Heriberto via ao seu lado a personificação de mulher que ele tanto sonhou na vida mesmo quando não tinha mais nenhuma esperança de voltar a se envolver com alguém depois que Marcela o deixou há muitos anos. Durante esse tempo ele sofreu, se afogou no trabalho onde por ventura e esforço conquistou muita coisa, prestígio e também sucesso profissional mas agora pensava mais que tudo em desacelerar para viver uma vida nova com quem estava apaixonado.

"Te quero ao meu lado segura, firme e confiante, te quero inteira ao meu lado".

A cabeça viajava nessas recordações enquanto ele a ouvia falar com os três filhos e assim pode perceber que tal qual como ele havia dito nessas mesmas palavras tempos atrás em um jantar que tiveram, era exatamente dessa forma que Victoria se encontrava.

Segura, firme e confiante. Pronta para o que desse e o que viesse daquele momento em diante e mais além ao lado dele que agora desde que a beijou e a tocou, só queria a amar.

Alguns segundos se passaram até Maria se dar conta de que todos ainda estavam de pé em frente a porta da sala se olhando como se o mundo fosse acabar, mas como esse não era o caso, a conversa deveria mesmo seguir para que então a paz voltasse a fazer parte daquela família que depois de tanto fraquejar de diversas formas possíveis ainda permanecia sólida.

— Bom, acho que devemos nos sentar porque presumo que a conversa vai ser um tanto longa...

— Sim minha filha.

Victoria foi com Maria na frente sendo seguida por Heriberto e por Max e Fer que vinham logo atrás. Ela notou que algo estava diferente e era bem nítido apesar de quase nunca parar para observar ao redor durante os anos que vivia ali, tudo pareceu fora de lugar, boa parte da decoração não estava mais nas prateleiras e ela sentiu falta, mordeu o lábio enquanto andava e quis perguntar sobre mas como estava em uma situação muito mais preocupante e embaraçosa, Victoria decidiu falar sobre aquilo depois.

A empregada veio da cozinha e foi gentil em oferecer um café antes que o almoço ficasse pronto mas apenas Heriberto aceitou uma xícara.

Victoria se acomodou no sofá ao lado de seu amor e se apoiou no braço dele quando os filhos voltaram outra vez a atenção para ela, então era a hora de fazer algumas revelações.

— Eu sei que marcamos esse almoço em família para comemorar a nossa união mas as coisas não são como esperamos...

— Será que pode ser mais direta mamãe? - Fernanda bufou olhando para ela sem nenhuma paciência. Ela queria estar com Cruz, curtindo e sendo feliz ao lado dele mas a sua mãe estava estragando tudo com aquela ladainha.

— Tudo bem.

Victoria suspirou e olhou Heriberto nos olhos, ela não tinha mais dúvidas do que queria e desejava na vida com ele e talvez a filha tivesse razão, falar tudo de uma vez poderia ser melhor para todo mundo.

— Vocês já sabem que eu decidi me separar de Osvaldo de uma vez por todas porque há muito tempo já não éramos felizes, ele não me ama assim como eu o deixei de amar, a traição dele só me fez ver o que eu estava perdendo na vida e no tempo que gastava tentando levar esse casamento sozinha nas costas. Agora eu quero ser feliz ao lado de quem eu amo de verdade.

Heriberto sorriu e a beijou com carinho na frente de todos, ele estava feliz e admirado por ela.

— Eu me apaixonei pelo Heriberto e quero estar com ele de agora em diante... estou feliz assim e espero muito que vocês me compreendam!

— Mamãe, é claro que você tem todo o meu apoio em tudo o que quiser fazer na vida! - Maria foi até ela e a fez ficar em pé em sua frente. — Eu quero que seja feliz porque você merece, eu te amo! - olhou Heriberto que sorria — E tenho certeza que vai cuidar muito bem da nossa rainha, Heriberto.

— É tudo o que eu mais quero, Maria! Eu amo a mãe de vocês!

Nesse momento Max que havia permanecido quieto observando a tudo decidiu se manifestar, ele pensou muito até perceber que Maria tinha razão em todas as coisas que lhe disse durante a conversa que eles tiveram na noite anterior. Ele entendeu que estava sendo egoísta e que o coração não escolhe os caminhos que decide tomar, por isso também tomou uma atitude importante, acertaria as contas com o pai outra hora porque o melhor a se fazer estava ali pedindo a sua compaixão, a coisa certa.

— Mãe!

