Spotlight escrita por Fe Damin


Capítulo 18
Capítulo 18


Notas iniciais do capítulo

Oie, tem alguém aqui ainda?
Não sei nem com que cara eu volto aqui depois de tanto tempo para postar um capítulo novo hauhauah
Maaaaaas, caso vocês consigam me perdoar por isso, e ainda queiram saber como terminar essa história do Ron e Mione e do Harry e Ginny, eu tenho uma boa notícia!
Eu terminei de escrever a fic!
Espero que gostem desse capítulo que está cheio de reviravoltas.



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Meu povo lindo, fui só eu que entendi isso certo? Nossa querida Hermione tem um passado com o atlético, e barraqueiro, Viktor Krum? Eu to mais do que passada! Teve direito até a confusão em porta de escola com nosso ruivo favorito no meio! #acasatapegandoFOGO 

Rita Skeeter - via Twitter

 

Não faltava mais nada para aquele ser o dia mais surreal da vida de Hermione. Os relatos que Ron contara transformaram seus joelhos em gelatina e seus nervos em frangalhos. Por mais que estivesse num misto de vontade de se encolher e chorar ou de ir matar o ex marido, ela sabia que tinha agir e rápido.

Três míseras horas.

Foi tudo que ele concedeu, o tempo que tinha para elaborar um plano de defesa e contra-ataque a fim de não sair como a parte perdedora daquela tal guerra que o jogador inventara. Num estalo ela sabia o que tinha que fazer: controlar a narrativa.

Não foi muito difícil explicar para a diretora McGonagall o que havia acontecido e conseguir autorização para o que estava prestes a fazer. Ron se prontificou a apresentar a edição do jornal sozinho aquela noite e Hermione foi se ocupar de fazer a ligação que poderia significar uma baita vantagem contra Krum.

A maquiadora estava terminando os últimos retoques em seu rosto, todos já estavam a postos. Uma equipe muito diferente da qual Hermione estava acostumada, mas ela se viraria bem. O importante era passar a mensagem verdadeira de sua história.

Agradeceu aos céus mentalmente por Rita Skeeter ser esperta o bastante para não deixar escapar uma oportunidade de ouro e também por ter a agenda vazia no momento.

—Tudo certo, podemos começar? - ela olhou ansiosa para Hermione sentada confortavelmente na poltrona da sala que Harry tinha conseguido para fazerem a entrevista.

—Podemos, espero me sair bem - a morena não sabia dizer se falava com a blogueira ou com ela mesma.

—Você nasceu para as câmeras, querida! Mesmo com assuntos delicados - Rita apertou seu ombro de leve e a jornalista se admirou com a sinceridade que ela passava.

Hermione não esperava encontrar alguém tão humano por trás das redes sociais de fofocas e vidas de famosos, porém Rita a surpreendera. Tinha olhos sagazes de quem entendia tudo rápido e, em poucos instantes, tomou seu lado na situação narrada pela morena. Aquela mulher teria sua gratidão, mesmo que gostasse tanto de inflamar o público acerca de sua vida amorosa.

—Só repassando, assim que derem o ok, nós estaremos ao vivo no youtube e instagram, então não tem como repetir nada, é pra valer! 

—Certo - Hermione flexionou os dedos tentando aliviar a tensão.

—Finge que é só mais uma edição do Profeta Diário.

—Com a diferença de que eu sou a notícia dessa vez, não é? - um riso fraco escapou de seus lábios.

Tinham conversado em linhas gerais para onde a entrevista deveria caminhar, não havia tempo para mais do que isso. A contagem regressiva começou e, finalmente, os celulares apontados para elas foram acionados.

—Olá, seguidores queridos, tenho certeza que por essa vocês não esperavam, não é? Uma entrevista mais do que super exclusiva com a jornalista mais amada de todas, Hermione Granger - Rita tinha o carisma de que estava mais do que confortável em se expor diariamente para um mar de gente - dá um olá pra todo mundo, Hermione, posso chamar assim?

—Pode, claro, Rita. Boa noite a todos - ela olhava diretamente para a câmera como fora indicada a fazer.

—Ai, gente, não é o “boa noite” mais icônico do Reino Unido? Nem acredito que estou ouvindo na minha frente! - ela chacoalhou as mãos como se estivesse se abanando, quase fazendo Hermione rir.

—Vou falar bom dia e boa tarde também, vai saber o horário que as pessoas vão assistir - deixou um sorriso surgir nos lábios e tentou manter a voz leva, precisava passar simpatia também..

