Spotlight escrita por Fe Damin


Capítulo 6
Capítulo 06


Notas iniciais do capítulo

Desculpa a demora, pessoal! Eu acabei ficando ocupada e não deu pra postar ontem, mas agora está aqui o capítulo fresquinho!
Espero que gostem :)



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E que plantão jornalístico foi esse, meu povo? Tá certo que a gente quer ver mais #Romione nas nossas telinhas, mas de preferência sem tragédias para isso. Fica a dica aí, bandidagem! #NossoShipemPaz 

Rita Skeeter - via Twitter

 

A noite anterior fora um teste de nervos para Hermione. Não só havia notícias extremamente tensas para serem dadas no jornal, como a babá de Rose tivera que deixar o serviço indefinidamente depois de anos de parceria, bem quando a menina estava doente.

Claro que Hermione entendia a situação de Isabela, a mãe dela tivera um repentino ataque cardíaco e ela era filha única, precisava cuidar da saúde da senhora que, caso contrário, se encontraria sozinha. No entanto, não poderia vir em pior hora. Não considerava nada ideal ter levado a filha para o trabalho, tanto pelo péssimo conforto que daria à menina, quando pela exposição involuntária de sua vida.

Tinha sim ficado com raiva do Weasley quando ele agiu feito uma criança ao vê-la deixando o estúdio, mas ao mesmo tempo, tinha consciência que podia ter sido mais transparente e explicado melhor a situação. Sabia que o ruivo era dado a ser meio idiota, porém, ele não fora nada menos do que compreensível quando viu a razão de suas ausências.

Na manhã seguinte, Rose ainda continuava com um pouco de febre, então Hermione decidiu levá-la ao hospital, de onde a menina saiu com uma prescrição de antibióticos e um antitérmico para que se sentisse melhor logo. Porém o problema principal ainda não havia sido sanado: não tinha com quem deixá-la.

Na situação em que se encontrava, Rose não estava bem para ir à aula e Hermione não podia faltar ao trabalho para ficar com a filha, por mais que fosse o que mais desejasse. Ainda tentou ligar em algumas agências de babás, porém não conseguiu ninguém com tão pouco tempo de antecedência, além disso, não se sentiria bem em deixar a filha com alguém que nem conhecia.

O jeito seria levá-la consigo mais aquela uma vez e torcer para que uma solução se ajeitasse nos próximos dias, caso contrário estaria em maus lençóis. Eram nos raros momentos como esse que Hermione desejava que Rose tivesse um pai mais presente. Outro porto seguro que estivesse disponível para cuidar do bem estar da menina. No entanto, a realidade não era essa, aquele homem não passara de doador de DNA, nunca quisera saber da filha e Hermione achava melhor assim. Antes um pai sumido do que uma má influência na vida de Rose.

—Melhorou um pouco, pequena? - Rose tomara os remédios meia hora atrás, o efeito já devia estar agindo.

—Uhum - ela tinha a cabeça aninhada no colo da mãe, quase pegando no sono de novo.

—A tia Isa não vai poder vir mais, Rose, você vai ter que vir com a mamãe pro trabalho de novo, tá bom? - Hermione fazia carinho nos cabelos da filha, sabia que ela gostava.

—Por que ela não vem mais, mãe? - Rose abriu os olhos espantada e se inclinou para achar o rosto da mãe - ela não gosta mais de mim?

—Dá onde você tirou isso, Rose? Claro que ela gosta de você! - passou o braço pelo ombro da filha, fechando-a em um abraço - mas a mãe da tia Isa está dodói, ela vai ter que cuidar dela, então não vai ter como cuidar de você.

—Mas ela não vai melhorar? Ela pode voltar…

Hermione odiava ver os olhos da filha tristes assim. Sabia como ela se apegava às pessoas que entravam em sua vida e, sabia ainda mais, que ela tendia a achar que sempre tinha culpa quando tais pessoas precisavam se afastar. De uma certa forma, Mione tinha consciência que os sentimentos da filha estavam ligados às inseguranças que ela possuia em relação ao pai. 

