Spotlight escrita por Fe Damin


Capítulo 16
Capítulo 16


Notas iniciais do capítulo

Olá meu povo lindo! A atrasada uma hora chega!
Eu sei que parei numa parte tensa, mas acreditem o problema aqui foi pra postar... como recompensa, semana que vem eu posto outro capítulo, porque o final desse tá mais tenso que o outro hauha
Espero que gostem!



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O que?? O pedaço de mau caminho chamado Viktor Krum vai ser entrevistado pelo casal de jornalistas mais amado do país? Sou só eu que quero ver esse tanto de beleza junta na minha televisão? #TrazMaisQueEuGosto

Rita Skeeter - via Twitter

 

A realidade era aquela, não tinha mais como fugir. 

Na lista de tudo que Viktor já estragara em sua vida, Hermione não adicionaria seu trabalho, então se endireitou, prendeu a respiração e foi em frente. Ela mal tivera tempo de acostumar a mente com a ideia de ver o ex novamente e em rede nacional, portanto não saberia como se portar. Seus instintos diziam que o melhor era fugir para o mais longe que pudesse, porém não seria possível.

Faria seu papel, seria profissional e quando aquela noite acabasse, iria embora sem olhar para trás. Só esperava que ele colaborasse e não a perturbasse, porém, conhecendo o indivíduo, ela sabia que as chances eram ínfimas.

—Tá tudo bem, Mini? - Ron sussurrou em seu ouvido assim que iam se aproximando das pessoas.

—Sim, vamos que estão nos esperando - ela desconversou, não queria falar sobre aquilo nem com ele, nem com ninguém.

Não queria dizer que todos os dias de sua vida ela passara pensando que um dia aquilo ia acontecer. Um dia ele podia voltar a infernizar sua vida, ou pior, a vida de Rose. Claro que ela sabia muito bem o que andava acontecendo com a carreira dele, as notícias e tudo que saia na mídia, afinal ela não morava em uma caverna, mas nunca buscou ativamente pelo homem que a magoara tanto e que magoava também a pessoa que ela mais amava no mundo.

Rose cresceu sem pai por escolha exclusiva dele, Hermione só esperava que ele tivesse tirado a menina da cabeça, esquecido que ela existe. Talvez assim a entrevista não fosse ser uma dor de cabeça tão grande.

—Você está estranha, tem certeza que quer fazer isso? Eu posso falar com a Miner…

—É o meu trabalho, Ron! - ela o interrompeu, acabou sendo mais ríspida do que queria, ele só estava tentando ajudar por perceber seu descompasso - desculpa, vai dar tudo certo, só estou meio nervosa.

Hermione entrou em um modo automático tão forte que nem se recordaria das palavras que disse para dar as notícias daquela noite. A única coisa que manteve em mente foi passar o mais longe possível de Krum, a fim de evitar um encontro precipitado, e remoer o fato de que em breve teria que sorrir para ele.

Mesmo dando a volta pelo conjunto de pessoas que o circulavam, ela sentiu o olhar dele a acompanhando. Aquilo não era um bom presságio, preferia que não quisesse nem lhe dirigir a palavra. Mas aquele não era o estilo de Krum.

Ele era o cara dos elogios carismáticos, sorrisos envolventes, promessas infinitas. A irritava lembrar de quando ele dizia que ela era a mulher mais maravilhosa que ele já conhecera, apenas para mudar do dia para noite quando a vida em casal atrapalhou sua vida egoísta.

Hermione sentia olhares vindas de seu parceiro também, mas dali vinha preocupação. Aqueles olhos azuis pareciam indagar sobre a postura mais rígida do que o normal que ela mantinha na cadeira, sobre a expressão sóbria. O ruivo já sabia reconhecer quando seus sorrisos não chegavam aos olhos, nada ali estava sendo sincero, pois a morena não queria estar ali, queria correr.

—Depois do intervalo, vamos chamar nosso convidado da noite, o atacante Viktor Krum do Liverpool - Ron anunciou com seu jeito leve de sempre - fiquem com a gente para saber mais sobre a carreira de um dos recordistas da história do clube.

A luz do intervalo acendeu, poucos segundos a separavam de ter que trocar palavras com aquele homem. Ron levantou, indicando-a que deveriam ir para o outro espaço montado com duas cadeiras de um lado para eles e uma solitária no outro lado para o entrevistado.

