Lago Negro escrita por CGillard


Capítulo 8
Capítulo 8




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But I know some day I'll make it out of here

Even if it takes all night or a hundred years

Need a place to hide, but I can't find one near

Wanna feel alive, outside I can't fight my fear

 

“Todos aqui presentes já atingiram a maioridade, acredito”. Após o consentimento de todos ela prosseguiu, o desconforto palpável em sua voz. “Bem, então devem ter ciência do decreto editado pelo Ministério. Não citei tal assunto frente aos outros estudantes, uma vez que espero, com profunda convicção, que o Ministério compreenda o absurdo de suas ações, e derrube tal decreto”.

“Mas enquanto tal momento não se aproxima, temo não ter outra opção. Anseio não possuir a mesma influência de Dumbledore, logo meus clamores não foram aceitos com tal rapidez, lamento vos informar. Imagino o quão confuso seja, passar por esta situação em tão terna idade, mas por hora não encontramos outra saída. Logo, gostaria de explicar-lhes como funcionarão as acomodações deste quarto, tento em vista os acontecimentos recentes”.

“Por mais que nossa escola demonstre completo desprezo e repulsa pelas atitudes do Ministério, os senhores já possuem idade para realizar certas escolhas. Caso desejem realmente se casar, conforme dita o Ministério, venham a minha sala. Caso, após ponderada conversa e considerações, permaneçam convictos em seu desejo de contrair matrimônio, serão apoiados por esta escola”.

“Desta forma, obviamente, não obrigaremos um casal, dentro da união do matrimonio, uma vez que conhecem as particularidades do casamento bruxo, a permanecer separados. Assim sendo, após completadas todas as formalidades, os casais terão seus quartos separados dos demais, mesmo que ainda permaneçam dividindo a sala comum”.

Diante da expressão perdida de seus alunos, a diretora prosseguiu, sem uma interferência. “A sua direita, há uma porta que os conduzirá aos quartos. Haverá a separação entre moças e moços, e cada quarto abrigará 4 estudantes, assim como de costume. Seus colegas de quarto foram sorteados, mas também levamos em consideração as amizades e afinidades pré-existentes”.

“Todavia, a sua esquerda, encontrarão os quartos destinados restritamente aos casados. Apenas aqueles que contraíram matrimônio terão acesso aos quartos. Como não sabemos ao certo quantos de vocês irão realmente escolher obedecer o decreto do Ministério, tal porta está selada com uma antiga mágica”.

“Cada vez que um casal for formado, um novo quarto surgirá, e apenas aquele casal conseguirá ingressar no recinto. Também evitará... constrangimentos e situações desagradáveis por assim dizer. Logo, cada um que conseguir abrir a porta, terá acesso ao seu próprio quarto, e a nenhum outro. Apenas o casal entrará no quarto, logo, sem visitas. Aproveitem a sala comum para... os eventos sociais, por assim dizer”.

Ela se aproximou do quarto, e ao abrir a pequena porta os alunos se depararam com uma pequena sala, em que constava apenas uma pequena vassoura de limpeza. “Como podem perceber, eu não tenho acesso aos quartos. Logo, quando começarem os casamentos, teremos conhecimento de como este quarto realmente funciona. Mas lembrem-se, venham primeiro conversar comigo. Quero ter certeza que tal ato será por vontade própria do casal, e não por pura e simples ordem do Ministério”.

Hermione tentou ao máximo não voltar seus olhos à Draco, o suor escorrendo por sua fronte. Não imaginou se deparar com tal problema tão cedo. Não gostaria de se casar, mas era impossível negar a atração que passara a sentir pelo jovem de cabelos platinados à sua frente. Que Minerva me ajude, pensou, lutando para controlar sua respiração.

Ele sentia seu olhar. Era furtivo, como se ela temesse que alguém percebesse o movimento, e desconfiasse do vínculo que agora os juntava. Será que Hermione o detestava a ponto da repulsa? Será que correria aos braços de Minerva, implorando uma saída de tal união? Ela o odiava de tal maneira, a não considerar seus próprios sentimentos com relação ao tema? Mas quais são seus sentimentos, Draco? A voz em sua mente o questionou.

