Spotlight escrita por Fe Damin


Capítulo 12
Capítuo 12


Notas iniciais do capítulo

Oieee, um tiquinho atrasada, mas aqui está!
Prometo fortes emoções à frente! Segurem os corações
Espero que gostem :)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/799503/chapter/12

Vocês também estão chateados com a falta de notícias animadas do nosso Jornal favorito? Esses dois podiam agilizar o que sabemos que é inevitável! #EstamosnoAguardo 

Rita Skeeter - via Twitter

 

Por alguma obra do destino, que Hermione não conseguia entender devido a todo o consumo de vinhos da noite, ela se encontrava dividindo o banco traseiro de um uber com Ron depois de informações que estavam difíceis de processar.

Sim, eles já tinham se beijado, com isso ela convivia tranquilamente, afinal só ela sabia… mas não.

Ele se lembrava também.

Fazendo questão de se virar para a janela e evitar olhar para o ruivo que ainda tinha um sorriso zombeteiro quando entraram no carro, Hermione tentava decidir como deveria agir. Aquilo não era mesmo nada demais, certo? Afinal ele nem tinha feito alarde nenhum da situação. Agora eles eram adultos, trabalhavam juntos e eram… amigos.

Ela não se lembrava de Harry brincando com seus cabelos, ou puxando sua mão na dele… mas, sim, eram amigos. Apenas isso. Talvez o melhor fosse fingir que aquela parte da noite nunca havia acontecido. Ela podia fazer isso! Entraria no apartamento dele, carregaria o celular um pouco e voltaria para sua casa, onde sua filha a esperava. 

Simples, fácil, leve.

Chegaram no prédio assim que a morena tomou a decisão de normalizar a situação que estava beirando o incômodo, dividir um silêncio daquele tamanho não era normal.

—Qual é o andar? - ela perguntou juntando toda a tranquilidade que conseguiu achar em si.

—Sexto - ele respondeu e ela apertou o botão correto.

—Seu porteiro pareceu interessado em prestar atenção na sua companhia - ela brincou, afinal era isso que amigos faziam.

—É um enxerido, mas eu nem o culpo ele, não é todo dia que uma estrela da tv aparece por aqui - de novo aquele sorriso! Ele precisava parar com aquilo.

—Como se você não fosse uma - ela revirou os olhos, mas foi impedida de continuar a falar pois a portas do elevador se abriram e o ruivo saiu para abrir a porta.

Ela o seguiu até o final do corredor enquanto ele procurava a chave nos bolsos.

—Seja bem vinda - ele deu passagem para que ela entrasse.

A primeira coisa que ela ouviu foi o som alucinado de patas e um latido alto. Ele acendeu a luz a tempo para que ela pudesse se preparar para o pulo que um grande dálmata deu em sua direção.

—Você tem um cachorro! Que coisa mais linda - ela se abaixou para coçar a cabeça do bicho que parecia feliz com a atenção, nem ligando para o dono que estava do lado.

—Soneca, não abuse da visita! - Ron tentou tirar Soneca da frente de Hermione, mas ele estava mais preocupado em pular de um lado para o outro com pequenos latidos.

—Deixa ele - ela falou rindo ao levar uma lambida na bochecha. Ela adorava animais, tinha o quintal grande o suficiente para ter alguns em casa, mas não se sentia com tempo disponível para cuidar deles.

—Se você demonstrar abertura, ele não vai sair de perto de você nunca mais.

—A Rose ia adorar o Soneca, ela é doida por um cachorro - cansou de contar quantas vezes a filha tentou convencê-la a adotar um filhote.

—Posso emprestar o meu alguma hora para você não ter que comprar um e arcar com o trabalho.

—Olha, que eu acabo aceitando o empréstimo, só não me responsabilizo se a Rose não quiser mais devolver - aquilo até que era fácil, agir como amigos normais, ela podia não estar 100% capaz de julgar, mas achava que tudo estava indo relativamente bem.

