor bolo - ele indicou o prato já quase vazio.

—Ela é uma exagerada, mas que bom que gostou.

—Está ótimo de verdade.

—Eu não sei porque você estava desanimado… - Hermione começou - mas espero que a gente possa ter um longo período de trabalho próspero pela frente.

O ruivo notou que ela parecia não querer encará-lo e tomou isso como a dificuldade histórica que a morena tinha de elogiá-lo, porém  levaria aquilo como uma pequena vitória.

—Vocês não vão vir? Já vai começar! - Rose estava sentada no chão de frente pra televisão. Ginny ocupava uma das poltronas enquanto Harry tinha se acomodado na que ficava logo ao lado, restando apenas o sofá para que Ron e Hermione não tivessem outra opção que não fosse sentar lado a lado, fato que não passou despercebido por nenhum dos presentes com mais de 6 anos.

A distância que separava Hermione de Ron era ainda menor do que a que compartilhavam na bancada do jornal. De alguma forma, aquela situação toda começou a incomodá-la. Tudo bem que tinha se disposto a ser um tipo de “amiga” para ele, porém, a cena que presenciava naquele momento, parecia mais a de uma família. Não tinha vontade nenhuma de continuar com aquilo.

—Acho que eu vou dar um jeito nos pratos enquanto… - ela começou a arrumar uma desculpa.

—Já vai começar, mãe, fica com a gente - Rose a olhou de baixo, o azul brilhante naquele rostinho que ela amava tanto, ela não tinha como ir embora.

Estava ali numa configuração toda errada de família feliz e não tinha uma saída à vista.


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Notas finais do capítulo

Só consigo classificar essa capítulo como fofura total! Quem aí acha que está se formando os contornos de uma futura família feliz? Quem dera fosse assim tão fácil... mas é Romione, então nunca é hauha
Do lado Hinny da coisa, indícios e indícios... o que o futuro aguarda?
Espero vocês nos comentários
Até o próximo capítulo
Bjus