Spotlight escrita por Fe Damin


Capítulo 11
Capítulo 11


Notas iniciais do capítulo

Olá, meu povo!
Sim, eu me atraseeeeeei, sorry! Foram umas semanas muito doidas e não tive tempo pra postar, mas não se preocupem, sexta tem capítulo novo!
Podem esperar por fortes emoções

Espero que gostem!



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Tem coisa melhor do que saber que nosso amado Ron está solteiro? Finalmente desimpedido para concretizar o ship que todos pediram a Deus! Seria exigir demais um anúncio de namoro? Aliás… qual será a razão desse término? #MistérioNoAr #QueremosMais 

Rita Skeeter - via Twitter

 

Ron ficara contente ao ter conseguido se desculpar com Hermione ainda na festa da irmã. Tinha agido de maneira injusta e estúpida, de forma que o clima no trabalho acabaria por ser afetado, algo que ele não queria. Era agradável trabalhar lado a lado com a companheira de câmeras. O ruivo nunca duvidara da capacidade dela como jornalista e sabia que tinha por perto alguém em quem podia contar caso acontecessem imprevistos durante o programa, portanto, não era algo que ele gostaria de arriscar. Os dois tinham caminhado um longo percurso de amadurecimento e esquecimento de birras passadas para atingirem esse patamar de convivência.

A rotina do jornal já estava muito bem estabelecida, os tempos entre passar a pauta, ensaiar, provar o figurino e se aprontar já estavam todos bem desenhados e funcionando quase sempre sem problemas.

Ajeitou os últimos detalhes do nó de sua gravata e saiu de sua sala em direção ao estúdio. Geralmente encontrava Hermione no caminho, mas aquele dia ela parecia já ter ido, ou ainda estar ocupada em sua própria sala. Vários olhos o encararam durante o trajeto, pessoas projetavam as cabeças por cima das divisórias de suas mesas tentando passar despercebidas, porém o ruivo notou a situação incômoda.

—Tem alguma coisa errada com a minha cara, por acaso? Todo mundo tá olhando estranho - ele indagou ao encontrar Harry e Hermione no estúdio.

—Você não abriu a internet hoje? - o tom de precaução de Harry não fez nada para deixar Ron mais tranquilo.

—Só rapidamente, o que foi?

—Ah… talvez esse não seja o melhor momento - Hermione interrompeu, assim que Ron procurou no bolso do paletó pelo celular.

—Agora eu quero saber…

—Vá direto no instagram da Rita - indicou o moreno.

—Harry! - a garota não tinha ficado feliz com o incentivo do amigo.

—Ele vai ver de qualquer jeito, Mione.

Ron já não estava mais ouvindo os dois. Abriu a conta que Harry indicara e a primeira postagem mostrava uma foto sua e uma de Lilá que parecia estar em algum tipo de galeria, elegante como sempre.

—Mas que porra é essa? - seus olhos passaram pela descrição sensacionalista, nós se formando em seu estômago a cada linha.

“Noivado do queridinho Ron Weasley chega ao fim! A ex futura senhora Weasley abriu o coração em evento artístico”

—Abre o coração? Por Deus…

—Não é tão ruim quanto parece, Ron, é só pra chamar atenção mesmo, o pessoal da assessoria já está por dentro da situação - Harry tentou amenizar a situação, mas Ron já tinha bagunçado as mechas ruivas que antes tinham a organização perfeita que os figurinistas exigiam.

—Jornalismo barato, é isso que essa porcaria é - rosnou, sacudindo o telefone sem, no entanto, conseguir parar de ler. Ao contrário do que a razão dizia, acabou por clicar no link que levaria à matéria completa.

—Deixa isso pra lá, Ron, já está quase na hora de ir ao ar - Hermione temia pelo humor do colega com a proximidade iminente de começarem a edição do dia.

—Olha esses comentários, meu Deus, você leu isso? - Ron fez o martírio completo e foi ler os comentários da foto, em poucos instantes já queria se enterrar.

