Astória - A Menina Que Não Podia Amar escrita por Atlanta Claremont


Capítulo 3
Não seja ridícula


Notas iniciais do capítulo

Olaaaa
Obrigada a todos que estão lendo e comentando :)



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 Lucy tinha razão quando disse que só conhecemos o mundo quando descobrimos os livros.

Mal começamos a nossas aulas particulares e aprendi a ler tão rápido quanto era possível. Daphne não gostava de livros, na verdade, não suportava as aulas que não envolvessem música ou trabalhos manuais , mas se dedicava porque sabia que nossos pais não tolerariam nada menos que isso.

Odile voltou para seus assuntos da alta sociedade e novamente eu tinha liberdade que tanto gostava. Não para sair sozinha, nem ousaria tentar, mas a nova casa tinha uma biblioteca gigante onde eu passava boa parte do meu tempo livre. Os livros viraram meus novos melhores amigos, e aparentemente o antigo morador da mansão também compartilhava do mesmo entusiasmo porque tinha os títulos mais variados, incluindo os romances e contos de fadas trouxas. Eu adorava ler que os trouxas encaravam a magia como uma solução para todos os problemas da vida. Animais que falam e fadas madrinhas. Bem que eu gostaria de ter uma também, ou um gênio da lâmpada que me oferecesse algum desejo. Mas era apenas uma criança e ainda nem tinha certeza se era uma bruxa de verdade.

— O que você está lendo?- quis saber Daphne tirando o livro das minhas mãos.

Ela o jogou na lareira quando viu que era um exemplar de A bela adormecida.

— Já te disse que não é para ler essas porcarias, mamãe ficará furiosa se a pegar lendo livros de romance trouxa e você sabe muito bem como ela é quando fica furiosa. Olha Astória, você precisa entender que isso nunca vai acontecer conosco, nós nunca vamos ter um final feliz. Você compreende o que eu digo? 

Ela dizia aquelas palavras olhando bem no fundo dos meus olhos e sacudindo meus ombros com força.
Apesar de termos apenas dois anos de diferença uma da outra, Daphne sempre pareceu muito mais velha do que realmente era. Alta, com as feições duras, sobrancelhas grossas e uma voz impaciente. Tudo nela era rígido demais para uma criança, ela lembrava uma pequena senhora de quarenta anos, do qual a vida se encarregou de levar toda inocência e doçura. A diferença  era que  Daphne tinha apenas dez anos e um espirito intragável, arrogante e controlador. Ela não era uma criança bonita, mas poderia ter sido se alguém tivesse lhe dito alguma vez que era. Tivera o azar de puxar os traços grosseiros dos Greengrass, o cabelo de terra desbotado que usava sempre em uma trança única, puxada para trás. Porém, os olhos, sim, os que me encaravam furiosamente, eram de joias, como os de nossa mãe. Duas esmeraldas que transpareciam todos os seus pensamentos, como um espelho, ou um grande lago de águas esverdeadas.

 
Eu não gostava de encará-la, pois sentia como se minha mente fosse invadida, como se pudesse ser despida pelo seu olhar. Entretanto, apesar da rudeza, Daphne era boa para mim, à sua maneira. Dura e insensível, mas cuidadosa. Ela era capaz de desafiar qualquer um que atravessasse seu caminho, e também o meu. Anos depois fui capaz de invejá-la por sua capacidade de controlar o próprio destino, mas diferente dela, o verde o não me caía bem.

 
Odile possuía o terrível hábito de nos vestir iguais, como se fôssemos gêmeas. O que seria impossível de alguém imaginar, considerando que nunca existiu duas irmãs com aparências tão distintas. Ainda assim eu detestava usar as mesmas roupas que  Daphne, o que ficava bom nela nunca ficava bem em mim, e visse e versa. Odile adorava dar festas e jantares elegantes,  quais combinavam perfeitamente com sua personalidade encantadora e alegre , contrastando com a educação rígida que nos dava. Nós nunca tínhamos permissão de participar desses eventos sociais e, nessas noites, jantávamos cedo e éramos enviadas para cama o quanto antes, até aquela noite. A primeira em que o vi.

 
Eu usava um vestido lilás,   misturando-se musseline e a seda numa dança maravilhosa. Eu girava. Girava. Girava.... Pela primeira vez usava uma cor só minha. Lilás. Depois daquela noite passou a ser minha cor favorita. Daphne apareceu em um vestido verde de veludo coletê, muito mais apropriado à sua consistência alta e magra. Eu odiava veludo, mas usaria se isso fosse o passaporte para aquela noite, fiquei muito satisfeita por não precisar. Estávamos felizes com o nosso primeiro jantar importante, entretanto contidas, não ousaríamos fazer nada que irritasse nossa mãe, temíamos até o som da sua voz, sempre gelada como o inverno.

 
— Vamos receber a família Malfoy, se comportem como duas damas. Não falem se não se dirigirem a vocês e não sejam ridículas.-  O final disse olhando especificamente para mim. Sempre que ela se dirigia a mim, eu sentia ondulações no meu estômago que faziam todo meu corpo tremer.