—Já estão todos incluídos, amores! Mas vamos logo ao que interessa! Além de apresentadora do jornal mais badalado do país, junto com o ruivo favorito dos fãs, parece que algumas coisas estranhas andaram acontecendo, não é mesmo, Hermione? Uma entrevista tensa com o jogador do Liverpool, Viktor Krum, ontem e hoje um escândalo inesperado com o mesmo aparecendo na frente de um colégio gritando a plenos pulmões que queria levar a filha dali. Vamos começar situando nossos seguidores, era o colégio da sua filha, certo?

—Isso mesmo e, como acredito que a maioria das pessoas seja boa em dedução, o Viktor e eu tivemos um relacionamento anos atrás - era muito esquisito pensar que estava falando aquilo para milhares de pessoas.

—Segura esse babado, meu povo! Então ele é o pai da sua filha?

—Bom, a palavra pai é muito forte, porque na minha concepção ser pai significa muito mais do que doar material genético e foi só isso que ele fez - era importante para ela que o público visse o completo descaso que Viktor tinha pela paternidade.

—Me diz uma coisa, como você conseguiu esconder isso da mídia por tanto tempo?

—Eu nunca escondi nada ativamente na intenção de ocultar alguma informação que eu achasse prejudicial ou “vergonhosa”, minha intenção foi sempre a de preservar a minha filha, por isso não tenho nada dela em redes sociais e tudo mais… e vamos ser sinceras, Rita, até bem pouco tempo atrás eu era uma pessoa desconhecida, ninguém ia se preocupar em procurar sobre a minha vida.

—Como isso mudou, não é? Só pra te dar uma noção, nós já estamos nos top trends to twitter! Mas voltando um pouco, você alegou que Viktor Krum nunca foi um pai, ele não quis ser? Ou você o impediu? Conta pra gente!

Hermione respirou fundo, tentando não pensar na atenção que o público estava dando a ela naquele momento. Era muita gente! Precisava fazer aquilo direito.

—De forma alguma eu o impedi, na época morávamos juntos, ele tinha acabado de ser contratado para ir para o Liverpool, eu estava decidida a ir com ele, largar meu emprego recente na Rede Grifinória, mas quando descobri que estava grávida ele disse que não queria uma criança de jeito nenhum, quis que eu interrompesse a gravidez! 

—Que coisa horrível! Não acredito nisso - a cara de indignada de Rita comoveu a jornalista.

—Foi o que aconteceu, infelizmente, então eu escolhi a minha filha e nos separamos.

—Mais um homem para as estatísticas dos idiotas que abandonam os filhos. Por que vocês ficaram juntos? Você é uma pessoa tão centrada, tão responsável…

—Olha, Rita, me pergunto isso todos os dias, basicamente porque eu era idiota!  - ela deu de ombros, mas pensou melhor - Não, isso não seria justo com a Hermione de anos atrás. Foi um momento complicado na minha vida, ele surgiu e eu enxerguei um salva vidas que nunca existiu.

Ela se lembrava de como estava se sentindo sozinha. Tinha acabado a faculdade, os pais foram morar do outro lado do mundo e ela preferira ficar. Parecia que sua vida tinha virado do avesso e não tinha controle de nada.

—Quem nunca caiu nessa cilada, não é mesmo?

—E a verdade é que eu não precisava de um salva vidas, eu me salvei sozinha, mas também não precisava de uma âncora. A gota d'água foi quando ele decidiu que não seria pai e pronto e eu decidi que seria mãe e pronto também. Na verdade, escolher entre a minha filha e ele foi a coisa mais fácil do mundo, porque não há comparação.

—Claro que não! Várias fotos da pequena Rose foram divulgadas mesmo sem você querer e eu pude ver que ela é uma menina adorável.

—Ela é um amor de criança - sabia que o amor pela filha transparecia em cada palavra sua - e não merecia passar por esse tipo de situação com um pai que não se importa com ela, só com ele mesmo.

—Mas não é o que ele alega, não é? Tava lá na escola dizendo que queria ver a filha, que você não deixava.

—Nunca teve o que deixar ou não deixar, Rita, ele sumiu. Nunca recebi sequer uma ligação para saber dela, aliás, ontem no estúdio foi a primeira vez que o vi em anos, pode imaginar a minha surpresa, foi tudo inesperado.

—Deus me defenda de dar de cara com algum dos embustes que eu já namorei nessa vida!

—Não é fácil posso te dizer, peço até desculpas para a audiência por ter sido um pouco deselegante naquela entrevista, mas eu senti a provocação dele e na hora só conseguia pensar na Rose.

—A gente super entende, não é, pessoal? O cara evapora, aparece do nada e joga charadinha assim? Se fosse eu, tinha dado uns tapas pra completar!