—Tá falando da parte de que aparentemente temos um romance oculto há anos e agora que você voltou para perto de mim não conseguiu mais resistir aos meus encantos? Ou o rumor de que temos até filhos juntos? - Mione respondeu com pouca satisfação no rosto, só de se imaginar em uma novela daquelas já tinha dor de cabeça - Claro que li, recebi umas mil mensagens dessa, e trocentos comentários na última foto do meu instagram. Aparentemente as pessoas estão muito felizes por nós.

Era por isso que ele tinha medo do dia em que a imprensa descobrisse que ele não era mais comprometido. As pessoas já pareciam ávidas em criar uma história entre ele e Hermione mesmo ele sendo noivo, pior seria no momento em que viesse à público que ele estava desimpedido.

—E como você está tão calma? - o ruivo estava indignado com a situação, já devia ter se acostumado, mas era difícil quando as pessoas faziam as associações mais estúpidas.

—Não estou, Ron, as pessoas são doidas, mas o que eu posso fazer? 

—A gente podia postar alguma coisa dizendo que isso não tem nada a ver! - ele só queria que aquilo parasse, ia ser pra sempre assim?

—Qualquer resposta de nossa parte vai ser só colocar mais lenha na fogueira, deixa o Mike e a Sophia cuidarem disso - Hermione deu de ombros, ela já tinha pensado sobre o assunto.

—Ela tem razão, Ron… - Harry completou - isso são só ânimos aflorados,  daqui a pouco passa. Só precisa da próxima notícia.

—E nem se preocupa tanto, eu que sou a destruidora de casamentos - Hermione riu irônica.

—Você nunca ia fazer isso! - Ron não soube porque precisou ir em defesa da garota para ela mesma, mas sua cabeça não estava em bom funcionamento.

—Claro que não, nem se eu estivesse de fato interessada!

Antes que Ron pudesse decidir se havia algum insulto ali, os dois foram chamados para entrar em quadro.

—Espera, seu cabelo está um desastre! - Hermione o parou, segurando seu braço, antes que subisse os pequenos degraus que levava ao cenário.

—Ai, merda, nem percebi! - ele tentou ajeitar da melhor maneira sem ver o que estava fazendo.

—Você sempre faz isso quando está nervoso - aquilo não havia sido uma pergunta, e Ron achou curioso que ela tivesse notado algo que nem mesmo ele tinha prestado atenção.

—Vou atrás de algum dos cabeleireiros - o som de contagem regressiva para o último minuto já estava soando.

—Não dá mais tempo, vem cá - ela o puxou para perto e fez o melhor que podia com o tempo curto.

Os dedos pequenos se insinuaram pelo cabelo dele e Ron sentiu um arrepio na nuca. Até parecia que nunca tinha encostado em Hermione, mas aquele era um tipo de toque diferente, parecia algo mais íntimo, um carinho. O perfume dela chegou em suas narinas e ele soube exatamente o momento em que teve que se afastar, pois os olhos deles se prenderam por mais tempo do que seria aceitável.

—Já deve estar bom, obrigado - ele limpou a garganta e deu um passo para trás. Sua mente só pensava em como os loucos da internet vibrariam e inventariam mais absurdos caso tivessem uma foto daquele momento. Nada de mais havia acontecido ali, certo?

—Então vamos - ela subiu para sua posição de sempre e o jornal começou pontualmente.

Ron conseguiu controlar o turbilhão que tinha na cabeça durante o tempo inteiro em que estiveram ao vivo. Aquele dia já estava longo demais, tudo que ele queria era ir para casa, abraçar seu cachorro, tomar um longo banho e se afundar na cama. Não queria pensar em como as pessoas brincavam com sua história, em como Hermione se sentia com aquilo e muito menos queria lembrar da sensação dos dedos dela em seus cabelos.

Naquela noite ele arrumou as coisas mais rápido do que o normal e, em poucos minutos, já estava no estacionamento se dirigindo para sua moto. Colocou o capacete e subiu no veículo do jeito mecânico de sempre, mas ao dar a partida, luzes estranhas apareceram no painel, acusando que a moto não sairia dali.