Recentemente ela tinha bombardeado a mãe de perguntas sobre porque ela não o conhecia, se ele não gostava dela, se havia ido embora por não querê-la como filha. Fora uma das conversas mais difíceis que Hermione já tivera com alguém, interessante que esse alguém tivesse apenas seis anos.

—A mãe da tia Isa mora longe lá em Liverpool, ela vai ter que ficar com ela, pequena.

—Mas então quem vai ficar comigo? Eu vou todo dia pro seu trabalho? Você vai me buscar na escola? - era a cara da Rose fazer todos os tipos de pergunta que viessem à mente.

—Só mais hoje, vou dar um jeito de arrumar outra pessoa bem legal pra ficar com você - Hermione quase riu ao ver a expressão da filha ponderando a ideia.

—Mas e se eu não gostar dessa pessoa igual eu gosto da tia Isa?

—Então continuaremos procurando, mas você vai dar uma chance, não vai, mocinha?

—O padrinho podia ficar comigo! - Rose parecia muito satisfeita com sua ideia brilhante.

—Você sabe que ela trabalha com a mamãe, pequena, não pode ficar com você no horário que precisamos.

—Ah é… - Rose fez um bico que Hermione achava adorável.

—Não se preocupe, eu prometo que vai ser uma pessoa ótima - ela deu um beijo na testa da filha - vou terminar de me arrumar e aí vamos, não posso me atrasar.

Rose passou o caminho inteiro calada, pelo espelho do carro, Hermione podia ver a filha com o rosto pensativo, olhando pela janela que ficava na altura de seu rosto com a altura a mais que sua cadeirinha dava. Nem a playlist de músicas da Disney que tocava no rádio a deixara mais empolgada. A morena preferiu atribuir parte do comportamento ao fato de que a menina não se encontrava 100% bem de saúde.

Hermione caminhou de mãos dadas com a filha no caminho para sua sala, onde encontrou Ron saindo da porta ao lado.

—Olha só, a nossa jornalista mirim está de volta! - ele sorriu em direção a Rose.

—Eu não sou jornalista não, sou só criança! Minha mãe que é - Hermione notou que ela o olhava com interesse.

—É, mesmo? Poxa vida, achei que você ia apresentar o jornal comigo hoje, por isso veio - ele coçou a cabeça se fingindo de desentendido e Hermione quase riu ao ver o humor surgindo nos olhos de Rose.

—Esse é o trabalho da minha mãe - Rose riu.

—É verdade, que ela faz muito bem, né?

Hermione se sentiu repentinamente sem graça com o elogio inesperado e desviou o olhar do homem à sua frente para disfarçar o ocorrido.

—Minha mãe é a melhor! - a filha brilhava com todo o orgulho estampado no rosto.

—Ah, e eu? - Ron fez uma cara de coitado que adicionava mais ar de piada à conversa.

—Você é legal também… mas eu só vi uma vez ou talvez três…

—Três, dona Rose? - Hermione levantou a sobrancelha, querendo saber mais das noites em que Rose não dormiu na hora combinada.

—Mas foi só um pouquinho, fui dormir bem rápido - a menina abriu um sorriso fingidamente inocente.

—Eu me contento com legal, já é um bom começo, quem sabe um dia eu sou o segundo melhor do mundo - o ruivo deu de ombros - mas me diz, você está melhor hoje?

—Eu to melhor, aí fico pior, aí fico melhor… - Rose girou o dedo mostrando como as coisas iam e vinham.

—Os remédios estão ajudando - Hermione complementou.

—Que bom. Agora eu tenho que dar um pulo lá do outro lado do andar, espero que você continue melhor - ele se abaixou para ficar na altura da Rose - e se você quiser, pode ficar na minha sala enquanto isso, já me disseram que meu sofá é mais legal que o da sala da sua mãe e pode ser que eu tenha chocolate na gaveta - ele adicionou em tom conspiratório.

—Eu posso, mãe? - Rose olhou com toda a vontade do mundo para Hermione que não tinha um pingo de vontade de deixar a filha na sala do ruivo.

—Depois a gente vê, Rose - ela olhou para Ron tentando indicar que ele não devia fazer aquele tipo de convite à sua filha, mas ele não viu.

