Tinha passado meus últimos dias praticamente só ao lado de Bella, e nos dias que nós não nos víamos, eu sentia sua falta. Nossas conversas se estenderam para o Whatsapp, mas parecia que não era suficiente. Em pouco tempo, nós adquirimos uma ligação extremamente forte. Era como se eu nunca tivesse vivido sem ela ao meu lado. Parecia que ela me conhecia desde quando eu tinha nascido - o que em parte era verdade. Eu não me via mais sem ela ao meu lado. Ela era, além de tudo, uma boa pessoa, e havia se mostrado uma amiga fiel. Nós almoçávamos quase todos os dias juntos, e ela sempre fazia questão de perguntar como eu estava, sobre minha família ou sobre as coisas que eu fazia. Bella era interessada. Ela não era muito de falar sobre si, pelo que eu tinha descoberto em um dos nossos almoços, porém comigo ela se abria mais. Nós dividíamos nossa vida um com o outro, sem nenhuma pressão ou preocupação. Era simplesmente por leveza. 

Meu celular vibrou enquanto eu observava as pequenas gotas de chuva que ainda caíam do céu. O tempo estava abrindo e isso, com certeza, estava deixando minha irmã feliz. Peguei o aparelho e vi o nome de Bella brilhando na tela. 

“Ed, estou indo. Não se preocupe, não vou dirigir. Meu pai vai me levar. Espero que quando eu chegar, você já esteja lá. Não quero ficar sozinha no meio de desconhecidos, haha. Beijos.”

Assim que li a mensagem, um sorriso logo tomou conta do meu rosto. Peguei as chaves do meu carro e desci as escadas. Encontrei minha mãe e Alice no meio da sala. Esme fechava o vestido brilhante da minha irmã. 

— Você está lindo, querido. – Minha mãe falou e senti meu rosto ficar vermelho na mesma hora. Eu não reagia muito bem a elogios. 

— Obrigado, mãe. – Eu respondi e me virei para minha irmã mais nova, agora sentada no sofá calçando suas sandálias. Eu sinceramente não sei como ela conseguia andar em cima daquele salto agulha. – Vamos, Ali? A Bella já está indo. 

— A propósito, quando eu vou finalmente conhecê-la? Aliás, revê-la? – Minha mãe perguntou a mesma coisa pelo menos pela quinta vez, desde quando eu contei para ela que Bella era a garota da maternidade. 

— Logo. A mãe dela está preparando um jantar para vocês se reencontrarem, pelo que ela me contou. – Contei. 

— Ah, que graça! Estou ansiosa. – Ela bateu palmas e deu um beijo em minha irmã. – Não voltem tarde e, Edward, não deixe sua irmã beber demais. – Disse e logo deu um beijo em minha bochecha também. Eu ri, pois teria que ser a babá da minha irmã. 

— Vamos, baixinha? 

— Sim. – Ela disse e se levantou do sofá. Com aquele vestido todo brilhante, Alice parecia uma fada. Ela deu uma volta. – Como estou? 

— Linda, como sempre. Agora vamos? A Bella não quer ficar sozinha lá. – Eu falei e ela me olhou com uma expressão estranha no rosto. Ela parecia querer conter o riso. 

— Você e a Bella estão bem próximos, né? – Ela perguntou enquanto entrávamos no carro. 

— Sim, eu não poderia conhecer uma pessoa melhor. – Eu disse. 

— Eu gosto dela. E pelo visto você também, irmãozinho… – Ela riu. – Sim, ela é ótima. Fico feliz em saber que você conseguiu se aproximar dela. Ela me fala muito de você. 

— É mesmo? – Eu perguntei, num misto de surpresa e satisfação. 

— Sim, a conversa sempre chega em você, de algum jeito. Dá para ver que vocês são bons amigos. – Alice explicou e o sentimento de satisfação continuou a crescer dentro de mim. Não contive um sorriso. 

Chegamos ao pub em um tempo recorde. Eu certamente infringi algumas regras de trânsito durante o caminho, mas nada que não dava para ser resolvido. Entramos e Bella ainda não tinha chegado. Olhei meu celular em busca de alguma mensagem sua, mas não tinha nenhuma notificação nova. Encontrei alguns velhos amigos de Alice e começamos a conversar animadamente, até que ela chegou. 