—Vamos Soneca, chega, passa - Ron falou com voz mais firme, sendo obedecido pela primeira vez -  Mini, eu vou colocar ele na cozinha, fique a vontade, tem uma tomada ali do lado do sofá.

Hermione atravessou a sala olhando em volta. A decoração era de muito bom gosto e tudo se encontrava arrumado, um pouco diferente do que esperava de Ron que sempre fora meio displicente quanto a organização da época da faculdade. Escutou o ruivo se aproximando depois de fechar a porta da cozinha para isolar Soneca no cômodo.

—Seu apartamento é muito bonito - comentou, assim que achou a tomada e plugou seu celular.

—Era pra ser temporário, acho que acabou virando permanente - ele coçou a cabeça, sem deixar de prestar atenção nela que ainda estava em pé do lado do sofá - mas o soneca precisa de mais espaço do que isso.

—Bom, é bonito mesmo assim - ela deu de ombros.

—Já viu todo?

—Tem algo mais que eu precise ver?

—Hum… não sei? - ela não deixou de notar a forma displicente como ele arqueou a sobrancelha, ou o sorriso que se insinuou em seus lábios.

Sempre provocando! Mas duas pessoas podiam jogar aquele jogo, sem deixar de ser apenas amigos, claro.

—Vamos ver, um corredor, banheiro… aqui é seu quarto - Hermione foi andando pelos cômodos e parou na porta do quarto. Podia ver a grande cama de casal que ocupava a maior parte do espaço.

—A gente vai ficar rodeando sem mencionar a conversa de antes? - ela escutou a voz dele próxima a sua orelha, podia sentir a presença do ruivo atrás de si e conteve um rápido arrepio.

—E que conversa seria essa, Ron? - ela virou para encará-lo, quase se arrependendo ao ver a intensidade com a qual aquele par de olhos azuis a fitavam.

—Aquela em que a gente se deu conta de que já nos vimos bêbados antes.

—Já disse que não tem ninguém bêbado aqui. Só se for você - ela estava descaradamente tentando mudar de assunto, porém imagens da cena em que se viram bêbados crepitaram em sua mente e a proximidade dele somada ao álcool em seu sangue a estavam deixando imprudente, devia ter dado um jeito de ir embora, mas permanecia no lugar.

—Você não estaria na porta do meu quarto se não tivesse bebido um pouco a mais, eu te conheço, Hermione Granger - ele deu mais um passo à frente e o cheiro amadeirado do perfume que usava atingiu seus sentidos.

—Será que eu não estaria? - foi a vez dela levantar a sobrancelha e sorrir com malícia. Aquela não era a Hermione “apenas amiga” que deveria ser naquele momento, não saberia dizer exatamente que versão de si estava no comando. 

—Nem teria dito isso - ele riu e ela notou os olhos dele se desviando para sua boca.

—Bom, talvez não… mas não sei do que você está falando - a morena tinha plena consciência que estava brincando com fogo ali, mas já era grandinha, será que não podia mexer com fogo sem se queimar?

—Sabe sim… agora eu sei que você lembra como aquela noite terminou - ele finalmente cruzou o último passo que os separava e correu os dedos pelos cabelos dela. Hermione seria a maior mentirosa do mundo se dissesse que não sentiu nada. Algo se apertava em seu peito, e ela podia sentir a respiração já não muito ritmada.

—E você lembra também.

—Lembro - ele sussurrou em seu ouvido, fazendo-a passar os braços pelo pescoço dele para se firmar no lugar. 

—E o que você quer fazer com essa informação? - ela sentiu as mãos deles abraçando sua cintura, trazendo-a para mais perto, colando seus corpos num abraço que acordou todos seus sentidos.

Seu plano inicial tinha ido por água a baixo, mas ela não era de ferro. Havia um ruivo muito bonito a provocando e ela não era exatamente sua versão mais responsável. Além disso, a revelação de que ambos lembravam do beijo anterior, a fez pensar demais na ocasião, resgatando certas curiosidades sobre como isso seria no presente.

—Quero repetir a cena… - ele falou devagar  - mas fui eu que te beijei da outra vez.