—Até depois então, Rose - ele passou a mão pelos cabelos da menina antes de se levantar para seguir seu caminho.

—Estarei esperando na sala 07, alguma coisa com a passagem de temas de hoje - ele avisou Hermione e sumiu no corredor.

—Mãe, eu não posso ir na sala do seu amigo?

—Melhor você ficar aqui, pequena - Hermione já a instalara no sofá. Trouxera um tablet para que ela pudesse se divertir com os filmes que ela tanto gostava e papéis para que desenhasse, mas torcia para que a menina tivesse sono a maior parte do tempo.

—Mas eu prometo que não bagunço nada, tem chocolate!

—Você acabou de almoçar, ainda não está com fome para chocolate.

—Mais tarde posso estar - Rose não desistia.

—Então mais tarde conversamos sobre isso, tudo bem?

—Tá bom! Vou fazer um desenho bem bonito pro… qual é o nome do seu amigo mesmo?

—Ronald.

—Então vou fazer um desenho pro tio Ronald! Porque ele vai me dar chocolate.

—Ele prefere que chame só de Ron - Hermione quis se dar um chute pelo comentário que saiu sem querer. O que ela tinha a ver com relação à maneira que o Weasley gostava de ser chamado?

—Tá, tio Ron fica melhor mesmo.

Hermione deixou a filha em sua sala com a promessa de que ela não sairia dali sozinha e que pediria para chamá-la se algo acontecesse. Deixou Olivia avisada da possibilidade da menina precisar de algo e foi ao encontro de Ron. 

Acabou encontrando Harry no meio do caminho.

—Ron me disse que minha formiguinha está aqui, ela está bem?

—Por hora está, mas a febre ainda volta quando o efeito dos remédios vai passando, acho que mais um dia ou dois e ela está nova em folha.

—Que bom, não gosto de ver aquela molequinha doente.

—Nem me fala.

—E você como está? 

—Lascada, Harry, para não dizer pior. Não consegui arrumar uma babá - a preocupação voltou a assolar Hermione.

—Calma, vamos dar um jeito! Eu vou perguntar por aí se alguém tem alguma indicação.

—Obrigada, Harry, qualquer ajuda já está ótimo.

—Fique tranquila, agora vamos logo que a diretora nos aguarda.

Tiveram uma reunião rápida sobre como iriam mesclar as notícias do dia anterior na edição atual já que o jornal fora cancelado. O próximo passo seria estudar as pautas daquela noite, saíram da sala depois da maioria dos funcionários e Ron, de maneira um tanto inesperada, puxou assunto, enquanto andavam pelos corredores.

—Tem alguma coisa te preocupando? Você parece meio distraída… Se quiser ficar com a Rose hoje, não tem problema, falamos com o pessoal, eu apresento sozinho.

—Não, não é isso… quer dizer, não é nada - ela chacoalhou a cabeça, não querendo inserir o ruivo nos problemas de sua vida, seria um tanto estranho.

—Ah, que isso, Mini? Eu te conheço há anos para saber que tem algo errado - por alguma razão, a forma como o apelido besta soou não a incomodou daquela vez.

Talvez fosse a preocupação constante que a tenha deixado mais maleável a colocar para fora o que tinha em sua cabeça, quando deu por si, já estava falando:

—O problema é que a moça que ficava com a Rose nas horas do meu trabalho teve que sair. E agora ela ainda está sem poder ir para a escola e eu não tenho com quem deixá-la e… - ao levantar os olhos, Hermione viu a atenção que Ron estava dando a ela e se sentiu incomodada de ter falado, aquilo era estranho - desculpe, isso não é da sua conta.

—Eu perguntei, não perguntei? E talvez eu possa te ajudar…

—Pode? Você? 

A morena não acreditava que ele pudesse entender alguma coisa e babás.

—Não tenho filhos pra poder indicar babás, mas tenho uma irmã.

—Você tem uma irmã pequena? - ela não lembrava dele mencionar nenhuma irmã pequena na época da faculdade achava pouco provável que ela tivesse nascido depois disso.

—Não é a minha irmã que precisa de uma babá, ela seria a babá - ele riu.