Não tinha respostas, a mente ainda envolta no desejo que no momento sentia pela jovem bruxa. Este era o efeito do pacto, então? O pensamento de ambos ficaria turvo, impedindo-os de decidir com clareza? Iriam os jovens completar o ritual, cegos por uma onda de desejo? Caso o fosse, Draco compreendia porque Minerva os obrigou a encontra-la antes de tomar uma decisão mais permanente.

Controlando-se para não realizar nenhuma atitude suspeita, ele voltou-se discretamente a ela, que no momento o ignorava. Era linda, sempre o soube, mas tal fato não era suficiente para um casamento. Iriam conversar com Minerva, talvez fosse a melhor atitude a ser tomada. Certamente a diretora iluminaria o presente problema de ambos, talvez de uma forma não tão imparcial. Ninguém permitiria que o antigo comensal da morte se casasse com a princesa dourada, heroína da segunda guerra.

Um riso cínico e perverso rompeu seus lábios contra sua vontade, debochando da situação. “Algo a acrescentar, Malfoy?”. A diretora o olhou gravemente, totalmente alheia à real situação. Ela acreditava estar Draco agindo como no passado, que não perderia a oportunidade de proferir um comentário de escárnio.

“Não, senhora. Perdoe-me”. Ele se desculpou, não havendo muito sentimento detrás de suas palavras. Assim que Hermione e Draco aparecessem frente a sua porta, com seus devidos nomes marcados definitivamente na pele um do outro, a diretora entenderia o motivo da atitude. Inclusive, a acreditaria ser deveras retida.

“Muito bem,” ela parou por um momento, fitando-no com desconfiança. Draco fez um leve sinal com a cabeça, imperceptível aos demais que não estavam atentos, indicando que conversariam. Hermione sentiu-lhe o sangue gelando em suas veias ao perceber tal movimento, uma vez que o olhava com cautela. Minerva dirigiu-se aos demais. “Peço que se recolham a vossos quartos, e passem a noite. Amanhã já se iniciarão as aulas. E se recordem, caso desejem se casar, venham a minha sala”.

Com esta ultima frase, a diretora voltou o olhar a Draco, percebendo que o problema do jovem se conectava ao referido tema. Ele entendeu o recado, assim como Hermione, que participava como uma terceira pessoa da interação. Minerva saiu da sala comum, permitindo que os demais alunos pudessem finalmente descansar, antes de iniciar um novo, e finalmente ultimo, ano acadêmico.

Draco e Hermione não se comunicaram verbalmente, mas uma última troca de olhares antes de adentrarem seus respectivos quartos, foi suficiente para troca de mensagens. Quão logo fosse possível, iriam informar a diretora de sua posição. Por ser contra o decreto do Ministro, não acreditavam que Minerva fosse entrega-los, obrigando a um casamento, basicamente, armado. Pelo contrario, Draco acreditava veemente que ela faria de tudo para dissolver tão união. Mas tal problema seria lidado em outro momento.

Nenhuma das garotas proferiu uma palavra ao entrar no quarto e guardar suas coisas. Luna abraçou rapidamente Hermione, a desejando boa noite. E assim, renderam-se ao sono. Hermione, mesmo sem ter conhecimento, sonhara com um jovem de cabelos loiros e olhos azuis, zombando de suas roupas. O conflito a consumia mesmo em seus sonhos.

 

I want to keep faith, but you're making it harder

I'm reaching out now but you're pulling me under

I give you my heart just to watch you waste it

And I can't let go when you still need saving

 

A fraca luz que vinha do sol da manhã despertou Hermione, que se recusava a partir de seu sonho. Nele, ela escutava a voz sincera de Draco, confortavelmente ao seu lado, revelando os segredos que mantinha a tanto guardado. No sonho, ele a respeitava e ela confiava nele, tudo estava tranquilo e em paz. Todavia, a vida real logo se fez presente. Assim que abriu os olhos, surpreendeu-se com os próprios sentimentos.

