Spotlight escrita por Fe Damin


Capítulo 17
Capítulo 17


Notas iniciais do capítulo

Ola, pessoal!
Capítulo atrasado, mas postado, espero que gostem!!



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Fui só eu que achei que o clima no nosso jornal favorito estava estranho? Uma pulguinha atrás da minha orelha me diz que tem nesse mato tem cachorro! #Detetivesemação #QueremosaFofoca

Rita Skeeter - via Twitter

 

A mensagem com o endereço da escola chegou antes mesmo que Ron alcançasse o carro de Hermione. Levou uns instantes para entender como abrir o automóvel com os botões de alarme, mas não teve dificuldades para sair e pegar o caminho que seu GPS indicava. Se o segurança do estacionamento achou estranho que outra pessoa estivesse no carro da apresentadora, não falou nada.

—Droga de trânsito - ele tamborilou os dedos no volante, praguejando contra cada pessoa que ocupava um carro nas vias atribuladas de Londres.

Ele via as mensagens de Ginny aparecendo na tela do celular, o que o deixava ainda mais agoniado por não poder nem responder, nem chegar imediatamente. O ruivo não saberia dizer quanto tempo levou para chegar, pois pareceram horas. Estacionou o carro o mais próximo que conseguiu e se assustou ao ver uma aglomeração de pessoas na frente da fachada bem cuidada da escola.

Sua altura permitia que olhasse com certa facilidade por cima das várias cabeças e não demorou muito ao conseguir identificar os cabelos vermelhos da irmã. Foi pedindo desculpa e passando pelas pessoas, os barulhos das vozes dificultava a comunicação, mas não era hora para se preocupar em ser educado.

—Ginny! - chamou a ruiva que o olhou aliviada.

—Graças aos céus você chegou, Ron, não sei o que fazer! Olha pra esse idiota - ela apontou na direção do portão, mas nem precisava, Victor Krum estava sendo escandaloso o suficiente para chamar atenção.

—Eu já falei mil vezes que só saio daqui com a minha filha! - ele gritou na cara da moça que tentava ponderar com ele.

—E eu já expliquei para o senhor que sem autorização, nenhuma criança sai dessa escola!

A vontade de Ron era cruzar os passos que o separavam do idiota e tirá-lo de lá a tapas, mas sabia que não podia fazer isso. Além de ser uma pessoa pública, não era uma atitude madura.

—Eu vou tentar falar com ele, Gin, espera aqui - pousou a mão no ombro da irmã, tentando passar segurança.

—Já falei com ele e o cara me ameaçou dizendo que ia chamar a polícia porque eu estava querendo tirar a filha dele! Um rídiculo - Ron podia ver nos olhos da irmã que ela estava furiosa, com toda razão.

—Não acredito que ele teve coragem de falar uma merda dessas - teria que manter o próprio temperamento em cheque, algo que provavelmente não seria fácil

—Ah falou, e muito mais! Se eu começar a dizer o que ele falou da Mione…

—Nem me fala que eu não quero sair daqui preso - Ron bufou, respirou algumas vezes antes de finalmente iniciar o diálogo.

A funcionária do colégio avistou primeiro sua aproximação e arregalou os olhos em reconhecimento.

—Oi, Viktor, tem algum problema por aqui? - Ron decidiu começar com toda a civilidade que conseguiu conjurar, seria melhor se tudo se resolvesse sem mais caos.

—Ah, estava demorando! - o homem se virou de frente para o ruivo, os olhos faiscando de raiva - eu só tava em dúvida se a ordinária teria coragem de vir ela mesma ou mandaria algum dos escudeiros.

—Não precisa desse tipo de linguagem, Vktor, por que a gente não vai pra outro lado resolver o que quer que esteja te incomodando? - Ron só pensava em tirá-lo dali e deixar a irmã levar Rose embora. 

A funcionária da escola tinha fechado o portão, impedindo os outros pais de pegarem também seus filhos. Uma chuva de celulares registrava cada segundo, o que ele sabia que seria péssimo para si, além dos cochichos, mas não se importava. Duvidava que faltaria muito para a equipe de alguma emissora chegar.