—Em rede nacional fica difícil - ela disse rindo.

—Ah, mas a gente dá um jeito! E se ele quiser brigar pela menina agora?

—Ele vai perder tempo, eu já disse isso a ele. Eu sei bem que ele quer usar a imagem da minha filha pra reconstruir a carreira que está na corda bamba.

—Está falando das acusações que vieram à tona recentemente?

—Isso, não é bom pra imagem de ninguém, muito menos de um jogador aclamado que vive de propaganda e patrocínio. A nossa sociedade é tão machista, que denúncias de abuso não costumam acabar com carreiras de homens, mas não vai ser com ajuda da minha filha que ele vai sobreviver.

—Isso mesmo! Que baixo querer usar a menina, mas vai que algum juiz julga que ele tem o direito de voltar atrás nesse abandono?

—Eu tenho um documento assinado por ele abrindo mão dos direitos de paternidade, ele nem quis registrar a Rose, não tem pai na certidão dela. Imagina o que é isso para uma criança? Ela tem só seis anos, mas já faz perguntas, já consegue ver que a maioria dos colegas não tem só a mãe em casa e quer saber porquê.

—Um documento, ainda bem que você se preveniu! Tá vendo, mulherada, não fiquem na mão desses homens por aí! Se respaldem! Você trouxe?

Hermione não teve tempo de ir em casa buscar o original, mas ligou para Ginny pedindo que o encontrasse e mandasse uma cópia.

—Tá bonitinho assinado, galera! - Rita pegou o papel e virou para o celular -  Esse jogadorzinho não vai botar as mãos na fofa da Rose!

—Eu sei que ele vai querer dizer que eu sou a sem coração que quer deixar um pai longe da filha, mas me diz, que tipo de pai é esse? Se for para não usar a imagem dela em nada eu nunca negaria que eles se conhecessem, sei que é um direito da Rose também, de saber quem ele é, mas duvido que seja o caso.

—Você está sendo boazinha demais, não deixa esse homem nem botar os olhos nela! Eu hein… maaaaas, como não só de furos bombásticos é feita a nossa noite, podemos mudar um pouco o assunto?

—Essa cara me deu até medo - ela riu do sorriso atrevido de Rita, mas o que a preenchia era alívio. Tinha contado sua história primeiro, agora estava tudo lá para as pessoas verem e Victor não podia fazer nada contra isso, ele seria muito idiota de ir em frente com a própria entrevista depois disso.

—Só pra fechar, eu prometo que não me demoro, só para matar a curiosidade de quem está nos assistindo. Você deve estar inteirada na campanha nacional que existe para você e o seu colega Ron, não é?

—Só se eu morasse em uma caverna para não saber.

—Então só responde pra gente, sim ou não? - o olhar de expectativas era inegável.

—Somos amigos, Rita.

Por um instante ela imaginou o que aconteceria se dissesse que era amigos que se beijavam com certa frequência, mas o dia já estava cheio demais de emoções.

—Ah, mas só amigos?

—Nos conhecemos há muito tempo, estudamos juntos na faculdade - resolveu dar uma pista de informação para os fãs, afinal eles mereciam se fosse para ficar ao seu lado no embate que sabia que teria com Krum.

—Não me diga! Galera, tá ficando cada vez melhor! Amigos que se reencontraram!

—Sem imaginação, Rita - Hermione chacoalhou as mãos, já imaginando a tonelada de novas histórias fictícias que receberia.

—Tudo bem, vamos continuar na torcida. Eu só quero terminar dizendo que eu vim aqui hoje porque achei muito importante passar a mensagem verdadeira desse escândalo que surgiu. Nós mulheres temos que nos apoiar e ajudar nossas vozes a serem ouvidas, senão os homens vão continuar com a narrativa como é feito há séculos. Então você que está aí em casa e está passando pela mesma situação, veja que não está sozinha! Procure quem a ajude! Quero agradecer muito a você Hermione pela confiança e pela oportunidade, espero que possamos voltar a nos ver, de preferência para notícias mais felizes.

—Obrigada, você, Rita. Eu só queria colocar às claras a realidade, pois sei que não vai demorar para versões deturpadas aparecerem e eu nunca ficaria de braços cruzados quando o assunto é a segurança e a felicidade da minha filha.

Se despediram dos espectadores e a entrevista terminou. Hermione ficou conversando um pouco mais com Rita, até que a equipe dela conseguisse se preparar para partir.

Pronto, tinha acabado! Conseguira passar pela entrevista mais aterrorizante de sua vida, deixava qualquer entrevista de emprego no chinelo. 

