Spotlight escrita por Fe Damin


Capítulo 7
Capítulo 07


Notas iniciais do capítulo

Antes de mais nada eu quero agradecer a recomendação mais do que maravilhosa que S recebeu da linda Cella! Miga, vc sabe que sem vc, essa história não estaria aqui, obrigada! Esse capítulo é dedicado à sua pessoa S2

Agora vamos ao capítulo de hoje! Espero que gostem... os fãs Hinny de plantão, o começo é pra vocês!



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Já me acostumei demais a ver esses dois dando as notícias na tela da minha tv. Amamos nosso querido Dumbledore, mas como fica o coração quando as coisas voltarem ao que eram? #DilemaTotal #Romione4ever

Rita Skeeter - via Twitter

 

O dia de Harry havia começado no mesmo itinerário repetido de sempre. Acordara com o sol batendo em seu rosto, passando pela janela do apartamento que ficava no último andar do prédio, preparou um café rápido e saiu para sua corrida matinal. 

Quando decidiu sair da casa dos pais e de todo o conforto certo e fácil que aquela vida trazia, ele sabia apenas uma coisa: queria morar perto de um de seus parques favoritos. Quando era pequeno, os Potters faziam piqueniques sempre que podiam. Nos gramados londrinos estavam várias das melhores memórias de Harry. Conforme o tempo foi passando, seus pais se tornaram mais ocupados para continuar com o hábito, porém o garoto gostava de correr sentindo o frescor do local e entrando em contato com a natureza. Era uma pequena forma de manter viva aquelas lembranças.

Harry sabia que tivera uma vida extremamente privilegiada, pois, não só tinha tudo o que o dinheiro podia comprar de melhor, como possuía também pais que o amavam e que lhe deram suporte e carinho em toda sua trajetória. Ele tinha consciência de que entristecera a mãe ao resolver se distanciar um pouco, mas ao mesmo tempo, a necessidade de construir algo por si não sumia.

Essa havia sido a razão de ter insistido em começar do zero na empresa que ele sabia que um dia seria sua. Nunca se equivaleria à vida de alguém que veio realmente do nada, mas era o melhor que ele podia fazer. Adorava como a maioria das pessoas ali não fazia ideia de quem ele era. Seu sobrenome era famoso, porém não era distinto o suficiente para que o associassem imediatamente aos donos da emissora. E assim foi vivendo, subindo de cargo com seu próprio esforço, cuidando sozinho de sua casa e comprando tudo com seu próprio dinheiro.

Uma das únicas exceções era o apartamento que morava há menos de um ano. Quando fora promovido à produtor do jornal de horário nobre, os pais insistiram em querer presenteá-lo e a mãe foi tão veemente que ele não conseguiu dizer não. Ninguém era páreo para dona Lily quando ela se decidia. Sempre que tinha tempo, passava os finais de semana na mansão Potter, que ficava num dos bairros mais antigos da cidade, porém, os pais gostavam de visitá-lo também. Mesmo não morando mais juntos, nunca deixariam de se ver.

Entretanto, ainda que sentisse que tinha a vida perfeitamente do jeito que queria, Harry não conseguia deixar de achar que estava num tipo de piloto automático. Acordava, trabalhava, voltava pra casa, dormia e repetia tudo de novo no dia seguinte. Nunca sentira necessidade de nada diferente, porém, se deu conta de que as únicas quebras na sua rotina eram ligações inesperadas da melhor amiga para visitas ao zoológico, idas ao cinema ou a uma pizzaria. Por sorte tinha sua formiguinha para tirá-lo da completa inércia, Rose sempre preenchia qualquer ambiente e Harry era agradecido demais por Hermione tê-lo convidado para fazer parte da vida da menina.

Que curioso o fato de ter sido justamente através da pequena espevitada que o dia habitual de Harry se transformou em algo um pouco mais interessante. Não mentiria a si mesmo dizendo que seus olhos não notaram imediatamente o quão bonita era a ruiva que estava na sala de Ron. O que realmente lhe chamou atenção, no entanto, foi o modo como ela se apresentou, toda descontraída e segura. A atitude tocou nos botões certos de seu interesse e ele se viu oferecendo uma carona que ele nem tinha tempo para dar.