Hermione viu que ele já estava lá sentado, sorriso no rosto, como se fosse dono do lugar.

—Não sei se uma hora eu vou entender o que deu em você hoje, mas vai dar tudo certo, eu estou com você - o ruivo falou baixo para que apenas ela ouvisse, e se adiantou para cumprimentar o jogador - muito prazer, Sr Krum!

—Ora, apenas Viktor está ótimo, você é o Ronald, certo?

—Isso mesmo.

—E a sua bela companheira, deve ser ótimo ter uma mulher linda trabalhando do seu lado - ele se virou para Hermione que ignorou a mão estendida.

—Que eu saiba o importante aqui é a competência e não a aparência de ninguém - não conseguiu evitar a cara fechada.

—Brava, hein? - novamente ele comentou com Ron num tom conspiratório.

—Ela está bem aqui, por que não fala para ela? - o tom de deboche do homem o irritou ligeiramente. Talvez não fosse tão bom conhecer seus ídolos.

—Não perde seu tempo, Ron, esse aí não tem coragem pra muita coisa, vamos? - se o jogo dele era agir como se nada nunca tivesse acontecido entre eles, que fosse.

A luz do cenário nunca foi tão opressora para Hermione. A equipe de maquiagem veio dar o retoques, a contagem regressiva foi feita e em instantes estavam no ar. 

Ela tentou se distanciar do que estava acontecendo, como se ali não fosse ela perguntando ao ex que tipo de cuidados ele tomava com a saúde em épocas de campeonato´e tendo que sorrir com a resposta. Pouco a importava se ele tomava suplementos, o tanto de treinos que fazia no dia, os recordes que bateu ou as porcarias de carros que comprou.

Porém, ficou firme.

Se recusou a desviar o olhar em cada sorriso provocante que ele lhe direcionou. Sua vontade era a de arrastar o rosto dele no chão, mas ao invés disso, concordava com as respostas dele, sorria o pouco que conseguia.

Não conseguiu prestar atenção se Ron estava nervoso ou não, mas ele parecia estar lidando bem com tudo, Krum claramente estava mais à vontade para falar com ele até porque, no final das contas, homens como Viktor só respeitavam de verdade outros homens. Ela era apenas a “companhia bonita” do ruivo.

Sabia que a entrevista estava chegando ao final, e já conseguia sentir o alívio aparecendo, só mais alguns minutos.

—Falamos muito sobre sua carreira hoje, Viktor, mas e então, tem planos para aposentadoria? Já pensa sobre isso?

—Sabe como é, o meio do futebol pode ser cruel com a idade dos jogadores, ainda acho que estou bem o suficiente para ficar por mais alguns campeonatos.

—O número de gols concorda com isso! - Ron complementou, ele estava fazendo a maior parte dos comentários, e Hermione o agradeceria depois por isso.

—Mas uma hora a aposentadoria vai chegar, eu tenho pensado muito nisso, no que eu perdi e deixei para trás para estar aqui - a voz dele tomou um tom nostálgico que ativou todos os alertar na cabeça de Hermione.

Do que ele estava falando?

—Imagino que não é fácil abrir mão de muita coisa por uma carreira de sucesso.

—De fato não é, Ronald, e eu gostaria que as pessoas entendessem isso, que eu posso ter cometido erros, mas gostaria de remediar. Sempre é tempo de repensar o passado e recomeçar, principalmente quando isso envolve pessoas que dependem de você, da sua presença.

O que aquele imbecil estava querendo dizer com isso?

Ela devia estar se precipitando e imaginando coisas, não era possível que ele estivesse insinuando que gostaria de voltar atrás no que decidiu sobre a filha. Já era tarde demais e ela o conhecia muito bem, aquele sorriso tristonho não a enganava, estava de frente a mais uma das manipulações midiáticas dele.

—Mas voltar atrás não seria complicado com tanta coisa acontecendo na sua vida atualmente? Acusações… - ela sabia que estava fazendo uma merda sem tamanho, aquele não era um tema que tivera permissão para ser tocado.

Em segundos ela viu toda a expressão corporal dele mudar, não era mais um homem com saudade do que deixara para trás, e sim um injustiçado.

—Tudo isso que a mídia tem inventado sobre mim está sendo averiguado e desmentido, pode ficar tranquila, não vai me atrapalhar em nada - ela escutou o tom cortante por debaixo do carisma disfarçado.

—As evidências parecem bem sólidas - ela deu de ombros.

