Spotlight escrita por Fe Damin


Capítulo 5
Capítulo 05


Notas iniciais do capítulo

Bom dia, meu povo lindo!
Sexta feira de Spotlight chegou!!
Espero que gostem desse capítulo :)



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Esse ship tá muito devagar não acham? Queremos mais ação e queremos agora! Rede Grifinória, favor proporcionar momentos #Romione para nossa felicidade! #OPovoPede #CasalOficial 

Rita Skeeter - via Twitter

 

Ron acordou com a felicidade nas alturas ao ver o calendário do celular marcar um sábado. Não que ele estivesse descontente com o trabalho, mas era uma rotina puxada e adoraria um dia de paz para que os desvairados da internet não tivessem material para deixar sua noiva insegura.

Lilá tinha combinado de se encontrar com uma das amigas da escola de artes que frequentara. A moça havia morado em Londres vários anos antes e estava doida para um reencontro. Sabia que a noiva ficaria o dia inteiro fora, então Ron resolveu tirar a data para não fazer nada, não colocaria o pé para fora de casa.

Entretanto, seu telefone insistiu em tocar e quebrar sua paz.

—Olá, irmãzinha, a que devo a honra dessa ligação em plena madrugada de sábado? - Ginny ainda estava devendo uma visita ao apartamento do irmão desde que ele se mudara.

—Não seja debochado, Ron, eu sempre te ligo - ela se defendeu.

—Aham…

—E já passou das 10h, nada de madrugada.

—Eu trabalho de noite, isso é madrugada para mim - ele retrucou, escutando a irmã rir do outro lado da linha.

—Deixa de ser chorão, estou chegando aí, só liguei pra você estar decente.

—Não vou tirar o pijama por você, nem insista, to de folga.

—Esse tipo de indecência não me incomoda… - ela deu uma pausa antes de continuar - a Lilá está aí?

—Não, foi passar o dia com uma amiga - ele sabia que Gin não tinha muita intimidade com a noiva, visto que se viram poucas vezes, porém não era uma pessoa tímida. Se ela perguntou por Lilá, era porque tinha algum assunto sério para tratar.

—Ótimo, até já, beijos.

Ron tinha dito que não trocaria de roupa para receber a irmã, mas mudou de ideia. Tomou uma chuveirada rápida e colocou um par qualquer de moletom e camiseta, não era necessário nenhum tipo de cerimônia quando Ginny estava envolvida.

A irmã mais nova sempre fora o xodó de Ron. Os 5 anos que os separavam fizeram dele um protetor inabalável. Foi muito difícil para ele quando se mudou para outro continente e teve que deixar uma Ginny chateada para trás. Sentia mais falta da irmã do que dos próprios pais, pois eles sempre faziam coisas juntos e Ron era o porto seguro da caçula. Gin ficou feliz com a evolução da carreira do irmão, mas isso não impediu uma boa dose de drama no aeroporto quando ele partiu.

Estava jogado no sofá da sala com Soneca ao seu lado quando o interfone tocou e ele levantou para atender e abrir a porta.

—Oi, Roniquinho - Ginny surgiu na porta com uma sacola cheia do que parecia ser comida - adorei o prédio, vou me convidar mais vezes pra vir aqui.

—Eu já te convidei trocentas vezes, sua ingrata - Soneca se interessou pela bagunça e foi averiguar a nova integrante do ambiente.

—Olá, lindão - Ginny se abaixou para afagar o cachorro que lhe deu uma lambida de boas vindas, mas pareceu mais interessado na sacola - melhor você colocar isso longe dele, trouxe coisinhas pra gente beliscar.

—Veio preparada - ele zombou pegando o item e levando para a mesa da sala.

—Pra você não dizer que sou uma visita folgada.

—Eu só acho que essa visita demorou demais - ele reclamou novamente.

—Eu sei, eu sei… - ela abanou as mãos admitindo a culpa - mas o último ano da faculdade é uma loucura, você sabe. Os professores parecem querer nos ocupar para a vida toda e não apenas pelo semestre.