—Eu não tenho nada para resolver com você, como é seu nome mesmo? Richard? - o deboche estava claro, fazendo Ron apertar os dedos para evitar o soco que preferia dar.

—Ronald - ele respondeu entre dentes.

—Tanto faz, eu quero e vou levar a minha filha e não vai ser você que vai me impedir - Victor rebateu já se voltando novamente para a funcionária.

—Você entende tanto da vida da sua filha ou de qualquer criança que aparece aqui na escola dela achando que vai poder fazer o que quiser, bem se vê que nunca esteve presente.

—O que você quer dizer com isso? - a provocação chamou novamente a atenção do jogador para o ruivo, da forma que ele queria.

—Todo mundo sabe que as escolas não deixam qualquer um levar uma criança embora e é isso que você é: um desconhecido.

Algo dentro de Ron queria esfregar aquela verdade na cara do jogador, fazê-lo entender, nem que por um instante, que ele nunca significou nada para as vidas que ignorou por tantos anos e não podia chegar valsando de volta e achar que ainda teria um lugar guardado para ele no baile.

—Sou o pai dela!  - Krum empurrou o ruivo para trás, atitude típica de quem queria se passar por intimidador, mas Ron fincou os pés no chão e não se moveu, manteve o semblante o mais calmo possível, mesmo que por dentro estivesse borbulhando de raiva.

—Ah é mesmo? Pode provar? Tem uma certidão dela? Qualquer coisa com seu nome?

—Eu… - o jogador não tinha resposta para o argumento, exatamente da maneira que Ron previra.

Aquela cena não passava de um teatro, uma tentativa insana de conseguir alguma vantagem, ou ainda de um vingança contra Hermione pelo acontecido no dia anterior, porém Krum fora precipitado, não tinha maneira daquilo dar certo. Não sairia dali com Rose, mesmo se Ron não estivesse lá. 

—Foi o que pensei, por que você não acaba com isso e vai embora, Krum? - não conseguiu evitar um sorrisinho petulante e viu o efeito imediato, a postura do homem entrou totalmente em modo de ataque, aquilo ia ficar feio, porém o ruivo não tinha medo de pessoas covardes como ele.

—O que você tem a ver com isso? Quer ficar com o lugar de pai da minha filha?

—Que besteira, eu não quero te substituir em nada, até porque você nunca ocupou esse lugar, vamos, Krum, deixa as pessoas daqui trabalharem, pegarem os filhos - ele ergueu o braço, tentando forçar Krum a tomar a direção da saída ao pressionar seu ombro.

O jogador não deu chances e se desvencilhou, dando um passo a frente, ficando a centímetros de Ron. Encarava-o sem piscar com o semblante presunçoso e arrogante de quem estava acostumado a ter as ordens acatadas.

—Já entendi tudo - Krum deu uma gargalhada seca e se inclinou para falar num tom que só o ruivo poder escutar - você tá comendo a mãe da menina e quer dar uma de salvador da pátria.

Se fosse possível, naquele momento Ron ficou com mais raiva ainda. Quem era ele pra alegar qualquer coisa que quisesse sobre ele e Hermione? Não era da conta de ninguém com quem ela ficava ou deixava de ficar, qualquer palavra saída dos lábios do cara pareciam sujas demais para falar da morena.

—Você tem muita sorte de não levar um soco no meio dessa cara imbecil agora mesmo - Ron cerrou os punhos do lado do corpo, repetindo mentalmente o mantra de que não podia agredir aquele idiota - mas não sou ignorante como você.

—Todo certinho, hein, Ronald Weasley, o que seus chefes vão achar de você brigar com uma estrela no meio da rua? Pelo tanto de gente aqui, isso chega rapidinho na mídia.

Ron olhou em volta e viu que a irmã ainda permanecia ligeiramente afastada olhando apreensiva para o embate dos dois. A aglomeração tinha dobrado de tamanho, o que o impressionou, já que tinha praticamente esquecido que não estavam sozinhos naquele circo. O erro de Krum foi querer elaborar ameaças com a mídia, aquele era o domínio de Ron, não do jogador.