O jeito era terminar o mais rápido possível já que a merda estava feita.

—Pegamos tudo, formiguinha? - ele olhava em volta para se certificar que não haviam deixado nada dos pertences de Rose no escritório da sua amiga.

—Sim!

—Então vamos, por aqui, Srta Weasley - ele indicou o lado certo do corredor, já que aquilo parecia um labirinto até para quem trabalhava lá, quem diria então para as pessoas que estavam apenas de visita.

—Pode me chamar só de Ginny - a ruiva chacoalhou as mãos e ele gostou de saber que ela não era dada a protocolos.

—Tudo bem então, Ginny - Harry sorriu saboreando o nome e podia jurar que tinha ganhado um sorriso de volta, mas Rose foi rápida em chamar a atenção.

—Você pode chamar ele de Harry, tia Ginny, mas eu chamo de padrinho - a menina andava de mãos dadas com Ginny, levantando os olhos para enxergar os adultos.

—Nem fomos propriamente apresentados…

—Ah, sim! Desculpe, Harry Potter, trabalho na produção do jornal - segurou a mochila de Rose com uma mão só para estender a outra e cumprimentar a moça.

—Então você atura o meu irmão todo dia - ela zombou ao apertar a mão dele com uma assertividade que chamou sua atenção.

Ginny Weasley não era uma pessoa tímida.

—O Ron é um cara legal - Harry deu de ombros, realmente tinha gostado do novo integrante de sua equipe.

—Se você não for a irmã mais nova dele, acredito que sim - a ruiva torceu o nariz e ele acabou rindo de novo.

—Ou a Mione… - ele se aproximou um pouco para que seu tom conspiratório não pudesse ser ouvido pela pequena que os acompanhava - fiquei sabendo que os dois não se davam muito bem.

—Você não imagina o quanto! - Ginny assentiu, sem fazer também muito alarde do assunto, era o tipo de coisa que Rose não precisava saber, porém os adultos adoravam discutir - passei anos escutando reclamações, achei impressionante ver os dois juntos na tv e ainda mais ao vivo.

—Bom, as pessoas mudam, eu nunca imaginei que a Mione pudesse implicar com alguém assim - a amiga que Harry conhecia era muito mais tranquila e ponderada do que o que parecia haver em seu passado.

—Com quem a minha mãe implica, padrinho? - Rose o encarava com os olhos curiosos.

—Com ninguém, formiguinha, sua mãe tem muitos amigos legais aqui no trabalho - ele desconversou e agradeceu ao fato de entrarem no elevador o que distraiu Rose até entrarem no carro e ela pedir para escutar as músicas das princesas no rádio.

—Vocês se conhecem há muito tempo? Você e Hermione, quero dizer - Ginny já estava acomodada no banco da frente ao lado de Harry que prometeu a si mesmo que olharia apenas na direção da rua onde dirigia, seus olhos não precisavam passear até a passageira.

—Desde que eu ainda tava na barriga da mamãe né, padrinho! - a cabeça de Rose surgiu entre os assentos da frente. 

—Isso mesmo. Senta direito no banco, Rose, não pode ficar aqui pra frente, se eu tiver que frear, você pode se machucar - ele olhou pelo retrovisor e viu que a menina acatou o pedido com um bico.

—Entramos juntos na empresa, a Mione sempre foi minha fiel escudeira, ela é uma amiga maravilhosa - Harry voltou ao assunto para complementar a pergunta de Ginny.

—Ah, sim…

O trânsito tranquilo do horário ajudou o trajeto a passar relativamente rápido. Harry estacionou em frente à casa da amiga e Rose não perdeu tempo em pular do carro.

—Chegamos, tia Ginny! Eu quero te mostrar meu quarto! - a menina já estava correndo em direção à porta, animação a mil.

—Rose, eu esqueci de pegar a chave com a sua mãe! - Ginny se apressou a seguir a menina, claramente preocupada.

—Não tem problema, eu tenho uma comigo - Harry passou por entre as duas e abriu a porta - pode ficar com essa por enquanto - ele pegou o chaveiro que tinha nas mãos e entregou para Ginny.