—Puta que pariu, esse dia pode ficar ainda pior? - ele puxou o capacete da cabeça de qualquer jeito e bateu com ele no painel da moto.

—Ron? Aconteceu alguma coisa? - a voz de Hermione chegou aos seus ouvidos, ela estava parada de frente ao seu carro, algumas vagas de distância de onde ele estava estacionado.

—A merda da moto não quer ligar - ele apontou para a o carnaval de luzes que não deveriam estar acesas - já tá tarde demais pra resolver isso… de manhã eu ligo pro seguro, vou chamar um uber.

Derrotado pelo cansaço do dia, ele saiu de cima da moto e foi em busca do celular que estava na mochila em suas costas.

—Eu te deixo em casa, você mora não muito longe daqui, não é?

—Não precisa, Mini, a Rose tá te esperando.

—Uma hora dessas eu espero que a Rose esteja dormindo, depois você se entende com a sua irmã pelo meu atraso - ela disse rindo - e de verdade, não é trabalho nenhum, você me ajudou antes quando eu precisei, minha vez de retribuir.

Ele pensou alguns instantes antes de aceitar.

—Tudo bem - cruzou a distância que os separavam e entrou no banco do passageiro logo após ela se ajeitar no lugar do motorista.

—Qual é o endereço? - Ron recitou as informações, explicando onde morava - eu sei mais ou menos onde é, fica a caminho da minha casa, mas você vai ter que direcionar, ou posso colocar no gps.

—Não tem problema, eu vou te dizendo por onde ir, só chega na principal que depois eu te explico.

Os dois ficaram em silêncio enquanto ela manobrava o carro para sair da vaga. De todas as situações em que se imaginou terminando seu dia, nenhuma delas o colocava dentro do carro de Hermione. 

—Você já teve dias melhores que hoje, hein - foi Hermione quem quebrou o silêncio.

—Nem me fala, parece que tem dia que é melhor nem sair da cama - as luzes da rua brilhavam frias na direção de seus olhos, Ron achou mais prudente prestar atenção na parte de fora da janela do que no que tinha por perto ali dentro do carro.

—Não sei o que o Harry ia achar da sua falta ou a McGonagall… - o ruivo podia jurar que havia um sorriso no rosto de Hermione, porém permaneceu compenetrado em não encará-la. Era como se algo dentro dele não quisesse dar nenhuma razão aos comentários que lera mais cedo.

—Iam querer meu pescoço, ou provavelmente meu emprego, imagina essa reviravolta para os doidos da internet? Em menos de um mês Ronald Weasley passa de queridinho da Tv Britânica para desempregado!

—Um prato cheio, eu diria! - o riso  dela chegou aos seus ouvidos e ele acabou se traindo e virando o olhar para ver uma Hermione descontraída, atenta ao volante.

—Só ia perder para “um mês depois do término de noivado, Ronald Weasley foge com colega de trabalho Hermione Granger para casamento escondido!”.

Era estranho e novo ao mesmo tempo esse tipo de proximidade. Claro que desenvolveram um tipo de amizade incipiente, mas estavam ali brincando e rindo juntos… nada parecido com as pessoas que foram há alguns meses, quem diria há vários anos. 

—Eu tenho quase certeza que recebi uma história assim no meu instagram... - ela debochou.

—O jeito é rir mesmo, senão eu vou me estressar para sempre - Ron deu de ombros, precisava colocar o temperamento sob controle em relação a tudo que era dito sobre ele, não iria vencer a multidão sozinho.

—Eu já me estressei, Ron, mas de que adianta? Eu só não quero expor a minha filha por isso nunca coloquei nada sobre ela na internet e continuo não respondendo a boatos sobre ela, de resto, tanto faz… - Hermione parou o carro em um semáforo vermelho e seus olhos acabaram se encontrando com os dele - é mentira de qualquer forma.

—Sim, totalmente mentira - ele concordou, sem saber porque aquela afirmação apertou alguns nós em seu estômago.

—A gente se mataria antes de pensar em fugir para um casamento misterioso.