Hermione notou a expressão preocupada de Ron e o rosto agora lívido de raiva do jogador à sua frente. Sabia que ele ia responder e se amaldiçoou por ter comprado aquela provocação, ia virar um bate boca na frente do país todo. E era assim que se perdia um emprego. 

Porém, Ron foi mais rápido.

—Bom, muito obrigado! Foram várias informações interessantes, sobre Viktor Krum - ele se direcionou para o câmera que rapidamente entendeu que era para cortar a imagem dos outros dois já que Harry estava atento - espero que tenham gostado da entrevista, voltamos na semana que vem com mais um convidado, tenham todos uma boa noite.

O sinal de ao vivo apagou e o barulho caótico surgiu como sempre. Cada equipe fazendo seu trabalho. Hermione levantou em um pulo, viu o Harry preocupado do outro lado do salão, tentando se desvencilhar de algumas pessoas para chegar até ela, porém ela não esperaria pelo amigo, queria sair dali o mais rápido possível.

Krum tinha outra coisa em mente.

—O que foi isso, sua atrevida? Sempre falando demais - ele se adiantou até bloquear a saída dela, avançando para seu espaço pessoal.

—Você fique longe de mim! - elevou a voz levantando o dedo em riste - não tem nada pra voltar atrás!

—Ainda acha que sabe de tudo, não é?

Ela sabia que a discussão estava começando a atrair olhares curiosos e isso era o que menos queria.

—O que tá acontecendo aqui? - Ron e Harry, que conseguiram chegar, falaram em uníssono.

—Olha o fiel escudeiro, agora ela tem dois! - Krum desdenhou ao olhar os dois homem que tinham olhares parecidos de preocupação.

—Só tira esse homem da minha frente, Harry - ela sabia que não precisava se explicar para o amigo. Ele tinha uma expressão tão mortificada que a morena sabia que ele devia estar se culpando por tudo o que acontecera, quando nada estava dentro do controle dele.

—Vamos Senhor Krum, por aqui - Harry direcionou o homem de maneira assertiva para o lado oposto do salão e Hermione não ficou para ver o que aconteceria.

Não se despediu de ninguém, não olhou para nada, apenas seguiu em frente. Só percebeu que tinha prendido a respiração quando chegou à segurança de sua sala.

Vários sentimentos a atingiam em ondas. Nervosismo, arrependimento, culpa.

E se acontecesse algo com Rose? Ela nunca se perdoaria.

Sem ter muito mais forças para se manter de pé, ela desabou no sofá, tentava ritmar a respiração que vinha entrecortada. O que foi que ela fez? Estava perdida no meio daquilo tudo quando sua porta abriu com um estrondo, revelando um Viktor lívido de raiva.

—Você achou que ia falar aquela merda e eu ia embora? Pois saiba que meus advogados vão entrar em contato com você, não era um tema permitido! - ele não se preocupou em manter a voz baixa.

Tudo que Hermione sentia se transformou em fúria. Tirando uma força que nem sabia que ainda restava em si, ela levantou num pulo, pronta para o combate.

—Não me cansa, Krum! Você que veio com charadinha pro meu lado, eu te conheço muito bem, sei o que está planejando e não vai funcionar.

—Claro, você sempre sabe de tudo - ele zombou, fazendo-a se irritar ainda mais.

—Eu sei que sua imagem está no lixo esses tempos. Assédio, Viktor, sério? Eu sabia que você era idiota, mas nunca imaginei que fosse um criminoso.

—Aquela mulher é louca, só quer dinheiro - a desculpa de todos os assediadores.

—Eu sei que é mais de uma, todo mundo sabe e você tá bolando um jeito de mudar sua imagem na mídia, pois saiba que não é com a minha filha e visitas ao passado que você vai fazer isso!

—Não é só sua filha, se é que você se lembra.

—Ah, você quer falar sobre o que eu me lembro? - o ódio e a mágoa iam preenchendo cada parte de seu corpo, Hermione nem sabia que ainda tinha tudo aquilo guardado dentro de si - Porque eu me lembro de implorar para você estar na vida dela e você dizer que não tinha tempo pra choro de criança no seu ouvido.

—Isso foi há muito tempo - ele deu um passo para trás tentando se justificar.

—Não importa, eu sei que você não mudou de ideia, só quer usar o fato de que pode ser um paizão para os outros verem, pois nem tente, eu tenho o documento que você assinou.