—Eu te devolvo o mais rápido possível.

—Não se preocupe, se precisar eu busco.

Eles entraram na casa e Harry comentou rapidamente onde ficava cada cômodo.

—Pronto, já estão entregues - ele disse por fim, sabia que precisava voltar ao trabalho.

—Espera só um minuto, deixa eu ver meu quarto - Rose disse a Ginny, correndo escada a cima - não sobeeeee!

—Nem me deu tchau - Harry riu da afilhada toda apressada.

—Ela é um tanto elétrica, né?

—Essa bateria não acaba, mas, de verdade, ela é a criança mais adorável do mundo - Harry era filho único e não tinha primos de sua idade, nem mais novos, Rose era a única criança de sua vida.

—Isso está me soando mais como um padrinho babão - Ginny zombou.

—Talvez… mas você vai ver que é verdade, mesmo quando ela insistir para ver qualquer filme da Disney pela milésima vez - ele passou a mão pelos cabelos desarrumados, lembrando de cada época diferente em que assistiam sempre o mesmo filme.

—Você assiste com ela? - Ginny parecia surpresa com a ação de Harry, mas para ele era o mais normal possível.

—Não dá pra ignorar um pedido daquela carinha - ele deu de ombros.

—E… hum… o pai dela? A Hermione não mencionou.

Harry percebeu o tato de Ginny ao perguntar, inclusive no tom de voz mais baixo, mesmo Rose estando no andar de cima.

—É que não tem o que dizer mesmo, o babaca nunca quis saber da Rose, mas ela está melhor sem ele - ele não conseguia se manter impassível toda vez que pensava no lixo de ser humano que tivera a coragem de deixar Rose para trás. Esperava sinceramente nunca cruzar o caminho dele.

—Entendo, vou tomar cuidado para contornar isso, desculpa pela intromissão, só acho importante eu saber algumas coisas.

—Claro, claro. Já vou indo então… Espero que dê tudo certo por aqui.

—Tudo bem.

Harry não sabia exatamente como se despedir da ruiva, então decidiu por simplesmente se dirigir a porta, porém seu cérebro não devia estar funcionando muito direito, pois tinha a mão na maçaneta quando decidiu retomar o diálogo.

—Sabe, pode ser que a Mione não tenha como atender o telefone, não quer anotar o meu em caso de alguma emergência? - ele se virou novamente para olhar Ginny que havia se sentado confortavelmente no sofá.

—Ah, sim, obrigada - ela puxou o celular e ele se aproximou novamente para ditar o número.

—Qualquer coisa, pode ligar ou mandar uma mensagem…

—Pode deixar - ela respondeu com um sorriso que, por pouco, não fez Harry ficar encarando-a.

—Meu quarto tá prontinhooo - Rose desceu as escadas na mesma rapidez que subiu.

—Eu já vou, formiguinha.

—Tá bom, tchau padrinho - ele se inclinou para dar um beijo nela e lhe bagunçar os cabelos.

—Tchau, se comporte - ele usou da cara mais responsável que tinha.

—Não vai se despedir da tia Ginny? - os dois adultos ficaram sem graça frente às palavras inocentes da menina.

Mas se era importante para Rose, quem era ele para contrariar?

—Tchau, Ginny, foi um prazer conhecê-la - ele se inclinou em direção ao sofá para dar um beijo na bochecha da ruiva e tratou de sair o mais rápido dali, apenas o cheiro de flores que sentiu o acompanhou até o carro.

Harry ficou alguns instantes sentado olhando para o volante e tentando entender todas as suas reações estúpidas. Que idiotice fora aquela? Deixar o número com uma desculpa tão esfarrapada… parecia um adolescente boboca olhando pra menina mais popular do colégio. Mas ela não entraria em contato, é claro, e a situação terminaria ali. Ginny era simpática, divertida, inteligente, bonita, mas também não era nada que ele devesse ficar pensando sobre. Tiveram garotas com as mesmas qualidades antes em sua vida e nunca terminara bem. Ele sempre fora um Potter antes de ser o Harry, cansava tentar de novo e ele não estava mais disposto.