Ginny estava no último ano de pedagogia, amava crianças e queria se dedicar a ensiná-las desde que se entendia por gente.

—Tudo bem, está desculpada. Quer o tour do apartamento, ou o sofá aqui está bom?

—Claro que quero ver tudo! Não posso ficar sem saber de todas as coisas que acontecem na sua vida.

—Enxerida - ele torceu o nariz e Ginny lhe mostrou a língua, os dois cresceram, mas as besteiras de crianças continuaram.

—Não tem muito o que ver… essa é a cozinha, ali fica o meu quarto - ele foi guiando a irmã pelo pequeno conjunto de cômodos

Quando terminou a apresentação, voltaram para se acomodar no sofá da sala, um de cada lado, com a montanha de lanchinhos que Ginny trouxe entre eles.

—Então, querida irmã, me conte da sua vida - ele sabia que tinha algum motivo específico para aquela visita, então decidiu facilitar o começo da conversa.

—Ah, nada demais acontecendo… e esse é o problema, queria que alguma coisa acontecesse.

—Tipo o que? Um tornado na faculdade? - Ron brincou para levantar o astral da conversa - seria um acontecimento e tanto.

—Larga de ser bobo, claro que não… sei lá, só queria que surgisse um emprego logo, as contas não param de vir e esse é o último mês do meu auxílio desde que a empresa me mandou embora. 

Ginny trabalhou quase a graduação inteira numa empresa de telemarketing, porém eles tinham feito uma renovação no quadro alguns meses antes e ela não tivera sorte em uma recolocação ainda. Até porque preferia algo que estivesse mais perto de sua área, por mais que não pudesse ainda dar aulas em virtude de não ser formada.

—Se você estiver precisando de ajuda, Gin, eu posso te ajudar! Sabe que meu salário aumentou bem com essa promoção - Ron não piscava nem uma vez quando o assunto era ajudar a família, por mais teimosos que eles fossem.

—Até parece, nada disso.

—Não precisa ser cabeça dura, Ginny, é só dinheiro. Não vou morrer se te der um pouco e nem você se aceitar - ele revirou os olhos, sempre achara aquilo uma besteira.

—O dinheiro é seu, Roniquinho, mas se souber de um trabalho, aceito - ela deu uma piscadinha de olho que o fez rir.

—Teimosa igual a mamãe - ele chacoalhou a cabeça, vendo as similaridades entre as mulheres Weasley.

Quando os pais passaram por um aperto financeiro dois anos antes em virtude de uma complicação com a saúde do pai, foi um baita trabalho para que Ron conseguisse ajudar nas despesas. Eles não queriam ajuda de jeito nenhum.

—Agora chega de falar das minhas tristezas, e você? Já está acostumado de novo com os ares londrinos?

—Sabe que eu não sei, Gin? Eu achei que ia me sentir de novo em casa logo que chegasse, mas é uma sensação estranha, não é exatamente a mesma coisa.

—Foram vários anos, Ron, normal estranhar.

—É… acho que sim. Mas é estranho perceber que você criou a vida em outro lado e as pessoas daqui ficaram para trás - ele soou mais melancólico do que gostaria.

—Está falando dos seus amigos? Não viu Simas e Dino ainda? - ela se esforçou para lembrar dos fiéis escudeiros do irmão da época da faculdade.

—Nós estamos tentando marcar de nos ver desde que cheguei, mas nossos horários não batem - ele deu de ombros.

—Bem vindo a vida adulta, né! - ela riu - Mas tem alguém de antes que tem o horário bem parecido com o seu, não é mesmo?

—Que? - Ron não entendeu o que a irmã queria dizer, mas o olhar irônico o fez juntar as peças - Ah, está falando da Hermione.

—A sua pessoa favorita da época da faculdade - Ginny zombou, era tão divertido implicar com o irmão, ainda mais quando via suas orelhas pegando fogo daquela forma.

—Só na sua cabeça.

—Você falava dela o tempo todo!

—Pra reclamar!

