S.H.I.E.L.D.: Guerreiros Secretos (Marvel 717 2) escrita por scararmst


Capítulo 2
Birdwatch




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Hunter considerava um milagre não ter sido pego ainda. Trabalhar como mercenário quando se tinha o olhar atento do governo russo em suas costas não era uma das tarefas mais fáceis. Qualquer deslize, qualquer comunicação com alguém que não devia, qualquer indício de estar trabalhando com alguma entidade organizada americana e estaria com problemas. Ele e Bobbi só tinham escapado de problemas governamentais com a Rússia por convencer o primeiro-ministro de que eram civis. Sair por aí dando tiros em criminosos e readquirindo pacotes perdidos não era algo muito civil de se fazer. Mas, bem, ele precisava ganhar a vida, e não conhecia outra forma.

Ele nunca tinha sido do tipo estudioso. Assim que concluiu o último ano do colégio, juntou-se às Forças Armadas Britânicas e construiu uma boa carreira, até se tornar tenente. Depois disso, uma mulher surgiu em sua vida e ele se tornou mercenário. Depois, semi-contratado pela S.H.I.E.L.D.. Ele nunca tinha parado, e a verdade era que não sabia parar, e era por isso que estava ali.

O fato de Hunter não ser dos mais cuidadosos ou com mais tendência a seguir regras iria eventualmente voltar para perturbá-lo, mas não imaginou que seria daquela forma. Talvez deixasse sua assinatura em seus trabalhos com mais frequência que o esperado, pois fazia apenas um dia desde seu último serviço em Jacarta e já tinha recebido uma mensagem de Mack pedindo para encontrá-lo nesse mesmo local.

Não o via há tanto tempo… Há poucas semanas tinha estado na Escócia, visitando Fitz e Jemma, agora casados, e recebera uma boa atualização do que todos os outros vinham fazendo da vida. Mas ainda assim… Ele, Mack e Bobbi eram melhores amigos desde a missão em Dubai, onde se conheceram, e depois daquela época nunca tinha ficado longe dos dois por tanto tempo… Até agora.

Talvez por isso tivesse tido a atitude muito irresponsável de aceitar se encontrar com Mack naquela lanchonete. Era arriscado, bastante arriscado, mas não seria a primeira vez. Tinha se arriscado para ajudar Fitz a escapar de uma base militar — duas vezes — algo bem burro, aparecer na frente de uma general com um agente da SH.I.E.LD., mas tinha ficado tudo bem. A mensagem de Mack indicava que o amigo precisava de ajuda, e não podia negar isso a ele. Então lá estava. Esperando.

No exato minuto no qual era esperada a chegada de Mack, o telefone de Hunter apitou. Ele pegou o aparelho, vendo se tratar de uma mensagem do número que o amigo tinha usado para contatá-lo. A mensagem continha apenas coordenadas, latitude e longitude, sem nenhum texto.

— Esperto — Hunter murmurou, soltando um risinho sarcástico e jogando os números no aplicativo de mapas.

O lugar não ficava longe dali, uns cinco minutos de caminhada. Hunter pegou sua bolsa, deixou dinheiro em cima da mesa para pagar seu café e saiu.

Tendo um bom tempo de experiência com a S.H.I.E.L.D., ao chegar no local e se deparar com um campo aberto, depressa deduziu que um quinjet estava — ou estaria — pousado nos arredores. Ele caminhou bem devagar, quase esperando pela chance de dar de cara com o veículo invisível, quando um ruído forte de portas se abrindo tomou o local, e a rampa do quinjet começou a descer alguns metros à sua frente.

Hunter olhou em volta, mais por paranoia do que por realmente achar estar sendo observado. Não, tinha certeza de não estar. Mack era esperto. Bastante esperto. Teria dado um jeito nisso. O homem pigarreou, ajeitou a jaqueta de couro que vestia e correu para dentro do veículo, sentindo a rampa começar a se fechar antes mesmo de ter terminado de pisar por completo para fora dela.

— Mack? — Chamou, encarando as cadeiras de piloto ocupadas. Reconheceria o amigo em qualquer lugar, mas a mulher ao lado dele era novidade, embora a aparência dela batesse com a descrição que tinha recebido de Yo-yo. — E você deve ser Yo-yo. Jemma falou de você.

A mulher riu, olhando para trás por um instante.

— As coisas boas, espero.

— Na maior parte.

Divertida. Hunter gostou dela, e devolveu a risada com um sorriso amigável. Por algum motivo, não tinha imaginado Mack com uma mulher tão espontânea e extrovertida. Os opostos de fato se atraíam em alguns casos, não é?

— Ok, novos melhores amigos, podem se conhecer melhor depois. Preciso falar com Hunter — Mack respondeu, dando partida no avião. — Yo-yo, segura pra nós?

— Pode deixar.