Por um instante, ele se recordou do momento em que fora pedir desculpas a ela durante a festa da irmã. Alguns pensamentos conflitantes se insinuraram em sua mente, a sensação era a de que ele não sabia tão direito o que estava fazendo ali. Por mais que tudo sim parecesse uma besteira. Jogou a confusão de lado e decidiu continuar sendo o Ron bem humorado de sempre.

—Bom… já estivemos mais distantes do que hoje em dia, mas mesmo assim, eu terminei um prospecto de casamento muito recentemente, você vai ter que esperar um pouco para ganhar seu anel.

—Ora, bom saber que vou ter um anel! - ela mais uma vez riu, era hipnotizante de ver como ela passara a aceitar as besteiras dele com leveza ao invés de terminar em brigas - Bem gigante para eu poder me exibir para os atores da emissora?

—Ei, vai com calma que meu salário ainda não é de ator do horário nobre, mas uma hora a gente chega lá, quem sabe, né?

—Ai, quanta besteira - ele a viu chacoalhando a cabeça, não tinha decidido que não ia ficar observando?

—Mas é engraçado, dá quase pra entender o apego das pessoas com isso - por mais irritante que fosse, ele era sensato o suficiente para compreender a razão das pessoas gostarem de falar besteiras. Era um conto de fadas, e mesmo não existindo, todos gostariam de pensar que encontraram um.

—Mais uns dias e nós seremos notícia velha, é só deixar de dar mais material.

—É bom que ninguém descubra a Rose senão, vão acabar achando mesmo que ela é minha filha que eu mantenho em segredo, só porque nossos olhos são azuis!

—Por Deus… ainda bem que ela não tem o tal cabelo de Ariel que tanto queria, ia ser impossível convencer as pessoas de que você não é pai dela, não que eu fosse fazer questão de apresentar ao mundo o imbecil que tem o título oficial - o tom de brincadeira acabou por ganhar um ar mais sóbrio e Ron não pode deixar de sentir a curiosidade aparecendo.

—Tão ruim assim, Mini? - não foram poucas as vezes em que ele ponderou sobre o pai da Rose, não sabia nada sobre o cara, apenas que era um babaca que havia desaparecido e não queria saber da filha. Não sabia dizer se era indignação o que sentia ao pensar no homem que abandonava duas pessoas como elas. Rose era uma garotinha encantadora e Hermione era… bom, era Hermione.

—É… bem ruim. Às vezes eu me pego pensando no que eu tinha na cabeça na época em que eu me achava tão feliz com ele.

—Podemos culpar a juventude por muitas coisas - ele a direcionou por entre as ruas que chegariam ao seu endereço, já estavam perto.

—Bom, mas nem adianta, o que tá feito, tá feito. E eu não me arrependo de nada, a Rose é a minha vida.

—Eu só realmente não consigo entender como alguém pode não querer ter aquela menina por perto… - o ruivo se lembrava de já ter dito isso antes, mas era uma verdade que não se importava de repetir. Ele teria muita sorte se um dia viesse a ter um filho, ou filha, como aquela pequena espevitada.

—Obrigada, Ron. A Rose não estaria mal se você fosse mesmo o pai dela igual na sua história boba. - Ron percebeu imediatamente que ela ficou sem graça, pois o rosto que o encarava passou a fitar a rua em frente, mesmo já tendo chegado em frente ao prédio dele - quer dizer, não to dizendo….

—Eu entendi, não se preocupe, vou aceitar o elogio - num impulso, a mão dele cobriu a dela, e ele sentiu os olhos dela de novo em si - bom chegamos, obrigado pela carona.

—De nada. Nem doeu aceitar a carona, não foi?

—Não… então tchau - os dois pareciam não saber o protocolo para finalizar aquilo, ele terminou o contato com ela para tirar seu cinto e acabou novamente seguindo o impulso, se inclinou para frente e deu um beijo em sua bochecha - Boa noite para a minha namorada fictícia.

Ron não se demorou para observar a reação dela nem a sua brincadeira, nem a despedida mais íntima do que de costume. Cruzou o saguão do prédio em passos largos com os lábios ainda formigando e o cheiro do perfume dela em mente.