—Isso é a parte que está só na sua cabeça - a ruiva o olhava como se soubesse mais, o que o irritou.

—Não venha você também com essas besteiras, já me basta a internet toda! Um saco, viu…

—Tá bom, parei - ela levantou as mãos em rendição - eu andei vendo que as pessoas estão doidas por esse casal.

—Elas podem ficar doidas o quanto quiserem, já tenho a minha noiva.

—Claro, você está certo, eu nem devia ter tocado no assunto… - Ginny ia se desculpar, mas Ron a interrompeu.

—A Lilá é uma ótima pessoa, Gin! Ela é divertida, inteligente, agradável. Ela não merece ficar vendo essas coisas.

—São só brincadeiras, Ron.

—Eu sei, mas eu entendo que a deixam insegura, eu também me sentiria assim se fosse o contrário!

Ginny entendeu que as coisas não estavam 100% boas entre o irmão e a noiva.

—Vocês andaram brigando?

—Um pouco… não foram brigas imensas, mas umas discussões longas. Eu só quero que ela se sinta segura dos meus sentimentos.

—Dá um tempo pra ela se acostumar, isso passa - Ginny se inclinou para pegar umas jujubas do saquinho de doces.

—Espero que sim, segunda-feira é nosso aniversário de namoro, vou levá-la pra jantar - ele abriu um sorriso, feliz de poder proporcionar um bom momento para a noiva.

—Com o seu horário doido?

—Consegui uma reserva para as 22:30 naquele restaurante francês perto do Hyde Park.

—Hummm, todo romântico, gostei de ver!

Ron estava animado na segunda-feira. Lilá tinha adorado a ideia de um jantar elegante para comemorar o aniversário de namoro e ele queria muito que a noite fosse um sucesso para ela.

O dia correu muito bem, até as notícias que o jornal apresentaria estavam tranquilas. Ron estava terminando de dar o nó em sua gravata antes de se dirigir ao estúdio, quando ouviu batidas na porta.

—Pode entrar - ele esperava que fosse algum dos cabeleireiros vindo checar sua aparência, mas estava enganado.

—Ron, reunião urgente na sala 3, já estão te esperando - Elise parecia atordoada, o que já aguçou um certo alarme na mente de Ron.

Ele não se demorou a chegar na sala, encontrando-a cheia dos funcionários mais graduados da emissora. Viu Hermione sentada no canto esquerdo da sala e foi se acomodar ao lado dela.

—Sabe do que se trata? - ele viu que a morena parecia apreensiva.

—Ainda não, Harry só me pediu para vir correndo para cá, ele deve chegar com McGonagall a qualquer momento.

Como se tivessem ouvido o que Hermione falou, a diretora Minerva e Harry sugiram, tablets em mão e rostos fechados.

—Não temos boas notícias aqui - Minerva começou, comandando toda a atenção para si - há quinze minutos uma bomba estourou na Trafalgar Square. Ainda não se sabe que grupo é o responsável pelo ataque, mas eles se aproveitaram do transtorno e invadiram a National Gallery, fazendo um grupo de reféns.

—A polícia já está na cena e foi emitido um alerta na cidade - Harry completou - o jornal de hoje vai ser cancelado e vamos cobrir todos os acontecimentos do local em plantão.

—Isso quer dizer que ficaremos aqui até que tudo se resolva? - Ron indagou, já pensando que seus planos tinham ido por água abaixo.

—Infelizmente sim, Ron. Nós pedimos desculpa pela falta de aviso, mas as informações precisam ser dadas - Harry entendia que aquilo podia estragar vários planos de todos os funcionários, mas não tinha o que ser feito.

—Esperamos a compreensão de todos e que deem o seu melhor, agora ao trabalho - a diretora finalizou a reunião e foi uma correria de pessoas, cada um a seus postos.

Ron e Hermione ficaram para trás a pedido da própria diretora.

—Vamos colocar vocês no ar imediatamente para dar a notícia e avisar que vamos entrar em plantão. Assim que tivermos acesso à nossa câmera aérea do local e de um correspondente, voltaremos ao vivo. - Harry explicou e partiram juntos para o estúdio.