—Sabe o que chega rápido na mídia também? Você sendo preso por tentativa de sequestro de uma menor de idade. Eu sei de cor o número da polícia e tenho vários amigos repórteres para espalhar o furo - foi a vez dele destilar presunção ao vasculhar o bolso para pegar o celular

—Eu não seria preso - deu de ombros, mas o ruivo percebeu que sua atitude já titubeava, não estava mais tão confiante que poderia sair ileso, só mais um empurrãozinho para que ele sumisse de vez.

—Ah não? - sem cerimônias, ele voltou sua atenção para a mulher que trabalhava na escola e que ainda os observava estarrecida bloqueando a porta fechada do colégio - Desculpa, moça, qual é o seu nome?

—Silvia, trabalho na coordenação do colégio.

—Silvia, esse indivíduo está tentando tirar uma criança à força da escola?

—Está sim, sr Weasley - Ron teria rido do fato da mulher saber seu nome sem ter se apresentado, mas não era hora para isso - eu já falei que não é permitido, ele diz que vai levar ela de qualquer jeito.

—Estaria disposta a falar isso para a polícia?

—Claro, inclusive a direção da escola já está avisada - o jornalista sentiu na voz da mulher toda a resolução que dizia que ela cumpriria cada uma das suas palavras.

—Quer apostar, Krum?

—Você está pedindo pra eu quebrar a sua cara aqui pra todo mundo ver - Krum perdeu de vez as estribeiras e agarrou a frente da camisa de Ron, que não moveu um músculo.

Ele viu de canto de olho a irmã se sobressaltando, pronta para correr em sua direção, mas levantou a mão ligeiramente, indicando que ela ficasse onde estava.

—Agressão, mais um item pra polícia - desbloqueou o celular e digitou os números necessários.

—Você está blefando! - Victor o chacoalhou mais uma vez, a mão fechada no tecido fino da camisa.

—Oi - Ron respondeu ao escutar uma voz do outro lado da linha -, eu gostaria de denunciar uma tentativa de sequestro em andamento…

—Desliga isso! - Victor largou a camisa de Ron apenas para arrancar o celular de seus dedos e atirar no chão.

Foi audível a surpresa dos espectadores que não esperavam que a briga chegasse a nenhum tipo de violência. No mínimo, aquela cena circularia a internet pelos próximos dias e Ron ficava satisfeito de que serviria para manchar mais um pouco a imagem já maculada do homem à sua frente.

—Vou me certificar de mandar a conta do conserto para você - disse seco, alinhando os botões da camisa - só vai embora, cara, tá vendo ali? Já chegou o carro de uma emissora, quer que eu dê uma entrevista detalhada sobre tudo que você me falou?

Ron tinha notado o furgão branco com o logo de uma das concorrentes da Rede Grifinória. Um dos seus amigos da faculdade, Simas, trabalhava como repórter lá, tinham conseguido se encontrar uma vez desde que chegara dos Estados Unidos e ele lhe contara sobre o emprego. Não se surpreendeu ao divisar o rosto do amigo abrindo espaço entre as pessoas.

—Isso não vai ficar assim, Weasley! - Krum apontou o dedo no rosto de Ron - pro seu bem, espero que a vadia da Hermione ainda seja uma delícia na cama pra valer a pena o preço dos advogados que você vai ter que contratar.

Mais insultos para cima da morena, o homem era muito baixo mesmo, atitude de quem tentava se agarrar de qualquer forma a um tipo de vitória que não existia mais. Se ninguém estivesse olhando, Ron teria, com prazer, arrastado a cara dele no asfalto até engolir todas as ofensas. Sabia que Hermione não precisava que ele a defendesse, mas algo dentro de si gritava em atitude protecionista em relação aquela pessoa que já fazia parte de sua vida, como amiga, claro.

—Não adianta me ameaçar, você não tem nada. E não use essa sua boca imunda pra falar da Hermione na minha frente de novo! - marcou cada uma das palavras com toda a raiva que sentia - some!

Sirenes começam a soar, percebeu que a irmã estivera falando ao celular, ela devia ter acionado as autoridades.

—A não ser que queira essa carona - sorriu com a última cartada na mão. Ou Krum ia embora, ou ele se certificaria que só sairia dali algemado.

O jogador percebeu a movimentação dos policiais se aproximando e não perdeu tempo, com um urro contido, saiu batendo os pés pelo lado oposto. Ron não se importava para onde ele ia, desde que sumisse de sua frente e levasse cada uma de suas palavras imundas consigo.