 

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Durante aquela semana, a diretoria do jornal anunciou algumas mudanças relacionadas à produção do programa. Uma das ideias mais antigas de Harry seria colocada em fase de testes, o garoto sempre advogara para fazerem a última edição da semana como um episódio gravado previamente, algumas horas mais cedo. De acordo com ele, aquele dia era, naturalmente, a menor audiência do canal, então não tinha razão para não dar um descanso a mais para a equipe inteira.

Claro que isso significaria apressar vários processos, porém todos concordaram em realizar uma primeira tentativa na sexta feira, incentivados pelo prospecto de terminar as filmagens por volta de 19h, muito antes do horário que sairiam normalmente. A parte da equipe responsável pelo controle da emissão ainda teria que permanecer, porém grande parte dos funcionários poderiam chegar em suas casas mais cedo.

Em um primeiro momento, Hermione achou que aquilo pudesse dar errado com toda a pressa com a qual teriam que trabalhar se não quisessem ter que chegar mais cedo à emissora, porém, no final da gravação teve que dar o braço a torcer.

—Não falei que ia dar tudo certo? - Harry olhava para a amiga com a cara convencida que sabia ser irritante para ela.

—Tudo bem, oh sábio produtor, você estava certo - ela revirou os olhos, por mais que estivesse satisfeita de já poder ir buscar suas coisas para partir.

—Eu adorei essa ideia de trabalhar menos horas na sexta! - Ron se juntou aos dois assim que terminou de falar com um dos meninos da iluminação que havia pedido um minuto.

—Tá vendo, o Ron acreditou desde o começo.

—Eu só achei que ia ficar corrido, larga de ser dramático, Harry - ela deu um tapinha no amigo que ainda a olhava como se ela tivesse dito que o filhotinho de cachorro que comprara era a coisa mais feia do mundo.

—Tá bom, mas quer saber? Isso merece uma comemoração! Afinal hoje é sexta e nós somos jovens desocupados até segunda.

—O que tem em mente, Potter? - Ron pareceu instantaneamente interessado e Hermione já preparou sua saída estratégica.

—Podem ir comemorar, meninos, eu vou para casa.

—Ah, não, nada disso! Só um happy hour, Mione! A gente chama a Luna, Olivia, Elise, as meninas do figurino e o pessoal da imagem, eles são legais! - Harry sabia que a amiga ia tentar se desvencilhar, mas achava que ela merecia relaxar de vez em quando também.

—Eu sei que são legais, mas eu tenho a Rose e…

—Que eu saiba a Rose está muito bem cuidada pela minha irmã.

—Mas ela pode ter uma folga mais cedo hoje, fica para a próxima, prometo.

—Na próxima você vai inventar outra coisa… e nem sabemos se a McGonagall vai querer manter as sextas feiras sendo gravadas por muito tempo, vamos, Mione, só hoje! A gente vai naquele bar que tem o vinho que você gosta - a cara de cachorro pidão de Harry era tão insistente, que Hermione teve que rir.

—Você não vai parar de me pentelhar, não é?

—Sabe que não.

—Tudo bem - ela jogou as mãos para o alto em derrota, vendo de canto de olho que Ron também estava satisfeito.

—Ótimo, vou convidar o pessoal e a gente se encontra lá em 20 minutos, pode ser?

—Só vou trocar de roupa - ela avisou e se dirigiu para sua sala, onde recolocou as peças com as quais havia vindo trabalhar.

Escutou uma batida em sua porta, só faltava fechar alguns botões de sua blusa então pediu que a pessoa entrasse.

—Você vai de carro? - Ron perguntou, colocando a cabeça por entre a fresta que abrira.

—Acho que não… vou acabar bebendo um pouco, melhor ir de uber até lá, depois qualquer coisa eu volto para buscar o carro.

—Certo - o ruivo concordou.

—Ainda está sem a moto?

—Sim, e disseram que vai levar mais alguns dias para ficar pronta, devo pegar na segunda… - Hermione ficou se perguntando a razão para o assunto, quando Ron continuou - se quiser, podemos dividir o Uber, vou ter que chamar um de qualquer forma e eu nem sei onde é.