—E você espera uma retribuição agora? - ela sorriu, se dando conta de que tinha se colocado na frente de um penhasco e estava prestes a pular.

—Não sei… eu nem to pensando tão direito assim, só sei o que eu quero - ele a olhava mostrando a intensidade do desejo que sentia, ela não ia resistir àquilo, da mesma forma que não resistira antes.

—Pode ser que eu queira repetir também… mas só pra ver se é a mesma coisa - adicionou, tentando se justificar a si mesma de que ali nada era significativo, então não havia mal nenhum.

—Claro, só pra isso.

—Eu também não estou com as ideias no lugar, a sua boca está parecendo bonita demais - ela soltou uma das mãos do pescoço dele e passou um dos dedos pelo seus lábios.

—Porque não aproveita então? - ele provocou colando a testa na sua. 

—Um beijo só, Weasley.

Não tinha mais espaço para enrolação, ela eliminou a pequena distância colando a boca na dele. O toque foi gentil a princípio, nenhum dos dois muito certos do que estavam fazendo ao transformar de vez o relacionamento que tinham até o momento. Ela sentiu os dedos dele se afundando em seu quadril e enroscou uma mão nos cabelos dele, trazendo-o para mais perto. Aproveitando um gemido que escapou dos lábios do ruivo, Hermione aprofundou o beijo, explorando a boca dele do jeito que queria fazer.

Ela sentia o corpo todo pinicando, as mãos dele queimavam em suas costas, o corpo colado no seu, adicionando uma urgência ao beijo. Ele pegou o lábio dela entre os dentes, antes de se insinuar de novo em sua direção, a intenção clara de não parar o que estavam fazendo.

—Era só um beijo - ela advertiu sem fôlego.

—Você pode falar pelo beijo que você ia me dar, não pelos meus - ele sussurrou em seu ouvido antes de puxá-la para outro beijo.

Hermione não conseguiu achar nenhuma razão plausível em sua cabeça alcoolizada para aquilo ser interrompido. A boca dele na dela era uma delícia, a forma como ele a apertava e acariciava acelerava o passo de seu coração. Dane-se se era pra ser um beijo só.

Sem que ela notasse, ele foi se movendo até que chegassem a cama dele. Ela sentiu as pernas encostando no colchão e sabia que ali tinha a última decisão da noite: ou ia embora, eu ia acabar deitada naquela cama.

Ele se afastou por um instante, olhando da cama para ela, seu rosto afogueado e o jeito que a olhava não deixava dúvidas do que ele queria.

—Por que você beija tão bem? Não faz sentido - Hermione não saberia dizer se a pergunta fora para ele ou para ela mesma.

—A gente pode parar quando quisermos, certo?

—Certo - não era nem uma sombra de dúvida na mente da morena que ela podia parar aquilo e ir embora na hora que quisesse.

Ele a puxou novamente para si, encontrando a pele sensível do pescoço dela e distribuindo beijos que a arrepiaram. Num impulso, ela se virou, trocando de lugar com ele e o empurrando em direção a cama, onde ele caiu de costas, levando-a junto.

A rapidez do movimento a deixou tonta, o que não fez com que saísse do lugar. Afastou os joelhos para se acomodar melhor sobre o corpo dele, as bocas ainda coladas não pareciam querer trégua.

As mãos dele deslizaram pelas costas dela e teve que conter um gemido quando sentiu os dedos se apertando em sua bunda fazendo-a ir de encontro com a parte dele que claramente estava excitada. Ele repetiu o movimento e ela começou a perceber que talvez estivesse brincando com mais fogo do que pretendia. Sua saia estava enroscada por cima de suas coxas, dando acesso para que ele conseguisse insinuar os dedos por baixo do tecido.

Aquilo estava gostoso demais, perigoso demais…

Ela sabia que os tecidos que usavam não ficariam por muito tempo no lugar se continuassem com aquilo. Já era grandinha o suficiente para saber o que seu corpo realmente queria e para onde aquele jogo estava indo. O último nível de responsabilidade que ainda se encontrava sóbrio dentro de si gritou a plenos pulmões que estava na hora de parar.