Hermione tentava se manter sã com a certeza de que ela e a filha estavam protegidas.

—Isso pode ser revogado, você não quer medir forças comigo, quer? Com certeza está ganhando bem por aqui, mas eu posso mais, docinho.

A ameaça descarada e o atrevimento ao chamá-la daquela forma foram a gota d’água. A morena via tudo vermelho, se ele não fosse embora, ia acabar fazendo coisas que se arrependeria depois.

—Sai de perto de mim! - ela gritou, pronta para empurrá-lo até a porta.

Estava tão transtornada que não escutou o som dos passos de mais alguém entrando em sua sala. 

—Mione? Tá tudo bem aqui?

—Não Ron, não está tudo bem! - respondeu sem tirar os olhos do homem que queria que sumisse - Vai embora, Viktor, e nunca mais aparece na minha frente, ou a gente vai entrar nessa guerra de quem pode mais.

—E você vai sair perdendo, cuidado que eu posso não ser generoso, tem muito juiz dando guarda para o pai ao invés da mãe hoje em dia.

—Não seja lunático, isso nunca funcionaria! Some daqui e esquece que a minha filha existe!

—Os seguranças estão ali fora, Krum - Harry se juntou a eles, uma expressão séria no rosto.

—Se você ficar mais um segundo eu vou pedir pra eles entrarem e você vai sair daqui escoltado, imagina o que isso vai fazer para a sua imagem que já está na merda? - a ameaça dela não era vazia, não tinha problema nenhum em cumprir o que dissera - Porque se você não notou isso aqui é um jornal, e o que a gente mais gosta de fazer é dar notícias.

—Isso ainda não acabou, Hermione - Krum bufou antes de sair a passos duros, claramente contrariado.

—O que raios foi isso? - Ron perguntou confuso, fechando a porta assim que o jogador foi embora.

—Um erro imenso! - Mione caiu novamente no sofá, se sentia totalmente drenada - desculpa Harry eu sei que fiz merda, ele disse que vai acionar os advogados, a Mcgonagall vai querer minha cabeça…

—Calma, Mione, ele provocou - se sentou ao lado da amiga.

—Eu sei, mas minha vida não tem nada a ver com meu trabalho.

—Amanhã você explica pra ela, ela vai resmungar, mas vai entender, você sabe que ela é justa e é culpa minha também, eu devia ter impedido isso.

—Claro que não, Harry! Não tinha como você fazer nada. - ela deixou um suspiro cansado escapar pelos lábios - eu só sei que preciso ir embora.

—Quer que eu te leve em casa? Você está abalada - ele apoiou a mão no ombro da amiga, tentando passar um pouco de conforto.

—Não, pode ir, Harry, já tá tarde, só quero esquecer que esse dia aconteceu.

Ele ainda tentou argumentar um pouco mais, porém ela foi firme.

—Me liga se precisar de alguma coisa?

—Claro.

—Fica tranquila, ele não pode fazer nada contra você, ele só é idiota demais pra saber disso, não deve nem ter se informado das leis - puxou-a em um abraço forte.

—Pelo menos com a burrice dele eu posso contar.

Harry foi embora, deixando Hermione com os próprios pensamentos.

—Mini… - Ron disse baixinho.

—Desculpa, Ron - ela tinha quase esquecido que ele estava ali, de tão quieto que ficou, a olhava com cuidado de pé perto da porta - eu sei que você tá perdido nisso tudo, sei que eu estraguei a entrevista e você me salvou ali, obrigada.

Sabia que devia algum tipo de explicação a ele, afinal de contas tinha envolvido o ruivo na sua discussão ao fazer isso na frente das câmeras, mas era tão cansativo relembrar do passado. Principalmente quando ainda sentia o coração agitado no peito.

—Eu não sei se eu entendi o que tá acontecendo, mas você sabe que eu te salvaria em qualquer situação, né?

—Sim, eu sei… é só…

Se perdeu nas palavras sem saber como continuar. Ele foi compreensivo com o silêncio dela, veio se sentar ao seu lado, fechando uma de suas mãos na dela.

—Quer uma água? Você ainda está tremendo - ela nem tinha percebido isso, mas negou a oferta.

—A Rose é a pessoa mais importante do mundo pra mim, Ron, e aquele homem pode magoá-la tão fácil...

—É o pai dela.