—Bem a cara do Harry marcar e esquecer de dizer onde - chacoalhou a cabeça pensando na falta de atenção do amigo, porém seu cérebro logo se voltou a pergunta do ruivo e decidiu que não tinha nada de mais - tudo bem, aceito a carona do Uber.

—Já está pronta?

—Vou só pegar minha bolsa - ela se inclinou por cima da mesa para alcançar suas coisas - pronto, vamos.

Em menos de meia hora, Ron e Hermione estavam sentados lado a lado na mesa que dividiam com o restante dos seus colegas de trabalho. O ambiente era elegante sem deixar de ser aconchegante. Como prometido, Harry pediu uma garrafa do vinho favorito de Hermione que o saboreava sem esconder o apreço.

—Você está fazendo uma cara tão boa pra esse vinho que talvez eu tenha me arrependido de pedir esse drink - Luna olhou para sua própria taça que continha um líquido colorido.

—Isso, minha querida Luna, é uma invenção dos deuses! - Hermione levantou a taça, antes de sorver mais um gole.

—Ainda bem que ninguém aqui trabalha amanhã - Harry zombou ao ver a amiga pedindo para encherem novamente a taça, sendo acompanhada por Ron.

Entre bate papo, bebidas e boas risadas o grupo se divertiu, porém o horário e o teor alcoólico no sangue começou a cobrar seu preço e um a um foram partindo.

—Bom, acho que está na minha hora também, já passei da conta - Harry chamou o garçom para pagar sua parte.

—Mas já, Harry? - Hermione não se sentia no clima de acabar a noite, já estava alegrinha pela bebida.

—Você devia fazer o mesmo, dona Mione, não quero notícias amanhã de que a âncora do meu jornal foi encontrada na sarjeta - ele mostrou a língua para ela assim que devolveu a máquina do cartão para o garçom.

—Até parece que eu faria isso - a morena revirou os olhos, quase ofendida.

—Não se preocupe que eu tomo conta dela.

—Você não está muito melhor do que eu, Ron! - Hermione rebateu, dando um tapinha no ombro do rapaz.

—Eu estou ótimo!

—Já vou indo, vocês se comportem, crianças! E não quero saber de ninguém dirigindo para casa.

—Tá bom, mãe - disse Hermione, arrancando risadas dos meninos.

Harry se despediu e desapareceu por entre as pessoas até que estivesse longe do alcance da visão dos amigos.

—E não é que ficamos só nós! - Hermione olhou para a mesa, agora vazia, sem entender direito como aquilo havia acontecido. A mente anuviada pela bebida não estava ajudando em nada.

—Será que a gente pede mais um vinho? - Ron ponderou girando a taça vazia.

—Se você quiser, eu quero!

Sem pensar duas vezes, o ruivo pediu a um garçom que trouxesse mais duas taças da bebida.

—Isso está engraçado, você nem queria vir e agora estamos aqui, os dois bêbados - ele riu, ainda mais quando a morena torceu o nariz.

—Não tem ninguém bêbado aqui, senhor Ronald! - ela se empertigou na cadeira, como se quisesse provar a compostura que já havia ido embora algumas taças atrás.

—Se você diz… - ele deu de ombros, mesmo ligeiramente bêbado, sabia que discutir com ela quando estava sendo teimosa era algo pouco inteligente a se fazer.

—Eu gosto daqui, a luz é legal, bonito - Hermione parou para olhar em volta de verdade pela primeira vez. Ela sempre gostou do ar reservado do local, principalmente por terem escolhido a mesa mais afastada do ambiente. Um biombo enfeitado os separava quase totalmente do resto do bar, deixando que a mesa parecesse estar num universo à parte. Assim não tinha gente espiando, pessoas reconhecendo os dois ou interessadas em autógrafos, dava para ser apenas dois amigos se divertindo numa noite.

—Você vem muito aqui? - um súbito interesse em preencher a lacuna de conhecimento que tinha sobre a vida dela quando esteve longe o atingiu.

