Spotlight escrita por Fe Damin


Capítulo 13
Capítulo 13


Notas iniciais do capítulo

Olá, meu povo lindo!
Desculpem a semana sem capítulo antes de mais nada!! Tive uma crise de labirintite que não foi brincadeira... maaaaas, agora estou mais que ótima e além disso, vacinadaaaaa!
É nesse clima de felicidade que eu trago capítulo novinho pra vocês, espero que gostem :)



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SO-COR-RO! Vocês viram o que eu vi? Isso tem cheiro de babado! Não adianta vir me dizer que não é nada que não nasci ontem, meu bein! #Flagrados #CasalFavorito 

Rita Skeeter - via Twitter

 

O sol da manhã já estava alto quando a luz que entrava pela fresta da janela do quarto de Hermione conseguiu acordá-la. Ela se virou lentamente, mirando o teto e tentando abrir os olhos sem que a dor de cabeça infernal piorasse. Pouco a pouco as recordações da noite passada foram voltando à tona e ela não sabia muito bem o que fazer com aquilo. Tinha tomado várias decisões questionáveis.

Prazerosas? Sim, mas altamente irresponsáveis.

—Merda - ela massageou as têmporas, tentando se desviar da memória da boca de um certo ruivo gostoso na pele dela.

Bom, o que passou, passou, ela teria que lidar com isso e se certificar que não voltasse a repetir o erro. De nada adiantava ficar se martirizando pelo que não poderia mudar mais. Bem que dessa vez ele podia ter esquecido de verdade o que se passou no apartamento dele, porém a morena sabia que não seria tão sortuda assim.

Hermione teria que ser uma adulta madura e encarar as consequências de uma noite de bebida além da conta, não tinha passado disso. Nada daquilo aconteceria se ambos estivessem sóbrios, ela tinha a mais pura certeza. Porém, talvez ela pudesse ficar mais um pouco na cama, não precisava encarar o mundo tão cedo.

Tateou o colchão atrás do cobertor para puxá-lo para cabeça quando ouviu passos no corredor até sua porta.

—Mãe? Já acordou? - a voz sussurrada surtiu como um choque em Hermione que se sentou imediatamente.

—Rose! - como ela podia ter esquecido que tinha uma filha de 6 anos para alimentar - que horas são, pequena?

—Acho que o ponteiro pequeno estava quase lá em cima - a filha se aproximou e sentou ao lado na cama.

—Meu Deus, já é quase hora do almoço, você deve estar morrendo de fome! Está acordada há muito tempo? - ela sentia que podia ganhar o título de pior mãe do ano, encheu a cara numa noite e esqueceu a filha no dia seguinte, parabéns, Hermione.

—Eu acordei mais ou menos cedo.

—Por que você não me chamou, pequena? - ela passou o dedo pelos cabelos da filha, embaraçados como sempre quando ela não insistia para que a menina penteasse.

—Eu achei que você estava com sono, você sempre acorda e não acordou - Rose deu de ombros como se tudo fizesse sentido.

—Eu vou preparar um café da manhã rapidinho pra você matar a fome enquanto eu penso no almoço, pode ser? - a dor de cabeça não diminuía o mal estar que sentia ao pensar que deixara a filha acordada sozinha com fome.

—Mãe, eu já tomei café tem aaaaaanos - a menina torceu o nariz com sua melhor pose de convencida, quase fazendo Hermione rir, porém ela pensou logo na arte que a filha podia ter aprontado na cozinha.

—Foi? Não me diga que você mexeu no fogão, já falamos sobre isso…

—Não, mãe, eu sei que é coisa de adulto, mas eu sei colocar cereal e leite no meu pote e comer sozinha - ela estava tão orgulhosa de si mesma que Hermione conseguiu relaxar um pouco, talvez não fosse uma mãe tão ruim assim, estava criando uma menina independente.

—Tão crescidinha a minha pequena! - ela puxou a filha num abraço, fazendo cócegas onde sabia que ia arrancar mais risos - então eu vou tomar um banho e aí saímos para almoçar, você pode escolher o lugar.

—Oba! Quero pizza! - ela pulou da cama, já saltitando de animação.

—Rose, pizza não é almoço!

