Astória - A Menina Que Não Podia Amar escrita por Atlanta Claremont


Capítulo 4
Sobrevivendo em meio a uma guerra




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Quando o dia de ir para Hogwarts chegou, eu estava esperançosa e assustada. Esperançosa por todo o  aprendizado e por encontrar no no lugar que seria meu novo lar. Além de assustada com a possibilidade de ser um fracasso total nas duas coisas. Eu não me considerava interessante ou bonita, não possuía nenhum atrativo que fizesse com que alguém desejasse minha amizade. Tudo que conhecia estava em livros e agora teria que viver no mundo real.

— Vamos Astória, nós não temos o dia todo – Daphne berrou na porta do meu quarto, ela estava indo para o seu terceiro ano, era da Sonserina e contava ótimas histórias sobre como ela se divertia com suas amigas Pansy Parkinson e Emily Bulstrode.

 
      — Você acha que vou para Sonserina, como você?

 
     — Eu não sei, mas acredito que não. Sonserina não combina com a sua personalidade

 

 

— Porque diz isso?

 
    — Porque sim – disse após pensar por alguns segundos.

 
   Eu dei os ombros, como se não me importasse. Era verdade que nós duas não combinávamos em nada, então provavelmente  Daphne estava certa, Sonserina não seria a minha casa. Porém, minha irmã se enganou, apesar de por pouco não ter ido parar na Corvinal, o chapéu seletor resolveu que Sonserina seria o meu lugar. E em meio às palmas, não tão animadas, mais uma Greengrass era recebida em sua mesa.

 
    Meu período em Hogwarts foi  como eu ansiava: solitário, contudo tranquilo. Logo percebi que não viveria grandes aventuras, nem teria muitos amigos,  mas isso não foi um grande problema.  - Existe uma liberdade em ser invisível. Ninguém espera nada de você, não precisa corresponder a nenhuma expectativa e poderia fazer o que desejasse.-  Eu desejava ler todos os livros possíveis e me formar em alguma coisa significativa.

Dividia o dormitório com Melinda Bobbin, Barbara Lince e June Francis. Elas não entendiam minha paixão pela leitura e me achavam esquisita, exatamente como todos, porém eram boas para mim. Diferente do que todos pensam os sonserinos são bem unidos, lealdade é o nosso lema. Então,  tratavam-me bem, apesar de nunca termos desenvolvido nenhuma conexão de fato.

Dapnhe também não era minha amiga, éramos irmãs, e de alguma forma isso era importante, mas cada uma cuidava da sua própria vida. Eu gostava de ser inteligente, de tirar boas notas e me dedicar aos estudos. Daphne gostava de quadribol, andar com suas amigas pelo castelo e beijar meninos pelos corredores.
Lembro a primeira vez que a vi aos beijos com um garoto,  Zabini era seu nome. Fiquei estatelada, com os olhos arregalados sem ter o que dizer. Ela o empurrou quando me percebeu ali parada.

 
— O que está fazendo aqui Astória? – questionou arrumando os cabelos bagunçados.

 
     — Achei.. achei que nós não.... Daphne você vai morrer –  eu falei, desesperada.
Ela riu, como se tivesse acabado de ouvir a coisa mais engraçada do mundo. Emburrei logo a cara, odiava que rissem de mim.

 – Mas nós não podemos – respondi, lógica.

 – Ai irmãzinha, às vezes me esqueço de como você é inocente. Nós não podemos amar, isso não quer dizer que não podemos fazer outras coisas.

 – Mas..

 – Olhe Astória você é muito nova para entender, talvez nunca entenda, mas espero que sim. Para o seu bem. Você precisa tirar essa ideia de romance da cabeça, precisa sair um pouco dos livros e viver a realidade, se quiser sobreviver. Uma vida sem amor não quer dizer uma vida sem divertimentos, você não precisa amar um rapaz, ou uma garota – acrescentou sorrindo marotamente – se quiser beijá-los. Você só precisa gostar da sensação, entendeu?

 
    Aquilo tudo parecia confuso para mim, porém eu compreendia. Era ingênua, mas não era burra. Sabia que nem todos os casais se amavam, como nossos pais que pareciam meros conhecidos que moravam juntos. Mas a ideia de me envolver com alguém parecia ser assustadora, e se eu me apaixonasse? Como eu poderia beijar alguém sem estar apaixonada? Sabia que era comum,  entretanto ainda me parecia errado. Provavelmente nunca faria nada disso.

 
     No meio de todos esses questionamentos e dramas que permeavam minha adolescência, sabia que existia uma guerra acontecendo. Nossa casa evitava falar sobre isso, a maioria dos sonserinos não queria ter nada a ver com esse tal Lorde das Trevas, mas alguns faziam questão de deixar claro que concordavam com suas ideias, como Draco Malfoy e seu grupinho de amigos. Eles gostavam de andar por aí diminuindo as outras casas,  e humilhando os mestiços e nascidos trouxas. Eu os detestava, contudo, não os via como um perigo, apenas como estudantes mimados com ideias erradas,  mas em pouco tempo as coisas começaram a mudar.