—A noite vai ser longa - Ron pressionou as têmporas, sentindo uma dor de cabeça chegando - vou precisar fazer apenas uma ligação antes, tudo bem?

Harry e Hermione assentiram e ele saiu para um canto para ligar para a noiva com as péssimas notícias.

—Oi, Lil, não sei se já foi divulgado em algum lugar, mas houve uma explosão de bomba no centro, estão com reféns - Ron escutou Lilá prendendo a respiração.

—Nossa, que horror! - como boa americana que era, qualquer possibilidade de ataque terrorista a deixava nervosa - você está seguro?

—Sim, foi um caso isolado, mas teremos que ficar aqui de plantão até que a situação se resolva - ele queria tanto que a noite fosse boa, como tivera essa azar?

—Isso quer dizer que nosso jantar não vai acontecer, não é? - ele escutou a decepção dela pelo telefone.

—Desculpa, Lil, não vou poder sair, você sabe que eu queria muito comemorar com você, mas…

—Eu sei, Ron, é o seu trabalho, não dá pra simplesmente ir embora, só vai me avisando pra eu não ficar preocupada - ela pediu - apesar que posso ver na tv - Lilá riu de sua besteira.

—Eu vou te avisando, obrigada por entender, vamos remarcar nosso encontro para outro dia! E vê se dorme, eu vou demorar.

—Tudo bem, querido, bom trabalho pra você.

Ron se sentiu ainda pior com a reação tão compreensível de Lilá. Talvez gritos e uma briga fossem mais fáceis de lidar, teria como dar um escape para sua própria decepção, mas a noiva se saiu como sempre: uma pessoa que entendia as responsabilidades que ele tinha.

—Pronto, já vamos entrar no ar? - Ron sentou em seu lugar, tentando deixar de lado seus sentimentos nada felizes.

—Sim, vamos à contagem! - Harry avisou a todos e em segundos, Ron e Hermione estavam nas telas do canal.

—Boa noite, estamos aqui com notícias de última hora - Hermione começou com o tom sóbrio que a situação permitia - uma bomba explodiu na Trafalgar Square e os responsáveis, ainda não identificados, invadiram a National Gallery fazendo reféns.

—Vamos cobrir todos os acontecimentos em tempo real, nossos correspondentes já estão no local e em breve voltaremos com atualizações - Ron complementou e a vinheta do plantão entrou no ar, antes do sinal de ao vivo ser desligado para o intervalo que precisavam.

—Ótimo, Ron e Mione - Harry subiu a plataforma do cenário - só estamos esperando o sinal do pessoal no local.

Estavam entretidos em uma conversa, quando Olívia veio carregando um telefone.

—Desculpa interromper - ela chegou toda envergonhada - é para você Hermione, parece importante.

Hermione pareceu espantada com a aparição inusitada, mas saiu do palco para ir atender, deixando Ron sozinho com Harry.

—Mais notícias dos policiais, Harry?

—Só sabemos que estão tentando entrar em contato com os criminosos.

—Bela maneira de estragar uma segunda feira e apavorar as pessoas - Ron resmungou.

—Sim, pelo menos ninguém se machucou até agora - Harry tentava ver o melhor lado do acontecido.

—Só espero que se resolva bem e logo… - o ruivo ainda tinha uma ingênua ilusão de salvar seus planos.

—O pior é que esse tipo de caso geralmente se arrasta, não é fácil negociar com criminosos, ainda mais com reféns envolvidos e… - Harry foi interrompido pela volta de Hermione que parecia um pouco preocupada.

—Harry, não vou poder ficar, tenho que ir - as palavras de Hermione atingiram algo dentro de Ron que o deixou irritado com uma velocidade impressionante, ele tinha os planos estragados e ela queria ir embora?

—Nada disso, Hermione, alguém morreu por acaso? - sua voz saiu mais ríspida do que o normal, mas não se importou com isso.