 

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O jornal tinha passado por uma pequena atualização e, por mais que Hermione não fosse a maior fã de Ron e vice-versa, os dois estavam conseguindo lidar relativamente bem com as mudanças. Havia mais interação informal entre os apresentadores, além de que agora eles saíam da mesa e utilizavam mais o espaço do cenário. 

A internet não deixou de lado a predileção que tinham em relação aos dois, mas os dias sem maiores eventos acabaram por amainar a ferocidade dos seguidores mais fervorosos. Ron ficava feliz com isso, por não ter que encontrar a noiva chateada com mais algum meme idiota que viralizou. No entanto, ele sabia também que Lilá já estava em alerta quanto ao tempo que essa licença duraria.

Ele voltara à Londres, sabendo que seu período como âncora da emissora seria curto. Queria aproveitar a experiência que isso colocaria em seu currículo. Porém, os diretores ainda não tinham tocado no assunto de até quando ficaria e, para falar a verdade, Ron não estava ansioso para saber. Ele tinha consciência de que ele e a noiva possuiam um combinado, mas seria muito mentiroso de sua parte não admitir que estava gostando de seu trabalho atual.

Algumas semanas depois de ter indicado a irmã para ser babá da Rose, Elise veio avisar que ele estava sendo aguardado em meia hora para falar com a diretora McGonagall e alguns outros figurões que comandavam tudo.

—Sabe alguma coisa dessa reunião, Harry? - o ruivo revirou a memória pensando se havia feito algo errado que fosse levar a uma reprimenda, mas não pensou em nada.

—Pode ser que eu saiba uma coisa ou duas, mas sem spoilers! - Harry tinha ido até a sala de Ron apenas para passar umas mudanças de pauta, então não se demorou a levantar para ir embora.

—Isso é sacanagem, Potter! 

—Não posso ser o linguarudo da empresa, Weasley, você vai saber em precisos 27 minutos - o moreno provocou olhando o relógio antes de fechar a porta da sala de Ron.

Não foram os 27 minutos mais agradáveis da vida do Weasley. Era correto quando as pessoas afirmavam que o tempo passava mais devagar quanto mais você queria que ele andasse. Contudo, faltando cinco minutos, se dirigiu à sala indicada, carregando consigo sua melhor expressão profissional.

—Boa tarde, Ronald - cumprimentou, Minerva - por favor, sente-se.

Ron se dirigiu rapidamente a cada um dos presentes e se acomodou na cadeira que havia sido sugerida. Por alguns instantes se sentiu como a criança que é chamada na sala da diretora sem saber o porquê, mas com a certeza de que não seria bom. Quando era bom ir parar na direção?

—Sei que foi uma reunião um tanto inesperada, nos perdoe por isso - Minerva começou - mas o tema que temos a tratar precisa de toda nossa urgência.

—Tem alguma coisa errada, Diretora? - Ron estava se segurando para não passar a mão por entre os cabelos e deixar transparecer a ansiedade que se apossou dele.

—Pelo contrário, senhor Weasley - disse o homem sentado à esquerda da diretora - as coisas estão muito certas e por isso estamos aqui.

Ron sentiu que uma onda de alívio o atingiu, porém não teve tempo de prestar atenção ao fato, pois a diretora já retomou a palavra.

—Vamos direto ao ponto. Como você sabe, Ronald, trouxemos você para cá para poder cobrir a licença do nosso jornalista mais antigo.

—Sim, claro.

—O caso é que o Dumbledore não vai retornar. Ele nos avisou que pretende dar início a sua aposentadoria.

—Ele está bem? - a notícia foi inesperada para Ron, ele se lembrava que o senhor havia se afastado por conta da saúde.

—Está e ele disse que por isso mesmo quer aproveitar o tempo que a idade já lhe permite ter - Minerva explicou.

—Entendo, não dá pra dizer que ele está errado - a cabeça de Ron começou a maquinar o que aquilo queria dizer para seu futuro e uma ideia da razão para estar ali foi se formando.

—Queríamos então fazer uma proposta ao senhor de se manter permanentemente como âncora do Profeta Diário.