—É, como eu escolhi aquele merda pra isso, eu não sei… eu… - sua voz embargou e os sentimentos se amontoaram todos, extravasando nas lágrimas teimosas que começaram a cair. Hermione odiava chorar mais uma vez por culpa daquele verme, mas se sentia cansada, agitada, preocupada.

—Não fica assim - ele a abraçou gentilmente, mantendo-a perto enquanto ela tentava controlar os soluços.

Não saberia dizer quanto tempo ficou apoiada nele, os braços firmes dando uma sensação de segurança que não sentia. Aos poucos tudo foi amenizando, conseguia respirar direito, já não chorava mais. Parecia que só precisava colocar um pouco para fora.

—Vamos, eu vou te levar pra casa - ele disse colocando uma mecha do cabelo dela para trás da orelha.

—Não, eu to bem - recusou, se afastando para secar os olhos com as mãos.

—Eu vou ser mais teimoso que o Harry, Mini.

—Você já fez demais, Ron, eu ainda molhei sua camisa toda - ela passou a mão pelo tecido que tinha manchas onde suas lágrimas caíram.

—Deixa disso, a camisa nem é minha - ele brincou - vamos logo, me dá as chaves do carro, a não ser que você queira ir de moto… - ele ergueu a sobrancelha num desafio, fazendo-a sorrir.

—Jamais - disse, se rendendo a exigência dele.

O caminho todo foi feito em silêncio. Um milhão de coisas passavam pela cabeça de Hermione e ela agradeceu mentalmente ao Ron por não forçar algum tipo de interação, por dar espaço a ela.

Sem muitas explicações, Hermione se despediu de Ginny. A ruiva percebeu que tinha algo errado, principalmente pela situação incomum que era seu irmão levar a moça até ali, mas não comentou nada. Mione notou um olhar inquisidor em direção ao ruivo, mas ele apenas balançou a cabeça.

—Pronto, tá entregue - Ron declarou quando ficaram os dois sozinhos na sala -tem certeza que você vai ficar bem?

—Não… - acabou admitindo - só de pensar que ele quer fazer algo contra a Rose eu… como eu fui tão burra, Ron?

—Você nunca foi burra na sua vida, pode ter certeza.

—Mas eu fui sim, eu sei que era jovem, ele era encantador, mas como eu pude achar que ele era uma boa pessoa? - passou a mão pelo rosto cansada.

—Bom, até hoje eu achava também…deixou de ser um dos meus jogadores favoritos para ir pro topo dos odiados - um pedaço egoísta da mente de Hermione gostou de saber que o ruivo não admirava mais o atleta.

—Mas você não casou com ele...

—Quer conversar um pouco sobre isso? Vai que te faz bem - ela percebia como Ron parecia receoso de tocar no assunto, provavelmente sem saber como ela reagiria.

—Não tem muito o que dizer, Ron - ela deu de ombros, mas a verdade era que se sentiu querendo contar.

—Vem, eu te faço um chá, você me fala com calma - ele estendeu a mão para ela, que aceitou e foi conduzida à sua própria cozinha.

Se a situação fosse diferente, ela teria rido do fato dele estar se sentindo tão em casa para oferecer qualquer coisa. Ela se sentou em uma das cadeiras da mesa da cozinha, enquanto ele andava pra lá e para cá procurando o que precisava.

—O chá está no armário de cima e as canecas do lado da geladeira - ela indicou, recebendo um sorriso discreto de agradecimento.

Não demorou muito para duas canecas fumegantes os acompanharem ali mesmo na cozinha.

—Leite? - ele indagou, e foi buscar o item para adicionar ao chá junto com o açúcar - pronto, agora qualquer inglês que se preze vai se sentir mais preparado para qualquer coisa.

 -Não sei bem por onde começar…

—Fala o que você quiser, Mini, se não quiser falar nada, tudo bem também, o que for melhor para você - estava se surpreendendo como quão compreensível o ruivo podia ser.

—Faz tanto tempo que eu tento fingir que ele não existe, que parece que ficou tudo preso aqui dentro - ela fez uma pausa, tomou um longo gole do chá - Começamos a namorar um pouco depois que eu saí da faculdade. Não chegamos a nos casar oficialmente, mas fomos morar juntos em pouco tempo. Ele era tão empolgado, energético! Queria grandes coisas para vida, era contagiante.

