Lago Negro escrita por CGillard


Capítulo 10
Capítulo 10




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We are influenced by self love and benevolence

Narcissism is overwhelming, vanity is quite exhausting

Self indulgent, Hedonistic, blame it all on your upbringing

 

Não havia nada a ser feito, a data estava marcada. Hermione não sabia ao certo quanto tempo permanecera olhando fixamente o papel em suas mãos. Durante o café da manhã, foram surpreendidos com notícias do Ministério, avisando qual a data escolhida para que a cerimônia se realizasse. Não tinha como voltar atrás. Naquele momento, tudo parecia mais real do que antes.

Até aquele momento, ela foi capaz de empurrar o problema para o canto de sua mente, buscando se distrair com seus estudos. A existência de uma rotina ajudaram-na a manter uma aparente normalidade. Mas sabia que esse dia chegaria, quando tudo se tornaria real e concreto. Por mais que conversasse com Draco às vezes, ele ainda permanecia um estranho. Ela não sabia como reagir a situação.

Encontrava-se, novamente, em choque. Contudo, ela havia passado por uma guerra e sobrevivido, não era qualquer adversidade que a afetaria. Respirando profundamente, tentou acalmar-se, trazendo a racionalidade pela qual tanto era conhecida. Os sentimentos seriam trabalhados em um momento posterior.

“Hermione?” Era Harry, preocupado. Ela o acalmou, forçou um sorriso em seu rosto, e fingiu que tudo estava bem. Ele também precisava de apoio, e ela não seria tão egoísta.

Mas não foi capaz de evitar olhá-lo do outro lado do salão. Sua cabeça estava abaixada, o mesmo papel a sua frente. Aquilo também se tornara mais real para ele. Ela certamente não era a esposa que ele esperava ou almejava, após toda uma vida de glamour, e entre os melhores círculos sociais. Mas era algo que ambos teriam de aceitar.

Ele sentiu seu olhar, mas não foi capaz de esboçar nenhuma reação. Sentia-se travado por um turbilhão de sentimentos que, naquele momento, não sabia explicar. Talvez não fosse a guerra que o matasse, mas ela. Após alguns segundos evitando-a, sentiu seus olhos se mexendo por conta própria. Fitou-a de volta, com medo da rejeição que certamente veria em seu olhar.

Contudo, por mais impossível que fosse, não encontrou ali a emoção que esperava. O que viu foi algo mais próprio da personalidade de Hermione do que a dera crédito. Ela estava racionalizando a situação, era quase capaz de ver a engrenagem de sua mente movendo-se. Ela encontrava uma forma de lidar com a situação, sem envolver-se emocionalmente.

Deveria estar contente, mas tal realização deixaram-no mais ansioso que antes. Era impossível imaginar o que o futuro aguardava. Tão absortos estavam em sua própria realidade, que não perceberam o caos que se instaurava ao redor. Ninguém queria ser obrigado a casar, ninguém desejava privar-se de sua liberdade. Logo, muitas vozes elevavam-se, mostrando o descontentamento e a ira dos demais alunos.

Era uma reação esperada, algo que o Magistério havia levado em consideração antes de editar a lei. Os alunos teriam apenas aquele momento para liberar sua frustação, tendo em vista que não cumprir a Lei levaria ao exílio. A desordem levaria a um caminho bem pior, mas provavelmente não seria para tanto. No fim, todos aceitariam o destino a eles imposto. Inclusive, Hermione. Por mais rebelde que fosse, ele sabia que ela obedeceria as ordens estabelecidas.

Não era muito romântico, mas era tudo o que ele tinha no momento. Minerva logo apareceu, tentando apaziguar os ânimos. Logo, os alunos mais novos foram retirados do recinto, para que a conversa fosse mais particular. Não se sabia por quanto tempo aquela lei vigoraria, então era melhor deixar seu conteúdo apenas entre os afetados.

Hermione conversava freneticamente com seus amigos, o trio de ouro. Era impossível evitar a onda de ciúmes que lhe dominou, mas Draco segurou-se na cadeira para não demonstrar reação. Não havia nada que ele podia fazer, aqueles eram os seus amigos. Aos poucos começou a se acalmar, mas sem nunca perder o sentimento ruim em seu estômago. Gostaria que ele a tratasse bem igual trata seus amigos, e não com a frieza e calculista, como estava acostumado.

Gostaria que ela também compartilhasse com ele suas inseguranças, seus medos, seus sentimentos de angústia. O que a mantinha acordada durante a noite, o que tirava sua concentração. Mas ele sabia que, no fundo, o culpado por trás da olheira em seus olhos era ele mesmo. Um aperto em seu peito, que já era natural desde que recebera a marca após seu aniversário, tornou-se ainda mais presente.

Ao seu lado, Theo percebeu-o com a mão no coração, tentando se acalmar. Tentou não chamar atenção para o fato, sabendo que Draco não iria gostar de se mostrar tão vulnerável em público. Ao invés disso, tentou distraí-lo. Fez alguns comentários sobre os mais diversos casais que haviam se formado durante o decreto do Ministério. Mas nada era capaz de tirar o foco de seu amigo.