—Mas você disse que eu podia escolher - rebateu com um bico que Hermione secretamente achava a coisa mais fofa do mundo.

—E você é muito espertinha - tinha mesmo dito que ela podia escolher e sempre prezara por cumprir a palavra com todos, especialmente sua filha - mas tudo bem, dessa vez você ganhou, eu realmente disse que podia escolher.

—Pizza!!! - ela comemorou e veio plantar um beijo na bochecha da mãe que ensaiava colocar os pés pra fora da cama - vai logo tomar banho, mãe!

—Já estou indo, mas se vamos sair, a mocinha vai tomar banho também.

—Poxa, mãe, eu não posso escolher não tomar banho também? - Rose era esperta o suficiente para saber fazer manha do jeito que só as crianças conseguiam, mas Hermione não era de se deixar levar por esse tipo de atitude.

—Nada disso, já se sinta feliz de almoçar pizza, estou sendo boazinha - Hermione foi até o armário selecionar uma roupa para vestir.

—Tá bom - ela viu a filha sair resmungando um pouco, mas a felicidade da escolha do menu logo a faria esquecer que teve que ir se arrumar para sair.

Quando Hermione sentiu a água quente escorrendo pelo corpo, pensou que tudo que mais queria era poder ficar ali pelo resto do dia. Teria até se afundado na banheira, caso tivesse mais tempo, porém não tinha. Já bastava o tanto que havia negligenciado suas responsabilidades por um dia só.

Se apressou em se vestir e secar de leve os cabelos, pois sabia que em breve a filha estaria circulando à sua volta para ir comer a tão esperada pizza. Se olhou no espelho de corpo todo que ficava na porta do armário que ocupava uma das paredes todas de seu quarto e concluiu que não parecia assim tão acabada. Se a pessoa a conhecesse muito, notaria os olhos inchados e cansados, mas nada que um óculos de sol não resolvesse.

Assim que virou para sair do quarto, notou a pilha de roupas perto da cama, não se lembrava do milagre de ter colocado o pijama na noite anterior, porém as roupas que tirou continuaram no lugar onde se trocara.

Sem sinal da Rose ainda, decidiu levar as roupas usadas para o andar de baixo e completar o cesto que seria lavado naquele dia mais tarde. Agarrou os tecidos e foi invadida pelo cheiro de um perfume que não era o seu.

—Claro - ela murmurou, ainda olhando fixamente para a prova de tudo que fizera na noite anterior. Sua mente já estava caminhando para imagens nada inocentes quando Rose entrou voando no quarto.

—To pronta!

—Deixa eu ver - Hermione largou as roupas no canto da cama e foi vistoriar a filha como sempre fazia - cheirosinha, assim que eu gosto - brincou, dando um beijo na bochecha da menina.

—Já podemos ir?

—Vamos - a filha correu na sua frente para descer rápido a escada como sempre gostava de fazer - nada de correr na escada! - avisou e escutou os passos diminuindo de velocidade.

Acabaram indo em um restaurante italiano perto de casa que costumavam frequentar, onde Rose fez questão de contar para todos os funcionários que ia comer pizza de almoço.

—E já sabe qual é o sabor da pizza, querida? - disse a garçonete que costumava atendê-las sempre.

—Queijo!

A moça olhou para que Hermione confirmasse o pedido.

—Hoje ela que manda, pizza de queijo.

Hermione passara a perceber olhares mais frequentes em sua direção desde que começara a trabalhar no jornal. Porém, aquele era um lugar que frequentava antes de virar uma pessoa pública, além de ser pequeno e reservado, ninguém julgaria estar diante da verdadeira apresentadora ali. Era de lugares como esse que mais gostava de ir, principalmente quando saia com a filha que pretendia continuar mantendo anônima pelo máximo de tempo possível. Rose não precisava da mídia especulando sobre sua vida.

A filha estava mais do que entretida com seu almoço, quando o celular de Hermione acusou a chegada de uma mensagem. Por um instante de nervosismo, chegou a pensar que pudesse ser da pessoa que estava evitando pensar sobre, mas relaxou ao ver o nome do amigo surgir em duas notificações.

“É assim que vocês querem fazer os rumores sumirem?”