O ruivo nem teve tempo de pensar, num piscar de olhos a irmã estava ao seu lado, o rosto denunciado todo o alívio que sentia. Não demorou muito para os policiais chegarem ao recinto. Ron catou os cacos do celular todo rachado e foi explicar a situação para as autoridades que concordaram em deixá-lo ir após um breve depoimento, com a afirmação de que entrariam em contato caso fosse necessário.

Aos poucos a multidão foi se dispersando, conforme os pais iam retirando seus filhos da escola. Ginny se adiantou para entrar e pegar a menina e Ron foi conversar com o amigo que já tinha feito sinal para que ele se aproximasse.

—Que merda foi essa aqui, Ron? - Simas tinha a voz grave tradicional dos jornalistas televisivos, os óculos quadrados atribuiam uma seriedade que o ruivo sabia não existir na realidade.

—Esse negócio tá ligado? - o ruivo indicou o microfone que o amigo tinha nas mãos e a câmera na mão do companheiro que estava do seu lado.

—Claro que não. John, pode esperar um pouco com os equipamentos enquanto eu apuro a história? - o cameraman saiu carregando os aparatos deixando os dois sozinhos.

Ron via mais jornalistas com flashes disparando, mas ignorou a todos. Caminharam para um canto isolado das pessoas que ainda estavam ali e conversaram baixinho.

—Eu não posso dar uma declaração pra você, Simas.

—Tá me estranhando, cara? Eu não ia te pedir isso, só vim porque a chefia mandou, eu nem sabia que era você que estava aqui, só mencionaram o jogador.

—Aquele idiota - Ron rosnou.

—Mas que conversa de filha era aquela? Nem sabia que o cara tinha uma… ou a filha é sua? - Simas arregalou os olhos castanhos, nunca soubera que o amigo tinha uma criança, podiam ter se afastado um pouco durante os anos separados, mas nunca deixaram de manter contato e aquilo era importante.

—Claro que não! - o celular no bolso do amigo apitou e o ruivo o viu chegar a tela.

—Rose Granger… tão me avisando aqui que  o nome da menina é Rose Granger! - ele olhou desconfiado para Ron - Granger igual em…

—Sim, ela mesmo - o ruivo passou a mão entre os cabelos, sabia que era inevitável que a informação vazasse de alguma forma, só não esperava que fosse tão rápido, ainda mais quando Hermione ainda estava alheia ao caso.

—Isso explica muita coisa… - Simas coçou a têmpora - principalmente você chegar aqui todo briguento.

—Eu não briguei com ele, só fiz o que qualquer um com bom senso faria.

—Pela filha da Hermione, claro - o amigo sorriu.

—Só vim porque ela não pode vir, você sabe que ela não precisa de ajuda pra se defender - disse fingindo não entender a insinuação na voz de Simas.

—Me lembro muito bem. Você vai ter que me contar melhor como foi que criou o hábito de sair em defesa de Hermione ao invés de brigar com ela… é mudança demais.

—Se for em off, podemos marcar uma cerveja pra você escutar uma versão resumida - Ron riu, confiava no amigo, sabia que ele nunca vazaria nada, não que fosse contar algo que estivesse ligado a intimidade de Hermione também.

—Claro! Tá combinado então, vou avisar o Dino, você não escapa, ainda essa semana!

—Beleza, obrigada, por aliviar no interrogatório pra matéria - deu uns tapinhas nas costas do amigo.

—Relaxa, eu enrolo a chefia, não saí contando pra ninguém que sou melhor amigo da estrela da concorrência!

—Esse povo da Rede Sonserina é fraco de informação mesmo - zombou, Ron. Os dois tinham entrando em uma competição besta em relação a seus trabalhos.

—Até mais, Ron.

Assim que se despediu Ron viu a irmã saindo com uma Rose saltitante de dentro da escola.

—Tio Rooooon! - ela gritou correndo em sua direção, se jogando para abraçá-lo - você veio me buscar hoje!

—Gostou da surpresa? - o sorriso encantador foi o suficiente para desfazer os últimos nós que ainda tinha na boca do estômago, nada podia dar errado enquanto aquela menininha estivesse feliz e parecia que ela permanecia sem saber da confusão que acontecera.