—Claro que não, mas mesmo assim…

—Então não é nada que não possa ficar pra depois, se eu vou ficar mofando aqui, você também vai - Ron cruzou os braços, sabendo que estava sendo um tanto infantil, mas aquilo não lhe parecia nem um pouco justo.

—Não perguntei nada para você, Ronald - dava para ver que Hermione estava furiosa - Harry, eu estou indo, fala pra esse mal educado segurar as pontas.

Ron abriu a boca para retrucar, mas Hermione já tinha se virado para partir, com Harry logo em seu encalço. Não demorou muito para que o rapaz voltasse e o ruivo pôde ventilar sua insatisfação.

—Como ela pode sair assim, Harry? Não era pra todo mundo ficar?

—Ela não me explicou muita coisa, mas disse que volta - Harry tentou acalmar seu apresentador, mas Ron tinha o maxilar tensionado de raiva.

—Acho bom, eu também tinha mais o que fazer além de ficar aqui.

Hermione levou mais de uma hora para voltar. Ron cuidou de todos os seguimentos do plantão enquanto isso, já estava cansado quando a morena reapareceu.

—Resolveu dar o ar da graça de novo? - ele provocou, assim que entrou em comercial.

—Eu falei que voltaria - foi tudo o que ela disse, se mantendo seca.

—Pode apresentar a próxima hora, tenho direito a esse descanso - não sabia porque estava se sentindo tão irritado com aquela situação, ele não era assim mesquinho, porém as frustrações do dia, somadas às notícias que estavam piorando e a dor de cabeça infernal que estava sentindo o deixaram com um humor péssimo.

—Já quer fazer corpo mole.

—Foi você que saiu daqui e teve tempo de descansar - ele rebateu com toda a ironia que tinha à disposição.

—Claro, fui ali pro café da esquina descansar - ela revirou os olhos - cuida da sua vida, Weasley.

Harry chegou com as novas atualizações e entraram no ar antes que a briga pudesse aumentar. Por sorte, aquele plantão precisava de caras sérias, senão todos estranhariam as expressões duras dos apresentadores que estavam com muita vontade de torcer o pescoço um do outro.

—Já volto, Harry - Hermione novamente se retirou da sala sem mais nem menos, deixando o ruivo indignado.

—O que é isso agora? Posso ir embora também?

—Calma, Ron, ela já volta.

Realmente, em menos de dez minutos Hermione estava de volta, porém cada vez que saiam do ar, ela se retirava e dizia que já voltava enquanto Ron era deixado ali para cobrir qualquer notícia que pudesse chegar.

Toda vez que ela sumia ele ficava mais irritado, até que atingiu seu limite e foi atrás dela.

—Chega dessa palhaçada - ele murmurou ao se levantar.

Quando saiu do estúdio, a viu pegando o caminho para onde ficavam os escritórios e decidiu segui-la e dizer exatamente o que achava daquele comportamento relapso. Estava pronto para abrir a porta e dizer umas verdades, mas vozes chegaram ao seu ouvido.

—Como você está, amor? 

Amor? A palavra deixou Ron congelado na entrada, ela tinha trazido algum namorado/noivo/marido para o trabalho?

—Minha garganta tá doendo - uma voz infantil respondeu, deixando Ron mais confuso ainda - mãe, eu quero ir embora.

—Eu sei, pequena, já já nós vamos, tem umas coisas importantes acontecendo e a mamãe precisa ajudar a contar pra todo mundo no jornal.

Ele tinha ouvido mãe?

Num átimo, a irritação de Ron se transformou em culpa. Se sentia o pior ser humano do mundo ao ter brigado com Hermione por deixar o estúdio quando ela tinha uma criança doente em casa. Sem saber direito o porquê, o ruivo abriu a porta. Uma vontade sem explicação se apoderou de suas ações, ele queria colocar um rosto na voz infantil que escutara. Além disso, nunca tinha imaginado Hermione como mãe, a curiosidade e a surpresa também gritaram alto.