A mensagem de Harry vinha com um link de rede social que ela rapidamente acessou só para soltar um palavrão involuntário.

—Mãe! - Rose a olhou surpresa, os olhos azuis arregalados ao ver a mãe fazendo algo que sempre condenava.

—Desculpa, pequena, só foi uma notícia estranha - a menina aceitou a desculpa e voltou a comer, prestando atenção ao desenho que passava na pequena tv pendurada na parede.

A foto que Harry mandara fora tirada por algum amador, não era uma câmera profissional, mas mostrava claramente ela e Ron indo pegar o Uber que dividiram na noite anterior para ir a casa dele. Aquilo podia ser explicado de várias formas, mas o braço dele em seu ombro e o olhar fixo nela dava espaço para muitas especulações.

“Puta merda, Harry, isso vai ser um inferno!”

“Se você ler os comentários, vai ver que as pessoas estão achando mais um paraíso do que um inferno”

“Não brinca com coisa séria, Harry! Eu devo postar algum esclarecimento? Será que a Sophia e o Mike já sabem?”

“Eles são nossa assessoria de imprensa, Mione, claro que já sabem, foi o Mike que me mandou a foto e se eles não disseram nada pra você ainda, então nada de postagens”

“O que eu faço, Harry?”

Hermione sentia o estômago se fechando em nós, já estava mortificada o suficiente ao saber que tinha feito várias besteiras na casa de Ron e gostado de todas, não precisava que o público também soubesse.

“Isso não vai mudar nada que o público já não imaginasse, ou você está com medo de alguém adivinhar o que você realmente fez na noite passada, sua safadinha? :P”

“Podem adivinhar, eu nego até a morte!”

“Não torna menos verdade”

Harry sabia ser irritante quando queria, ele não ia deixar que ela jamais esquecesse o que fizera, seria uma provocação infinita.

“Você não está o melhor dos amigos hoje, eu ainda estou com dor de cabeça e almoçando pizza com a sua afilhada”

“Agora fiquei preocupado de verdade, pizza? O que o Ron fez com você?”

“NÃO FEZ NADA!”

“Se você diz… estou na casa dos meus pais, já avisei que vocês vem jantar, minha formiguinha precisa ao menos de uma refeição decente no dia”

Hermione ia aceitar o convite quando se deu conta de que seus reais patrões eram os pais de Harry. Não que fosse provável que eles prestassem atenção em fofocas de seus funcionários, mas com que cara olharia para James e Lily se eles estivessem a par dos últimos relatos da internet?

“Não sei, Harry… com essa foto… tem seus pais, talvez seja melhor não ir”

“Nem vem, Mione! Pode parar de frescura e vir. Você sabe que meus pais são tranquilos”

“Tudo bem”

Trocaram mais algumas mensagens para combinar o horário e Harry poder perturbar mais um pouco a paciência de Hermione. A morena notou que mal tinha tocado na comida, mas a última coisa que sentia era fome.

—Não gostou, mãe?

—Gostei sim, só que eu acordei tarde e ainda não estou com fome.

—Ah tá… já to quase terminando - ela mostrou satisfeita seu prato.

—Parabéns - ela sorriu para filha antes de mudar de assunto - seu padrinho nos chamou para ir jantar lá na casa da tia Lily e do tio James hoje.

—Nós vamos, né, mãe? 

—Vamos, sim.

—Esse é o melhor dia de todos! - Hermione adorava ver a felicidade estampada na cara da filha. Ela era tão fácil de agradar, uma pizza e uma visita…. só desejava que pudesse mantê-la feliz para sempre, mesmo sabendo que seria humanamente impossível.

 

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No horário combinado, o carro de Hermione se aproximava da entrada que levava para a propriedade dos Potter. Se lembrava claramente da primeira vez que Harry a chamara para ir até lá. Estava no comecinho  da gravidez de Rose, já eram bons amigos há algum tempo, mas ele sempre sentia receio de levá-la para conhecer o berço de ouro de onde viera. 

O sobrenome dele nunca foi um segredo para a morena, pois ela era o tipo de pessoa que fazia o dever de casa e sabia a história da empresa onde trabalhava, entretanto, nunca a incomodou. Viu Harry se esforçando como qualquer outro funcionário e recebendo promoções com fruto de seu trabalho. Ela sabia que o garoto podia ter cortado muitos caminhos e usado atalhos, ela sentia orgulho de ver que ele nunca o fizera.