—Permanentemente? - Ron até já estava esperando por aquilo, mas não deixou de se surpreender.

Não sabia se pulava de felicidade com a conquista ou se ia para um canto se encolher para não lidar com o dilema que tinha pela frente. Lilá não ficaria feliz com a notícia.

—A audiência tem sido muito boa desde que Hermione entrou no jornal e a parceria com você conseguiu manter o interesse dos espectadores, queremos que isso continue - um dos diretores se pronunciou pela primeira vez.

—Nossa, fico muito feliz com a oferta, mas…

—Não esperamos que você responda imediatamente, Ronald. Sabemos que uma mudança dessas não se pode decidir sem pensar, mas gostaríamos de saber até o final da próxima semana.

—Tudo bem, diretora… - o ruivo não sabia bem como responder, sua cabeça já estava dando voltas e mais voltas.

—Vamos esperar sua resposta para tratar dos detalhes mais específicos… mas já adiantamos que se você ficar, haverá uma promoção para que seu salário se iguale ao que sua colega tinha quando entrou no cargo. A medida do tempo você entrará na mesma progressão salarial e…

Tudo o que a diretora falou a partir dali foi apenas uma voz distante para Ron. Ele agradeceu e se despediu antes de sair. Precisava ficar um pouco sozinho para pensar. Sua primeira reação foi ficar exultante, com vontade de dizer a todos que havia conseguido o emprego dos sonhos, mas como diria isso a Lilá se sabia que o emprego dos sonhos da noiva estava esperando por ela do outro lado do mundo?

Ele não podia ser egoísta e decidir pelos dois. Sabia que teriam que conversar bastante sobre o assunto e ele não conseguiria esperar para trazer a notícia à tona. Não seria justo com ela e nem com ele.

Ron sentou em sua cadeira, apoiando os braços sobre a mesa e afundando o rosto de modo a não enxergar mais o mundo à sua volta. No fundo, ele sabia que gostaria de ficar, entretanto, sabia também que fizera uma promessa. Como ele conseguiria chegar a uma conclusão que atendesse a tudo aquilo?

Por mais que ele tivesse se esforçado, o ruivo não conseguiu se concentrar totalmente na apresentação daquela edição. Se enrolou momentaneamente em uma das chamadas, porém Hermione surgiu logo em seguida para contornar o problema que ele esperava que a população não tivesse notado. Claro que alguém em específico notou.

—Onde estava a sua cabeça hoje, Weasley? - Hermione chamou a atenção do ruivo assim que eles deixaram o estúdio.

—Desculpa, Mini, estou com umas preocupações, mas nada que devesse interferir no meu trabalho - ele se sentiu mal por ter deixado a vida pessoal afetar a profissional, mas, para sua surpresa, Hermione não parecia brava.

—Tudo bem, espero que as coisas se ajeitem…

Ron já tinha alcançado a maçaneta de sua sala, achando que tinham dado o assunto por encerrado, quando ela continuou.

—Tem a ver com a proposta para você continuar no jornal? Você vai aceitar?

—Como você… - a morena o olhava curiosa, ele achou um tanto estranho Hermione mostrar todo esse interesse por ele, mas afinal das contas, aquilo influenciava seu trabalho também.

—O Harry me contou que a diretoria conversou com você hoje a respeito - ela desviou ligeiramente os olhos para o chão - mas e então?

—Ainda não decidi, não tem só eu nesse processo…

—Ah, sim, claro. Me desculpe a intromissão.

—Deixa disso, Mini, claro que você quer saber com quem vai trabalhar - ele deu de ombros - se você me disser que eu sou mais legal que o velho Dumbledore, pode ser que eu considere melhor - Ron deu uma risadinha e voltou a se sentir na normalidade quando viu Hermione revirar os olhos.

—Não vou emitir minha opinião para não dizerem que influenciei ninguém - ela torceu o nariz.

—Mas não se preocupe, quando eu decidir, você está entre as primeiras que vão saber - ela o olhou de uma forma confusa, e então ele continuou - o Harry vai se certificar disso, tenho certeza.