A mulher apertou alguns botões no painel de controle, e Hunter abriu um sorriso pequeno reconhecendo a rotina de semi-automação do voo que ele também sabia usar. Mack levantou de sua cadeira, e Hunter sentiu um leve alívio no coração o qual jamais reconheceria em público. Por vezes, perguntou-se se veria o amigo de novo. Na vida que levavam, a morte poderia estar na próxima esquina, e a julgar pelas aventuras narradas por Fitz, tinha estado mesmo.

— Olha só você — Mack comentou, com aquele sorriso bondoso que dava sempre quando estava emocionado com alguma coisa.

O homem o puxou para um abraço apertado, e Hunter não pôde resistir; nem teria jeito, com Mack sendo uns quinze centímetros mais alto e muitos outros tantos centímetros mais largo que ele. De pele clara, olhos escuros e cabelo castanho raspado em um corte militar, Hunter conseguia parecer muito baixinho perto do amigo, mesmo medindo quase um metro e oitenta e altura.

— Também senti sua falta, colega — Hunter comentou, seu sotaque inglês se destacando forte na voz, e, depois de alguns tapinhas nas costas de Mack, separaram-se do abraço,  sentando-se nas cadeiras do quinjet. — Pra ser sincero, eu nem sabia se nos veríamos de novo algum dia. O que aconteceu?

— Bastante coisa — a resposta do diretor veio acompanhada de uma risadinha um pouco irônica, e Hunter entendeu bem de onde ela vinha. As histórias que Fitz e Jemma tinham lhecontado pareciam coisa de uma história em quadrinhos. — Mais recentemente, minha equipe foi incubida de lidar com a situação do terrígeno que tem acontecido. E eu agradeceria ajuda com algum nível de experiência.

Algum nível era uma boa definição. Hunter estava na equipe quando o primeiro contato deles com terrígeno tinha acontecido, e com certeza tinha aprendido uma coisa ou duas, mas não sabia exatamente o quão melhor ele seria para lidar com a situação do que a nova namorada de Mack, uma inumana, sentada no banco de piloto.

— Bem, eu não sei como minha habilidade em atirar nas coisas vai ajudar em algo, mas…

— Eu preciso da Bobbi, Hunter.

Ah. Isso fazia mais sentido. É claro que ele precisava da Bobbi, e é claro que tinha chamado logo ele para obtê-la. Hunter afundou a cabeça nas mãos e proferiu um palavrão baixo que, a julgar pelo suspiro que Mack deixou escapar em seguida, não passou despercebido ao amigo.

— Eu não sei onde ela está — Hunter respondeu, sem dar mais detalhes, mas sabendo que Mack iria querer ouvir mais.

Hunter ficou em silêncio. Como se sentia exausto… Nos últimos tempos, viver sua vida era como nadar contra a correnteza de um rio. Seu trabalho era arriscado, não podia contatar seus amigos livremente e sua ex-mulher não vinha conversando com ele. Ok, olhando por outro lado, ele também não vinha conversando com ela. Tinha acontecido o que sempre acontecia entre eles, mas dessa vez, Hunter não podia se refugiar em uma noite de bar com Mack, ou passar uma semana trabalhando com a S.H.I.E.L.D. para descontrair, e nem Bobbi. Deixar a organização tinha parecido uma excelente ideia na época, afinal, sempre que se separavam era por terem de esconder segredos um do outro, não era? O trabalho de espiã de Bobbi corroía o relacionamento dos dois. Sem o empecilho, estaria tudo bem.

Ledo engano. Não era o trabalho de espiã. Eram eles, pura e simplesmente eles. E o fato da S.H.I.E.L.D. ter estado envolvida em todas as suas discussões não era uma causa, mas sim uma consequência, um resultado da mulher se enfiando demais em trabalho sempre que por algum outro motivo o relacionamento dos dois tivesse começado a murchar. E só agora Hunter percebia isso.

Mack não pareceu surpreso de ouvir que ele e Bobbi não estavam juntos, e por algum motivo foi como levar um soco na boca do estômago. O homem os conhecia melhor que ninguém, tinha visto toda a vida desse relacionamento aflorar e decair, e mesmo ele não achava novidade terem se separado de novo.

Talvez isso quisesse dizer alguma coisa. Hunter não quis pensar no quê.

— Eu preciso dela — Mack reforçou,  inclinando-se um pouco para a frente e pousando os braços nas pernas, assumindo aquele tom meio paternal. — Por favor, Hunter.

— E eu aqui pensando que você estava sentindo minha falta…

Mack suspirou, e Hunter ouviu alguns dedos dele estalando.

— É só a ordem dos fatores. Eu podia chegar nela primeiro e em você depois, ou o contrário. Você é mais fácil de rastrear. Eu não vim atrás de você por causa dela, só quero não precisar contar a história toda duas vezes. É melhor quando os dois estiverem aqui.

Eu sou mais fácil de rastrear? Ela tem feito vigilantismo à luz do dia no traje de Harpia dela!

— Sim. E depois não fica mais de um dia no mesmo lugar. Nem deixa rastros por onde passou. E também tem boa criptografia no telefone. Quando eu fico sabendo que ela esteve em algum lugar, ela já foi embora.