—Hermione? - ele abriu a porta devagar, sem querer assustar as duas.

—Ron? - ela o olhou espantada, com toda certeza não o esperava ali.

Estava sentada no sofá, com uma garotinha pequena que tinha a cabeça apoiada em seu colo. A menina tinha os olhos fechados, mas quando ouviu a voz da mãe, abriu o par de íris azuis que se encontraram com as dele. Sem mais nem menos, ela abriu um sorriso, como se Ron fosse algum amigo que ela adorou reencontrar.

—Olha, mãe, é o seu amigo! 

Ele achou um tanto curioso que a filha de Hermione se referisse assim a ele já que nunca foram propriamente amigos, mas não era hora de perguntar a razão

—Eu tenho que ir, pequena, quando der eu volto - ela deu um beijo na testa da filha - tenta dormir.

—Tá bom - a menina assentiu e se inclinou para cochichar algo no ouvido da mãe.

—Hermione, eu… - ele queria se desculpar, mas a morena se levantou e não deu chances.

—Vamos, devem estar nos esperando.

Hermione passou por ele, não deixando escolha para o ruivo a não ser sair da sala. Ela dava passos apressados em direção à sala de transmissão, mas Ron sentia que devia algumas palavras a ela antes de voltarem ao trabalho.

—Só um minuto, antes de irmos pro estúdio - ele começou, tocando o ombro de Hermione e conseguindo que ela parasse para escutá-lo. O corredor onde se encontravam estava vazio, o que Ron agradeceu mentalmente - me desculpa, Hermione, eu fui um idiota, você nunca me disse que tinha uma filha.

Por um instante, ele conjecturou se aquela atitude dela havia sido deliberada, porém era mais provável que ela apenas não se interessasse nele o suficiente para dividir fatos de sua vida.

—Não é como se conversássemos sobre… coisas, o assunto não surge do nada - ela deu de ombros - mas tudo bem, Weasley.

—Você está certa. Qual é o nome dela?

Ele percebeu que saíra da sala sem saber o nome da garotinha.

—Rose.

—Ela está doente? - a pergunta era um tanto idiota, só de olhar ele pôde perceber que a menina não estava bem, mas algo o fez querer saber exatamente o tipo de idiota que fora.

—Uma dorzinha de garganta, mas vai passar - ele notou que Hermione parecia mais preocupada do que as palavras que saiam de sua boca podiam denunciar, mas não ia insistir.

—O pai dela não pode vir buscá-la?

O fato de Hermione ter uma filha o fez pensar se ela seria casada. Não fazia ideia da razão para tal interesse, já que eram apenas colegas de trabalho. Porém, alguém que dividisse a vida com ela poderia existir e a menina não precisaria ficar mal ajeitada em um sofá.

—Aquele imbecil não quer saber de nada da vida, muito menos de ser o pai de alguém… - os olhos de Hermione ficaram afiados, mas ela se interrompeu, parecia que se acusava e ter dito demais - me desculpe.

Então ela não tinha um relacionamento com o pai da Rose. De alguma forma havia terminado mal e ele não se interessava pela menina. Que tipo de pai largava uma filha assim? Por um instante, Ron sentiu raiva de imaginar que em algum lugar do mundo, tinha um cara que poderia ter providenciado uma cama confortável para Rose passar a noite enquanto a mãe trabalhava, mas decidira que não era problema seu.

—Não se preocupe… ele deve ser um idiota, a Rose parece ser uma menina adorável - Ron estava fazendo muitas coisas que não se imaginou fazendo, entre elas estava assegurar Hermione de que ela tinha toda razão em estar brava com o pai de sua filha. Quando foi que o mundo chegou àquele ponto?

—Ela é - os olhos castanhos de Hermione assumiram novamente um tom de ternura, claramente ela amava a filha mais que tudo.

—É melhor você ir pra casa, eu fico, não tem problema.

—Não, eu vou ficar - não esperava outra coisa dela, lembrava como Hermione podia ser orgulhosa e ela o encarava como se o desafiasse a discordar.