Eu parei de falar na hora. Eu não tinha como falar nada. Eu simplesmente não conseguia. O olhar de Bella cruzou com o meu e ela sorriu, vindo até mim. Sua caminhada não durou mais que dez segundos, porém, para mim, foi como se ela viesse em câmera lenta. Ela estava linda, com um vestido azul marinho que realçava ainda mais a cor de sua pele e o castanho de seus cabelos. Eu não conseguia parar de encarar seus olhos, profundos e castanhos-chocolate. Como eles eram lindos... Na verdade, o conjunto da obra era lindo. Bella era linda! 

Senti uma mão em meu braço e fui forçado a sair do meu transe. Olhei para minha irmã, que me perguntou se eu estava bem. Eu não havia escutado. Bella parou ao meu lado e abraçou minha irmã. 

— Parabéns, Alice! – Ela falou e entregou para minha irmã um pequeno embrulho. 

— Obrigada, Bella! Vou abrir o presente. – Minha irmã disse e o olhar de Bella novamente se encontrou com o meu. Ela abriu o sorriso. – Ah! Que linda, Bella! Eu amei! Muito obrigada. Vou colocar agora, me ajuda? – Ela sorriu e agradeceu. Bella a ajudou a colocar a pulseira prata com vários pingentes no pulso de Alice. 

Eu só conseguia perceber Bella. Nada mais chamava minha atenção como ela. O que estava acontecendo comigo? Ela, depois de abraçar minha irmã, se virou para mim, animada. 

— Oi Ed! – Seus olhos castanhos brilharam. Ela me deu um abraço, e, naquele breve instante em que nossos corpos estiveram colados, pude me inebriar em seu doce perfume. 

— Oi. Você está linda! – Eu disse e ela abriu o sorriso. Lindo, aliás. 

— Obrigada. – Ela falou, meio sem graça, e passou a mão pelo cabelo. 

Bella e eu ficamos em uma ponta da mesa, enquanto os amigos de Alice estavam espalhados pelo pub. Eu simplesmente não conseguia desviar minha atenção de Bella. Ela praticamente reluzia à luz baixa do pub. Como era possível ninguém percebê-la? 

— Ei, vocês. – Alice chegou à mesa e se sentou ao nosso lado. Ela parecia cansada de andar para lá e para cá pelo lugar. – Eu coloquei o nome de vocês no karaokê. – Eu abri a boca para protestar, mas o homem - provavelmente o dono do lugar - começou a chamar os nomes que estavam na lista em sua mão e Alice foi a primeira. Ela saiu e me mandou um beijo no ar. 

— Eu espero que você saiba cantar, Edward. – Bella riu da minha expressão de desespero enquanto Alice cantava uma música da Roxette. – Porque claramente a Ali não veio com esse gene. 

— Meu Deus… Olha, eu acho que eu não devo te decepcionar. Pelo menos eu acredito que canto melhor que minha irmãzinha. – Falei e me inclinei sob a mesa, em uma necessidade quase vital de ficar mais perto de Bella. Continuamos conversando e ouvindo algumas lamentáveis versões de Bon Jovi, Elton John e Queen, até que o homem ruivo chamou por nós. 

— Agora temos… Edward e Bella. Eles vão cantar Cruisin’. – O homem disse e acenou para que subíssemos no palco. Não pude deixar de pensar em como nossos nomes juntos tinham uma sonoridade boa. “Edward e Bella.”. Eles combinavam, assim como nós.  Peguei Bella pela mão e andamos até o palco. Ela olhou para nossas mãos, surpresa, e depois olhou em meus olhos. Eu apenas sorri. 

A melodia começou e vi que Bella estava vermelha. Apertei sua mão, em um sinal de apoio, mas a realidade era que eu não queria soltá-la. 

Eu comecei a cantar as frases que subiam pela tela da tv abaixo de nós, e Bella logo me acompanhou. 

“Baby let's cruise (Baby vamos viajar)

Away from here (Para longe daqui)

Don't be confused (Não fique confusa) 

The way is clear (O caminho está livre)

And if you want it, you got it forever  (E se quiser, você terá para sempre) 

This is not a one night stand, baby (Não é só para ser uma noite, baby)

Yeah so (Então) 

Let the music take your mind (Deixe a música controlar a sua mente)

Just release and you will find (Apenas relaxe e você descobrirá)

You’re gonna fly away (você vai voar para longe)

Glad you’re goin’ my way (Fico feliz que você esteja em meu caminho)

I love it when we’re cruisin’ together (Adoro quando estamos viajando juntos)

Music is played for love (A música é tocada pelo amor)

Cruisin’ is made for love (Viajar é feito para o amor)

I love it when we’re cruisin’ together ( Adoro quando estamos viajando juntos)”

Enquanto cantávamos, as pessoas do pub gritavam e batiam palmas. Me surpreendi com o quão bem Bella cantava, eu ainda não tirava meus olhos dos dela e aquela música parecia ter sido feita para nós. A cada frase da música que ela cantava, parecia que era para mim. Ela olhava diretamente nos meus olhos e simplesmente ignorei tudo à volta. Aquele momento era apenas eu e ela, ali, cantando, viajando juntos. 