Ron não conseguiu entender se Hermione estava torcendo para que ele ficasse ou sumisse de vez, porém tampouco importava. Era hora dele pensar no que ele e Lilá queriam. Se segurou para não mandar uma mensagem para a noiva dizendo que queria conversar. Aquilo só serviria para gerar uma ansiedade desnecessária. Bastava esperar chegar em casa e abordar o assunto.

Como sempre, Lilá já estava de camisola, enrolada num cobertor no sofá da sala. Naquela noite, ela tinha um livro de artes nas mãos e lia compenetradamente quando Ron chegou.

—Oi, Lil, como foi seu dia? - ele beijou a testa dela e foi largar a mochila e os casacos na outra poltrona.

—Fui ver uma exposição muito interessante de uma artista nova, gostei do conceito - Lilá parecia animada ao falar de sua tarde, ela deixou o livro de lado e abriu espaço no sofá para que ele sentasse ao lado dela - e você? Estava lindo na tv como sempre - ela deu um selinho em seus lábios, ao mesmo tempo que correu os dedos pelos cabelos ruivos.

—A mesma correria, mas nada imprevisto…

—Tem sopa pra você na geladeira se estiver com fome.

Geralmente ele comia alguma coisa antes de começar o jornal, não era sempre que tinha fome ao chegar em casa. Aquele definitivamente não era um dia onde a fome estivesse em primeiro plano em sua mente.

—Talvez mais tarde… - Ron respirou fundo e juntou a coragem que precisava - tive uma reunião hoje com os diretores, queria falar com você sobre isso…

—Reunião? Aconteceu alguma coisa?

—Não, calma… eles vieram me dizer que o jornalista que eu estou substituindo resolveu se aposentar…

Ele não precisou nem continuar, Lilá soube o que ele estava tão aflito para contar.

—Eles querem que você fique, não é? De vez…

—Sim, eles me ofereceram uma posição permanente - não havia como enrolar em torno da informação, a noiva merecia a verdade.

—Claro - o rosto de Lilá se tornou um quadro indecifrável.

—Me deram até o final da semana para dar uma resposta.

—E você já sabe a resposta?

—Não, Lil, eu não ia decidir nada sem conversar com você antes e… - ele sentia que precisava se explicar, precisava pedir desculpas por simplesmente não ter negado logo de cara a oferta a fim de cumprir o que eles tinham combinado antes, porém não conseguiu.

—Eu sentia que isso ia acontecer, sabia?

—O que? - Ron estava confuso com a serenidade que Lilá demonstrava. 

—Você é bom demais para eles deixarem simplesmente ir embora… sabia que íamos ter essa conversa mais cedo ou mais tarde. Nós viemos com a intenção de voltar logo…

—Eu sei, não é justo com você - Ron passou as mãos pelo rosto, querendo poder se sentir diferente do que o desejo real que tinha de ficar.

—Sim, não é. Mas eu dizer pra você não ficar não é justo com você. Eu sei que você ama esse emprego, Ron. Sempre que você chega num dia de notícias animadoras, seus olhos brilham até diferente. O que é que podemos fazer aqui?

—Eu não sei… - cada uma das colocações dela foi sedimentando cada vez mais o único caminho que ele via pela frente, porém não era o que queria.

—Você sabe, só não quer admitir.  - Lilá olhou pra aliança no dedo.

—Lilá, não! - ele cobriu a mão dela com a sua, como se escondendo o símbolo de seu relacionamento, ele pudesse salvar algo que estava numa corda bamba.

—Ron, presta atenção - ela se virou de frente para ele, prendendo a mão do homem que amava nas suas - Eu não vou ser a mulher que vai ficar entre você e seus sonhos, mas também não vou ser a mulher que vai desistir dos próprios sonhos por você, porque aí eu apenas vou te transformar em um ressentimento escondido. Se você voltar comigo, uma hora isso vai pesar pra você, se eu ficar, uma hora vai pesar pra mim. Entende como o amor não é a única variável aqui?