A jornalista caminhou por entre os corredores buscando o elevador que a levaria para o andar de sua sala, onde poderia pegar suas coisas e deixar para trás a loucura daquele dia e se enfiar em casa. Não tivera coragem de pegar o celular e espiar a repercussão de sua aparição inesperada na internet. E se todos a odiassem agora e estivessem do lado do jogador idiota que chamava de ex marido?

Não se importava nem um pouco em ter uma opinião negativa na mídia, bom, isso não era bem verdade, precisava disso para sua profissão, mas o que a preocupava mesmo eram os desdobramentos que isso poderia ter em uma futura briga pela guarda de Rose. Por mais que ela soubesse que estava legalmente amparada, não conseguia deixar de lado um aperto no estômago que dizia que não estava segura ainda.

Teve que se jogar no sofá quando entrou em sua sala, não fez questão nem de acender a luz, só precisava de uns instantes de paz. Se concentrou em ritmar a respiração e deixar sumir um pouco da tensão que ainda sentia no corpo.

Hermione deve ter perdido a noção do tempo, seus olhos estavam pesados, quase completamente fechados quando uma batida na porta a despertou.

—Mini?

—Entra, Ron - a luz invadiu o ambiente quando o ruivo pisou para dentro da sala - você está bem?

—Estou, pode acender a luz - ele fez como ela pediu, fazendo com que precisasse de uns instantes para ajustar os olhos à iluminação invasiva - deu tudo certo no jornal?

—Sim, sem maiores contratempos - ela viu que ele a olhava de forma intrigado, sabia o que ele queria perguntar - e como foi com a Rita?

—Acho que correu tudo bem, só… - deixou um suspiro sair dos lábios - só foi muito cansativo, estou exausta.

—Dá pra entender, Mini, muita coisa acontecendo junto - ele caminhou em sua direção e ela abaixou os pés do sofá, dando licença para que ele se sentasse ao seu lado - já olhou o que estão dizendo?

—Nossa, não… nem sei se quero saber - ela sentiu as mãos grandes dele puxando suas pernas de volta, colocando-as por cima de seu colo para que ela pudesse deitar mais confortável novamente.

—Uma hora ou outra você vai acabar vendo.

—Pode ser outra hora então? - ele riu do bico que ela fez, estar ali brincando quase fazia parecer que tudo fora apenas um pesadelo - você assistiu?

—Eu poderia fingir que não, mas não vou mentir, assisti antes de vir pra cá - ele mordeu a boca como se sentisse culpa por sua ação.

—Não teve tempo de ir tirar esse terno e gravata, mas de ver a minha cara em exposição teve, né bonitinho? - Hermione torceu o nariz, mas não estava brava de verdade, só queria tirar o foco de seus problemas, ainda tinha uma filha alheia a tudo em casa.

—Mas é que eu fico muito gostoso de terno, por que ia me livrar dele assim tão rápido?

—Você está dando muita atenção aos seus fãs…. - os dedos de Ron faziam círculos em sua pele, um distração mais reconfortante do que deveria.

—Já vai para casa?

—Sim, só vim respirar um pouco, sinto que ainda tenho umas batalhas pela frente, mas não sei se tenho energia para conversar com a Rose ainda hoje.

—Ela já deve estar dormindo, não?

—Espero que sim, pelo menos eu consigo organizar melhor a minha cabeça.

—Vai dar tudo certo, Mini, você agiu super rápido, o estrupício do Krum nem deu entrevista nenhuma, deve ter visto que seria uma tiro no pé - Ron contou, tentando tranquilizá-la.

—Deixei meu telefone desligado, não quero saber dele me ligando de novo, imaginei que o faria depois que visse tudo que eu falei.

—Bom, eu deixei o meu desligado também, permanentemente - o ruivo puxou o aparelho do bolso e mostrou a ela o estado que estava.

—O que aconteceu? - Hermione riu da cara de mortificação do amigo.

—Cortesia do seu ex - ele deu de ombros.

—Não acredito, você não me contou isso mais cedo - ela se sentou num pulo, se esticando para pegar o celular e verificar todas as rachaduras - faço questão de te dar um novo, Ron, nem deve valer a pena consertar.

—Até parece, Mini, tava na hora de eu comprar outro mesmo, devo ter um antigo em casa, vai quebrar um galho até eu ir atrás de um novo.

—Mas isso só aconteceu porque meus problemas espirraram em você! - Hermione se sentia péssima por saber que pessoas completamente inocentes da situação estavam sendo atingidas.

—Eu quis me envolver, Mini, sou grandinho, não adianta fazer cara feia - ele riu, apertando a bochecha dela que desfez a cara séria em um sorriso.