Passamos o resto da noite com as pessoas vindo falar conosco. Em meio a tantos parabéns e “vocês foram os melhores da noite”, uma garota me puxou de lado, enquanto outra falava com Bella e Alice. 

— Você e sua namorada são lindos. Parabéns. – Quando ela disse essas palavras, eu paralisei. Não sabia como reagir. Foi como se todos os meus neurônios parassem de transmitir informações. Eu nem percebi quando a menina saiu. Só fui sair de meu devaneio quando Bella parou na minha frente, estalando dois dedos bem na frente do meu rosto. 

— Terra chamando Edward. – Ela riu. – Está tudo bem? 

— Ah. Tudo. – Eu ri, sem graça. 

— Eu estou indo embora. Vou pedir um Uber. Só vim me despedir do meu incrível parceiro de karaokê. – Ela ajustou a bolsa no ombro. 

— Uber? Uma hora dessas? E sozinha? De jeito nenhum. Eu te levo em casa. – Eu disse. De forma alguma eu iria deixá-la sozinha naquela cidade. – Vou só avisar a Alice, caso ela queira ir conosco. – Me virei e encontrei minha irmã atrás de mim. 

— Ei. – Ela estava com a bolsa nos ombros. – Eu estava procurando vocês. Podemos ir embora, Ed? Estou cansada. Meus pés estão me matando. 

— Achei que você quisesse fechar o pub, baixinha. – Eu falei. 

— Ah, não. Já aproveitei demais. – Ela disse e notei que ela estava um pouco bêbada. 

— Tudo bem, então. Vamos, Bella? – Eu perguntei para a garota que eu não conseguia deixar de pensar ao meu lado. 

— Vamos. 

Nós saímos do bar e Alice já estava encostada no carro, aparentemente com sono. Destravei as portas e mais do que rapidamente minha irmã se jogou no banco de trás e deitou, como se fosse um bebê, usando nossos casacos como travesseiros. 

— Ela é uma criança. – Eu disse para Bella, que apenas sorriu e entrou no carro ao meu lado. 

Já estávamos a alguns números da casa de Bella quando a música que nós cantamos no pub começou a tocar no rádio. Meu coração disparou na mesma hora. Estranho. 

— Eu sempre gostei dessa música. Acho que agora mais ainda. – Ela disse baixinho, mas, enquanto eu refletia sobre aquilo, ela completou, saindo do assunto. – Não sabia que você cantava tão bem. Mais um talento para a enorme lista de qualidades de Edward Cullen. 

— Ah, para! Você que me surpreendeu. Você canta muito bem. – Eu disse e ela riu, balançando a cabeça em negativo. Olhei rapidamente para ela. – Bella, Bella… Quantas coisas você está me escondendo? 

— Nenhuma. – Ela falou e olhou para o lado oposto. Eu não tinha mais tempo para fazer perguntas. Estávamos parados em frente à sua casa. – Bem, obrigada pela carona. A gente se fala. – Ela me deu um beijo no rosto, que ficou formigando em minha bochecha pelo resto da noite. 

— Tchau. A gente se fala. – Eu falei e ela saiu do carro, mas antes, deu uma olhadinha em Alice, que aparentemente dormia no banco de trás do carro. 

Observei Bella atravessando a rua e entrando em casa, até que a luz de seu quarto se acendesse. A nossa música ainda tocava no rádio, já em seus últimos acordes. Eu imaginava o que ela estaria fazendo naquele momento, tentando reproduzir seus passos. Provavelmente estaria tirando os sapatos, conversando com sua mãe e contando sobre a noite. 

— Se você quiser passar mais tempo com ela, é só ir lá e dizer. Agora, se não se importa, eu quero minha cama. Podemos ir para casa? – Alice falou, com a cabeça entre os bancos do carro. 

— Hm, sim. Vamos para casa. – Eu respondi, meio sem graça de ter sido pego observando a janela do quarto de Bella. 

Chegamos em casa e fui tomar um banho. Repassei toda a noite em minha mente. Fui me deitar, mas ficava com a imagem dela na minha mente. Passei muito tempo rolando na cama e repensando na noite. 

Aquela foi a primeira vez em que eu sonhei com Bella.