Lembrar do começo chegava a ser mais doído do que o final, eram duas pessoas cheias de esperanças, um relacionamento que funcionava na época e ela podia dizer que se sentia sim feliz.

—Parecia bom no começo então.

—Era, eu não percebia os pequenos sinais da pessoa egoísta que ele era. Então eu consegui o meu primeiro emprego na Rede Grifinória e ele foi finalmente escalado para um time grande, tudo ia bem, mas aí ele foi contratado pelo Liverpool, teria que se mudar para lá e eu não queria largar meu trabalho assim sem garantias.

—Claro, era a sua carreira - Ron fazia comentários baixinho, parecia só querer dizer a ela que ele estava ali e prestando atenção.

—Estávamos discutindo muito sobre isso, eu entendi que era uma oportunidade única pra ele, estava quase decidida a sair daqui e tentar algo lá, eu teria ido com ele, eu sei disso. Mas aí descobri que estava grávida.

Mas uma vez ela teve que parar. As memórias confusas da felicidade de descobrir que seria mãe com toda a decepção do que acontecera entre ela e Viktor voltaram com força. Sabia porém que tinha que colocar aquilo pra fora, não que Ron devesse saber daquilo, ou que ela tivesse que dar algum tipo de satisfação a ele, era só uma forma de expurgar tudo.

—Ele mudou da água para o vinho, Ron - um suspiro escapou de seus lábios - Disse que a última coisa que queria era uma criança. Parecia que eu tinha feito o filho sozinha porque ele me culpava, chegou a exigir que eu interrompesse a gravidez sendo que ele sabia que eu queria ser mãe.

—Que absurdo! - ela conseguia ver que Ron estava indignado, cada vez mais decepcionado com o antigo ídolo.

—Sim, isso foi uma briga feia atrás de outra onde ele me disse as coisas mais horríveis que um ser humano pode dizer de um bebê que ainda nem nasceu. Enfim, ele nos viu como um empecilho para sua vida maravilhosa.

—Você e a Rose não teriam atrapalhado a vida dele.

—Claro que não, mas ele dizia que não tinha tempo pra perder cuidando de criança. Não precisei pensar duas vezes, eu mandei ele ir atrás do sonho dele que eu ia cuidar da minha filha sozinha. Eu já estava no terceiro mês de gravidez quando ele foi. Eu nunca quis nada dele, o fiz assinar um termo de desistência da guarda dela, e eu assinei um que dizia que eu nunca ia pedir pensão a ele.

—Isso é legal?

—Não me interessou saber, eu só queria ele fora da minha vida e da Rose e essa foi uma das condições - Ron assentiu, entendendo a atitude dela.

—E ele nunca tentou contato?

—Nunca, nem um telefonema para saber se era uma menina ou menino.

—Imbecil, mas pelo que eu vi, melhor assim.

—Sim… mas eu saquei o que ele quer durante a entrevista, a carreira dele não está às mil maravilhas, ele precisa de marketing. Já deve ter colocado investigadores pra desencavar minha vida e a da Rose para descobrir tudo o que precisa.

—Eu ouvi falar dos escândalos que aconteceram, parece que ele perdeu vários contratos.

—Quero é que ele se foda, mas não vai usar minha filha para parecer melhor para os outros e para encher o bolso de dinheiro.

Hermione podia ir à falência, mas Krum não usaria sua filha para polir sua imagem.

—Ele não vai conseguir fazer isso, Mione, você tem um documento, nenhum juiz vai dar atenção a ele.

—É o que eu espero… não queria ter que levar isso a meio legais. Ia acabar sobrando para a Rose.

—Imagino que é o que você menos quer. Ela sabe que ele é o pai dela? 

—Não, eu nunca especifiquei, claro que ela já me fez várias perguntas, eu nunca menti, falei que o pai dela não estava pronto para continuar comigo.

—Ela é tão esperta, deve tentar descobrir mais. E o cara é famoso, tem o rosto dele para todo lado, ainda bem que ela não sabe dele.

—Por isso que eu nunca quis entrar em detalhes, ela não merece ouvir pessoas elogiando ele por aí, ver algum vídeo ou propaganda e saber que ele tinha toda condição do mundo, mas escolheu não querer saber dela - Hermione sempre tentou levar a culpa nesse processo, dizendo que tinha a ver com ela e o pai da menina, mas sabia que Rose sentia profundamente um sentimento de abandono e culpa por não ter um pai.