—Droga, quase sinto saudade da época que minhas caras feias te assustavam.

—Essa época existiu? 

—Bobo! - ela deu um tapinha no ombro do ruivo - mas isso não é justo mesmo, Ron.

—Tudo bem, você pode ir comigo escolher um celular novo, que tal? É tudo que eu vou aceitar.

Hermione tinha acabado de aceitar as condições quando Harry veio se juntar aos dois na sala.

—Todo mundo vivo por aqui? - a visão do amigo sempre era algo reconfortante.

—Na medida do possível, Harry, só quero ir para casa.

—Você estava ótima na entrevista, Mione.

—Obrigada, aliás, obrigada pela ajuda toda, nem tive tempo de agradecer - ela se levantou para abraçá-lo.

—Que isso, sabe que eu faço qualquer coisa pela minha formiguinha! Mas tenho notícias não muito animadoras para você.

—Ai, Deus… não sei se aguento mais alguma coisa hoje…

—O que aconteceu, Harry? - Ron levantou e veio se juntar a eles.

—A portaria ligou avisando que uma multidão de repórteres e fotógrafos estão esperando na saída do estacionamento - o olhar dele tentava passar solidariedade a amiga.

—Eu devia ter ido embora logo, antes desse circo se formar, como vou sair em paz agora?

—Não sei, Mione, mas vamos dar um jeito.

—Tem uma saída pelos fundos do estacionamento não tem? - Ron estava concentrado, elaborando alguma ideia.

—Tem, não é usada normalmente, mas posso pedir para a segurança abrir.

—Pronto, você sai por lá, Mione.

—E se me seguirem até em casa? Não sei se já descobriram meu endereço, uma hora sei que vai acontecer…

—Verdade, podem te ver dentro do carro - ponderou, Harry.

—Posso te levar de moto até em casa, com o capacete ninguém sabe quem é, e chamaria menos atenção - o ruivo se ofereceu.

—Já está tarde, Ron, não vou te dar mais esse trabalho hoje - ela não sabia como ia compensar tudo que o amigo já fizera, não precisava adicionar nada à lista.

—Larga de ser teimosa, Mini, se to oferecendo é porque não me importo de te levar - ele resmungou, sabia como era a forma de agir daquela cabeça dura.

—Pode ser a melhor solução mesmo, Mione.

—Só precisamos encontrar outro capacete, eu só tenho um.

—Não seja por isso, vou em busca de um - Harry saiu antes que Hermione pudesse negar a ajuda.

—Ron, eu morro de medo de moto! - só de pensar em subir em um veículo que não ficava em pé sozinho ela já sentia o estômago se apertando.

—Não vou te deixar cair, Mini. Você não quer chegar logo em casa?

—Quero, mas…

—É o que temos para hoje, você vai chegar sã e salva - ele se inclinou e deu um beijo em sua bochecha - promessa de escoteiro!

Por sorte, a assistente de Hermione também vinha de moto para o trabalho e não se importou em emprestar o capacete e ir de taxi para casa naquele dia. Hermione assegurou que pagaria pelo transporte dela e a moça a tranquilizou de que não tinha problema.

Por mais nervosa que ela estivesse, o plano dos meninos realmente deu certo. Ela subiu na garupa da moto, apertando Ron o mais forte que conseguia para se assegurar de não cair e conseguiram sair sem maiores problemas. Ela chegou a ver o aglomerado de pessoas na frente da emissora, mas não deu atenção nenhuma. Ninguém percebeu que era ela por trás do capacete rosa choque.

—Viu, chegamos, estamos vivos! - Ron saiu da moto e a ajudou a descer.

—Espero nunca mais precisar subir nesse troço de novo, que nervoso!

—Ah, você gostou um pouquinho, vai! Eu vi você fechando os olhos e aproveitando o vento - ele zombou.

—Foi de medo!

—Preciso te levar para passear de moto mais vezes.

—Vai sonhando, Weasley! - ele riu do tom imperativo - mas obrigada mesmo assim. Quer entrar?

Ela não saberia dizer de onde veio o convite, mas sabia que teria uma conversa, mesmo que breve com Ginny e a presença de Ron parecia algo natural, era irmã dele, afinal.

—Tudo bem, aproveito e vejo se a Ginny quer uma carona já que tenho um capacete extra.

Hermione entrou em casa, deixando a chave e a bolsa na mesinha ao lado da porta. Ginny não estava na sala, o que fez o ruivo chamar por ela.

—Gin, chegamos.

—Oi, Mione, oi irmãozinho - a moça respondeu vindo da cozinha. Se aproximou para ganhar um beijo do irmão.