Hunter não sabia onde Bobbi estava, e por favor, queria continuar sem saber. Mas não conseguiria negar o pedido com Mack o olhando daquela forma.

— Eu tenho o número dela. Ou pelo menos era o número dela até semana passada... às vezes ela troca e não se importa de me avisar imediatamente — ele respondeu e enfiou a mão no bolso, tirando o celular e mostrando o número para Mack. — Não sei se ela vai querer te ver, porque admito, eu mesmo me perguntei se era uma boa ideia. E olha que eu sou bem irresponsável.

Mack não riu dessa vez. Ele tinha um olhar preocupado e um pouco triste quando olhou para Hunter, antes de tirar o próprio telefone para mandar uma mensagem para Bobbi. Depois de enviar o texto, ele deixou os aparelhos de lado e continuou sentado, um forte indicativo de que Hunter não escaparia da conversa.

Ótimo. Tudo que queria, mesmo.

— O que aconteceu com vocês?

Hunter deu de ombros. Não sabia por que Mack estava fazendo aquela pergunta se a resposta era tão óbvia.

— O que sempre acontece. Decidimos passar um tempo juntos e, dessa vez, foi diferente mesmo. Saímos de férias, passamos duas semanas em Acapulco. Foi como lua-de-mel, perfeito, um verdadeiro sonho. Sem S.H.I.E.L.D., sem segredos, sem chamadas de telefone à meia-noite para missão de emergência... E então, começamos a brigar. Eu não entendi no começo, sempre achei que a gente só brigasse por conta da S.H.I.E.L.D… Mas aí percebi que ela estava entediada com algo. Ou irritada, não sei. E eu também. Então nos separamos. Acabamos nos encontrando e separando de novo algumas vezes, mas a última vez que a vi foi algumas semanas antes de soltar Fitz da base militar, quando mandamos ele congelado pro futuro.

— Hunter…

— Não quero conversar. O número dela está aí. Eu vou tirar uma soneca porque estou exausto e você me avisa se ela responder. Certo?

A resposta de Mack foi um último olhar triste. Hunter não achava que pudesse aguentar mais um segundo de pena, então apertou os cintos, abraçou a mochila no colo e fechou os olhos. Ouviu os passos de Mack de volta para o banco de piloto e decidiu fingir que estava mesmo dormindo, e fingiria pelo tempo que fosse necessário para não precisar conversar mais.

 

[...]

 

Bobbi estava em uma situação bastante complicada quando recebeu a mensagem de Mack.

A vida de civil em férias era um saco. Não sabia como tinha aguentado duas semanas disso em viagem com Hunter, se atualmente ficava entediada com muito menos. Talvez estivesse mesmo precisando de férias naquela época, mas agora a situação já era diferente. Antes das explosões de terrígeno, cinco dias sem algum tipo de ação eram o bastante para deixar a mulher subindo pelas paredes, então ao menos agora possuía alguma vantagem. Podia se envolver. Sujar as mãos. Investigar.

Vinha rastreando uma dessas bombas há semanas. Tinha interceptado uma troca de mensagens entre um comprador e um vendedor de origem desconhecida, e depois de falhar em interceptar a venda graças a um maldito espião russo na sua cola, teve de esperar a conversa voltar à ativa. E ali estava.

Era um shopping em Roseau, na Dominica. Vestida com a máscara branca, o traje preto e branco de Harpia, e equipada com seus bastões magnéticos, Bobbi tinha desistido de uma aproximação discreta; era melhor os russos acharem que ela era uma agente solitária, uma vigilante. Com um metro e oitenta de altura, cabelos loiros e olhos azuis, tentar se passar por qualquer outra pessoa era perda de tempo. Em alguns casos, a melhor forma de se esconder era à vista de todos. Como agora.

Harpia esperava chegar no shopping antes do atentado, mas ao descobrir local, data e hora do evento, constatou estar a horas de distância do local. Ela tentou ao máximo chegar no shopping a tempo, mas quando finalmente desceu de sua moto na frente da construção, a névoa branco-azulada já saía das janelas.

— Merda — xingou, tirando os bastões das costas e começando a correr para dentro do prédio. Lá estava a vantagem de ter se exposto ao terrígeno antes: sabia que não seria afetada.

— Saiam do caminho! — Ela gritava, empurrando as pessoas com algum cuidado enquanto fazia seu caminho. — Onde foi a explosão?!

Havia gritos, desespero, hordas de pessoas correndo. Bobbi não conseguia uma resposta concreta de ninguém, e nessas situações, a única coisa que se podia fazer era correr na direção contrária  à horda. Certamente estariam fugindo da explosão, não?

As escadas estavam apinhadas de gente descendo às pressas, e Bobbi decidiu procurar um atalho para subir. Ela esticou um dos bastões para o teto do terceiro andar, de onde a maior parte das pessoas estava fugindo, e apertou um botão, atirando um gancho com corda para içá-la.

Ela subiu, e logo se viu envolta pela névoa terrígena, densa o suficiente para afetar sua visão do espaço imediato. Bobbi praguejou baixo, irritada por não ter um visor especial consigo naquele momento. A tecnologia da S.H.I.E.L.D. fazia falta em momentos como aqueles.