Foi até Victoria e a abraçou forte, um abraço tão apertado e cheio de sentimentos que nenhum dos dois teve como segurar a emoção e nem as lágrimas que caíam. Max era tudo de mais importante na vida dela mesmo não sendo seu filho biológico, a ele deu amor, carinho e proteção e sempre havia recebido tudo na mesma moeda durante todos esses anos, ele era lindo, forte e corajoso como ela é agora demonstrava também que apesar de tudo e da recusa inicial em aceitar o novo rumo que a mãe tomava, ele estava sim de acordo com ela.

O pior de tudo ainda era enfrentar o semblante nada calmo de Fernanda. Ela mudou muito e evoluiu porém a rebeldia de menina mimada sempre parecia tomar conta de seu ser. Victoria então voltou seus olhos verdes para ela e suspirando, a pegou pela mão e foi conversar melhor e a sós com ela em outra parte da casa.

— Temos que nos entender, minha filha. - Victoria tocou o rosto dela com amor e as duas entraram no escritório.

— Você promete que não vai me deixar, mamãe? Promete que vai continuar comigo e que vamos ser amigas mesmo que Heriberto tenha te roubado da gente?

— Heriberto não me roubou de ninguém meu amor. - sorriu, só agora ela começava a entender que toda aquela cena era na verdade só mais um medo de perdê-la para outra pessoa ou para a rotina árdua de trabalho.

Durante a infância de Fer elas mal se viam, a partir deste ponto tudo poderia ser compreensível, não se sabia ainda por quanto tempo tudo ia durar.

— Mamãe, eu estive com o Cruz e ele conversou comigo sobre isso. - Fer se aproximou mais e tocou o braço da mãe — Me desculpa. Não é fácil pra mim olhar pra ele e não ver o meu pai, vocês eram felizes juntos e agora...

— E agora tudo mudou. Eu nunca vou me esquecer das coisas boas que vivi com Osvaldo no nosso casamento minha filha. Mas eu não o amo mais, ele também não me ama ou não teria me traído, ele teria suportado viver sem mim... eu sei que a culpa desse fracasso não é só dele, muitas vezes eu chegava cansada da casa de moda indisposta... não estive sempre para ele como deveria ser porque não podemos nos esforçar por um sentimento que já não existia... acabou. Seu pai vai seguir a vida dele agora e eu também, é isso que quero e jamais deixarei vocês de lado!

Victoria abraçou Fernanda com amor e a embalou nos braços enquanto ela chorava refletindo aquelas palavras. Viver sem amor era com certeza como passar a vida inteira sob tortura. Ninguém suportaria...

— Eu te amo muito mamãe! Não quero ficar longe de você... - a olhou e se ajeitou mais no colo dela ali sentadas no sofá. Victoria sorriu e a beijou muito passando a segurança que ainda faltava dentro de si porque apesar de tudo, Osvaldo seria parte de sua vida.

Cerca de uma hora e meia já havia se passado e nada de Victoria e Fernanda saírem daquele escritório. Heriberto ficou bastante preocupado porque pelo pouco tempo que conhecia Fer, sabia que ela não era fácil de lidar, por isso teve medo que a jovem não aceitasse os argumentos da mãe e que Victoria saísse por aquela porta com o coração ainda mais ferido ou que até voltasse atrás na decisão de estar com ele, de se casar e refazer a vida como tanto sonhavam em fazer juntos. Todos esses pensamentos o atormentavam a cabeça e já impaciente, Heriberto se levantou do sofá da sala onde conversava com Max e Maria para ir atras de sua amada mas o rapaz o impediu lhe segurando pelo braço.

— Espera Heriberto, eu acho que não adianta ir atrás delas, precisam conversar e quem sabe assim a Fer pare para pensar em tudo... - Max suspirou e soltou o braço dele, Heriberto o olhou nos olhos com o coração aos pulos, o peito apertou e os olhos marejaram, qualquer possibilidade de perder Victoria naquele momento depois de todo o amor que estavam vivendo o deixava em absoluto alerta sem conseguir controlar até mesmo os seus próprios impulsos.

— Eu amo a sua mãe, Max. Eu a amo como nunca amei ninguém nessa vida! Eu não posso mais viver sem ela, eu não consigo!

— Calma Heriberto! - María sorriu percebendo naquele olhar toda a verdade de suas palavras — Eu conversei bastante com a Fernanda e tenho certeza que uma hora ou outra ela vai parar para pensar nas próprias atitudes. Todos nós achamos que ela veria a vida de uma maneira diferente depois do acidente e depois que ela quase perdeu o amor do Cruz mas parece que a minha irmã ainda tem muito o que aprender.

— É verdade. - Max concordou com seu amor.