—Muito! Você vem amanhã também? - a esperança contida naquelas palavras apertou seu coração, mas ele não podia mentir para ela.

—Infelizmente só deu hoje, florzinha - ele fez carinho nos cabelos da menina.

—Ah, tá bom… - os olhos decepcionados caíram para o chão.

—Mas a gente pode combinar de fazer outra coisa legal em um final de semana que eu estiver de folga, o que acha? - qualquer coisa para ela voltar a ficar feliz.

—Sim! O tio Ron é bem legal, né, tia Gin?

—Parece - Ginny riu.

—Então tá, a gente pode ir no aquário se quiser, já conhece?

—Não, mas tem um montão de peixes, né? Tipo o fundo do mar mesmo! Minha mãe ainda não me levou.

Começaram a caminhar de volta em direção ao carro e Ron não gostou nada de ver que algumas pessoas tiraram fotos da menina.

—Então eu vou te levar.

—Promete? - ela levantou os olhos para encará-lo e Ron soube naquele instante que ali faria uma promessa que não ia quebrar.

—Claro! Agora vamos depressa que você já devia estar em casa, vem cá! - ele se abaixou para pegá-la no colo, colocando o corpo entre ela e as pessoas que ainda estavam por perto, tentando ocultá-la da melhor forma possível.

Não demorou muito para chegarem ao carro, onde ele colocou Rose na cadeirinha no banco de trás.

—Esse é o carro da minha mãe…

—Ela me emprestou pra eu vir te buscar só hoje - Ron explicou sem entrar em detalhes antes de fechar a porta do lado da menina.

—A Mione ainda não sabe, né? - Ginny comentou baixinho.

—Não e espero que vocês já estejam seguras em casa quando ela souber.

—Se a gente for direto daqui…

—Podemos ser seguidos, não confio nisso, vamos pra emissora e de lá eu chamo um carro pra vocês, ou melhor, peço pra alguém chamar porque o meu celular já era - ele indicou o aparelho no bolso.

—Eu não acreditei quando ele atirou seu celular, que idiota? Ron… - ela se aproximou mais um pouco, baixando o tom de voz - ele é mesmo o pai da Rose?

—Infelizmente.

—Puta que pariu - Ginny estava um pouco desconcertada, mas não dava para ficarem ali mais tempo.

—Vamos, depois a gente conversa mais sobre isso - ele deu a volta no veículo e entrou no carro.

Não parecia que ninguém os seguia, mas Ron preferia ser cauteloso, já bastaria o inferno que aguardava na internet, talvez não ter celular fosse uma bênção por hora.

—Hoje foi estranho na escola… - Rose comentou assim que acabou de cantar uma das músicas favoritas que tocava no rádio.

—Por quê? - perguntou Ginny.

—A aula acabou e ninguém podia sair, esquisito - Rose era uma menina muito observadora para seus seis anos de idade - e tinha um monte de vozes do lado de fora. Minha melhor amiga, a Júlia, foi na janela e viu um montão de gente.

—Os adultos fazem confusão às vezes, nada demais, agora você já está aqui e logo vai estar em casa - Ron a tranquilizou e a menina pareceu satisfeita com a explicação.

—Você vai pra minha casa, tio Ron? Pode brincar de chá da tarde comigo eu te ensino! A tia Ginny é muito boa! 

—Viu, sou muito boa! -Ginny comentou convencida.

—Eu adoraria, mas tenho que ir apresentar o jornal com a sua mãe, lembra? Não posso deixar ela sozinha.

—Só hoje, ela sabe fazer as coisas lá - a menina sempre tinha um argumento.

—Claro que sabe, mas não seria justo deixar o trabalho todo para ela, não é? - ele observou o rosto pensativo da menina pelo retrovisor ao parar em um semáforo.

—É, eu sei… mas então já sei! - ela logo se animou com outra ideia - quando a gente for no aquário, a gente pode brincar depois.

A conversa continuou animada, com Rose fazendo milhares de planos. Chegaram no estacionamento da Rede Grifinória sem mais problemas. Ron levou as duas para o mezanino, onde pediu que uma das funcionárias da recepção chamasse um carro para levar as meninas em casa.