A mulher tirou os bastões das costas, avançando bem devagar, um passo de cada vez. Os gritos do andar de baixo soavam distantes, e ela estimou que o segundo andar estava se esvaziando. Não haveria nenhum civil ali em cima agora, ou ao menos nenhum que conseguisse escapar.

Após alguns passos, ela se deparou com a primeira vítima. Um casulo agora passando pela terrigênese. Bobbi gemeu de desagrado; a S.H.I.E.L.D. teria vítimas para recolher.

Foi mais ou menos nesse instante que  escutou tossidas baixas, e uma voz rouca e fraca a chamando. Um toque frágil puxou sua bota, bem devagar, e se virando para trás Bobbi viu a fonte do chamado ser um homem deitado no chão. De pele azul clara, com unhas compridas e olhos vermelhos, não era difícil deduzir se tratar de um mutante.

— Ajude… Ajude… Estão matando… A gente…

O homem não conseguia respirar direito. Bobbi não conseguia ver mais ninguém por perto, e o mutante precisava muito de ajuda.  A bomba teria de esperar outra vez.

— Tudo bem — ela disse, guardando os bastões e se abaixando. Bobbi passou um braço dele por suas costas e começou a caminhar, sustentando o peso do mutante enquanto procurava por uma escada para descerem. — Você estava aqui sozinho?

— Meu irmão… — ele tossiu, e Bobbi sentiu o coração apertar ao vê-lo cuspir um pouco de sangue no processo. — Ele… Correu… Talvez… Escapou…

— Ok. Vamos achar ele, tudo bem? Eu prometo.

O homem não disse mais nada. Era provável que apenas não conseguisse. Bobbi o jogou sobre as costas, correndo no meio da névoa e tentando encontrar uma saída, quando avistou um vulto.

Não sabia dizer quem era, ou de onde tinha vindo, mas pôde ver toda a movimentação. A pessoa se aproximou de uma caixa no chão, bem onde poderia ser considerado o epicentro da explosão, pegou o objeto e guardou, saindo em seguida. Mais uma vez, estavam limpando as evidências e, mais uma vez, ela não poderia perseguir quem estava por trás do acobertamento.

Sentindo-se frustrada por perder a pista de novo, mas com nenhuma dúvida do que era a coisa certa a se fazer no momento, ela continuou seguindo pelo corredor até encontrar escadas vazias para descer com o homem nas costas.

Bobbi correu o quanto pôde, mas quando chegou no saguão do primeiro andar do shopping, antes mesmo de colocar o mutante no chão, soube que era tarde. Ele não estava respirando. A espiã deitou o corpo do homem no chão, devagar e sentindo um bolo de tristeza se formar em sua garganta. Os olhos se encheram de lágrimas e, sem poder tirar a máscara para enxugá-los, ela as deixou escorrer. E então, piorou.

— Irmão? Irmão!

Bobbi se virou para a entrada, vendo um homem de pele negra perfeitamente humano e comum correndo para dentro do shopping, empurrando autoridades e qualquer um em seu caminho. O terrígeno não afetava todos os mutantes, então, mesmo se aquele homem fosse um, poderia ter escapado por sorte. Sendo sorte ou sendo humanidade, ele estava vivo para ver o corpo de seu irmão no chão do saguão de entrada.

— Não… — ele murmurou, ajoelhando-se  e tomando o corpo do irmão nos seus braços. — Não meu irmão… Por quê? Por quê? O que nós fizemos? Meu Deus…

— Eu... Eu sinto muito — Bobbi respondeu, sem saber muito se para ele ou para si mesma. — Eu sinto muito, eu tentei, eu…

O homem sequer a ouvia. Não parecia nem perceber que ela estava ali, abraçado ao corpo do irmão morto e se derramando em lágrimas. Algumas pessoas começaram a se aglomerar na porta, alguns tirando o celular para tirar fotos.

Certo. Ela não podia se dar ao luxo de ficar parada. Bobbi correu para a lateral do saguão, decidindo procurar uma saída lateral, através de um estacionamento ou uma porta de serviço. A meio caminho, ela viu a polícia local chegando para buscar sobreviventes, mas teve a péssima impressão de que o resultado da busca não seria tão positivo assim.

Ela acabou encontrando a porta para o estacionamento, e saiu do lugar aos tropeços, desviando dos carros e dando a volta no quarteirão para se esconder no beco mais próximo. Buscaria sua moto mais tarde, quando não houvesse tanta gente aglomerada na rua. Por agora…

Bobbi se sentou nos degraus da entrada de alguma casa daquela rua, sem dar muita atenção se seria vista ou não. Não tinha conseguido impedir a compra da bomba nem o atentado, ou a morte daquele homem. E, para completar, tinha perdido a chance de recuperar a bomba para tentar descobrir alguma coisa.

