Lago Negro escrita por CGillard


Capítulo 9
Capítulo 9




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When there's madness, when there's poison in your head

When the sadness leaves you broken in your bed

I will hold you in the depths of your despair

And it's all in the name of love

 

Assim que Hermione desmaiou, Draco levou-a até a Ala Hospitalar. Ela se encontrava bem, e logo despertaria. Enquanto aguardava sua recuperação, ele observou seu braço. Era impossível ignorar a marca que ali se encontrava. Quanto mais tempo se passava, mais ele a notava. E novamente, seria forçado a fazer algo que não queria, que o colocaria em uma posição extremamente vulnerável. Quem o visse ao longe, pensaria ter enlouquecido.

A ironia da situação não passara despercebida para ele, não sendo capaz de conter o riso quase maníaco que lhe escapou os lábios. Talvez um dia ele teria a liberdade que tanto desejava, talvez um dia lhe seria permitido escolher algo. Um pensamento, contudo lhe surgiu, fazendo brotar um sentimento próximo à gratidão. “Pelo menos estou vivo”. E livre, todas as possibilidades consideradas. Ele poderia estar preso, ou pior, morto. Logo, não estava tão ruim quanto parecia.

Tentando fugir do caos que se encontrava sua mente, ele saiu discretamente. Provavelmente seria melhor se ele permanecesse ali, acompanhando-na, mas não imaginava que Hermione fosse querer sua presença em um momento tão vulnerável. Ele sabia o sentimento que a tomara, afinal estavam conectados pela marca, e sabia o quanto ela estava sendo afetada pela situação que se encontravam.

Sentia-se sufocado ao redor de tantas pessoas, que possivelmente o odiavam, e com razão. A marca em seu braço não aliviada a grande ansiedade que restringia seu peito e o impedia de pensar com clareza. Respirar já se mostrava uma difícil tarefa. Por um momento, recordações de quando Voldemort lhe passara aquela difícil missão surgiu em sua mente. Logo, ele saiu discretamente.

De mesmo modo, naquela época ele também percorria os corredores daquele castelo, a respiração presa em sua garganta, um sentimento agonizante pesando em sua consciência. Ele sabia que seria sua ruína, mas não havia nada a ser feito naquele momento, precisava salvar sua família. Contudo, desta vez era um pouco diferente. Não havia a urgência, nem o alarde. Todos sabiam o que tinha feito, não havia nada a esconder. Após alguns minutos ele finalmente parou de andar. Finalmente, ele estava sozinho.

Alguns meses o separava daquele vital momento, mas em sua cabeça pareciam eras. Era como se tudo não passasse de um sonho, ou um pesadelo. Ele nunca mais seria aquele garoto novamente, ele morrera debaixo dos escombros daquele castelo. E nada o traria de volta. Era aquela inocência que pesava perder. Enquanto ele andava lentamente pelo castelo, as vozes de sua lembrança soando em seus ouvidos, como se fossem personagens na frente de seus olhos. Nunca imaginou que sentiria falta daquele tempo.

“O que está fazendo?” ele não precisou se virar para saber que era ela.

“Lembrando.” Uma melancolia nostálgica o assolava, e ele sabia que ela sentiria seu desconforto.

Sua resposta foi o silêncio. Era tudo que ele precisava naquele momento. Permitindo que ele se recompusesse, ela esperou uns segundos antes de se aproximar. "Fico aliviado que esteja bem. Os efeitos dessa conexão são mais intensos do que imaginei."

Ela acenou com a cabeça. “Eu não acho que iremos conseguir resolver isso agora.”

“Aparentemente está lidando melhor com a situação agora do que antes. O que mudou?”

“Eu precisava absorver tudo. No início nada fazia sentido, eu não sabia o que pensar ou sentir. É impossível não se revoltar com a situação, eu não quero me ver presa a ninguém, sem poder escolher, só porque uma marca diz ser a melhor escolha. Eu quero a minha escolha”.

“Casamentos arranjados não são necessariamente uma novidade, mas entendo o que queira dizer.”

Ela nunca entendia a apatia de Draco quanto à situação que se encontravam. Olhando as paredes ao redor, o contraste do que elas eram e do que vieram a ser, ela pensou em ambos. Eles também haviam sobrevivido a guerra, mas também tinham suas marcas. Seus traumas.

No passado, ele genuinamente a odiava. Ela se recordava de cada palavra cortante que ele já proferiu. Cada ofensa, cada briga. Não seria fácil deixar o que aconteceu para trás, na realidade imaginava ser impossível. Se estivesse diante do Draco de um ano atrás, ela nunca aceitaria tal situação. Qualquer saída seria melhor do que aquela, até mesmo escapar e tentar viver sem mágica.

Mas, naquele momento, havia algo nele que a atraía. Como um sussurro cheio de promessas. Não era intenso ou forte, era mais um sussurro. Uma promessa. Algo a dizia que ele não era a mesma pessoa. Talvez fosse sua postura curvada, que antes sempre se mostrara tão imponente. Talvez fosse seus olhos fitando o chão, como se temessem olhá-la. Talvez fosse suas roupas, antes tão impecáveis, agora desarrumadas. Ou sua voz, não mais áspera, não mais nervosa ou irritada. Mas suave.

Ou talvez fosse a marca em seu braço, talvez fosse esse o sentimento de paz que sentia naquela hora. De claridade, de confiança. Ou, talvez fosse tudo isso, aliado à sua natureza de querer concertar as coisas. De querer colocar aqueles que estavam machucados debaixo de sua asa, confortá-los. Porque ela, um dia, já soube o que era se sentir tão pequena, que desejava sumir. Ela já assumiu essa mesma postura, esse mesmo olhar voltado ao chão, a mesma voz baixa. Como se, diminuindo-se, ninguém fosse reparar. Então, ela simplesmente o aceitou.

Por mais doentio que pudesse parecer, ela o aceitou. “Vamos trabalhar com o que temos no momento, tudo bem?” Esperava não se arrepender daquela situação, mas no fundo sentia que não iria.

Após um longo período de silêncio ele apenas concordou, finalmente olhando-a nos olhos. Eles provavelmente nunca ficaram tão próximos, exceto no trem alguns momentos antes. Contudo, naquele momento o ar estava um pouco mais confortável, para o alívio de ambos.

Ele finalmente aceitou que não havia saída. Aproximando-se, ele tocou em seu ombro com cuidado. "Tem certeza que está bem? Não está se sentindo fraca com o desmaio?".

"Não. Sabe, acordei antes que saísse. Eu vi sua expressão, senti seus sentimentos. Então eu fiquei alguns minutos pensando sobre tudo que estava acontecendo. Não é um momento fácil, mas eu gostaria que você não me fizesse passar por aquilo de novo. O sentimento de rejeição foi tão intenso, nunca havia sentido nada igual. Não desejo passar por isso novamente."


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