—Eu acho tão bonito o trabalho de vocês - Rose comentou, enquanto esperavam sentados no sofá da recepção. Os pézinhos chacoalhando sem encostar no chão denunciavam a inquietação.

—É bonito mesmo - comentou Ginny - bem grandão.

—Qualquer hora a gente passeia mais por aqui. E esse cadarço desamarrado? - Ron apontou para o fio desfeito no tênis da menina - melhor amarrar senão vai acabar caindo.

—Ah… - ele viu as bochechas da menina adquirirem um tom delicado de rosa - eu não sei…

—Mas não seja por isso! Eu amarro pra você - ele se inclinou para puxar as pernas da menina para seu colo - a gente faz as duas orelhas dos coelhos - ele começou a dobrar os cadarços - daí um coelho dá a volta em torno da árvore e entra pela toca, pronto!

—Faz de novo, tio, acho que entendi! - Rose tinha os olhos pregados nos dedos dele que repetiu a historinha que ouvira os pais dizerem a ele e a irmã tantas vezes - deixa eu tentar agora!

Ron desfez o laço que tinha dado e viu os as mãozinhas da menina se esforçando para lembrar os passos.

—Duas orelhas de coelho assim - ela balbuciou, procurando a aprovação dele - um dá a volta em torno da árvore e daí entra na toca, e puxa bem forte!

—Isso - parabenizou, Ron!

—Minha mãe não sabe essa história, eu não entendi do jeito dela, você ensinar pra ela também, tio Ron?

—Claro - Ron viu a irmã segurando o riso, provavelmente imaginando o ruivo tentando ensinar Hermione como amarrar os sapatos.

—Se eu soubesse que você ainda não conseguia, eu tinha te ajudado, Rose.

—Não tem problema, tia, é que eu só tiro os sapatos quando você está comigo, nunca coloco de volta - ela riu - posso tentar de novo? - a menina se virou novamente para Ron que aceitou, desfazendo novamente o laço.

Pouco tempo depois, foram avisados de que o carro já estava no aguardo. Ron as levou pela saída dos fundos do prédio, procurando ser o mais discreto possível, não queria dar margem para algum fotógrafo de plantão que tivesse a brilhante ideia de esperar na porta da emissora.

Se despediu da irmã e de uma Rose animada que comentou estar ansiosa para ele poder ir brincar com ela. A menina era uma graça.

Conforme o ruivo viu o veículo se afastando, tomou o caminho de volta para o prédio. A cabeça já abrigava o início de uma dor chata que sabia ser resultado dos ânimos exacerbados do dia. Seria uma delícia apresentar o jornal naquela noite, com os pensamentos desconexos e preocupados. No entanto, antes tinha algo mais importante a fazer…

Precisava encontrar Hermione.

 

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A reunião havia sido tão longa quanto esperava, mas com certeza o resultado fora muito melhor que sua expectativa. Hermione entrou na sala achando que teria que passar horas batalhando avidamente por seu cargo depois do fiasco da noite anterior.

Estava enganada.

Claro que Minerva tinha o rosto fechado e os lábios crispados de quem não estava totalmente satisfeita e pediu para enteder, nos mínimos detalhes, o que levara sua âncora tão responsável a agir como uma estagiária imatura. No entanto, a senhora compreendeu que os motivos da morena estavam embasados em algo muito importante: sua filha. A diretora, numa reação inesperada por Hermione, disse que as mulheres deviam se apoiar em casos como esses pois já bastava de homens que abandonavam crianças como bem entendiam por aí.

Hermione desconfiava que existia alguma história pessoal ligada ao tema para Minerva, mas foi sábia o bastante para não perguntar nada, era melhor agradecer pela compreensão e seguir em frente.

Discutiram as prováveis repercussões jurídicas do caso, se Krum realmente fosse adiante com a ameaça de processo, e a diretora a assegurou que a emissora possuía uma equipe de advogados muito competente para isso, pois ela provavelmente não seria responsabilizada de forma pessoal e sim profissional.