—Eu acho que a gente não devia ter feito isso… - sob protestos dele, ela escorregou de cima do ruivo para deitar ao seu lado. Colocou o braço sobre os olhos, tentando restaurar sua respiração ofegante.

—Tá com medo de querer me beijar de novo, Mini? - ela sentiu ele se virando em sua direção, sabia que tinha um sorriso malicioso no rosto, mesmo sem olhar.

—Cala a boca, Ron!

—Só se for com a sua - ele se inclinou para roubar um selinho, acabram por rir da atitude infantil.

—Isso não tá certo - finalmente ela se virou para encará-lo.

—Nem um pouco… - ele capturou uma mecha dos cabelos dela que tinha escapado detrás da orelha, colocando-a de volta ao lugar. Levou um tempo para desenhar o contorno do rosto dela com a ponta dos dedos. Ela viu que ele se aproximava aos poucos novamente, mas a sensação era tão gostosa que acabou por se deixar levar para mais um beijo.  

Tudo estava mais devagar agora. Não parecia em nada com a urgência de antes havia espantado a ambos que não esperavam encontrá-la. Os beijos dele chegavam suaves aos seus lábios, descendo em uma trilha sinuosa até seu ombro, onde ele afastou a manga de sua blusa e mordeu de leve a pele arrepiada.

—Ei, você falou que não mordia - reclamou, tentando esconder um sorriso.

—Só em casos especiais - ele piscou zombeteiro, voltando a atenção e provocá-la mais um pouco.

Ela não saberia dizer por quanto tempo ficaram se beijando. Os movimentos foram ficando mais lânguidos, carinhos suaves entrecortados pela respiração descompassada dos dois. Sem nem perceber, tinham se aproximado, Hermione sentia toda a extensão de seu corpo tocando o dele, tinha o braço do ruivo para apoiar sua cabeça enquanto um de seus braços repousava no peito dele.

Mais do que tudo que fizeram aquela noite, aquilo parecia mais íntimo.

—Então a gente se beijou na faculdade e ambos lembramos - Ron quebrou o silêncio, assim que interrompeu um beijo.

—Sim - não era algo que adiantasse mais negar ou desconversar, depois de tantos beijos, lembrar do primeiro não era nada.

—Será que teria  mudado alguma coisa se…

—Melhor não ir por esse caminho - ela o interrompeu, levando o dedo indicador aos lábios dele - a gente nunca vai saber e não importa.

—Você tem razão - ele assentiu - mas você lembra se gostou?

O tom convencido quase a fez revirar os olhos, mas acabou rindo da pergunta descabida.

—Sim

—Sim lembra, ou sim gostou?

—Você adoraria saber a resposta, não é? - ela provocou apertando uma das bochechas dele, como se ele fosse uma criança.

—Quer saber? Não importa, eu te beijei de novo e agora foi ainda melhor.

—Nisso você tem razão - ela pensaria no dia seguinte, quando estivesse sóbria em como diria para si mesma que não havia gostado, e muito, dos beijos dele.

Ele se inclinou para dar um selinho nela aconchegando o corpo da morena melhor ao seu. Hermione viu que os olhos dele já estavam pesados, o sono começando a ganhar a batalha.

—Isso tudo foi uma grande loucura - ela comentou, sentindo-se igualmente sonolenta.

—Sim, uma loucura boa - ele sussurrou e em instantes ela pode ouvir sua respiração ficando pesada, os olhos fechados indicando que o ruivo já não estava mais acordado.

Hermione não conseguia decidir se ia embora, se ela se mexesse dali, acabaria por acordá-lo e ele parecia tão sereno dormindo, além disso, estava tão confortável. O corpo dele a mantinha aquecida fora seu perfume que chegava tão agradável ao nariz dela que descansava quase na curva do pescoço do ruivo. Acabou por pegar no sono antes mesmo de chegar a uma escolha entre ir e ficar.