—Sua irmã? - a ideia não caiu muito bem para Hermione, ela não queria sua família misturada com a dele.

Lembrou vagamente de uma menina mais nova que ia com ele de vez em quando nos eventos da faculdade além de estar na formatura.

—Antes que você diga não, a Ginny é ótima com crianças, ela está no último ano de pedagogia e tenho certeza que ia se dar muito bem com a Rose.

—Até que são boas referências…

Hermione não sabia o que pensar. Por um lado, era a solução “mágica” que ela tanto queria, por outro era a irmã daquele ruivo em sua casa. Mesmo que ela fosse capacitada e competente para lidar com crianças da melhor forma.

—Por que não fala com ela primeiro? Não vai te custar nada, Mini.

—Tudo bem, ela tem como vir aqui? - deu o braço a torcer, na pior da hipóteses, não a contrataria.

—Vou ligar pra ela, você pode esperar que eu já te dou a resposta se quiser.

Sem perceber, Hermione o tinha seguido até a cafeteria, onde ele parecia interessado em pedir um café. Acabou pedindo um para si também e sentando ao lado dele em uma das mesas para aguardar a ligação que ele faria.

—Oi, Gin, tudo bem? Você tá em casa? É que…

O ruivo prosseguiu a explicar a situação e Hermione se sentiu aliviada ao ouvir respostas positivas.

—Tudo bem, te esperamos aqui, quando tiver chegando me avisa que eu vou te encontrar lá embaixo, senão você não sobe.

—Então ela vem? 

—Sim, ela disse que em 40 minutos está aqui - ele respondeu satisfeito.

—Tudo bem, prefiro conversar com ela antes de ir falar com a Rose…

—Tenho certeza que ela não vai se importar, podem conversar na minha sala, assim não tem problemas.

Se aquilo desse certo, Ron Weasley tinha acabado de ajudá-la a sair de um grande problema e ela não sabia muito bem conciliar essa perspectiva com aquela pessoa. Não tinha um histórico de se sentir agradecida por nada que ele fizesse, porém, parecia que para tudo realmente havia uma primeira vez.

—Obrigada, Ron por ajudar - Hermione esperava que ele fizesse alguma piada sobre o fato dela estar agradecendo, mas acabou por se surpreender.

—Sem problemas, a Rose não pode ficar sozinha, não é? E eu realmente acho que a Ginny e ela vão se dar muito bem.

—Também espero… aquela pestinha é um amor de criança, mas tem suas implicâncias quando quer e sabe ser teimosa de um jeito…. - Hermione rolou os olhos ao lembrar dos momentos mais difíceis de sua filha.

—Igual você então? - o ruivo a olhava com humor nos olhos e, pela primeira vez, a morena decidiu encarar como uma brincadeira e não uma provocação.

—Talvez - ela empinou o nariz entrando na graça - falando na Rose, ela está me pentelhando há tempos para te entregar isso.

Hermione não estava realmente acreditando que iria entregar aquela besteira ao Weasley, mas havia prometido a sua filha e isso era uma coisa que ela levava muito a sério. Tirou o bilhete de dentro da pasta que tinha ao seu lado e entregou ao destinatário.

—Ela quer saber como eu tenho cabelos ruivos? - Ron riu com a inocência adorável da menina.

—A Rose anda cismada com tudo que lembre o filme da pequena sereia - Hermione explicou - sabe qual é?

—Oh, se sei… tenho uma irmã mais nova, lembra? E você vai ver que a Ginny se achava a própria Ariel - a morena o viu dobrando o bilhete e guardando com cuidado no bolso interno do casaco que usava - agora tenho mais do que certeza que as duas vão se dar bem.

—Ah, sim… ela também tem os cabelos ruivos, não é?

—Como todo o resto da minha família, o que explica a dúvida da sua pequena curiosa.

—Eu disse a ela que os cabelos nasciam assim, mas ela não pareceu convencida que funcionasse para meninos também - Hermione deu de ombros, voltando a atenção para o chocolate quente que tinha em mãos, era um tanto estranho estar ali tendo uma conversa banal com Ronald Weasley.

—Não se preocupe que eu explico pra ela toda a linhagem ruiva dos Weasleys!