—E eu lá vou para algum lugar, Ron? Vim uma vez ou outra, a Rose não pode vir pra esse tipo de ambiente - os dois ficaram satisfeitos ao receber as taças que pediram. Num acordo tácito, brindaram a nada em particular e tomaram o primeiro gole.

—Não é mesmo lugar pra criança, mas você já é grandinha - ele zombou, se inclinando em sua direção para pescar uma mecha de cabelo que havia escapado detrás de sua orelha. Ao invés de colocar o cabelo no local de onde tinha saído, ele ficou brincando com os fios em seus dedos, o que deixou Hermione ligeiramente incomodada. Desde quando eles estavam sentados tão perto? 

—Sou? Então por que você ainda me chama de Mini? - ela tentou se distrair da ação do ruivo.

—Não sei... hábito? Te incomoda? - ele soltou os fios e se ajeitou na cadeira, pensativo com a observação dela.

—Agora não, acho que acostumei… antes eu queria sua morte - ela deu mais gole em seu vinho e fingiu não perceber o par de olhos azuis a seguindo.

—Mas é tão a sua cara, pequenininha, mas cheia de braveza -zombou, satisfeito ao ver quando ela apertou os olhos, pronta para responder. De certa forma ele adorava aquilo, a troca de farpas, as implicâncias, desde que continuassem com a relação mais amena que tinham estabelecido.

—Eu não sou brava - Hermione cruzou os braços fazendo-o rir.

—Melhorou bastante.

—E você é irritante - ela apontou o dedo em seu rosto, o álcool a havia deixado mais sem filtro para responder e talvez ela estivesse imaginando coisas, ou ele tinha mesmo capturado a mão dela na sua para impedi-la de continuar com o dedo acusador em sua direção?

—Talvez uma coisa esteja conectada com a outra, mas também melhorei bastante, não? - Hermione podia jurar que tinha visto o ruivo fazendo um bico, mas os dedos dele que acariciavam a palma de sua mão a distraíram completamente. O que tinha mesmo naquele vinho?

—Um pouco… - ela respondeu, sem conseguir tirar os olhos do local onde se tocavam, até que achou mais prudente usar a taça como desculpa para afastar a mão e dar mais um gole - sabia que só você me chama assim? Mini… ou de qualquer apelido do tipo.

—Isso é porque eu nunca tive medo de você, mesmo quando me olhava querendo arrancar minha cabeça.

—Que absurdo, eu não sou violenta a esse ponto.

—Metaforiacamente falando, então.

—Aí sim…. - ela concordou, porém o assunto de antes voltou a sua mente - eu não gosto de deixar a Rose para sair, parece injusto, ela não tem outra pessoa por ela… e agora eu fico pensando que podem me reconhecer por aí.

—E isso seria ruim?

—Ah, você sabe como as pessoas são. Imagina se me encontram com alguém numa balada. Vai ser o inferno de comentários.

Hermione tinha plena consciência da hipocrisia das pessoas em relação a vida dos outros, principalmente de mulheres, então de certa forma ela se privava de algumas coisas para não ter dor de cabeça, mesmo sendo injusto. Fora que para ela, sua filha sempre estaria em primeiro lugar, já bastava o erro que cometera ao escolher o pai da menina.

—Talvez a gente devesse ter bebido menos hoje então, estamos em um bar, sozinhos, mesmo você já sendo minha namorada fictícia - ela viu Ron girar a taça nos dedos depois de terminar de tomar seu conteúdo sem, no entanto, se afastar dela.

—Aqui é escondido - ela deu de ombros, o álcool a deixava mais corajosa do que o normal.

—Nunca achei que você fosse tão otimista… imagina o que as pessoas iam achar - ele abriu um sorriso travesso que fez algumas borboletas se agitarem no estômago da morena.

—Do que? - em algum lugar do seu cérebro tinha uma parte consciente avisando que ela estava passeando em terreno perigoso, mas naquele momento ela não ligou nem um pouco, prestou atenção apenas na respiração dele perto de sua orelha quando ele se aproximou para responder.

—Eu e você, aqui juntos - Ron murmurou, quase como se fosse um segredo.