 

^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^

 

Harry ainda sentia a cabeça leve. Fazia um bom tempo que não tomava umas cervejas despreocupado em um pub. Em uma certa época da sua vida, batia ponto frequentemente nos seus bares favoritos, porém desde que assumira a produção do jornal não tivera mais tempo, tampouco vontade, de viver esse tipo de sensação.

O corpo relaxado e a ligeira vontade de fazer coisas inconsequentes lhe chegavam com certa nostalgia. Nunca fora muito forte para bebida e, por isso, continuava ponderando se ia ou não fazer a besteira da noite. Já tinha se passado algum tempo desde que chegara em casa, girava o celular nos dedos enquanto olhava o teto de seu quarto deitado na cama, usando apenas uma calça de moletom após ter tomado banho.

Ligava ou não ligava?

O pouco de loucura que o álcool conseguiu trazer à tona em sua mente só o fez pensar na ruiva que não o deixava em paz nos últimos tempos. Ele tinha ido ao aniversário dela, tiveram um encontro… que na verdade não havia sido exatamente um encontro e isso era algo que ele gostaria de mudar. Será que já era muito tarde para ligar para ela? Ele sabia que se esperasse pelo dia seguinte, acabaria por desistir de vez. Voltaria a lembrar que ela era irmã do seu amigo, babá de sua afilhada e que não podia estragar as coisas assim.

Mas ela era tão inteligente e engraçada e linda e…

—Alô - a voz de Ginny soou do outro lado da linha.

—Oi, Ginny, é o Harry, tá muito tarde, né, te acordei? Atrapalhei alguma coisa?

—Bem tarde mesmo, mas eu ainda estou acordada esperando a Mione, e se estivesse atrapalhando algo, eu nem teria atendido.

—Claro… você disse que a Mione não chegou? Você ainda está na casa dela? - Harry olhou para o relógio na cabeceira de sua cama e constatou que de fato era estranho sua amiga ainda não ter chegado.

—Sim, tentei ligar pra ela e não consegui contato… estou começando a ficar preocupada. Está tarde, mas não posso deixar a Rose sozinha.

—Caramba, já passou muito do seu horário, eu vou aí ficar com a Rose - sem esperar pela resposta ele se levantou e foi procurar uma muda de roupa em seu armário.

—Não precisa, Harry, é o meu trabalho - a ruiva rebateu exasperada, mas ele não ia desistir.

—Precisa sim, ela é minha afilhada e deve ser meio que minha culpa a Mione ainda não estar em casa. Daqui a pouco eu estou aí.

Se arrumou o mais rápido que podia, caçou a carteira de onde a havia jogado ao entrar no apartamento e foi até seu porta chave procurar a do seu carro.

—Merda - ele passou as mãos pelos cabelos lembrando que havia deixado seu carro na empresa e voltado de uber, porém o efeito do álcool já tinha praticamente se esvaído - vai você mesmo - resmungou pegando o chaveiro que menos usava em sua vida.

Claro que além de um apartamento super maravilhoso, os pais de Harry o presentearam com um carro que jamais poderia ser comprado por um jovem produtor da emissora, de forma que ele evitava ao máximo usá-lo. Tinha seu carro, muito mais acessível, comprado com seu próprio salário, com o qual ele ia trabalhar e tudo o mais que precisava fazer no dia a dia. Raras eram as ocasiões que o faziam sair da garagem, mas o diabo do carro era lindo mesmo.

Abriu a porta de sua Ferrari vermelha, levando um segundo para apreciar o painel e lembrar o porque amava tanto aquele carro, mesmo que não recordasse direito da última vez que o tinha dirigido. Talvez o levasse para passear de novo no dia seguinte, os pais ficariam felizes de vê-lo usando o presente ao visitá-los.

O horário avançado da madrugada eliminou qualquer traço do tradicional trânsito londrino, o que fez Harry percorrer a distância até a casa da amiga em menos tempo que o habitual. Não tinha nenhuma intenção de entrar em uma discussão do porquê havia um carro desses estacionado na frente da porta quando Ginny o atendesse, então tomou cuidado de estacionar algumas quadras antes.