—Mas são todos ruivos? Sem exceção? - ela não saberia dizer de onde viera a curiosidade, mas não era como se tivessem que correr dali antes de terminarem suas bebidas.

—Até onde eu conheço da árvore genealógica sim… todos ruivos - ele coçou a cabeça, frisando os olhos como se quisesse visualizar a família toda - Tem alguns pontos fora da curva, mas essas são as pessoas que entraram pra família por casamento, os filhos de todos são ruivos também.

—Que genética forte!

—Só não é agradável quando você é pequeno e te chamam de palito de fósforo na escola - a cara feia de Ron fez Hermione rir involuntariamente.

—Desculpe, eu não devia zombar do pequeno Ronald que foi avacalhado.

—Não se preocupe, ele sobreviveu.

—Crianças sabem ser cruéis, e falando nesses pequenos arteiros, vou checar como a Rose está - Hermione havia terminado o conteúdo em seu copo e não via mais motivos para continuar ali naquela conversa, estava sendo fácil demais se distrair, não parecia algo certo, não com ele.

—Assim que a Gin chegar eu te chamo e apresento vocês - ele levantou da cadeira assim que ela saiu de seu lugar.

Os dois se encararam por alguns segundos, um tanto sem graça de não saber como terminar aquela interação. A bem da verdade, nunca tinham parado para conversar nem cinco minutos sobre frivolidades, muito menos em um café.

—Eu já vou indo então, estarei na minha sala com a Rose - Hermione se afastou rapidamente, tentando juntar os passos que a levaram para aquela cena inusitada. Não tinha intenção nenhuma de permanecer brigando com Ron como faziam quando estudavam, mas tampouco queria se tornar sua amiga, não buscava proximidade com ele pois…. pois apenas não queria e pronto!

Rose ainda estava entretida em seu trabalho artístico quando Hermione voltou à sala. Ela adorava ver o jeito concentrado que a menina adotava quando tinha os lápis em mão. Sem distraí-la, a mãe coruja puxou o celular do bolso e tirou uma foto, não conseguindo evitar sorrir para o resultado na tela. Claro que sua mesa estava um caos de papéis, giz e lápis, mas não se importava.

—Oi, mãe! Não vi você - Rose levantou o olhar do papel para dar as boas vindas à mãe.

—Como você está? Deixa eu ver - após enviar a foto ao Harry, Hermione se aproximou para sentir a temperatura da testa da menina.

—Eu to bem, mãe - a menina revirou os olhos, não queria ser atrapalhada na finalização de seu desenho.

—To achando essa testa um pouco quente, mais meia hora e você tem remédio pra tomar.

—Mas outro? Não tá bom?

—Você sabe que tem que tomar direitinho até o final, Rose, quer ficar doente de novo? Iam ser mais dias longe da escola.

—Ah, nãaaaao! A Júlia vai morrer de saudade de mim assim! Eu posso ligar pra ela hoje de novo, mãe?

—Claro que pode, pequena, assim que o horário da aula acabar, ligamos para a casa dela.

—Tá bom! Eu preciso saber se o besta do Arthur…

—Opa! Que jeito é esse de falar do seu amigo? - Hermione não permitiria que a filha usasse aquele tipo de linguajar.

—Bobo do Arthur? - Rose tentou novamente, vendo pela cara ainda fechada da mãe que não tinha acertado - Desculpa… eu preciso saber se o Arthur parou de implicar com ela! Ele sempre tenta fazer isso e eu não deixo! E ele não é meu amigo!

—Tudo bem, ele não precisa ser seu amigo - pelo número de vezes que Rose falava do menino, parecia que tinham uma boa richa na escola, mas Hermione não gostava de fomentar esse tipo de coisa - meninos às vezes são bem imaturos mesmo, Rose. Que bom que você está sempre do lado da sua amiga, mas não quero você fazendo nada de errado com ele, certo?

—Eu só falo pra ele parar - a menina deu de ombros, sem tirar os olhos do desenho.

—Tudo bem, se for só isso…

—Terminei! - ela entregou a folha de sulfite para a mãe ver.

—Que bonito que ficou! Adorei as cores que escolheu. Esse é presente? 