 
— Preciso ir ao banheiro – foi tudo que consegui dizer.

 
Os Malfoy eram uma família muito importante no mundo bruxo, e recebê-los em nossa casa era uma grande honra para Odile. Era como se a partir daquele momento ela fosse  de fato alguém no mundo, finalmente aceita naquela sociedade tão exclusiva. Quando os vi os achei estranhamente perfeitos, como os bonecos de cera que papai nos trazia de suas viagens,  e que Odile não nos deixava brincar.

 
O homem era extremamente branco com cabelo acinzentado, assim como a mulher e o menino. Parecia que dois irmãos haviam se casado, será que isso era possível? Dois irmãos se casarem? Questionava minha mente infantil. Nunca ouvi falar nada a respeito, contudo tinha ciência de que minha ignorância era enorme em relação a vários assuntos. Entretanto, sabia que minha curiosidade não seria saciada naquele momento.

 
" Não fale ao menos que falem com você e não sejam ridículas",  o aviso ecoava em minha mente. Quando Narcisa Malfoy pediu para que eu  me aproximasse para que pudesse me ver melhor, percebi a característica que a diferenciava de seu marido e filho, os olhos. Um azul claro como o céu em um dia limpo, transmitiam confiança e força, e  possuíam um brilho sagrado. Questionava-me como alguém com aqueles olhos poderia ter uma aparência tão soberba, era um contrate interessante.

 
— Ah, ela é uma menina linda Odile, parece muito com você.

 
Mamãe sorriu altivamente, ela adorava ser elogiada por sua aparência, ainda mais por uma mulher tão linda quanto Narcisa Malfoy.  Eram belezas diferentes, Narcisa era baixa e loira como uma pequena fada, já mamãe era deslumbrante. Seus sedosos cabelos cor de ébano em contraste com sua pele de alabastro lhe davam um ar aristocrático e sofisticado, ser comparada a ela me deixava radiante, pois sabia que ela era linda, mesmo que não me considerasse assim.

—Menos os olhos. O que é realmente uma pena- lamentou a senhora Malfoy destacando com tristeza que eu não tinha herdado os olhos verdes de Odile. Os meus estavam mais para um castanho, que ás vezes, quando o sol batia ficavam esverdeados. Porém não era o tipo de coisa que eu invejava, a maneira que Odile me olhava era quase sempre com desprezo, não me importava o fato de não ter herdado seus olhos.

 
O jantar ocorreu como qualquer jantar de uma família da elite bruxa, os adultos conversavam sobre assuntos importantes e entediantes, e nós, as crianças, comíamos em silêncio. Silêncio esse que só era quebrado por Draco Malfoy. O menino sentou-se na minha frente, mas eu não tinha coragem de encará-lo e aproveitava quando ele se distraía com a comida para o observar.

 
Era feito como uma estátua de mármore e quartzo, além de que  e respondia com superioridade a todas as perguntas que lhe dirigiam. Era ótimo em quadribol, esgrima e não só já havia manifestado sua magia como também conseguia controlar, o que foi demonstrado pomposamente, fazendo seu copo vazio flutuar na frente de todos. Eu o achei exibido e detestável, a forma como  Draco me olhava, como se achasse superior a mim, só me deixava ainda mais tímida e desconfortável. Tempo depois compreenderia que essa era sua forma de olhar para todas as pessoas.

 
Quando o jantar acabou, nós três fomos deixados sozinhos enquanto nossos pais tratavam de negócios.

 
Draco e Daphne entraram em um debate sobre qual casa de Hogwarts eles iriam e ele tinha certeza que de que o chapéu seletor o colocaria na Sonserina, assim como seus pais e seus antepassados antes deles. Eu apenas observava toda a conversa de um canto, sem falar nada. Não sabia o que dizer para aquele menino que parecia muito mais articulado e experiente. Daphne estava encantada ao passo que eu assustada, queria sair o mais rápido possível daquela situação.

 
 –E ela, não sabe falar? –Perguntou à minha irmã, quando minha presença silenciosa pareceu incomodá-lo.

 –Em três idiomas – respondi friamente em um momento súbito de coragem. 

Ele me olhou com desdém. Era um menino muito presunçoso.

 
—Não liga para Astória, ela ainda é muito pequena –respondeu Daphne me olhando como se implorasse para que eu pudesse ser um pouco menos estranha. Sabia o quanto ela ansiava por amizades e também por agradar nossos pais.

 
 – Você é esquisita – ele me disse,  arrogante. Eu continuei o encarando, não deixaria que Draco me intimidasse. E, após alguns segundos de tensão, ele voltou sua atenção para Daphne.

 
Nunca me senti tão aliviada quando os Malfoy foram embora, e após daquela noite, não fiz mais questão de participar de nenhuma festa ou jantar. A maioria dos amigos da minha família era como eles:, ricos, arrogantes e presunçosos. E eu tentei fugir o máximo que consegui.

 


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Notas finais do capítulo

A primeira impressão que Astória teve de Draco não foi muito boa né gente?