Aquele dia parecia ter tido muito mais do que algumas horas. Tanta coisa tinha acontecido que eu mal podia assimilar tudo. Primeiro, tinha me aproximado do garoto que eu gostava, descobri que ele é a pessoa que eu procurava na foto da maternidade e agora eu podia falar que éramos… amigos? Além disso, tinha deixado escapar para a irmã dele sobre minha paixão. E ela tinha me apoiado. Era coisa demais para a minha cabeça. 

Entrei em casa e encontrei Rosalie e Emmett jogados no sofá. Eu já nem me espantava mais com aquela cena. 

— Oi, traíra. – Eu brinquei com  minha amiga enquanto pendurava meu casaco no corredor. – Oi, Emm. – Meu irmão olhou de mim para sua namorada, sem entender. 

— Eu não sou traíra, Bells. Você sabe. – Rosalie começou a se justificar, mas logo desistiu quando viu o sorriso no meu rosto. – Ridícula. – Ela jogou uma almofada em mim. 

— O que ela fez? – Meu irmão perguntou. 

— Bem, me abandonou em um momento, digamos que… perturbador. Mas enfim, deu tudo certo no final. – Eu o respondi, sem dar muitos detalhes. Não queria contar tudo ali no meio da sala. – Ah, a Rose contou? Nós descobrimos o garoto misterioso. 

— Sim! – Rose gritou e deu soquinhos no ar. Ela tinha algumas manias estranhas. 

— Sério? Tão rápido? Quem é o cara? – Emmett perguntou, animado. 

— Edward Cullen. 

— Aquele carinha que você gostava na adolescência? Que piada! – Emmett começou a rir. – E ele já sabe? 

— Sabe. Nós descobrimos juntos. – Disse, tentando ignorar a parte que meu irmão mencionou sobre eu gostar de Edward e dei uma breve explicação de tudo o que tinha acontecido naquela manhã. 

Naquele momento, minha mãe entrou na sala. 

— O que vocês descobriram? Não me diga que é o bebê da foto. – Ela perguntou, pegando o assunto pela metade. 

— Exatamente, mãe. – Eu a respondi, e seu rosto se iluminou com a informação. 

— Ai, que bom, Bella! E quem é o garoto? Eu o conheço? – Ela disparou a perguntar, enquanto se espremia ao lado de Rosalie no sofá. 

— Bem, sim. O garoto é Edward Cullen. – Eu revelei. 

— Aquele garoto que você era dupla de biologia e mantinha uma paixãozinha por ele? – Rosalie deu uma risada estridente. Por que todos tinham que bater naquela mesma tecla? 

— É, mãe. Ele mesmo. – Eu me sentei no braço da poltrona vazia de meu pai. 

— Que maravilha. Eu nunca imaginei que poderia ser ele. Gosto dos Cullen. Ah, já sei! – Ela falou e estalou os dedos, como se uma ideia brilhante tivesse surgido em sua mente. Olhei para ela receosa. As ideias de minha mãe eram meio loucas. – Vamos convidá-los para jantar! Vou adorar rever a mãe dele. Eu a conheço pouco. O que você acha? 

— E a Renée segue fazendo tudo! – Rosalie exclamou, dando apoio à sogra. Eu olhei para minha amiga incrédula. 

— Acho que pode ser legal, o que você acha, Bells? – Emm perguntou, enquanto minha mãe me olhava com apreensão, mas fazendo sua melhor cara de pidona. 

— An, eu não sei. Eu posso olhar com o Edward se ele topa. Na verdade, nem sei se ele contou pra família dele, então… – Eu ia falando, porém fui interrompida por minha mãe, que já havia começado a fazer planos para o tal jantar. 

— Ótimo! Vou fazer uma lista para as compras. Vocês acham que salmão é uma boa? – Ela divagava com Rosalie, enquanto eu apenas estava estática, olhando a cena. 

— Mãe, calma. Eu ainda vou ver com o Edward. Relaxa. Te aviso depois. 

— Mas então olhe logo! Eu estou completamente louca para encontrar a mãe dele de novo! Não acredito que era ela. – Renée falou, enquanto enrolava o pano de prato nas mãos.

— Mas eles se mudaram, não é Bella? Logo depois que eles chegaram que você começou a gostar do Edward, na quinta série. – Rosalie me perguntou e eu olhei para ela com meu olhar mais ameaçador. Alguém poderia parar de mencionar minha paixão por ele? 

— Sim, eles se mudaram quando o Edward nasceu, tanto é que a Alice nasceu na Califórnia. – Eu mencionei o fato que ela mesma tinha me contado em nossa conversa mais cedo. Meu celular vibrou e vi o nome da irmã de Edward na tela. Eu abri a conversa e enquanto meu irmão, minha mãe e Rosalie discutiam sobre a vida dos Cullen, ouvi o áudio mandado por Alice. 

“Oi Bella! Então, já que agora nós somos amigas, eu queria te convidar para a comemoração do meu aniversário. É semana que vem e vai ser num barzinho em Port Angeles. Eu e o Edward esperamos muito que você vá. Vou passar o endereço. Se você precisar de carona, pode falar comigo ou com meu irmãozinho que será um prazer. Beijos!”