—Eu trouxe a Mione de moto pra fugir dos curiosos, quer que eu te deixe em casa?

—Carona não se nega! Ainda mais de noite - o convite pareceu animá-la, Hermione não conseguia entender como alguém podia ficar feliz com o prospecto de andar em uma moto.

—Eu só queria conversar com você um pouco antes de ir, Ginny - não queria ocupar demais o tempo dela, mas precisavam trocar algumas palavras sobre tudo que tinha acontecido.

—Claro, imaginei que sim, como vocês estavam vindo, eu fiz um chá, a Rose já está dormindo - ela os guiou de volta para cozinha onde a mesa já estava arrumada com as xícaras e a bebida quente.

—E como você sabia que a gente estava vindo? - Ron indagou assim que se sentaram e a ruiva começou a servir o chá.

—Eu…

—Posso imaginar quem avisou - Mione disse em tom conspiratório para Ron.

—O Harry dos lindoooos olhos verdes - o ruivo provocou a irmã, recebendo uma careta e resposta.

—Vocês dois são tão engraçados - Ginny revirou os olhos.

—É só brincadeira, Gin, fico feliz que vocês estejam se dando bem - Mione tinha um bom pressentimento sobre os dois, esperava que estivesse certa.

—A gente só saiu uma vez.

—Eu sei.

—Claro que sabe - Ginny riu, era óbvio que a melhor amiga de Harry estivesse a par das fofocas, só era um tanto estranho o fato de ser sua chefe também.

A fumaça da bebida saia do copo dos três enquanto conversavam. Hermione não poupou detalhes para informar Ginny sobre a situação com o pai de Rose e como as coisas podiam ficar complicadas caso ele decidisse comprar briga, o que ela pedia aos céus que não acontecesse.

—Entendi a situação, Mione, é bem delicado para a Rose mesmo… imagino que você não está ansiosa para ter essa conversa com ela.

—Nem um pouco, mas é necessário - a morena passou mão pelo rosto - de jeito nenhum quero que ela saiba por outra pessoa. Estou pensando em nem mandá-la para a escola amanhã, quero ter tempo para conversar com calma e isso só no sábado.

Hermione sabia que teria que abordar o assunto com tranquilidade e sutileza. Não podia chegar para uma menina de seis anos e jogar a bomba que o pai era um jogador famoso que provavelmente todos os amiguinhos dela conheciam e que não queria estar em sua vida até o presente momento.

—Ela poderia ouvir alguma coisa na escola - completou, Ron, girando a xícara vazia com o dedo.

—Melhor mesmo ela não ir. Não terei aula amanhã, posso chegar mais cedo.

—Você é um anjo, Ginny! - o alívio estava visível em suas palavras - Muito obrigada, eu ia pedir mais esse favor para Minerva, mas assim não preciso abusar de novo da sorte.

Mesmo sendo arriscado, Hermione pediria mais aquele dia à McGonagall se fosse necessário. Entre Rose e qualquer outra coisa, ela sempre escolheria a filha.

—Então vamos, Gin? Já está tarde, a Mione precisa descansar.

Os irmãos concordaram em partir e Ginny foi até a pia para deixar as coisas em ordem.

—Deixa isso aí, amanhã eu dou um jeito - Hermione afastou a ruiva da louça.

Se despediram e Ron foi pegar os capacetes que deixara no sofá. Ginny escutou barulho vindo de fora e foi olhar pela janela.

—Não sei vocês, mas acho que não vamos a lugar nenhum, olha onde sua moto está Ron - ela fez sinal com a mão para que o ruivo chegasse no local onde ela estava.

—Puta merda, esses caras não sossegam? - Ron passou a mão pelos cabelos.

Um amontoado significativo de pessoas rodeava a entrada da casa. Estavam praticamente em silêncio, visto que aquela era uma área residencial e já estava tarde, mas mesmo assim os olhos seguiam atentos.

—São jornalistas igualzinho você, irmão - Ginny deu de ombros.

—É o trabalho deles buscar o que dá audiência, só queria que não fosse a minha vida - era tudo tão cansativo. Hermione nunca pensou que sua profissão pudesse levá-la a esse nível de estresse. Se não estivesse em evidência, não haveria uma única alma querendo saber de sua vida ou de sua filha.

—Como vou tirar a moto do meio desse mar de gente?

—Não vai ter como, Ron, antes de você chegar lá já vai ser atacado. Acho melhor ficarem aqui essa noite. Eles vão cansar de esperar, devem achar que eu não saí do jornal ainda. 