—Ela não merecia ter esse pai, mas tem coisas que não se pode mudar - Ron murmurou - Acho que ele só estava tentando te provocar e te assustar.

—O problema é que ele pode dizer o que quiser, que eu fui a vilã, que tirei a filha dele.

—Mas é mentira!

—E quanta coisa não é mentira na mídia hoje em dia?

—Você está respaldada juridicamente, ele não seria louco.

—Eu só queria que isso fosse um pesadelo e que eu acordasse amanhã e tivesse passado - ela apoiou a cabeça nas mãos, a tensão do dia estava cobrando seu preço, sentia cada parte do corpo dolorido.

—Não acho que ele vá fazer alguma coisa, é muito arriscado pra ele. Mas sem pânico, um dia de cada vez, tá? - ele inclinou e pegou uma das mãos dela - E eu estou aqui pro que precisar.

—Você já me ajudou demais hoje, Ron… - nunca gostou de dar trabalho a ninguém, nem saberia dizer porque aceitou deixar o ruivo ajudar sendo que havia dispensado até seu melhor amigo.

—Amigos e parceiros são pra isso, não é? - ele sorriu e ela se sentiu mais calma, ele parecia tão certo de tudo que dizia que se convenceu um pouco de que nem tudo estava em caos.

—Amanhã pode ser que você tenha que se acostumar com outra pessoa ao seu lado naquela mesa - disse receosa do que aconteceria no dia seguinte em relação a repercussões das suas atitudes.

—Nem brinca com isso, se a Minerva te mandar embora, eu começo uma greve! Com certeza temos fãs o suficiente para nos ajudar.

—Eu posso até perder meu emprego, Ron, só não quero a Rose saindo machucada no meio disso tudo.

—Ela não vai, você é uma ótima mãe, não vai deixar que nada aconteça a ela.

—Obrigada, Ron - ela se emocionou um pouco, escutar alguém dizendo que ela era uma boa mãe era algo que estava precisando - você me ajudou demais, hoje, de verdade.

—Não me elogia tanto que eu vou ficar mal acostumado, Mini! - ele se levantou da cadeira - bom, mas já vou indo, você precisa descansar e deixar esse dia para trás.

—Você precisa dormir também, amanhã tem mais trabalho!

—Claro, mas fica bem, tá? E qualquer coisa que precisar, me avisa.

—Tudo bem - ela o levou até a porta assim que o uber que chamara chegou.

—Estou falando sério, dona Hermione - apontou o dedo indicador para ela, como se soubesse que não era algo que ela faria com facilidade.

—Eu sei.

—Tchau, boa noite - ele já estava passando pela porta quando deu meia volta e veio de encontro a ela - não me despedi direito - sem rodeios ele tocou os lábios dela com os seus, num selinho rápido.

—Agora sim, boa noite.

—Você é incorrigível - ela disse, deixando um sorriso tímido aparecer.

—Se está reclamando comigo, então você está bem, só queria ter certeza.

 

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A noite foi agitada para Ron, ficou um bom tempo virando de um lado para o outro na cama, repassando todas as informações novas que tomara conhecimento. Ainda parecia quase uma história de fantasia acreditar que o pai daquela menina tão fofa fosse ninguém menos que um dos jogadores mais famosos do mundo.

O ruivo era fã do cara há uns bons anos, imagem essa que fora totalmente quebrada de forma irreparável. Porém, não era isso que o incomodava de verdade. O que continuava martelando em sua cabeça era o olhar nervoso de Hermione, o medo que ela tentava esconder de que algo acontecesse à filha.

De alguma forma, Ron se sentia totalmente impotente em um momento em que ele gostaria de ter como ajudar, como fazer qualquer coisa. Não saberia dizer exatamente o porquê, mas tinha certeza de que não queria ver a menina magoada ou Hermione preocupada com o assunto. Eram amigos, devia ser por isso…

Ele não tinha brincado quando disse que bateria o pé com a chefe caso chegasse a uma ameaça ao emprego de Hermione. Sabia que eram bons juntos no trabalho que tinham a fazer e, se dependesse dele, continuariam sendo.

De nada adiantaria, porém, ficar remoendo demais o assunto, o jeito era levantar e começar o dia para ter certeza dos desdobramentos que teriam que enfrentar. Não se surpreendeu ao abrir as redes sociais e encontrar especulações quanto à tensão presente na entrevista ou mesmo boatos de uma suposta discussão entre Hermione e Krum.