—Mas a… - ele ia encarar o embate e insistir para que ela fosse cuidar da filha que precisava mais de descanso do que ele, porém ela logo o interrompeu.

—Ela tomou outro remédio agora, vai dormir rápido. Venho ver como ela está daqui a pouco.

—Claro - não ia adiantar insistir - me desculpa mesmo, Mione. 

Ron achou importante repetir suas desculpas, talvez mais para apaziguar seus próprios sentimentos do que os dela. Nem percebeu que usara o apelido dela ao invés de seu nome, como geralmente a tratava.

—Não tinha como você saber - ela dispensou o assunto e os dois voltaram para o caminho que deveriam seguir.

Foram mais algumas longas horas antes que a polícia de Londres conseguisse negociar com os criminosos. Descobriram que se tratavam de ladrões de artes, nada relacionados à células terroristas ou coisas do gênero. O episódio terminou com os reféns soltos e os 5 integrantes da quadrilha presos com um deles ferido numa troca de tiros com os oficiais.

Já eram mais de duas da manhã quando Ron e Hermione deram as últimas notícias à população, assegurando a todos que podiam dormir em paz. Nenhuma das obras da galeria havia sido danificada e não tinham riscos de outros ataques.

Todos os funcionários estavam exaustos, os dois apresentadores foram aconselhados a ir embora com os figurinos e devolvê-los no dia seguinte, além de terem alterado o início do dia de trabalho para uma hora e meia depois. Era importante que tivessem rostos apresentáveis para o jornal.

Ron foi rapidamente juntar suas coisas em sua sala, já estava saindo, porém, decidiu num impulso, checar se estava tudo certo na sala ao lado. Ele bateu na porta de leve para não acordar a menina, caso estivesse dormindo e ouviu a voz de Hermione dizendo que entrasse.

—Como ela está?

—Apagou mesmo, não vou acordá-la, ela demorou demais para dormir.

Ela se abaixou para passar as mãos no pescoço e pernas da filha e pegá-la no colo, mas Ron se adiantou.

—Deixa que eu te ajudo, eu levo ela até o carro.

—Não precisa, estou cansada de carregar a Rose quando ela dorme na sala.

—O carro fica longe, tenho certeza que na sua casa é mais perto.

Hermione pensou por alguns instantes e ele não sabia se a morena daria o braço a torcer.

—Por favor, é o mínimo que eu posso fazer depois de toda a minha babaquice - ele deu um sorriso sem graça ao lembrar de seu comportamento.

—Tudo bem - ela se rendeu, indo pegar a bolsa enquanto Ron pegou Rose e a apoiou no peito, deixando a cabeça dela descansar em seu ombro.

A menina se mexeu um pouco e respirou mais fundo, porém não acordou. Os dois seguiram o caminho da saída, e Ron pôde ver alguns olhares curiosos em sua direção.

Chegaram no carro de Hermione, ela abriu a porta traseira e Ron acomodou a menina ali. 

—Obrigada pela ajuda - era estranho ver uma Hermione tão gentil quando o assunto era ele.

—Sem problemas, só não me deixa passar uma vergonha assim de novo, tá! - ele passou a mão pelos cabelos - mais algum parente que precisa de vigia constante que eu precise saber? Irmão mais novo, sobrinho…

Ele estava puxando assunto sem nem saber porquê, o fato era que não sabia como se despedir dela numa situação daquelas. E soube menos ainda quando a ouviu rindo.

—Não se preocupe, sou filha única e mãe de uma filha só também.

—Certo.

—Boa noite, Weasley.

—Boa noite.


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Notas finais do capítulo

Aaaaaah o Ron conheceu a Rose com direito a ficar com a cara no chão de vergonha! E agora? Será que ele vai se apaixonar pela menina? O que raios esse pai desnaturado tá fazendo da vida que não vem criar a fofinha? E para os amantes de Hinny por aqui, GInny apareceu na história! Será que ela e o Harry vão se encontrar em breve?
Me contem o que acharam lá nos comentários!
Bjus