Ela suspirou e tateou o bolso até pegar o celular. Agora que tinha sido vista, não podia continuar ali; tinha de ir para longe, o mais rápido possível. Começar de novo, tentar rastrear outra venda, talvez… Bobbi pegou o aparelho pensando em traçar um caminho para outro lugar, mas acabou vendo uma mensagem de um número desconhecido.

Um caçador, uma harpia e um engenheiro entram num bar em Dubai”.

Bobbi precisou pensar por um segundo, mas logo entendeu do que se tratava. Um bar em Dubai era como ela, Hunter e Mack tinham se conhecido. Uma harpia, um caçador e um engenheiro. Como aquele número não era de Hunter, e a mensagem ainda estava vindo codificada, só podia significar…

A harpia decide parar seu voo em um país no Caribe. O que ela deve esperar?”

Ela enviou sua localização, e não demorou nada para receber coordenadas em resposta, essas a poucos quilômetros de onde se encontrava. Bobbi respirou fundo. Podia ser uma armadilha, caso no qual seria melhor ela se livrar desse telefone o quanto antes. Mas nenhum dos três era de quebrar sob interrogatório, e os acontecidos no bar de Dubai só eram de conhecimento deles.

Mesmo assim, seria uma boa ideia se encontrar com Mack? Parecia tão arriscado… Mas ele deveria sabia disso, certo? Não estaria procurando por ela se não fosse muito necessário. Poderia estar precisando de ajuda…

Bobbi enfiou o telefone na calça de novo, correndo até sua moto parada na frente do shopping sem se importar com a multidão de pessoas nos arredores. Ela deu partida no veículo, deixando o GPS do celular a guiar até o que era um descampado próximo, onde não havia nada no momento. Mas logo haveria. Tinha certeza.

Ela se sentou na grama, tirou um lanche do baú da moto e esperou por algumas horas, exposta mas muito atenta, ainda com dúvidas na cabeça. Já era noite avançada quando ela viu as luzes de um quinjet se aproximando, e o veículo pousou na grama, na frente dela.

Por alguns instantes, Bobbi ficou parada, com os bastões em mãos, esperando. A rampa do avião começou a descer e ela apertou as armas, ansiosa, mas logo ficou claro que não era nenhuma armadilha. Mack estava mesmo ali, e Hunter ao lado dele, o que explicava como ele tinha seu número.

— Mack? O que está acontecendo?

— É bom te ver — ele sorriu, abrindo os braços. Bobbi correu para a rampa, abraçando o amigo a quem não via hátanto tempo. Deixou Hunter se ocupar de sua moto e gastou alguns segundos naquele abraço apertado.

— É bom te ver também, não me leve a mal, mas…

— Não se preocupe, eu tenho permissão pra falar com vocês. Venha, sente-se. Vou colocar você e Hunter a par da situação.

Ela sorriu, ainda um pouco confusa, mas se sentou no banco assim mesmo.

— E você, quem é? — Perguntou, vendo a mulher no banco de piloto preparar a decolagem junto a Mack.

A essa altura, Hunter já tinha entrado no avião, em silêncio, e se sentado ao lado de Bobbi, puramente por despeito, ela assumiu.

— Yo-yo Rodriguez, agente da S.H.I.E.L.D.. É um prazer te conhecer agente Morse, Mack falou muito bem de seus talentos.

— É a namorada dele — Hunter cortou. — Pois é, perdemos um monte de coisa. Você ficaria chocada. Fitzsimmons se casaram, May virou professora, Daisy está no espaço com um namorado fora de época…

Casamento? Professora? Bobbi ficou de fato chocada, deixando o queixo cair devagar enquanto processava o que Hunter tinha falado. E ele deu sinais de quem poderia incrementar em muito as informações, não fosse por Mack se levantando da cadeira de piloto para se sentar em um banco de passageiro de frente para os dois.

— Ok, agora que estamos os três aqui, podemos conversar.

— Ótimo, estou morrendo de curiosidade — Hunter respondeu, cruzando os braços para trás da cabeça e uma perna por cima da outra. — Qual é o pepino?

— A crise de terrígeno. Fury colocou minha equipe para investigar.

Bobbi levantou as sobrancelhas. As surpresas não iam parar tão cedo, pelo que parecia.

Sua equipe? E Coulson?

— Coulson não trabalha mais com a gente. Depois eu posso contar tudo pra vocês, mas vai levar algumas caixas de cerveja, se querem saber… O importante agora é que, primeiro, estamos trabalhando sob a ordem principal de Fury, e segundo, eu o convenci a me deixar chamar vocês de volta. Bobbi… Lincoln morreu. E Jemma está aposentada. Você é a única cientista que eu conheço que pode me ajudar com os inumanos.

— Espera. Lincoln… morreu?

— Eu disse — Hunter disse, agora com muito menos humor na voz. — Perdemos um monte de coisa.

Ninguém falou nada pelos próximos segundos. Mack deu a ela algum tempo para processar a informação, e a mulher o agradeceu internamente por isso. Lembrava-se pouco dele, mas parecia tão apaixonado por Daisy… Podia jurar que teriam um final feliz. Mas finais felizes não eram assim tão abundantes na linha de trabalho deles, eram?