Respondi sem pensar, na mesma hora. Seria uma boa oportunidade. Eu iria encontrar Edward fora da faculdade. As borboletas em meu estômago ficaram em polvorosa. Comecei a digitar:

“Olá, Alice! Obrigada por me convidar. Eu vou sim. Encontro vocês lá. :)”

— O que está te arrancando esse sorrisinho, ai, pirralha? – Emmett perguntou e me tirou dos meus devaneios. 

— Nada. Só uma amiga que me chamou para sair. – Eu falei e ele me olhou desconfiado. Não tinha falado nada mais que a verdade. 

Cheguei à faculdade novamente mais cedo naquela manhã. Não consegui dormir muito bem por causa da chuva forte que caiu na madrugada e não peguei no sono nem mesmo quando ela se reduziu a batidas fracas em minha janela. Fui direto à cafeteria e encontrei Edward sentado em uma das mesas perto de uma das saídas. Assim que comprei um copo de 300 ml de café - só aquilo me manteria acordada pelo resto da manhã - eu me aproximei de sua mesa. Observei ele por um segundo, imerso em um livro. 

— Oi. – Falei ao seu lado e Edward deu um pulo da cadeira. Eu não segurei meu riso. Ele olhou para mim e passou a mão por seus cabelos acobreados, bagunçando-os levemente. 

— Oi, Bella. Você me assustou. – Ele disse e sorriu para mim. – Senta aí. 

— Me desculpe. Não foi a intenção, mas você é extremamente desatento. Eu estava há pelo menos dois minutos parada ao seu lado. – Eu disse, enquanto me sentava de frente para ele. Apontei para o livro aberto à sua frente. – Morte no Nilo? Esse livro é um dos meus favoritos. 

— Como você sabe que é Morte no Nilo? – Ele perguntou, surpreso. 

— Como eu disse, eu estava parada há uns dois minutos aqui ao seu lado. Deu tempo de ler as páginas que você estava lendo. Reconheci pelo nome da personagem. – Expliquei. 

— Ok, estou um pouco assustado. – Ele brincou e abriu ainda mais seu sorriso perfeitamente branco. 

Nesse momento, uma garota loira de cabelos impecavelmente cacheados parou ao nosso lado, na ponta da mesa. 

— Oi, Edward. – Ela o cumprimentou e olhou para mim. – Você deve ser a Bella Swan. Eu sou Tanya, amiga do Edward. 

— Olá, Tanya. Muito prazer. – Eu sorri timidamente para a garota, que retribuiu um sorriso cordial para mim. 

— Edward, você poderia devolver essa blusa para a Alice? Ela esqueceu lá em casa semana passada. – Ela tirou o tecido de dentro da mochila e estendeu para Edward. 

— Claro. – Ele respondeu e pegou a blusa da mão da garota. 

— Obrigada. Vejo que está gostando do livro. Finalmente acertei no presente. – A loira falou e riu. 

— Ele é excelente. Um dos melhores que eu já li. – Edward completou. 

— Espere só até ver o final. – A garota falou. – Bem, eu preciso ir. Tchau para vocês. A gente se vê. 

— Tudo bem, tchau. – Edward disse e a menina saiu. Eu murmurei um tchau baixo. 

— Ela soube bem escolher o livro. – Eu falei para ele. 

— Sim, mas ela era péssima com presentes. Eu sofria no dia dos namorados. – Ele falou e esbocei uma cara de surpresa. Edward logo completou: – Ela é minha ex namorada. 

— Ah. – Foi só o que eu consegui falar. Fiquei pensando no quanto a garota era bonita. Por que eles tinham terminado? Será que eles iriam voltar? Meu estômago se revirou. – Vocês parecem bem amigos. Pelo visto terminaram bem. – Eu comentei. 

— Mais ou menos. Na verdade, nós terminamos recentemente. Mas sim, terminamos bem, no fim das contas. – Ele explicou. 

— Mas você não tem esperança de voltar? Está bem recente, não sei. – Escapuliu. Ai Bella… 

— Ah, não, não mesmo. Acho que isso de amor não é para mim. Pelo menos com ela não deu certo. – Ele deu uma risada. 

— Essas coisas são complicadas. – Falei, desanimada. Eu suspirei. Agora, toda e qualquer esperança que eu nutria tinha ido embora. 

— Sim, mas às vezes, com uma pessoa diferente aconteça. Eu acredito em destino. Olhe só para a gente, a nossa história, que loucura! Essas coisas podem acontecer. Acho que, no fim, eu ainda tenho esperança no amor. – Edward falou e as borboletas começaram a dançar novamente em meu estômago. 

— Entendo. 

— Como minha querida irmãzinha diz, é tudo uma questão de tempo. – Ele falou e piscou para mim. Olhando o horário no celular, ele disse, já se levantando da mesa: – Eu preciso ir para a aula. Estamos trabalhando em algumas dissecações de seres marinhos, e nós precisamos arrumar o laboratório antes da aula começar. A gente se vê no almoço?

— Ah, sim, tudo bem. A gente se vê. – Eu me despedi dele. Embora ele tenha saído do meu lado, suas palavras continuaram a ecoar em minha mente pelo resto da semana.