—Sim, é o presente do tio Ron, vou escrever aqui no canto - ela indicou o pedaço vazio do papel - desenhei a gente.

—Sou eu aqui? - o desenho tinha, o que pareciam ser três sereias.

—Isso, a de cabelo marrom, aí a pequena sou eu - Rose se inclinou para mostrar a si mesma.

—E o de cabelos vermelhos é o Ron - Hermione riu ao imaginar a cara do ruivo ao se ver desenhado pelas habilidades artísticas e criativas de uma menina de seis anos.

—Acertou! E a gente tá numa festa no fundo do mar! - Rose era o retrato da empolgação - você acha que ele vai gostar,  mãe?

—Acho que sim - pelo que vira até o momento, Ron tinha o mínimo de jeito com crianças, não seria rude com um presente dado pela menina.

—Posso ir na sala dele entregar?

—Você quer ir lá dar o presente ou procurar outras coisas, mocinha? - a morena conhecia a filha, era uma pequena maquinadora.

—Pode ser que ele me dê algum chocolate, mas eu juro que não vou pedir - a menina era também muito sincera.

—Agora ele está ocupado, pequena, assim que ele tiver um tempo, nós vamos lá. Por que não faz um desenho pro seu padrinho também enquanto a mamãe trabalha um pouco?

—Tá bom!

Hermione ligou seu computador e ficou lendo os material que precisavam de sua atenção até que uma batida em sua porta interrompeu o momento. Imaginando se tratar da chegada da candidata a babá, ela foi atender.

—Minha irmã chegou - Ron informou assim que ela passou pelo vão da porta.

—Tudo bem, deixa só eu avisar a Rose - Hermione voltou à sala e se aproximou da filha - pequena, vou ter que sair rapidinho, você fica bem aqui? Já tomou seu remédio, certo?

—Tomei! Eu to quase terminando o desenho do padrinho, pode ir - Rose nem levantou os olhos do papel para falar com a mãe, o que fez a morena rir com a praticidade da criança.

—Tudo certo por aqui - Hermione relatou ao voltar para onde Ron a esperava - vamos.

Ele abriu a porta de sua sala e Hermione viu a pessoa que a aguardava ali dentro sentada no sofá. Lembrava vagamente de Ginny, mas não tinha como dizer que não eram irmãos. Os traços familiares eram inegáveis do rosto da jovem que a recebeu com um sorriso.

—Ora se não é a moça do jornal! - Ginny levantou para cumprimentá-la e o jeito descontraído dela já deixou Hermione tranquila.

—Eu lembrava de você bem menor - a morena riu.

—Pentelhando o Ron em algum evento da faculdade, aposto…

—Bem por aí.

—Eu ia apresentar as duas, mas vejo que nem precisa - Ron achou graça da interação das mulheres.

—Ah, não, pode me apresentar, Ron, faço questão! - a irmã se posicionou ao seu lado - não deixa de fora nenhuma das minhas qualidades, estou atrás de um emprego aqui.

—Então Hermione, essa é a Ginny, minha, um tanto folgada, irmã - ele torceu o nariz para a ruiva e a expressão de desagrado que recebeu só fez Hermione rir ainda mais da situação, era claro que os dois se adoravam.

—Nunca deixe um homem fazer nada por você - Ginny revirou os olhos - vão fazer errado, ainda mais se for seu irmão.

—Concordamos em vários pontos aí… - Hermione assentiu.

—Ei! Estou sentindo que fui multiplas vezes insultado!

—Não se preocupe, Ron, eu ainda te amo - Ginny deu uma batidinha no braço do irmão antes de se virar para a possível futura empregadora - mas agora vamos ao que interessa, não é mesmo? O Ron me disse que está precisando de alguém para ficar com a sua filha…

—Isso - Ron puxou sua cadeira para que Hermione sentasse ao lado da irmã e foi se juntar à Ginny no sofá.

—Quantos anos ela tem?

—Seis. Pela parte da manhã estou com ela e a tarde ela vai à escola, eu preciso de alguém que fique com ela de noite.

—Que bom, tenho esse horário livre, não será um problema, se você aceitar, é claro.