(...)

Longe dali Osvaldo andava na beira da praia com o vento sobre o rosto enquanto remoía na mente tudo o que perdeu por não dar valor a vida que teve ao lado da Sandoval. Agora ele se via e estava mais do que sozinho, sem emprego e também sem Linda porque desafortunadamente ela também o deixou depois que encontrou alguém melhor para custear os seus maiores prazeres. Aquilo nunca foi amor, com Linda ele teve apenas o que Victoria não lhe oferecia a algum tempo e só assim abandonado Osvaldo notava que para ser feliz sexo apenas nunca seria o bastante.

As pessoas passavam por ali e o percebiam perdido, a tarde começava a aparecer e as famílias sorriam ao redor, tudo pareceu fora de rumo até que de repente dois homens se acercaram e tomaram dele os pertences, o agrediram e levaram a carteira com dinheiro e o celular, Osvaldo não tinha mais casa, não tinha mais mulher alguma e muito menos o amor de sua vida, Heriberto estragou tudo e uma hora iria pagar, disso ele tinha certeza, só restava mesmo saber a maneira exata de atacar.

(...)

— Victoria! - Heriberto caminhou até ela e a abraçou forte assim que a viu marchar tilintando os saltos até a sala da mansão.

Ela o beijou carinhosa e viu o olhar dele um tanto diferente e então se preocupou mas logo ficou mais tranquila quando a filha se aproximou vindo atrás dela e pediu para falar com ele. Maria e Max levaram os filhos para uma volta no jardim enquanto isso.

— Heriberto, eu quero te pedir desculpas por todas as vezes que fui grosseira com você.

Fernanda começou a falar e segurou a mão dele com atenção, Victoria se afastou um pouco mas estava atenta a tudo, as lágrimas em seus olhos ainda escorriam mas eram de felicidade e não mais apenas de dor, ela esperava mesmo e pedia a virgem de Guadalupe que a filha desse uma trégua, somente assim o embate contra Osvaldo se tornaria mais fácil pois a filha não seria mais um "objeto" de manipulação no meio dos dois.

— Tudo bem Fernanda, apesar de tudo eu nunca guardei qualquer ressentimento contra você.

Heriberto a olhou sorrindo, de vez em quando o olhar se voltava para o seu amor e ele sentia o corpo inteiro mais leve e com o peito novamente cheio de confiança, ser feliz com Victoria era o seu maior e único desejo, aquele era o começo da sua história de amor.

Fernanda sorriu pela primeira vez a ele. A conversa com a mãe a tinha feito bem e depois ele queria saber de todos os detalhes com calma, agora só queria entender se as duas haviam mesmo se acertado, afinal esperar por uma hora e meia foi praticamente uma tortura para ele.

Victoria foi até os dois e abraçou a filha sentando-se ao lado dela para conversar junto.

— Espero que você a faça feliz de verdade ou já sabe que vai se ver comigo!

— Fernanda! - Victoria arregalou os olhos.

— Pode deixar, não tenha dúvidas de que o que mais vou fazer é a sua mãe feliz nessa vida. O que temos não aconteceu por acaso e eu acredito que de alguma forma tínhamos que estar juntos. - Heriberto a olhou — E por isso quero me casar com ela!

— Casar??! - Fernanda se levantou na mesma hora assustada.

— Sim filha, Heriberto me pediu em casamento e eu aceitei. - respirou calma.

Nesse momento Max e Maria entraram quando ouviram o que ela dizia. Eles não tinham se afastado totalmente e estiveram a postos para apartar qualquer possibilidade de ataque de fúria por parte da irmã mas agora, estavam tão surpresos quanto ela.

— Vocês vão se casar? Já? Assim tão rápido? - Max perguntou segurando o filho nos braços.

— Sim filho eu vou me casar. Na verdade tem acontecido tanta coisa que ao menos tive tempo de contar a vocês que também já estou curada do câncer de mama. O tratamento deu certo e...

Victoria mal teve tempo de terminar a frase e os filhos avançaram sobre ela emocionados com aquela notícia de reabilitação. Heriberto também se juntou ao abraço e de repente palmas foram ouvidas no ambiente.

As coisas estavam entrando novamente nos eixos mas ele entrava na casa para marcar sua presença, demonstrando que nem tudo seria tão fácil e divertido assim...

— Muito bem! Parece que estão todos bem felizinhos aqui, só esqueceram de me convidar para a festa... - Osvaldo deu alguns passos e largou-se sentado na poltrona — Me contem, o que vamos comemorar? Posso mandar trazer o vinho!