Não era que ele quisesse esconder em si as condições de sua família, ele só preferia não contar. Ginny não precisava saber assim do nada. Ele tinha consciência de que estava interessado nela e mentiras não eram um bom começo, mas ele sabia muito bem como as coisas podiam terminar quando as pessoas gostavam mais do sobrenome dele do que dele.

—E não é que você veio mesmo? - a ruiva comentou ao abrir a porta e deixá-lo entrar.

—Eu falei que vinha - Harry deu de ombros, acompanhando-a ao se sentar no sofá.

A sala estava a meia luz, ele viu que havia algo pausado na televisão e um cobertor embolado entre o local onde ele sentava e onde a ruiva havia se acomodado.

—A Rose já está dormindo há séculos, comecei a assistir um filme para ver se me entretinha, mas confesso que já quase caí no sono algumas vezes. Agora me explica que história é essa de ser sua culpa a Mione não estar aqui - o jeito direto de Ginny não deixava de surpreendê-lo.

—A gente terminou o expediente mais cedo hoje, mas eu sugeri um Happy Hour e eu acho que ela deve ter se empolgado.

—Ah, então ela está bem, ela também precisa se divertir de vez em quando, tenho impressão que a Mione vive só pro trabalho e para a Rose.

Harry conhecia a amiga há tempo o suficiente para saber que esse era o caso. Hermione pensava em primeiro lugar na filha, em segundo lugar na filha, em terceiro em seu trabalho e talvez em quarto nela mesma.

—Você provavelmente está certa, ela nem queria ir, mas depois de umas taças de vinho… ela não queria ir embora quando eu saí - ele riu ao lembrar da cara decidida da amiga em não deixar o pub.

—Bom saber! Então quer dizer que o senhor tomou umas também? - Ginny arqueou a sobrancelha, mudando o foco da conversa.

—Nada demais…

—Tem certeza? Ou você costuma ligar para pessoas a altas horas da madrugada normalmente?

—Touché! - ele levou as mãos ao peito atingido pelo golpe das palavras dela - Foram alguns copos de cerveja, mas já faz um bom tempo, pode me dar um desconto. Liguei porque queria ligar.

—E posso saber a razão de você querer ligar? - ele notou quando ela se ajeitou no sofá, chegando um pouco mais perto dele. A ruiva não era boba, claro que ela queria saber.

—Eu… isso parecia mais fácil pelo telefone - passou os dedos pelos cabelos, momentaneamente incerto do que deveria fazer.

—Fala, Harry, sou só eu - Ginny deu de ombros, fazendo-o rir, como se ser “só ela” não fosse muita coisa.

—Acho que esse é o problema.

—Larga de ser bobo - ela revirou os olhos, mas logo o encarava novamente, deixando claro que não desistiria da resposta.

—Não é nada demais… - ele respirou fundo e falou de uma vez - eu só queria saber se você gostaria de sair comigo um dia desses, jantar ou tomar um café ou ir ao cinema…

Depois que as palavras saíram, Harry sentiu que prendeu a respiração até ver os lábios dela se curvando para cima num sorriso lindo.

—Gostaria, pode ser um cinema e depois um jantar, que tal?

Não havia enrolações com aquela mulher, isso ele já tinha percebido, se ela queria alguma coisa, ia ser direto. E aparentemente ela queria a companhia dele. Harry esperava que ela quisesse outras coisas também, só não sabia a prudência disso.

—Perfeito, amanhã eu prometi que ia passar o dia com meus pais, que tal o próximo sábado?

—Vou marcar na minha agenda - ela zombou, rindo mais uma vez e fazendo-o observar mais de perto a boca dela.

Pena que ainda estava tão longe, mas não era hora de pensar naquilo, viera cuidar da afilhada, esse era o foco.

—Pode ir, Ginny, eu fico aqui com a Rose, sério.

—Eu queria pelo menos conseguir falar com a Mione… - ela se esticou para pegar o celular da mesa de centro.