—O Ron disse que você está terminando a faculdade…

—Sim, pedagogia, pode parecer clichê, ou uma tentativa de puxar saco aqui, mas eu realmente adoro crianças. Posso ajudar a Rose com os deveres ou qualquer coisa referente a escola também.

—Gostar de crianças e ser responsável é tudo que quero para quem for ficar com a minha filha e acho que você preenche os dois requisitos, só falta ver se vocês se dão bem.

—Ah, claro! Podemos conversar quando você quiser, ela está aqui?

—Está sim. Vou chamá-la, quanto ao salário…

Discutiram um pouco mais sobre as condições, horários e obrigações do trabalho e tanto Hermione quanto Ginny pareciam muito satisfeitas com o acordo que fizeram. Só faltava o teste final que seria conhecer a menina.

—Rose, vem comigo um pouco, quero que você conheça uma pessoa - Hermione voltou até sua sala para buscar a filha.

—Conhecer quem?

—Lembra que precisamos encontrar outra pessoa pra ficar com você enquanto eu trabalho? O tio Ron tem uma irmã muito legal que disse que poderia, ela está esperando na sala dele.

—Irmã do tio Ron? - Rose deu um pulo da cadeira, seus alhos azuis brilhando - ela tem cabelo igual o dele?

—Tem - era claro que aquela ia ser a primeira pergunta da Rose.

—Então vamos! - ela só se deu tempo para pegar o desenho que tinha feito para o ruivo - mas, pera, eu também quero entregar o desenho do padrinho e se ele aparecer aqui?

—Você pode entregar depois, ele não vai sumir.

—Mas aí ele pode achar que eu fui embora - não tinha como combater os argumentos da menina quando ela queria.

—Eu mando uma mensagem pra ele avisando que estamos aqui do lado, pode ficar despreocupada, agora anda, vem.

Pegou a filha pela mão e levou-a até a sala do lado, onde a reação da menina foi exatamente o que esperava.

—Mãe, ela é igualzinha a Ariel! - Rose olhava maravilhada para a nova babá que veio em sua direção e se abaixou para cumprimentá-la.

—Oi, Rose, eu sou a Ginny, tudo bem com você?

—Uhum - ela respondeu ainda olhando sem piscar para os fios ruivos.

—Estou vendo que você gosta da pequena sereia, acertei?

—Sim! Ela é a melhor de todas!

—Eu também gostava bastante dela, você gostou do meu cabelo? - Hermione mordeu a língua pra não rir com a cara hipnotizada da filha.

—Gostei.

—Você sabe fazer tranças?

—Não muito bem… - Rose respondeu.

—Eu deixo você treinar no meu cabelo, que tal?

—Pronto, a Ginny ganhou o coração da Rose pra sempre - Hermione sussurrou para Ron que observava junto a ela aquela cena.

—Acho que você tem uma nova babá então - ele sorriu - quer dizer, você não, a Rose.

—Eu já estou bem grandinha para babás.

—Claro.

Hermione estranhou o olhar que ele lhe lançou e preferiu voltar a atenção novamente à filha e a Ginny que ainda conversavam animadamente.

—Aaah! Quase esqueci - Rose veio em direção ao Ron - eu fiz pra você, tio Ron!

A menina entregou a folha de papel desenhado com um sorriso no rosto.

—Que desenho mais lindo! Muito obrigado, Rose - Hermione o viu analisar os traços e agradeceu mentalmente por ele ser gentil com a menina - sou eu aqui?

—E eu e a minha mãe! É uma festa - ela explicou a ele.

—Você tem jeito com as cores - Rose parecia satisfeita com o elogio - falando nisso, sua mãe me entregou o bilhete que você me mandou.

—Você vai me contar, tio Ron?

O Weasley não estava muito ansioso por acabar com as esperanças da menina, mas também não mentiria.

—Então, meus cabelos já nasceram assim mesmo - ele explicou.

—Ah, então minha mãe estava certa - ela resmungou - o da tia Ginny também?

—Sim, e de todo mundo da minha família.

—Sua família toda tem cabelo de sereia? - ela o encarava boquiaberta.