Mesmo conhecendo James e Lily todo esse tempo, ainda era bem impressionante quando chegava aos imponentes portões de ferro e se dava conta de que realmente existiam pessoas com tanto dinheiro assim. A mansão ficava no meio de um terreno imenso e já estava há gerações na família, a única explicação para a possibilidade de tal feio numa área tão central de Londres sem que você seja da família real morando no Palácio de Buckingham.  

Os muros altos enganavam as pessoas que passam pelas ruas, jamais dando a impressão de que um longo caminho se abria ali dentro, dando visão para um jardim muito bem cuidado e a mansão que continuava tão branca quanto da primeira vez que Hermione colocara os olhos nela.

Assim que a segurança autorizou a entrada do carro, Hermione dirigiu até a porta de entrada principal, onde sabia que já seriam esperadas.

—A casa da tia Lily e do tio James é tão linda - Rose tinha o rosto pregado no vidro do carro, olhando todos os detalhes.

—Você sempre fala isso, pequena.

—Mas é porque é sempre bonita.

Como imaginara, Harry veio abrir a porta de Rose assim que ela parou o carro e os pais dele a cumprimentaram com o carinho de sempre.

—Quanto tempo, dona Hermione - Lily a abraçou apertado, mesmo com a bronca.

—As coisas andaram corridas, Lily.

—Vou mandar uma reclamação para seus chefes, como pode a gente ficar tanto tempo sem visita? - James brincou, dando um beijo na bochecha de Hermione e indo pegar Rose do colo do filho.

—Mas hoje a gente tá aqui, tio James, eu vou poder ver o Caramelo? - Rose não sabia ser empolgada pela metade, era tudo ou nada.

—Rose, nós nem chegamos ainda!

—Deixa ela, Mione - Lily adorava crianças e adorava mais ainda fazer os desejos de Rose, já que não tinha mais nenhuma disponível por perto.

—Claro que vai poder ver o Caramelo, mas só depois de comer, porque agora ele está jantando também - Harry tentava ser ao menos um pouco menos permissivo em tudo que se relacionava à afilhada, por mais que fosse difícil ao ver aqueles grandes olhos azuis.

—Tá bom! - ela pareceu satisfeita com as condições, e o grupo entrou pela grande sala, seguindo o trajeto até a sala de jantar mais íntima, onde geralmente a família fazia suas refeições.

Conversaram bastante durante o jantar. Lily estava muito contente de sua nova receita de lasanha ter sido um sucesso. E James já estava fazendo propaganda da sobremesa que ele mesmo preparara. O casal Potter tinha todo o dinheiro que poderiam gastar em mais de uma vida e claro que, com uma propriedade daquelas, empregavam muitas pessoas, mas não deixavam de ser pessoas simples e gostavam de cozinhar quando tinham tempo, ou cuidar do jardim, além disso, os funcionários apreciavam as folgas a mais.

—Padrinho, tio James - Rose chamou a atenção dos adultos - e agora, o Caramelo já terminou de jantar? Eu já terminei minha sobremesa.

Ela mostrou o potinho vazio em suas mãos e Hermione chacoalhou a cabeça, sabendo que a filha falava mais do que devia às vezes.

—Só vamos saber se formos até lá - James empurrou sua cadeira para trás e se levantou.

—Vamos! - Rose estava de pé em um pulo, já estava quase ao lado de James quando pareceu se lembrar das palavras da mãe - eu posso, mãe?

—Pode, mas obedece o seu tio e seu padrinho, se eles disserem que você não pode andar no Caramelo, sem criar caso.

A menina prometeu se comportar e partiu com os dois homens, toda alegre e saltitante.

—Essa criança é a coisa mais fofa do mundo, nunca vou superar ela não ser minha neta - Lily resmungou, ainda vendo o trio sumir pelo corredor.

—Eu e o Harry nunca seriamos um casal, Lily, você sabe disso, mas daqui a pouco você vai ter uma pilha de netos correndo por aqui - brincou Hermione - e vocês são bons avós emprestados para a Rose, você sabe que ela adora vir aqui ver vocês.