—Ela só deve ter perdido a hora e largado o celular na bolsa, por que não tenta mais uma vez? Mas eu to te dizendo, pode ir, você tá morrendo de sono.

—Tá bom, vou tentar mais uma vez.

Ele viu enquanto ela selecionava o número de sua amiga e aguardava ser atendida ou não;

—Ah! Oi, Mione - ela fez um sinal de positivo para ele com a mão livre - não, está tudo bem, eu só fiquei meio preocupada com você. Sem problemas, eu entendo, não se preocupe. O Harry está aqui, ele disse que ficaria com a Rose. Sim, claro.

—E aí? - Harry quis saber já que não pôde escutar a conversa inteira.

—Ela pediu milhões de desculpas, disse que não estava perto do celular e que foi vinho demais, mas engraçado… - Ginny coçou o queixo, os olhos cerrados tentando entender alguma coisa.

—O que?

—Eu posso jurar que escutei a voz do meu irmão.

—Bom, eu deixei os dois juntos quando saí do bar - ele não precisava dizer para Ginny que aquele bar já estaria fechado uma hora dessas.

—É mas eu escutei um latido de cachorro também e, que eu saiba, o local onde meu irmão tem um cachorro é no apartamento dele e não em um bar.

Um silêncio se instalou onde os dois se encararam, tentando controlar uma gargalhada. Era só juntar os pontos para entender que tinha algo acontecendo ali. 

—Alguma possibilidade de ser um cachorro qualquer passando pelo pub? - a tentativa mirabolante só fez os dois riem ainda mais.

—É vai ver que foi isso… 

—Não, não foi, mas vamos dar a eles a dignidade de fingir que fomos enganados - Harry ainda ia decidir se ia deixar a amiga escapar dessa ou não.

—Bom, eu vou indo então, por sorte hoje é sexta e ainda tem metrô - ela se levantou, dobrou o cobertor e foi buscar sua bolsa.

—Desculpe não poder te levar em casa, mas a Rose… - Harry a acompanhou até a porta, pensando que não estava sendo completamente honesto, pois não queria levá-la em casa com o carro que viera.

—Não, que isso, ela não pode ficar sozinha, rapidinho eu estou em casa. Obrigada, Harry.

—Até semana que vem então - ele não ia fingir que não havia gostado quando ela se inclinou em sua direção para lhe dar um beijo na bochecha acompanhado do perfume inconfundível. 

Sua semana ia demorar a passar.

Harry acabou deitando no sofá e quase cochilou na tentativa de esperar a amiga, mas  acabou por despertar ao ouvir a porta abrindo.

—Isso são horas, mocinha? - ele se inclinou por cima do sofá e presenciou a aparição de sua amiga, um tanto descabelada e muito encabulada. 

—Harry do céu, me desculpa, a Ginny já foi? - ela largou a bolsa na poltrona e veio se jogar no sofá ao lado do amigo.

—Foi sim, ela estava morrendo de sono.

—Eu vou me lembrar de adicionar uma baita hora extra por hoje, não acredito que perdi a hora assim - ela passou a mão pela testa, Harry não lembrava a última vez que vira Hermione se atrasando para algo, ela estava transtornada, porém ele sabia que podia não ser apenas essa a razão.

—Posso saber onde a senhorita estava? - não resistiu a pentelhar um pouco.

—No pub, oras, você que me convidou inclusive… - ela até tentou mentir, mas ele a conhecia bem demais para acreditar.

—Não vou jogar na sua cara que aquele pub fechou há um bom tempo.

—Merda, pega na mentira - ela riu e escorregou para deitar, apoiando a cabeça no colo dele.

—Eu não sou lá tão idiota assim, a Ginny disse que escutou a voz do Ron quando te ligou e um cachorro latindo.

—Para com essa cara, você já sabe onde eu estava então! - ela torceu o nariz fazendo-o rir da enrolação dela para dizer.

—Sei? - zombou mais um pouco e a viu jogar os braços por cima dos olhos, alguém estava em negação ali.