— Ok. O que você precisa?

— Minha equipe vai receber um inumano, talvez mais de um. Eles vão precisar de ajuda para lidar com a própria terrigênese. E, talvez, se pudermos descobrir qualquer coisa sobre a química do terrígeno, não vai atrapalhar. Eu preciso que você me ajude em sci-tech. Nós temos uma agente em treinamento no laboratório, mas preciso de alguém com sua experiência. E a sua também, Hunter. Um par de músculos a mais não vai ser nada mal na situação atual.

Bobbi ainda relutava. A tentação era forte, não iria mentir. Mas os riscos…

— Mack… Isso não é muito arriscado?

— Não, na verdade não é. Você só fica na base e Hunter só sai com equipamento padrão pra se camuflar com os outros agentes. Ninguém vai reconhecer vocês.

Ainda havia perguntas no ar, muitas perguntas. Mas ao menos por ora, Bobbi não queria fazê-las. Estava feliz demais em estar entre eles, e não conseguiria aproveitar o sentimento se o afundasse debaixo de pilhas e mais pilhas de preocupação. Precisava se distrair. Além do mais, não podia passar a vida inteira olhando por cima do ombro por causa dos russos.

— Então, Yo-Yo — disse,  levantando-se da cadeira para ir ao encontro da mulher. — De onde vem o nome?

O resto da viagem demorou algumas horas. Bobbi gastou esse tempo para conhecer Yo-yo melhor, em parte porque estava realmente interessada na mulher que tinha fisgado o coração de seu melhor amigo, e em outra parte porque, como sempre acontecia com os dois depois de uma briga abrupta, não queria falar com Hunter. Se Yo-yo percebeu isso ou não, ela não comentou, e entreteve Bobbi pelo caminho com histórias de suas missões com a S.H.I.E.L.D., incluindo a vez na qual tinha sequestrado Mack e o prendido em seu banheiro quando se conheceram. Bobbi gostou da mulher logo de cara. Ela tinha o espírito alegre. Isso com certeza era bom para Mack.

À medida que viajavam, Bobbi percebeu estarem indo para paisagens mais e mais geladas, e seu coração californiano se sentiu um pouco chateado. Uma pergunta e descobriu que a nova base estava praticamente no Canadá, o que não era o melhor cenário para si, mas… Faria o sacrifício.

Depois de uma aterrissagem nostálgica no hangar sob o Lago Ontário, do tipo que fazia Bobbi sentir saudade de protocolos de ação, ela percebeu, estava exatamente onde deveria estar. Não teria como ser diferente. Não teria como ser melhor. Ter deixado a S.H.I.E.L.D. tinha doído muito na época, e estar de volta agora revirava tudo de forma avassaladora.

Ela desceu da rampa, deixando Piper cuidar de sua moto e abrindo um sorriso autêntico no rosto. Sim, era disso que tanto sentia falta. Da base, do sentimento de família, das missões, de tudo.

— Diretor Mackenzie! — Piper chamou, correndo até os dois. A mulher aproveitou para devolver as chaves para Bobbi enquanto se dirigia ao diretor. — Tem um avião querendo pousar aqui no hangar. Eu não reconheci o protocolo, então decidimos esperar seu retorno.

— Não reconheceu?

Piper negou com a cabeça, tirando um rádio do bolso e apertando o botão.

— Base abrindo canal para o Pássaro Vingador, câmbio.

Aqui é o Pássaro Vingador. Pela paz da minha vida, eu posso entrar agora? Estou morrendo de frio nesse avião. Protocolo HMRA.”

Bobbi sentiu o estômago afundar. Não porque conhecesse o protocolo, mas porque reconheceu a voz. E não foi a única, ela percebeu, ao ouvir Hunter soltar um palavrão muito pesado e sonoro ao seu lado.

Essa não…

— Não e à toa que não conhece, Piper — Mack respondeu, pegando o rádio. — Esse protocolo foi enviado por Fury diretamente pra mim. Podem abrir o hangar.

E então ele apertou o botão do rádio.

— Pássaro Vingador, aqui é o Diretor Mackenzie do Farol. Pouso autorizado.

Inacreditável. Devagar, porque ainda estava em choque absoluto, Bobbi se virou para Mack, abrindo a boca para formular a pergunta, mas não foi necessário. Ela viu, por debaixo da expressão estoica dele, que o homem também estava surpreso.

— Mack? ¿Qué pasa?

— Lembra quando comentei com você que Fury ia nos cobrar algum preço por ter liberado Hunter e Bobbi fácil demais? — Yo-yo concordou, e nesse momento, as peças começaram a se encaixar na cabeça de Bobbi. — Pois bem. Pode se preparar. O preço está entrando de quinjet na nossa base agora.

 

[...]

 

Pessoas diferentes tinham noções diferentes de significado para a palavra “férias”. Lutar contra Loki, Doom, Zemo ou Ultron? Difícil. Participar de uma guerra entre espécies alienígenas? Muito difícil. Cair numa luta contra Thanos ou a Fênix Negra? De preparar o caixão. Ser chamado pra fiscalizar e ficar de babá de uma equipe nova da S.H.I.E.L.D. com tudo pago? Viagem de férias. Esse e outros motivos tinham bastado para convencer Clint em cinco segundos a aceitar o chamado de Fury.