Harry falou pouco, sempre concordando com as atitudes propostas pela chefe e se prontificou a elaborar com os editores chefes, um bloco da edição do dia seguinte para falar sobre abandono parental, a emissora podia atacar a Krum, nem que indiretamente ao invés de apenas esperar a bomba que ele jogaria.

Minerva gostou da ideia e Hermione se despediu, deixando os dois e o resto da equipe acertando os detalhes de como isso seria feito. Deixar aquela sala ainda com um emprego para chamar de seu foi a vitória de seu dia. Estivera tão anestesiada na noite anterior, que nem teve tempo de dimensionar com precisão como tudo poderia dar errado.

Ela tomou o caminho de sua sala a passos lentos, tinha os músculos doloridos pela tensão do dia todo. Nem se deu ao trabalho de prestar atenção o burburinho que vinha das várias mesas espalhadas pelo andar, porém os olhares em sua direção a deixaram desconfiada de que alguma coisa tinha acontecido. Será que achavam que ela tinha sido mandada embora?

—Hermione, ainda bem que você finalmente saiu da reunião! - Olívia deu um pulo de sua cadeira e veio correndo em sua direção, os longos cabelos pinks esvoaçados.

—O que foi? Olívia, aconteceu alguma coisa?

—Já conseguiu falar com o senhor Weasley?

—Não… eu - ela não entendeu o olhar de nervoso no rosto da atendente, mas já pôde sentir o pulso acelerando em alerta.

—Ele pediu para, no instante que pudesse, ligar para ele. Saiu correndo daqui há praticamente uma hora.

Hermione puxou o celular que estava esquecido no bolso de seu casaco e o coração errou uma batida. Eram dezenas de ligações perdidas de Ginny, mensagens de Ron pedindo para ela entrar em contato, além de trocentas notificações em todos os aplicativos de redes sociais.

—Mas o que é isso… - teve medo de abrir qualquer um dos aplicativos e se deparar com uma tragédia.

—Tá em todos os lugares, Hermione, o colégio da sua filha…

—O que? - um balde de água fria caiu em seus sentidos, a mera menção de Rose a fez entrar em modo de alerta total. O coração retumbando como um tambor, já sentia os dedos gelados.

—Não sei explicar direito, porque as informações estão confusas.

—Vou ligar para o Ron, obrigada, Olivia - ela decidiu ir direto à fonte mais confiável do que ficar ali especulando.

Chegou em sua sala já procurando o número do parceiro em seus contatos. Percebeu sua bolsa aberta em cima do sofá e juntou o fato a sequência de coisas estranhas que estavam acontecendo.

—Atende, Ron, anda! - as ligações iam direto para caixa postal, nervosa, ela andava de um lado para o outro da sala, impossibilitada em se focar em nada que não fosse assegurar a segurança de sua filha.

Desistiu de tentar o ruivo e correu para a segunda opção mais certa.

—Mione! - Ginny atendeu no primeiro toque, para seu alívio.

—Ginny ainda bem, seu irmão não me atende o que aconteceu?  A Rose tá bem? Me diz! - não se importou em parecer exagerada, só precisava ouvir uma boa notícia.

—Está tudo bem agora, Mione, eu e ela acabamos de entrar no táxi para casa, o Ron já deve estar chegando aí, ele pode te explicar melhor… - notou a voz da ruiva diminuindo e imaginou que ela não queria mencionar mais do que isso na frente da menina.

—Tudo bem, mas ela está bem mesmo?

—Dá um oi pra sua mãe - a voz de Ginny soou distante e o celular foi passado para outras mãos.

—Oi, mãe! - a voz alegre de Rose preencheu o áudio e foi desatando cada um dos nós de preocupação que tinham se apertado no estômago de Hermione - adorei a surpresa do tio Ron, deixa ele vir me buscar mais vezes?

Surpresa? O que raios Ron foi fazer no colégio da menina? Cada vez ela entendia menos ainda.

—Que bom, pequena. Vamos ver isso direito depois, os horários são complicados - completou, disfarçando um leve tremor na voz.

—Ah! E eu sei amarrar meus sapatos agora, ele me ensinou! - o orgulho estava evidente em suas palavras - Vou te mostrar quando a gente se ver.

—Estou ansiosa para ver - acabou por se tranquilizar de ver que a filha soava normal o que quer que tivesse ocorrido, não a afetara e isso era o bastante por hora.