—Esse povo não dá um descanso mesmo - ele resmungou, sabendo que aquilo só serviria para piorar o estado da morena. 

Quando chegou no andar onde trabalhava, seu primeiro pensamento era ir ver como a parceira de tela estava, porém ficou preso em algumas discussões com sua assistente, e logo teve que se ocupar dos afazeres do dia. Não teve tempo de falar a sós com Hermione durante os ensaios, já passava das cinco da tarde quando resolveu que merecia uma pausa e que iria bater na porta ao lado.

No entanto, encontrou a sala vazia.

—Olívia, a Mione foi embora? - perguntou à assistente da morena que estava em sua estação de trabalho.

—Não, Sr Weasley, mas ela foi chamada para uma reunião com a diretora há uma meia hora, ela disse para eu segurar as pontas aqui que deve ser um pouco demorado. Quer que eu avise a ela que você gostaria de falar com ela?

—Não, pode deixar, eu volto mais tarde.

Ron tinha um forte pressentimento que aquela reunião estava ligada aos acontecimentos da entrevista com Krum, mas esperaria Hermione para descobrir o que havia sido discutido ao invés de se preocupar por antecedência.  Refez o caminho para sua sala, com os pensamentos distraídos, ao entrar, encontrou seu celular vibrando em cima de sua mesa onde tinha sido esquecido. O nome da irmã estampava a tela.

—Oi, Gin, tudo bem? - ele imaginava que a razão da ligação fosse entender o que havia acontecido na noite anterior. Ginny não era boba, com certeza percebeu que algo tinha se passado nem que fosse pelo rosto abalado de Hermione.

—Não, Ron! Tudo está péssimo, por que raios ninguém me atende! - a voz angustiada o pegou de surpresa.

—Calma, Gin, o que aconteceu?

—Eu vim pegar a Rose como sempre, estou aqui na porta da escola, mas está um caos, Ron! - ele escutou as vozes exaltadas ao fundo e ficou mais preocupado ainda - eu tentei ligar pra Hermione, tentei o Harry, ninguém atendeu, eu não sei o que fazer, esse cara é louco!

—Me explica isso direito, quem é louco? - algo lhe dizia que ele já sabia a resposta.

—Aquele idiota que vocês entrevistaram ontem, o jogador que você adora, tá aqui causando, dizendo que veio buscar a filha, que vai levar a Rose, ele não me deixa passar, claro que ninguém quer entregar a menina pra ele. Que história maluca é essa?

—Ele o que? - Ron saltou da cadeira, já estava juntando as coisas.

—É isso mesmo, ele diz que só sai daqui com a Rose, eu não posso tirar a menina da escola e arriscar alguma coisa. Já juntou um monte de gente aqui, Ron! Tem celular pra todo lado, eu não to entendendo nada.

—Não sai daí, eu to indo!

—Você tem que falar com a Mione ou o Harry…. - ela parecia não saber o que fazer.

—Eles estão em uma reunião importante com a chefia, não vai ter como, com certeza por isso não atenderam - Ron sabia que em um assunto assim, Harry, como produtor, estaria presente e também que ele não poderia arriscar o emprego de Hermione levando um novo problema envolvendo Krum. Se ela saísse correndo de uma reunião inacabada sobre ele e por causa dele, poderia ser o fim de sua carreira ali.

—O que eu faço, Ron? Ele tá aqui gritando um monte de merda.

—Só me espera, passa o endereço por mensagem que eu vou voando.

Ron nem se despediu, sem pedir permissão a ninguém, entrou na sala de Hermione e buscou por sua bolsa onde encontrou a chave de seu carro. Sabia que estava sendo abusado, mas sabia mais ainda que a morena não teria nenhum problema com aquilo já que era para ajudar sua filha. Num piscar de olhos, deixou uma mensagem com a assistente de que precisaria sair e que Hermione deveria entrar em contato no minuto que saísse da reunião. Seu coração já batia acelerado dentro do elevador.

A única coisa em sua mente era a de que precisava fazer alguma coisa por Rose.


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Notas finais do capítulo

Eu aaaaaaaaaaamo esse capítulo pq sou fã de ler tretas e brigas hauha O Viktor chegou pra causar e dar uma reviravolta nessa história...
O que será que vai acontecer? Mione vai perder o emprego? Ron indo na escola da Rose... me digam o que acharam e o que esperam lá nos comentários!
Bjus



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