—Sim, e adoramos vocês aqui também - ela juntou as sobrancelhas e de repente Hermione notou que algo vinha por aí - mas falando em casais… andei vendo uns boatos por aí, algum deles é verdade?

A senhora ruiva assumiu um tom de conspiração que quase fez Hermione gargalhar, o amigo não tinha dito que os pais era “tranquilos”? Agora ela tinha a dona de todo o império em que trabalhava perguntando sobre ela e um certo outro ruivo.

—Boatos? Do que você está falando, Lily? - Hermione achou melhor não afirmar nada sem ter certeza do que a mulher falava.

—Alvoroço das pessoas na internet, e o meu lindo casal de âncoras do horário nobre do nosso canal principal sendo visto junto por aí. Ele é tão bonito e cheiroso quanto parece? - o sorriso astucioso que surgiu nos lábios de Lily a deixou um pouco sem graça.

—Isso é invenção das pessoas Lily, o Ron e eu somos amigos, a gente se conhece desde a faculdade - ela não se importou em dar uma maquiada na verdade.

—Ah, que pena… vocês ficam tão lindos juntos na tv, iam ficar lindos juntos na vida também - ela a olhou sonhadora, parecia que todas as pessoas do mundo queriam ela e o Ron juntos, menos os dois.

—Não tem nada a ver.

—É que eu vi uma foto, aí achei que alguma coisa tinha fundamento.

—A internet cria teorias mirabolantes, nada que valha a pena prestar atenção - a não ser o fato de que ela tinha ido parar na casa do ruivo, mais especificamente na cama dele, o que Lily não precisava saber, caso contrário já viu que era provável que ela começasse uma campanha a favor do casal.

—Mas nem na época da faculdade? Um beijinho? 

—A gente só brigava nas aulas, era mais fácil ter acabado em morte - ela riu, lembrando de momentos em que pensou mesmo em jogar alguma coisa no colega de classe.

—Bom, isso não quer dizer nada, eu e o James vivíamos brigando também

—Sério? - Hermione nunca tinha escutado essa parte da história e o casal era tão apaixonado que era difícil pensar que não foi um amor à primeira vista.

—Sim, e como! Ele me deixava doida de raiva, mas sabe como é… a gente pensa demais na pessoa porque está brava e as vezes os pensamentos vão parar em outros campos - ela piscou o olho, rindo.

—Não no nosso caso - mentirosa, Hermione, que mentirosa - agora somos bons amigos, eu diria.

—Tudo bem… vou colocar minha torcida para que apareça alguém para roubar seu coração, mesmo que não seja aquele ruivo lindo.

—Você não tem jeito, Lily! - já estava acostumada com o jeito de mãe coruja da senhora que a adotara, já que seus pais moravam do outro lado do mundo - melhor tentar casar o Harry.

—Ah, esse meu filho… - ela suspirou chateada - aquela que não se deve nomear acabou com o coração do menino, eu rezo tanto por uma nora que faça ele feliz.

—Ela não merecia ele, Lily, ainda bem que ele descobriu antes de se casarem mesmo.

—Nem me fala! E ela parecia uma amor.

—A menina não era uma pessoa ruim, só não quis ser companheira de vida pra vida que ele escolheu, acontece - Hermione ainda lembrava de como o amigo ficara abatido quando terminou seu último relacionamento sério, Rose era ainda um bebê.

—Eu só fico com medo dele não dar chance para mais ninguém.

—Acho que você não precisa se preocupar com isso - um pequeno sorriso nos lábios de Hermione deixou Lily desconfiada.

—Você está sabendo de alguma coisa, Mione? Ele está saindo com alguém? - a ruiva se inclinou em sua direção, doida para saber mais.

—Eu não sei de nada - Hermione levantou as mãos se eximindo de qualquer culpa - e mesmo que eu soubesse, seriam informações confidenciais.

—Ah, mas que absurdo - Lily deu uma gargalhada, nunca ficaria chateada com Hermione por uma coisa dessas - mas assim, digamos, caso pudesse existir uma pessoa em vista, ela seria uma menina legal?