—Somos todos ruivos, não é Gin? - a irmã concordou - qualquer dia eu te mostro uma foto.

—Mas, Rose, quem foi que te disse que sereias só tem cabelo ruivo? - Ginny chamou atenção da menina.

—Não sei… a Ariel tem…

—Você nunca viu a filha dela? Ela tem cabelo escuro igual o seu.

—Igual o meu?

—Desde quando a Ariel tem filha? - Ron olhou desconfiado para a irmã.

—Você não sabe de nada, Ron, tem a continuação do filme - Ginny abanou a mão.

—Tem? Eu nunca vi!

—A pequena sereia 2, existe sim. Podemos ver, se você quiser.

—Nem eu sabia que esse filme existia - Hermione observou - agora você provavelmente vai ser pentelhada para ver umas mil vezes.

—Não tem problema - Ginny riu - assim eu relembro as letras das músicas.

—Mãe eu e a tia Ginny já podemos ir pra casa? Eu quero ver o filme.

—Calma, pequena, eu nem vi com a tia Gin se ela pode começar hoje.

—Pode, não pode, tia Gin? - Rose pegou a mão da ruiva, encarando-a com os olhos mais pidões do mundo.

—Claro que posso, e se tiver Netflix, é fácil achar o filme.

—Oba! - Rose saltitou no lugar, claramente feliz com sua programação.

—Tudo bem, mas você vai ter que se comportar direitinho, tomar o remédio na hora e explicar onde ficam as coisas porque que não vou ter muito tempo para deixar vocês em casa - Hermione argumentou e a filha assentiu.

—Eu vou ser boazinha! Só quero entregar o desenho do meu padrinho antes - Rose indicou o papel que ainda tinha nas mãos.

Como se tivesse sido conjurado ao ambiente, uma batida na porta anunciou a chegada de Harry.

—Ouvi uma formiguinha falando de mim? - o moreno apareceu com o carinho habitual pela afilhada e a pegou no colo, levando um segundo para prestar atenção no resto dos integrantes do ambiente.

—É um desenho pra você, padrinho!

—Muito obrigada, minha pequena artista, vou guardar bem, junto com os outros, você está cada vez melhor!

—Mas agora eu vou pra casa com a tia Ginny - Rose apontou e ele seguiu os olhos para fixar na moça ruiva que o encarava.

—Essa é a minha irmã, Harry - Ron se adiantou para fazer as apresentações.

—A irmã dele vai ser a nova babá da Rose - Gin, interrompeu sem cerimônias, e Hermione viu o leve levantar de sobrancelhas do amigo.

—Eu vou me ausentar um pouco para levar as duas até em casa, Harry, mas volto logo - Hermione comunicou, ela sabia que tinha muito o que fazer, mas era necessário.

—A Luna já está doida atrás de você para a prova de figurino… por que não deixa que eu vou? - ele se ofereceu.

—Você não está ocupado? - Hermione achou estranho que ele se dispusesse a sair do prédio tão perto ao começo dos ensaios, mas Harry parecia com a cabeça longe disso.

—Tenho uma janela agora, ao menos maior que a sua… a não ser que vocês se importem - ele olhou de Rose para Ginny

—Eu… - a ruiva começou a falar alguma coisa, mas foi logo interrompida.

—Claro que não! O padrinho leva a gente, mãe! Ele sabe o caminho.

—Tudo bem, obrigada por quebrar esse galho, Harry.

—Sem problemas - ele disse colocando Rose no chão e pegando sua mão - vamos, senhoritas? Pegamos as suas coisas e já vamos.

—Qualquer coisa liga, Ginny - Hermione avisou.

—Pode deixar, não vai acontecer nada demais - a ruiva a assegurou, seguindo sua nova “protegida” e o padrinho notável que ela tinha.

 


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Notas finais do capítulo

Ai gente, sou só eu que acho a Rose a coisa mais fofa? Amo o jeito que o Ron lida com ela, mto fofo! E agora a Ginny entrou de vez no meio da história e vai ser a babá da Rose? E ela acabou de conhecer um certo padrinho... o que será que vai sair daí???
Não deixem de me dizer o que acharam lá nos comentários.
Até o próximo
Bjus