—Tá bom! Eu estava no apartamento do Ron, satisfeito? Pode ser que a gente tenha se beijado algumas vezes, mas não foi nada demais, você não precisa se preocupar, foi só coisa da bebida, não vai se repetir - a velocidade com a qual tudo foi dito só tornou a cena mais cômica.

—E por que eu me preocuparia? Você também pode se divertir, ser feliz - Harry achava que Ron era uma boa pessoa e não duvidava do profissionalismo dos dois, portanto não via mal nenhum.

—Não com ele! - ela se levantou novamente para encará-lo de cara feia.

—Por que não?

—A gente trabalha junto, Harry, isso ia acabar mal.

—Não vejo porque… vocês são adultos, fora que a audiência ia amar - ela pegou a almofada mais próxima e jogou na cara dele.

—Nem começa! Não venha dar uma de cupido.

—Sem necessidade, vocês estão fazendo tudo direito sozinhos mesmo - riu ao receber mais uma almofadada.

—Cala a boca, Harry! Aliás, posso saber o que o senhor veio fazer aqui? - talvez o jogo tivesse virado, ela que o olhava desconfiada agora.

—Pode ser que eu tenha bebido um pouco a mais também e decidido que era inteligente ligar para a Ginny uma hora dessas - ele deu de ombros, no final das contas não conseguia esconder muita coisa dela.

—Não sou a única displicente dessa amizade - a morena pareceu satisfeita com em não ser mais o foco do assunto e voltou a deitar no colo dele.

—Aí ela me falou que você não tinha chegado ainda e eu vim ficar com a Rose.

—Claro, pela bondade do seu coração, nem foi pra ver a bela ruiva sonolenta.

—Ei, eu amo minha afilhada, prezo pelo seu bem estar!

—Eu sei, estava brincando… mas qual era a intenção da ligação mesmo? - ela também era afiada nisso de não deixar nada passar.

—Nada de mais.

—Não vale, eu acabei de contar a idiotice que eu fiz, sua vez! - levou um tapinha no braço para que fosse em frente.

—Eu posso ter chamado a Ginny pra sair e ela pode ter aceitado.

—Sabia que tinha coisa aí, você fica com cara de bobo do lado dela! - a amiga riu e ele achou aquilo bem absurdo.

—Até parece.

—Mas a Ginny é ótima, não seja idiota com ela.

—Eu nunca sou idiota - ele revirou os olhos, não tinha tido lá muitos relacionamentos sérios, mas mesmo nos casuais, nunca foi um cara imbecil com ninguém.

—Então não comece agora!

—A gente só vai ao cinema, Mione, não vou pedir ela em casamento. Nada a ver.

—Seria o sonho da sua mãe - Hermione conhecia bem a mãe de Harry para saber que ela daria pulinhos de alegria se o filho chegasse amanhã mesmo dizendo que ia casar.

—Nem me fala, aliás eu vou passar o dia com eles amanhã, não quer ir com a Rose pra lá de tardinha tomar um lanche? Minha mãe sempre fala que está morrendo de saudade de vocês. Sabe como ela é.

—Também estou com saudade de vê-los e a Rose andou comentando mesmo que tinha tempo que não via a tia Lily e o tio James, mas você pode me perguntar de novo amanhã? Hoje não me sinto capaz de decidir mais nada.

—Tudo bem, vou pra casa, Mione, você claramente precisa descansar e eu também - ela se inclinou para que ele levantasse, porém continuou onde estava.

—Obrigada, Harry e sobre o que eu te falei, nem um pio - levantou o dedo na direção de seu rosto quando ele se abaixou para lhe dar um beijo na testa.

—Jamais, minha boca é um túmulo, você sabe demais da minha vida pra eu espalhar coisas da sua por aí.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaah! É tanta informação que meu coração não aguenta! Por, mim, teria mais beijos no futuro Romione... que tal?
E o que acharam da desculpa esfarrapada do Harry pra ver a Ginny?
Me contem suas opiniões!
Bjus