 
     Tudo começou com a morte de Cedrico Diggory. Eu nunca havia  falado com ele, é claro, mas torci muito pela sua vitória no Torneio Tribruxo, fiquei triste de verdade quando ele morreu. Logo após isso boatos sobre a volta de Voldemort começaram a se espalhar e os grupos que demonstravam apoiar suas ideias começaram a ficar mais fortes. No meu quinto ano o diretor Dumbledore morreu, e o professor Snape assumiu o seu lugar. Sabia que deveria ficar feliz com isso, entretanto não fiquei. Eu gostava do professor, e ele me achava de alguma forma promissora, o que me dava um benefício, mas sabia como ele tratava os alunos das outras casas e não achava certo. Não era justo perseguir crianças, não era justo nada daquilo.

 
    Alunos torturados por demonstrar qualquer comportamento considerado normal de crianças. Torturados por qualquer suspeita de associação com o Potter e suas ideias. Aleto e Amico Carrow eram abomináveis, não para nós sonserinos, pois éramos vistos como simpatizantes dos seus propósitos, o que não era totalmente verdade. Nem todos os sonserinos concordavam com Valdemort e sua ideologia, alguns sequer eram sangue puros de verdade, mas não era o tipo de coisa que comentássemos. Éramos crianças, e  estávamos com tanto medo de Voldemort e sua guerra sem sentido quanto qualquer outro aluno das outras casas. Infelizmente, alguns escolheram apoiar o lado que lhes favorecia, mesmo sendo errado, e isso me enojava.

 
    Quando soube que estavam matando trouxas por aí me lembrei de Lucy, a menina que conheci quando tinha apenas cinco anos. O que teria acontecido com ela? Ela poderia muito bem ter sido morta por Comensais da Morte naquele momento. Isso não era justo, ela com certeza tinha muito mais magia do que eu. Então eu chorei, chorei por essa menina que provavelmente nem lembrava de mim, assim como  por todos os trouxas e mestiços que estavam sendo perseguidos.

 
    Pensei em Potter, ele não parecia grande coisa, magro e pequeno, como poderia ter vencido o Lorde das Trevas ainda bebê? Isso sempre me intrigou, de qualquer forma esperava que seja lá o que tenha o ajudado quando ainda nem saíra das fraldas, o ajudasse-o agora. Queria que ele vencesse, Voldemort não poderia ganhar.

 

     Minha forma de luta era apenas simbólica. Cuidava dos alunos feridos pelas torturas de Aleco e Amico, a maioria, primeiranistas, mas alguns da minha idade, como Longbottom. Ele sempre estava precisando de cuidados, apesar de que parecia não se importar mais com os machucados. Porém, não me importava, eu gostava de cuidar das pessoas, dos seus ferimentos, de suas lesões. Isso me deixava feliz,  apesar de tudo. Fazia tudo  escondido, se os alunos da Brigada Inquisitorial me pegassem, não se importariam em  me castigar também.

 
   Certo dia quando cuidava de cortes no braço de um corvino,  ouvi passos vindo na nossa direção. Estávamos em uma das escadas do quinto andar, ninguém costumava passar por ali, mas justamente naquele dia seria diferente. Ouvi vozes conhecidas, estremeci ao pensar o que me aconteceria se me vissem, será que o castigo era maior para traidores? Pensei em correr, porém era tarde demais, Draco Malfoy já tinha me visto. Ele me encarou, sabia o que eu estava fazendo, sabia que poderia me punir. Era monitor e líder da Brigada Inquisitorial, poderia fazer o que quisesse.  Entretanto, apenas se virou dizendo alguma coisa para seus amigos que vinham logo atrás, fazendo com que dessem meia volta.

 
   – Você deveria se cuidar melhor Greengrass – sussurrou em meu ouvido naquele mesmo dia, a noite enquanto eu lia um livro no salão comunal.

 
    Aquilo me assustou, levantei os olhos e o encarei. Seu olhar não lembrava mais o menino orgulhoso que conheci no passado. Era um olhar de medo e preocupação, tinha olheiras fundas e parecia mais magro. Se um dia já havia sido bonito, agora não era mais. Como eu não havia percebido seu deterioramento? Se bem que prestar atenção em Draco Malfoy não era um dos meus passatempos, na maioria das vezes só me preocupava em ficar longe do seu caminho, o que não era muito difícil para alguém como eu. Ele deve ter se sentido desconfortável com a forma que o encarava, pois sem esperara que eu lhe respondesse, virou-se  e seguiu seu caminho.

 
    Sabia que deveria lhe agradecer, dizer algo, mas o que eu diria? Não iria me desculpar por nada do que fazia. Na verdade, não precisaria fazer nada daquilo se ele e seus amigos idiotas não ficassem por aí dedurando outros estudantes. E, ao pensar nisso, a gratidão foi substituída por raiva.
Eu tinha raiva de Draco Malfoy, e tudo o que ele representava.

 


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