E até que as coisas não tinham sido tão agitadas assim ultimamente, mas em compensação, seu apartamento tinha se tornado a casa da mãe Joana para Kate e Barney. O conceito de privacidade se distorcera tanto na cabeça do Vingador que até uma base da S.H.I.E.L.D. parecia uma boa ideia. Pelo menos, a base era bem maior do que seu apartamento. Certamente seria menos claustrofóbica para ele.

É claro, se arrependimento matasse, Clint teria caído duro no chão assim que saiu do seu quinjet, de arco e aljava nas costas, carregando sua mala e ajeitando os cabelos loiros com uma das mãos. Parada no meio do hangar, estava ninguém menos que a ilustríssima figura de sua ex-esposa, Bobbi Morse, e acompanhada do atual-ex-ficante-marido-alguma-coisa dela, Lance Hunter. Aquilo não estava na descrição do trabalho.

Clint parou no chão à frente do avião, sentindo os olhos azuis lacrimejarem de leve. Por um instante, os dois se encararam, ela de braços cruzados e parecendo muito enfezada. Então a mulher deu as costas e foi caminhando para dentro da base, seguida não muito tempo depois por Hunter.

Clint rangeu os dentes. Aquilo não era um acidente, tinha certeza. Fury não cometia acidentes. Não, tinha com certeza sido premeditado, e até fazia sentido agora. Estava mesmo se perguntando antes por que o homem tinha escolhido logo ele para lidar com aquela situação. Agora sabia. Fury com certeza achava a presença de Bobbi uma ideia arriscada, e queria Clint no local por conhecê-la, para poder vigiar a situação nos mínimos detalhes.

Obrigado, odiei”, ele pensou, suspirando e seguindo até o diretor parado à sua frente. Bem, não adiantava chorar o leite derramado. Já estava ali, não podia voltar atrás com Nick Fury. Além do mais, julgava sua tarefa na base realmente necessária, acima de qualquer custo.

— Diretor Mackenzie — cumprimentou, estendendo a mão para o homem.

— Agente Barton. Não estávamos esperando você.

— É, eu também não estava esperando algumas coisas — ele completou, apertando a mão da mulher ao lado do diretor por cortesia. — Tem algum lugar onde posso me acomodar?

— Tem sim. Pode seguir o elevador pro primeiro andar e pegar qualquer bunker destrancado à esquerda.

Hum. Nem um “fulano de tal vai te mostrar seus aposentos”? Quanta delicadeza. Se Clint receou que não seria bem-vindo,  tornou-se muito claro que não seria mesmo.

O homem caminhou em silêncio pelo trajeto indicado, aproveitando para dar uma boa observada nos arredores. A base era muito bem fechada, não havendo mais de uma entrada óbvia, a não ser o hangar e o farol. Difícil de entrar, difícil de sair. Clint sabia estar indo para uma base bem vazia pelas descrições de Fury, mas ainda assim, a falta de pessoal especializado o assustou. Era quase como uma realidade paralela.

Clint empurrou a porta destrancada de um bunker aleatório e vazio; deixou suas coisas sobre a mesa, trancando a porta e pegando a chave em seguida. Depois se acomodaria devidamente no local. Tinha outra coisa que queria fazer com mais urgência.

Não foi difícil para ele se orientar ali dentro. O modelo novo de aparelhos auditivos que Stark tinha feito para ele era ainda melhor que o anterior, de forma que um ruído baixo de televisão ligada, mesmo a alguns cômodos de distância, foi um ótimo sinal para Clint de para onde seguir se estava procurando as pessoas do lugar. Seguindo o som, acabou se vendo em um combo de cozinha com sala de televisão. Hunter estava sentado no sofá vendo o jogo de futebol do Liverpool, muito atento, com um garoto adolescente ao seu lado que parecia igualmente entretido. Mais perto da cozinha, ele encontrou Bobbi, fazendo alguns sanduíches para comer. E era com ela mesmo que ele queria falar.

Clint pigarreou. Tinha sua missão a cumprir, seu dever. Tinha motivos confidenciais para estar no lugar. Mas, missão à parte, estar no mesmo ambiente que Bobbi era uma situação delicada para os dois, e independente de correr o risco de atrapalhar o que tinha de fazer ou não, não conseguiria ficar na base por qualquer que fosse o tempo necessário sem antes se certificar de estar tudo bem em fazê-lo.

— Bobbi — ele chamou, aproximando-se devagar e se escorando contra a pia. A mulher não levantou os olhos do sanduíche, mas ele sabia que estava sendo ouvido. — Eu não sabia que você estaria aqui.

É claro que não. Se soubesse, teria recusado a proposta de Fury, e isso não era interessante para o diretor. Então ele tinha omitido essa parte. Canalha aproveitador…

— Então somos dois — ela respondeu. — Fury te enviou sob que propósito?