—Viu, tudo bem por aqui - Ginny voltou à ligação - ele já deve estar quase aí.

—Obrigada, Gin, preciso entender o que houve - ela desligou a chamada e respirou fundo algumas vezes.

Foi em busca de um dos aplicativos que poderiam dar mais pistas sobre o que acontecera, mas o celular começou a vibrar, mostrando um número desconhecido.

—Alô? - não costumava atender números que não conhecia, mas aquele não era um dia típico.

—Até que enfim a princesa resolveu atender essa merda de celular - a voz arrogante era inconfundível.

—Viktor? - não queria soar tão espantada, mas foi difícil conter.

—Por que a surpresa? Achou que ia mandar seu cão de guarda atrás de mim e ia ficar por isso mesmo?

—Do que você tá falando, como conseguiu esse número? - se sentiu invadida pelo contato indesejado com seu ex, já bastava a noite anterior. Será que ainda era sobre isso?

—Se chama a mágica do dinheiro, minha querida, pago investigadores para isso e não desconverse, só liguei como uma cortesia pra você saber que não vou mais jogar leve. Eu pretendia fazer tudo isso diferente, mas você não me dá escolha, não vou deixar meu nome ser jogado na lama, a história toda da nossa trágica família vai ao ar.

—Você não pode fazer isso! - ela não precisava saber o que aconteceu para ele tomar essa decisão para que soubesse que seria ruim, seria péssimo. Se Viktor fosse a público contar sua versão, ela sairia com a pior imagem do mundo, tinha que dar um jeito nisso. Não arriscaria perder a filha.

—Não só posso, como vou! Ou achou que eu ia sair de vilão? Não mesmo, ainda mais quando eu posso botar você de piranha sem coração da história, me impedindo de ver o amor da minha vida que é a minha pequena Rose.

—Não acredito que você vai descer tão baixo… - as palavras dele cortavam fundo, ela já não sabia mais direito nem onde estava, só conseguia pensar  no rostinho da filha que sairia tão magoada daquilo tudo, perigando se separar dela.

—No amor e na guerra vale tudo, não é assim? E isso aqui é guerra - ele deu uma gargalhada e Hermione pensou que realmente seria capaz de matar alguém de tanta raiva que sentia.

—Podia ao menos fingir que era por amor a sua filha.

—Pra que perder tempo fingindo pra você? Vou guardar para as câmeras que me amam.

—Viktor, me escuta, nem você é tão sem coração assim, a Rose não sabe de nada - mesmo atolada em sentimentos de raiva e de nervosismo, Hermione precisava ser racional, ela tinha que usar a cabeça para contornar a situação - por favor, tenha a decência de me deixar explicar tudo pra ela antes de você começar qualquer plano estúpido que tenha.

—3 horas, é o que eu te dou.

Isso não era nem um pouco perto do que precisava para o que ela tinha começado a imaginar fazer.

—Estou no trabalho, Viktor! Não posso largar tudo e ir até em casa, eu cumpro horário, você sabe!

—Isso aí é um azar seu, não é? - o deboche estava claro, ele não se preocupava com a filha, nem com ela, só em seu próprio traseiro egoísta.

—Eu tinha esquecido o quão desprezível você é - ela rosnou, desejando que pudesse torcer o pescoço dele ou voltar atrás no tempo e dar um pai melhor a sua filha.

—Tem muita gente que discorda de você e não me enche a paciência, senão vai ficar sem nem essa migalha, três horas ou nada, minha entrevista já tá agendada - sem mais nem menos ele desligou na cara dela.

Hermione estava estarrecida, sem entender nada. Parecia que tinha esquecido como respirar, como se mexer. Ergueu os olhos do aparelho celular e só aí percebeu que Ron estava na sua frente, olhando-a com aqueles olhos azuis arregalados.

—Eu não tenho tempo a perder, o que raios aconteceu?


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Notas finais do capítulo

Esse Viktor não vale o ar que respira mesmo! Agora quer causar mais ainda.
Que bom que o Ron deu uma ajuda, mas algo me diz que a vida da Hermione está prestes a ficar mais complicada ainda... Me contem o que acharam! Bjus



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