Toda a felicidade de momentos desfez-se quando despertou. Suspirando profundamente, buscando forças para finalmente se levantar, ela se permitiu observar o céu por um momento. Era como se a claridade zombasse de seu ânimo. O céu deveria estar negro, coberto de nuvens. Por que ninguém se revoltara? ela se questionou, no conforto de suas cobertas.

Estava perplexa com a calmaria com a qual os outros alunos aceitavam seu destino. Seria ela a única a desejar liberdade? A guerra levara todos à exaustão, e isso ela conseguia entender, até certo ponto. Aos poucos, ela começara a se arrumar, ainda pensando na reação dos demais à notícia do ministério. Sem que percebesse, trocou sua roupa e saiu distraidamente de seu quarto, caminhando pelos corredores da escola sem um rumo fixo, milhares de questionamentos em sua mente.

E assim, sufocada pela ansiedade e pelos pensamentos desconexos, uma lágrima escorreu por sua face, traindo a expressão impassível que trazia sempre consigo. Era uma fissura em sua armadura sempre impecável. Tão absorta estava que não o percebeu próximo, observando cada movimento.  Quando sua presença se fez notável, ele já a tinha envolta em seus braços, segurando-a pela cintura. “O que pensa estar fazendo? Como...” ela não foi capaz de completar sua frase.

Não havia percebido a fragilidade de suas pernas. Ele não a estava apenas segurando, mas suportando todo seu peso para que não caísse no chão de pedra. Estava ajudando. Sem saber o que fazer, sentindo-se extremamente vulnerável e fraca, ela se esforçou para recompor-se. Ele permaneceu com as mãos em sua cintura, oferecendo o suporte necessário, mas sem ultrapassar os limites da decência. Ela não foi capaz de ignorar a preocupação em seu olhar.

“Eu estou bem”. Ela nunca imaginou se encontrar naquela posição. Draco nada disse, apenas a ajudou erguer-se em suas próprias pernas, sem nunca tomar vantagem de sua posição. “Você está diferente” ela deixou escapar, arrependendo-se no momento em que as palavras deixaram sua boca.

“Não é como se nada tivesse acontecido, Hermione. Você sabe disso tão bem quanto eu.” Ela não conseguia se afastar dele. Era como se sua voz a hipnotizasse, como se seu cheiro a atraísse para ele. Estava paralisada, mas não se importava. Sentiu os dedos dele caminhando suavemente por seu rosto, enquanto ele se concentrava em algo. “Esteve chorando.” Afirmou finalmente, limpando suas lágrimas.

Naquele momento, fora inundava com um profundo sentimento de confiança. Nunca sentira nada igual em sua vida, nem quando acompanhara Harry. Era uma segurança reconfortante, como se finalmente encontrasse o local se sempre buscara, seu lugar no mundo. Como se pertencesse ali. Não sabia de onde aquele sentimento vinha, mas ele a tomava por completo. Se naquele momento ele pedisse, ela morreria por ele.

Ambos fitavam-se intensamente, perdendo-se no turbilhão de emoções que compartilhavam naquele momento. “Eu não sei o que está acontecendo” ela sussurrou, quebrando o feitiço. Draco finalmente voltou a si, e se afastou sem dizer nada. Hermione não foi capaz de evitar a sensação que lhe afligiu o peito, e lentamente se alastrou para seus membros. Tal sentimento era rejeição. Como uma agulha espetando o coração, era uma dor lenta e sufocante. O ar lhe escapava pelos pulmões enquanto ela observava suas costas se afastando.

Era devastador. Ela levou as mãos ao peito, como se fosse capaz de, fisicamente, parar a dor que sentia, deixando-a fatigada. A parte racional de seu cérebro sabia que se tratava da alma gêmea. Por mais que desejasse, ela não conseguiria se livrar daquele sentimento enquanto ele não aceitasse o vínculo. A rejeição da alma gêmea era insuportável, e estava certa de que poderia leva-la a loucura. “Acalme-se”, ela disse ao seu coração. “Vamos resolver isso”. Ao abrir os olhos para a luz da manhã, sentiu-se confusa. Fora um sonho, ou havia ela desmaiado de dor?


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