—Já somos apaixonados para eles, não ia ser nada demais - ela conseguiu responder tranquilamente, ignorando com sucesso toda aquela proximidade.

—Verdade… mas é engraçado isso tudo, não é? - e lá vinha o tal sorriso desconcertante de novo, hora de se afastar.

—O que exatamente? - ela se ajeitou na cadeira, indo pra longe dele e fingindo tomar um gole já imaginário de sua taça.

Ele não pareceu se incomodar com a reação dela e continuou no mesmo tom de provocação, olhando-a fixamente, por mais que a garota o evitasse.

—Como  o mundo dá voltas e de vez em quando trás a gente para o mesmo lugar… só te vi beber isso tudo de vinho uma vez e faz muito tempo, você brigava muito mais comigo naquela época e eu brigava de volta.

—Me viu beber? Quando foi isso? - rapidamente Hermione se sentiu em alerta, do que aquele ruivo estava falando? Não podia ser...

—Ah… alguma vez que a gente saiu com a turma - ele deu de ombros, sem parecer interessado em elaborar a resposta, mas ela não deixaria por isso mesmo, aquela informação era significante demais.

—A gente só saiu uma vez Ron, você não lembra disso - agora ela voltou a encará-lo, buscando qualquer sinal de verdade ou mentira em sua voz.

—Lembro sim, você que não lembra - todo o tom de gracinha havia sumido, ela sentiu o peso dos olhos dele a investigando.

Por alguns instantes pareceu que nenhum dos dois respirou. Depois de todos esses anos, Hermione realmente estava recebendo uma informação completamente diferente do que acreditava? Aquela noite ficou em sua cabeça por muito mais tempo do que ela gostaria de admitir, seria possível que….

—Eu lembro… você também bebeu aquele dia… - ela finalmente quebrou o silêncio e viu que ele parecia realmente desconcertado, apertava as sobrancelhas como se estivesse tentando recordar alguma coisa.

—Foi… mas o final daquela noite, eu achava que… você tinha esquecido.

—Esquecido? Você que se esqueceu, eu achava… - os dois tinham sido idiotas, essa era a verdade, mas o que aquilo importava? Muita água já tinha rolado e eram duas crianças na época - eu acho que a gente já bebeu demais aqui, essas coisas não importam mais, não importaram na época, imagina agora.

A verdade é que ela lembrava vividamente da boca dele na sua.

—Talvez você tenha razão - ele murmurou.

—A conta, por favor - ela não deu tempo para que ele contestasse sua decisão de partir, aquela conversa tinha ido para muito mais longe do que pretendia, mesmo não estando 100% em seu juízo perfeito.

Eles esperaram pelo garçom e pagaram a conta em silêncio. Ambos precisavam digerir a informação que lhes tinha sido dada. Foram para a frente do bar, tudo que Hermione queria era pegar um uber e ir para casa, era o melhor fim para toda a confusão que estava sua cabeça. Não cairia na lábia de Harry para sair de novo tão cedo.

—Merda, meu celular tá sem bateria - ela xingou ao pegar a tela escura do bolso.

—Eu vou chamar um uber até a minha casa, quer carregar um pouco lá? - a sugestão não pareceu fora do comum para a “amizade” que mantinham agora. Porém Hermione ainda se sentia confusa em como se sentia em relação ao desfecho daquela noite e ele ainda parecia mais bonito que o normal na iluminação da rua.

—Não sei… - talvez devesse ir, eles eram só amigos agora, nada demais. Amigos que estavam bêbados? Sim, mas isso não mudava nada.

—Você não vai ter como chegar em casa, Mini - ele bateu de leve no ombro dela.

—Hum…

—Anda, eu não mordo - ela sentiu um arrepio na espinha antes de jogar tudo para o ar e aceitar o convite.

 


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Notas finais do capítulo

Aaaaaaaaaaaaaaaah! Tem história nesse passado!!!!
O que vai acontecer na casa do Ron? A Mione só vai carregar o celular, né???
Veremos...
Agora não esqueçam de me dizer o que acharam!
Bjus