Hermione tentava ser o mais racional possível com a situação. Se os deixasse sair, seriam encurralados pelos jornalistas até que dessem uma declaração. Ela poderia chamar a polícia, mas não cairia bem hostilizar a mídia. Sabia como aquelas coisas funcionavam.

—Por mim tudo bem, posso dormir no quarto da Rose, eu só preciso passar em casa antes de você ter que sair - Ginny não apresentou nenhuma oposição à ideia..

—Sem problemas, vou pegar um lençol e cobertores para você colocar no bicama e posso te emprestar uma roupa para dormir.

—Seria ótimo, assim tomo um banho.

Hermione nem esperou a resposta de Ron, subiu rapidamente para pegar os itens que tinha falado a Ginny que providenciaria. A ruiva deu boa noite aos dois e subiu para tomar seu banho e ir dormir. Só naquele momento, Hermione se deu conta de que tinham um ruivo para acomodar e nenhuma acomodação real para isso.

—Eu não tenho quarto de hóspedes, Ron, transformei em escritório, aliás, nem perguntei se gostaria mesmo de ficar, prometo que não é uma ditadura - disse meio sem jeito.

—Não se preocupe, melhor eu não sair daqui com as coisas ainda agitadas lá fora, fico bem aqui no sofá.

—Acho que nada que eu tenho vai te servir… desculpe pela péssima hospitalidade.

—Relaxa, Mini. Já dormi em situações piores - ele riu - só tomar um banho já está de bom tamanho

—Pode usar o meu banheiro, a Ginny está no outro - ela indicou a escada para que ele subisse.

—Você está cansada, Mini, vai lá, eu espero ela terminar - ela apreciou a atitude solidária, mas não daria o braço a torcer.

—Ron, não discute, eu já vou te deixar sem cama, sem roupa...

—Sem roupa? - ela percebeu tarde demais as palavras que saíra de sua boca, Ron já a olhava com um sorriso atrevido

—Sabe que não foi isso que eu quis dizer - ela riu dando um tapinha em seu ombro.

—Só para constar, você está autorizada a me deixar sem roupa quando quiser - completou seguindo-a escada acima até o quarto.

Hermione pegou uma toalha do seu guarda roupa e colocou nas mãos dele, indicando a porta do banheiro. Enquanto esperava, foi logo separando as peças de roupa que usaria assim que tomasse seu banho. Finalmente tomou coragem de pegar o celular e ver as notícias. Alívio percorreu suas veias ao constatar que os comentários eram praticamente todos positivos. A opinião pública estava ao seu favor e Victor não dera declarações até o momento. Esperava que os assessores dele estivessem com uma baita dor de cabeça.

Ainda estava entretida no aparelho quando Ron saiu do banheiro usando nada além de uma boxer preta. Segurava o restante de suas roupas com uma mão e terminava de secar o cabelo com toalha na outra.

—Eu estava pensando que esse não é o melhor modelito para dormir na minha sala… - Hermione não tinha certeza se tinha dito aquilo em voz alta, aquele tanto de pele exposta a distraiu mais do que gostaria.

—Eu sei… roupa social não é lá muito confortável - ele sorriu sem graça.

—Vou dar um jeito, devo ter um roupão ou algum moletom que dê pro gasto - não ia ser a coisa mais legal do mundo a filha acordar na manhã seguinte antes de todos e dar de cara com o tio Ron pelado na sala - só deixa eu tomar um banho primeiro? Preciso tirar essa maquiagem toda da cara.

—Claro - com a toalha nos ombros, ele fazia seu melhor para dobrar suas peças de roupa.

—Não precisa ficar em pé esperando - ela disse rindo e apontou para a cama antes de sair em direção ao banheiro carregando sua roupa.

O que ela ia fazer com um Ron seminu em seu quarto? Ela sabia que a única coisa que a tinha impedido de se aproximar e correr os dedos pelo abdômen definido era o fato de ter tido um dos piores dias de sua vida. Não estava no clima para aquele tipo de coisa, mas mesmo assim não era cega. 

Imagens e sensações de momentos menos inocentes que passara com o ruivo permearam sua mente enquanto tomava banho o mais rápido que conseguia. Não tinha nada que ficar pensando naquilo em um dia desses, mas como fazia para deixar de imaginar como seria tocá-lo sem barreiras?

Assim que terminou, voltou ao quarto, não se importando com os cabelos despenteados. Encontrou Ron sentado na beirada de sua cama parecendo desconfortável com tudo. Notou o olhar dele percorrendo-a dos pés a cabeça e puxou um pouco mais forte o laço do roupão quentinho que usava.

—Vejamos aqui - ela vasculhava o enorme guarda roupas - tenta esse moletom, acho que é o maior que tenho.