—Muito legal - a garota não resistiu a deixar um pouquinho escapar para a senhora que amava tanto, ela só queria a felicidade do filho e como mãe ela entendia - mas você não ouviu nada!

—Não sei nem do que você está falando! Aliás, vamos ver o que aqueles três estão aprontando lá trás?

—Vamos, espero que a Rose não tenha matado o pobre Caramelo de cansaço.

—Ele já está velhinho para um pônei, mas se ele aguentou o Harry criança, aguenta qualquer uma.

 

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A segunda-feira veio tão depressa que Ron não conseguia acreditar que não havia acelerado o tempo. Parecia que ele  mal tinha conseguido assimilar os acontecimentos da noite de sexta e seu despertador já acusava o horário de levantar da cama para começar um dia de trabalho.

Ainda tentou enrolar um pouco para se render a realidade, mas Soneca não sabia esperar para ir passear e logo estava pulando em volta de sua cama e lambendo a cara do dono.

—Tá bom, garoto eu já vou - a resposta pareceu satisfazer o cachorro, que gostou de ver o ruivo se levantando.

Ron percorreu o caminho usual em torno na quadra onde morava sem que os pensamentos saíssem do mesmo tema.

Teria que vê-la mais tarde.

As imagens em sua memória pareciam surreais e mais intensas ainda eram as sensações que lembrava de ter Hermione em seus braços. Ele poderia colocar toda culpa na bebida, porém, em algum nível Ron sabia que desejara beijar a morena, desejo esse que não nascera há apenas dois dias.

Entretanto, os dois trabalhavam juntos e, mesmo que toda a população do país quisesse ver os dois num relacionamento, ele sabia que aquilo não significava nada. O pior era não saber como Hermione reagiria, ele chegaria na emissora naquele dia e a encontraria distante? Sem nem sequer lhe dirigir a palavra? A encontraria sem graça? Ou seria a mesma Hermione dos últimos tempos, como se nada tivesse acontecido?

A última coisa que ele queria era que virassem estranhos um para o outro novamente, aquela configuração parecia não caber mais no que viviam agora. Porém Ron não sabia como ele próprio reagiria.

Teve que deixar as divagações sobre Hermione de lado e ir cuidar das tarefas do dia, que incluíam, finalmente, pegar sua moto de volta. Era, sem dúvidas o mais rápido e confortável que tinha de ir ao trabalho, sentira falta de ter o vento no rosto, mesmo que a estação atual não fosse das mais quentes.

Chegou no estacionamento da emissora e ocupou a vaga de sempre, notando que o carro de Hermione já estava em seu local habitual, entretanto, não era nada de novo que ela chegasse pontualmente no prédio. Ron percorreu o longo caminho até sua sala sentindo um frio estranho no estômago.

Tudo aquilo era por ter que encarar Hermione?

Ele não tinha vergonha nem arrependimento nenhum do que acontecera, não eram esses os motivos que estavam deixando-o ansioso. Talvez fosse medo… medo de ter, de alguma forma, estragado o novo relacionamento que tinha com a morena. Porém, ele não a beijara sozinho, então não podia ser o único culpado de nada.

Decidiu que não ia colocar o carro na frente dos bois e esperaria para ver como as coisas sairiam. Destrancou a porta de sua sala, não sem antes esticar o pescoço e constatar que havia luz saindo por debaixo da porta ao lado. Os dedos coçaram para ir até a maçaneta que não era a sua e desvendar de uma vez por todas como seriam as coisas entre ele e Hermione, mas se conteve.

—Não seja idiota, Weasley! - resmungou para si mesmo ao entrar na sala com seu nome e fechar a porta.

Se tinha algo que ele sabia, era que encurralar Hermione Granger nesse momento só traria os piores desfechos. Ele podia dizer que tinha experiência o suficiente em lidar com ela e já vira incontáveis vezes a forma como ela podia virar uma gata arisca quando acuada. Melhor esperar que ela tomasse qualquer atitude. Ele seria o Ron de sempre, afinal, para ele nada mudara, certo? 

Podia ser que ele estivesse pensando um pouco demais que gostaria de beijá-la de novo. Entretanto, ao mesmo tempo que esse pensamento surgia, outro gritava mais alto que aquilo era imprudente. Ele só queria silenciar as vozes em sua cabeça e agradeceu mentalmente quando Elise apareceu trazendo as pautas do dia.