—Eu não quero que termine assim…

As palavras dela doíam. Cortavam fundo com o fio certeiro que só a verdade tinha. Ron se sentia triste, melancólico e frustrado. Tudo isso porque entendia que não tinha como conciliar o que o faria feliz e o que traria felicidade a Lilá. Era uma quebra de expectativa muito grande ver que se atingia um beco sem saídas de algo que ele, há pouco tempo, jurava ser para sempre. A vida não trazia finais felizes para tudo, no entanto.

—Prefere que termine em brigas? Com palavras jogadas um na cara do outro? Porque uma hora você ia ver outro jornalista brilhando no posto que deveria ser seu, ou eu vou ver uma artista ganhando premiações no meu lugar e isso vai nublar todos os momentos bons que nós vivermos. 

—Não estamos chegando a uma decisão rápido demais? - Ron teria uma semana inteira para pensar, não imaginara que naquela mesma noite tudo estaria decidido, mas aquela era a Lilá: decidida, prática e destemida.

—Seja sincero e me diga se você vai mudar de ideia.

—Já falei que detesto como você consegue ser tão realista sobre as coisas? - ele deixou um suspiro escapar por entre os lábios, não era necessário que ele respondesse de verdade.

—Eu não sou o estereótipo romantizado de artista, querido, você sempre soube disso. 

—Sim, uma das coisas que me faz gostar ainda mais de você - o pequeno sorriso encobria a tristeza que já apertava nós em seu estômago.

—Irônico ser isso que vai nos afastar também, mas tem coisas que não tem barganha - ela passou a mão no rosto dele, um carinho simples que ele tanto gostava.

—Você sempre me falou que antes de todo mundo, você escolheria você, eu nunca entendi direito, mas acho que agora estou fazendo a mesma coisa, não estou?

—Está! E isso é muito bom, Ron. Se você não escolher a sua felicidade, como espera que outra pessoa faça isso? 

—Eu não estou sendo egoísta? - no fundo, o ruivo não conseguia deixar de pensar que estava se colocando na frente de tudo para tomar essa decisão e que isso era o mais errado a se fazer.

—Você acha que eu estou sendo?

—Não! Nós combinamos desde o começo que voltaríamos.

—E eu sei que você voltaria comigo se a situação fosse a mesma, mas agora não é. Não é fácil, mas eu quero que você seja feliz - uma lágrima caiu dos olhos de Lilá, deixando um caminho úmido em seu rosto.

—Como eu vou ficar aqui sozinho sem você? - ele secou a lágrima dela com os dedos, e se aproximou para envolvê-la num abraço.

—Vai ficar bem - a voz dela estava próxima ao ouvido de Ron, quase um sussurro - O mundo tem mais bilhões de pessoas, nenhuma sou eu, claro, mas existem outras pessoas legais também.

—Você realmente não existe…

Ficaram em silêncio por alguns minutos, os corpos abraçados iniciando uma despedida de tudo o que fora e de tudo que jamais seria. Ron escutou os barulhos baixinhos que denunciavam o choro da agora ex-noiva e sentia lágrimas fazendo um baile em seus olhos também.

—Eu vou embora amanhã - ela disse ao se afastar. Com as mangas da camisola, ela tentava secar o rosto.

—Mas já? - Ron se espantou com a rapidez de tudo, acabou por se sentir mais perdido do que imaginaria.

—Pra que adiar isso, Ron? Não quero dar tempo pra esses olhos azuis me fazerem mudar de ideia… seria a decisão errada.

—E você mudaria?

Ela tirou a aliança do dedo e colocou nas mãos do ruivo.

—Você sabe que sim.


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Notas finais do capítulo

Ai meu Deus, sou só eu que achei essa Lilá a pessoa mais sensata do mundo? Não acredito que fiquei triste com esse término, só porque foi de uma forma tão triste, não tinha jeito mesmo... um ia sair deixando a vida para trás e não seria justo. Até pq, a história é Romione, né, meus amores! hauha
E agora? Como será que a internet vai encarar esse término? E o mais importante, como o Ron e a Mione vão encarar?
Já do lado Hinny da força, que tal esse começo? Achei promissor.... O Harry tem aí uns trauminhas de relacionamento, mas nada que uma certa ruiva não resolva, certo?

Não deixem de me dizer o que acharam nos comentários e até o próximo capítulo!

Bjus