Era um agasalho simples, mas confortável que ela usava para dormir ou ficar em casa. Nela ficava bastante comprido e largo. Deu a peça a ele, que a passou pela cabeça.

—Definitivamente falta pano - ele resmungou todo apertado na roupa.

—Quem mandou você ser tão alto? - ela não conteve o riso, aquela era a imagem mais engraçada que vira em tempos, imaginou o que os seguidores diriam de ver Ron Weasley naquela situação em seu quarto.

—Você que é baixinha! - rebateu - Me ajuda a sair daqui.

Ele se inclinou para que ela pudesse puxar a beirada do tecido. Algumas tentativas foram suficientes para que ele surgisse de dentro do moletom.

—Não tenho opções mesmo, Ron… quer saber? Melhor você dormir aqui.

—Tem certeza? - ele a olhou desconfiado, ajeitando os cabelos revoltos.

—Claro, estou cansada demais pra me preocupar com besteiras, Ron, deita logo aí, só quero que esse dia acabe.

Hermione estava cansada de pensar, de se importar com coisas que nem importavam. Ela era adulta, assim como Ron, podiam dividir um colchão por uma noite sem que isso significasse nada. Sem mais demora, ela puxou a coberta e foi apagar a luz. Deixou o roupão pendurado ao lado da cama e se enfiou no colchão.

Não sabia dizer há quanto tempo aquele lado da cama não era ocupado por alguém que não fosse a filha, pois mesmo quando Harry dormia ali, Rose fazia questão que o padrinho dormisse com ela. A morena sentia a presença de Ron ao seu lado, mas os dois se deram boa noite e cada um virou para um lado, permanecendo o mais distantes possível, não que fosse intencional, certo?

Por mais cansada que estivesse, ela não conseguia dormir. A cabeça continuava a mil e o sono não parecia alcançá-la. Ela sabia que devia ficar quieta, uma hora dormiria, mas acabou indo contra seu bom senso.

—Ron? Tá acordado? - ela sussurrou, virando para o lado dele.

—To - ele também virou para encará-la.

—Eu não consigo dormir…

—Tá pensando na Rose? - com a pouca luz que entrava pela janela, ela podia vê-lo frisando a testa.

—Sim. E se der tudo errado e tirarem ela de mim? E se ela me odiar por ter escondido a verdade dela? E sou uma péssima mãe… - sem conseguir se parar, jogou para fora cada uma de suas preocupações, algumas lágrimas teimosas escorreram de seus olhos.

De certa forma se sentia confortável em conversar com ele. Sabia que não seria ridicularizada, ele levaria a sério o que dizia.

—Mini, nada disso vai acontecer - ele se aproximou e enxugou uma lágrima que percorria sua bochecha com o polegar - e você é uma ótima mãe, sabe disso. Você só está abalada com tudo isso.

—É difícil lembrar disso agora - falou entre soluços baixinhos.

Não gostava de ser a pessoa que chorava, mas aquele dia foi além do que podia aguentar. Parecia que seu corpo pedia por um escape, não só pelo medo em relação a filha, mas pela raiva também que sentia do ex marido.

—Eu imagino - sentia os dedos dele acariciando seu rosto - mas vai dar tudo certo, tenho certeza.

—Só queria ter essa segurança toda - ela murmurou, o mundo estava tão silencioso que seu tom normal de voz parecia alto demais.

—Não tenho como te passar o meu otimismo, mas vem cá - sentiu as mãos fortes puxando-a pela cintura - posso fazer cafuné que minha mãe costuma dizer que é o melhor remédio pra dormir.

Não foi exatamente uma escolha consciente, mas quando deu por si tinha as costas coladas no peito do ruivo. Não deveria deixar esse tipo de contato entre eles existir, mas podia ser inconsequente só por hoje, certo? Sentia o calor do corpo dele aquecendo-a toda. Os dedos dele acariciavam seus cabelos e ela percebia a respiração em seu pescoço.

—Vai me deixar mal acostumada com mimos assim - ela balbuciou, finalmente se sentindo relaxar por completo.

—Não tem problema.

Ele deu um beijo em sua bochecha e foi a última coisa que ela sentiu antes que o sono finalmente a atingisse.


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Notas finais do capítulo

É isso meu povo, Mione acabando com a vida do ex e terminando o dia nos braços do ruivo mais querido da Inglaterra.... onde será que isso vai dar?
Me contem se ainda querem saber o final dessa fic, pensei em postar um capítulo por semana até terminar (spoiler, tem mais de 10 capítulos ainda então tem muuuuita coisa pra acontecer)
Bjus da Fe



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