O ruivo não deixou de notar que Hermione esperou até o último instante para chegar ao ensaio do dia e saiu o mais rápido possível, já dando a ele a resposta de que a reação dela seria evitá-lo. Percebeu que ela tentou ao máximo não dirigir olhares em sua direção e também parecia um pouco menos relaxada do que normalmente.

Em dias usuais, eles trocavam opiniões e conversas aleatórias durante os ensaios, não era raro que permanecessem ali um pouco além do momento de terminar de repassar as matérias do dia. Entretanto num piscar de olhos ela tinha sumido e Ron não sabia dizer exatamente como se sentia com isso.

Ele queria o que afinal?

Voltou para sua sala refletindo, remoendo pensamentos confusos que jogavam na sua cara que ele realmente não tinha ideia do que gostaria que acontecesse. Se por um lado ele preferia que nada mudasse no relacionamento com a morena, também ficaria um tanto incomodado se ela simplesmente fingisse que nada aconteceu. Eram adultos o suficiente para conseguir aceitar que passaram uma noite agradável juntos, mesmo que não tivesse ramificações mais profundas.

Ron passava os olhos, pela milésima vez, na mesma linha do material que tinha para ler, quando escutou uma batida forte em sua porta. Julgando ser sua assistente ou alguém trazendo seu figurino do dia, respondeu que estava ali.

—Ron, posso entrar? - o ruivo não conseguiu conter a surpresa quando viu a cabeça da pessoa que era a razão de sua falta de concentração aparecer por detrás da porta.

—Claro, Mini, senta - ele se levantou de sua mesa, indicando para que ela se acomodasse no sofá e foi sentar ao lado dela.

Observou como ela parecia decidida, não seria de admirar que ela tivesse passado um bom tempo ponderando se iria conversar com ele ou não, mas a atitude o deixou intrigado, não esperava que ela fosse se aproximar, não depois da forma como ela basicamente correu dele.

—Então.. eu queria conversar com você - ela começou, a foz tranquila sendo traída pelo leve torcer de dedos que estavam apoiados em seu colo.

—Pensei que você nem fosse falar comigo hoje - disse com ar de zombaria, nunca deixaria de gostar de cutucar um pouco - te vi fugindo.

—Eu não estava fugindo! - o jeito como ela revirava os olhos, apertando os lábios num pequeno bico sempre fora adorável assim? 

—Foi impressão minha então - deu de ombros sorrindo, sabendo que ela não estava sendo totalmente honesta.

—O que eu queria dizer… - ela pausou, limpando a garganta, antes de retomar o assunto - queria saber se está tudo bem entre a gente, normal.

Os olhos dela o esquadrinhavam, atenta a cada uma de suas reações. Ele podia responder simplesmente que sim, pois era a verdade. Foi algo passageiro, gostoso, efêmero, mas nada que mudasse a amizade que tinham ou a relação de trabalho, porém, algo dentro dele o impulsionou a não deixar nada apenas por isso mesmo, queria entender o que a preocupava ao vir perguntar isso.

—O que é normal? - ele coçou o queixo, despreocupado.

—Não dificulta as coisas, Ron, você sabe do que eu estou falando… - viu quando ela cruzou os braços, se ajeitando no sofá, sem que realmente houvesse espaço para ir para mais longe dele.

—Acho que é da gente ter se beijado, e muito, na sexta.

—Não precisa falar assim - ela torceu o nariz, mas ele viu quando ela desviou o olhar, para se fixar na mesa de centro.

Ela estava com vergonha do que tinham feito? Arrependimento? Ou aquilo era vontade de fazer de novo? A última ideia não passou inocente em sua mente.

—Eu não resisto a te irritar um pouco de vez em quando - deixou uma risada escapar de seus lábios, mas Hermione não prestou atenção, ela estava focada no assunto que viera discutir.

—Nós somos adultos, essas coisas acontecem, não significou nada, vida que segue normal, certo?

—Não sei, certo?

—Por mim sim, quero saber de você.

—Eu estou tranquilo, não fiz nada que não queria fazer aquele dia e espero que nem você.