— Assistência. E você?

— Mack precisa do meu cérebro.

Nenhum outro detalhe, nem da parte dele nem da dela. E Bobbi continuou focada no sanduíche, mesmo quando era visível que o pão não precisava de mais mostarda. Ela só não queria olhar para ele. Por algum motivo, aquilo doeu mais do que vê-la à sua frente. Clint não sabia dizer o porquê, mas doeu. Ele coçou a nuca, confuso e desajeitado. Parte dele queria ir embora, mandar Fury à merda e ir lutar contra Kang se fosse essa a próxima missão dos Vingadores.

Mas havia uma outra parte, uma discreta, porém forte, gritando no fundo da cabeça dele. Se fosse embora agora, quando em sua vida veria Bobbi de novo? E havia tanto não resolvido entre eles… Resolver poderia trazer várias coisas à tona. Poderia ser caso de se acertarem para seguir caminhos separados. Poderia ser algo diferente. Mas a verdade era que, da forma como tudo tinha acontecido, não tinham chegado a desfecho nenhum, e até uma despedida seria melhor que a incerteza.

Só precisavam de tempo. Alguns dias para se acostumarem a estar no mesmo lugar de novo, e então poderiam ter uma conversa decente, tinha certeza disso.

— Bom te ver, Bobbi — ele disse com um sorriso pequeno, dando as costas para ela e se voltando para a geladeira.

Foi o que bastou para Bobbi terminar o sanduíche, pegar o prato e sair da cozinha. Clint suspirou, pegando uma lata de cerveja para si e tentando focar sua mente em qualquer outra coisa. Pensar na missão, nos problemas com terrígeno, ou até em seu apartamento no Brooklyn que já lhe começava a parecer muito espaçoso. Ele abriu a cerveja, fechando a porta e respirando fundo, e pensando em ir para seus aposentos fazer um monte de belos nadas. Talvez mandar umas mensagens para Kate e Barney, saber como iam as coisas. É, isso seria uma boa ideia. Ele se afastou da geladeira quando o garoto que estivera vendo o jogo de futebol com Hunter se aproximou para pegar alguma coisa, e acabou percebendo em alguns segundos que o menino abriu a geladeira, mas não a fechou.

Clint ergueu o rosto, percebendo nesse instante que o tal garoto estava o encarando, e quando os dois cruzaram os olhares, o garoto abriu a boca devagar, deixando uma garrafinha de alguma bebida laranja cair no chão.

— Puta merda! Você é… É o Gavião-Arqueiro!

Bem. Era. Clint deu de ombros, um pouco sem jeito, e virou um bom gole de sua lata de cerveja. O garoto fechou a geladeira, ainda meio embasbacado e se abaixando para pegar a garrafinha no chão.

— Eu sou Theodore. Wayland. Agente Wayland. Bem, quase agente, agente em treinamento. Trainee, sabe?

Trainee. Sim, Fury tinha comentado algo sobre haverem adolescentes na base. Não era novidade para Clint; Kate Bishop era bem nova quando tinha começado como Gaviã-Arqueira. Ele colocou a lata de lado, estendendo a mão para apertar a do garoto ainda atordoado. Na sala, Hunter soltou um palavrão muito sonoro e Clint viu, um pouco satisfeito, que o Liverpool tinha tomado um gol.

— Prazer em conhecer. Está aqui há muito tempo?

— Uns meses… Eu cheguei pra treinar faz um tempo por causa de umas coisas aí que rolaram. Nossa, o Damon ia surtar, ele é seu fã. Ei, ei, você consegue mesmo fazer aquele negócio?

Clint soltou uma risadinha baixa. Theodore estava mesmo embasbacado, os olhos até brilhavam. Bem, ao menos uma pessoa estava feliz em vê-lo.

— Que negócio?

— O tiro do Robin-Hood! Esse meu amigo, ele é muito bom de mira, é incrível. Mas como sniper, sabe. Daí ele disse que você conseguia fazer esse tiro e eu falei “sem chance, é impossível”, e eu apostei uma grana com ele. Então, se você puder tentar e errar, por favor, só preu filmar e mandar… Mandar… — e então a expressão de Theo mudou. O brilho e o sorriso sumiram de repente, e Clint se perguntou se teria feito alguma coisa. — Ah, deixa pra lá.

— Theodore…?

— Eu aceito umas aula de tiro depois, tá? Quero poder falar que aprendi com o melhor — o sorriso que o garoto colocou no rosto depois foi visivelmente falso, ao contrário do anterior.

Theodore não voltou para a televisão depois disso. Apenas Hunter tinha sobrado na sala, esbravejando sobre um Salah alguma coisa ser um incompetente e “a droga do Alison Backer” que devia voltar para o Brasil, ou algo assim. Como as escolhas de Clint agora eram se juntar ao circo na frente daquela televisão ou ir para o quarto, nem precisou pensar duas vezes. Ele pegou um pacote de salgadinhos do armário e foi fazendo o caminho de volta para seu bunker.


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