—Também não fiz nada que não quisesse fazer, mesmo não estando em minha sã consciência.

—Mas agora está, não é? 

—Estou, e por isso quero deixar as coisas às claras, nós trabalhamos juntos, somos algum tipo de amigos e não quero que esse evento besta atrapalhe nada.

Então era isso mesmo, Hermione, assim como ele, não queria que o evento que passou afetasse a forma como eles agiam um com outro, o que o deixava mais tranquilo. Porém, ele não podia negar que havia gostado, talvez fosse uma pitada de loucura que o fez levar o assunto para um caminho sinuoso. 

—Entendo…. e mesmo assim está aqui bem do meu lado nesse sofá - ele  a olhou fixamente, sem se impedir de parar na boca que o desconcertava até aquele momento.

—E você deveria parar de me olhar assim - a morena o advertiu sem, no entanto, se levantar quando ele se inclinou ligeiramente em direção dela.

—Assim como?

—Como se quisesse… - ouviu a voz dela morrer sem confirmar o que ele sabia estar passando em sua cabeça.

—Te beijar? Ou te morder? - provocou com um sorriso malicioso, devia mesmo ter pedido a cabeça. De tudo que combinara com ele próprio de não fazer, aquilo era o mais oposto possível. Não deveria apenas “seguir a vida” como Hermione sugerira? Mas ela estava ali tão perto, podia sentir o perfume cítrico atingir em cheio suas narinas, a boca rosada inquieta.

—Essa provocação não tem graça, Ron - ela murmurou, o ruivo podia jurar que ouvira a respiração dela mudando de passo, não era só ele que tinha ideias descabidas em mente.

—Estou achando suas bochechas vermelhas muito interessantes e como você disse, somos adultos, não somos? - ele se aproximou ainda mais, sentia o joelho dela pressionando o seu, levantou uma das mãos e colocou uma mecha solta de cabelo atrás da orelha dela - Somos pessoas maduras que sabem dividir as coisas, brincadeiras não precisam atrapalhar a parte séria da nossa convivência.

Por alguns instantes o mundo pareceu suspensos, os dois em uma corda bamba decidindo se iam continuar a se equilibrar com toda a dificuldade presente ou se jogavam tudo para o alto e pulavam.

O ruivo, porém, não estava preparado para o fogo que viu nascer nos olhos castanhos que o encaravam sem piscar.

—Está querendo me dizer que você quer me beijar de novo e que isso não vai deixar nada estranho entre nós? - foi a vez dela se aproximar, o rosto dela estava tão perto que ele podia sentir a respiração em seu pescoço, causando um arrepio gostoso em sua espinha. 

—Agora quem é que está provocando quem? - sua voz saiu mais rouca do que esperava, rapidamente ele tinha perdido a dianteira naquele jogo. Alguma vez ele tinha conseguido vencer Hermione quando ela realmente usara todas suas cartas?

—Não é só você que sabe brincar com fogo e também estou achando sua respiração ofegante bem interessante - ela esbarrou de leve a boca no pescoço dele, ecoando uma sensação deliciosa em vários lugares de seu corpo.

Não saberia dizer que tipo de debate fervoroso Hermione teve dentro de sua cabeça para chegar ali querendo normalizar tudo que acontecera entre eles e acabar por entrar na rede de provocações que ele criou, porém tampouco queria saber.

O que ele queria dela agora era menos distância, mais contato.

—Mini… - ele gemeu baixinho, sentido-a mexer os lábios em um sorriso.

—Nada vai ficar estranho, não é? - ela procurou os olhos dele mais uma vez em confirmação.

—Não… é só um beijo, Granger - ele viu que a referência não passara batido por ela, mas nem teve tempo de pensar muito. Instantes depois a mulher mais enlouquecedora do mundo prendeu seus lábios num beijo, dessa vez totalmente sóbrio.


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Notas finais do capítulo

Sou só eu, os as coisas estão se complicando entre Ron e Mione? Esse negócio de "só um beijo" vai dar certo até quando? kkk
E a casa toda Rhykeza dos papais Potter? Vou nem mencionar o pônei pq nem precisa ahauha
Não deixem de me dizer o que acharam
Bjus



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