“Alunos, alunos. Atenção! As datas já foram fixadas, e cada um de vocês recebeu pela manhã o comunicado oficial do Ministério. Essa data não será alterada sob nenhuma circunstância, e o próprio Ministério enviará ministros para se certificar de que todas as cerimônias foram realizadas corretamente, na data prevista. Quanto ao local, poderá ser realizado aqui na escola, em meio aos colegas presentes, ou poderão se deslocar até suas casas, para passar esse momento em meio a familiares. Terão uma semana para informar o local, membros do Ministério virão pessoalmente recolher as respostas.”

Local. Certo, Hermione iria se casar com um Malfoy. Em nenhum momento ela havia pensado sobre sua cerimônia de casamento, parecia uma realidade tão distante, e até certo ponto, tão incerta. Principalmente após a guerra, ela por um momento acreditou não ser capaz de se casar, devido as cicatrizes deixadas em sua mente.

Seria muito difícil se relacionar com Draco, uma vez que ambos carregavam traumas pesados. Mas, pelo menos uma trégua era o que esperava de tal união. Um consenso, uma vida em paz. Ela já não tinha mais seus pais, apenas dois amigos, que também iriam se casar. Talvez, e muito talvez, a presença de Draco não seria tão ruim. Contanto, a presença de sua família era algo que ainda não tinha passado pela sua cabeça.

Sabia que Draco mudara, mas e quanto a sua família? Certamente não. Uma nova onda de incertezas e inseguranças inundaram-na, e ela era incapaz de respirar. Todo o controle que fora capaz de manter pela manhã, logo viram-se jogados ao ventos. Percebendo o desamparo de sua amiga, Harry segurou-a suavemente pelo ombro.

“Respire, Hermione. Devagar, vamos” e começou a contar, sussurrando para que ninguém percebesse, em meio ao caos que novamente se instalara. Em meio aos gritos de raiva, jovens se levantando e a comoção que os rodeava, Harry a ajudava respirar. “Um... dois... três... quatro... segura a respiração”.

E assim, ela começou a se acalmar. Mas não era o suficiente, ela precisava de ar, precisava sair dali. Sentia-se sufocada, presa. Por mais que puxasse o ar para seus pulmões, não era o suficiente. Agitada, agindo por puro impulso e instinto de sobrevivência, ela correu. Harry não a seguiu, e ninguém mais percebeu, exceto por Draco, que em nenhum momento desviara o olhar dela.

Correu atrás de Hermione, preocupado. Sentia o aperto em seu coração. Respirar lhe queimava a garganta, e ele imaginava que aquele sentimento vinha dela. Algo não estava certo, e ele sabia. Temendo por ela, ele não a perdeu de vista. Correram até sair do castelo, perto da floresta. Ela não parou de correr nenhum segundo, como se estivesse fugindo.

Logo, a brisa acalmou seus ânimos. Ofegante, porém satisfeita, ela se sentou na terra sem maiores cerimônias. Precisava do contato com a natureza, precisava de algo sólido que a fizesse sentir que ficaria tudo bem. Essa batalha não estava exigindo nada dela fisicamente, mas mentalmente ela estava em frangalhos.

Não ouviu os sons de passos se aproximando, nem as folhas sendo pressionadas ao seu lado. Quando percebeu, ele já estava sentado ao seu lado, uma distância respeitável entre ambos. Mas ainda sim, estava sentado ao seu lado, e sua fragrância lhe enchia as narinas. Nunca percebera o quão bem ele cheirava, mas fazia sentido, levando em consideração que tudo que usava era caro e da melhor qualidade.

Diferente dela, que nunca vivera no luxo. E novamente, a onda de inseguranças a atingia. Contudo, dessa vez, antes que ela fosse engolida pelo mar das suas próprias incertezas, ele tocou gentilmente seu braço. Ele havia sentido, e ela sabia. Maldita marca! Ela pensou. Contudo, no fundo de seu coração, pensara aquilo apenas de costume.

Ela estava grata. Por ele ter percebido sua angústia, por a ter seguido, verificado se estava em segurança, e principalmente, pela mão que agora segurava gentilmente seu braço. Não imaginava que tal conforto existia, até ele a tocar, em meio uma crise de ansiedade. Ela sentiu-se instantaneamente bem, como se seu toque afastasse qualquer traço de insegurança.

Porque, naquele momento, ele estava do seu lado. A adoração em seu olhar era algo que ela só havia lido em livros, e sempre imaginou ser uma fantasia, um exagero. Mas não o era. O lado racional de sua mente gritava que aquela emoção era fruto da marca, mas ela não se importava. Ele estava ali, a confortando. O ar que passou a entrar nos seus pulmões agora era doce, misturados com a colônia que ele usava. Sentia o ar passando por seus lábios, e seu perfume na ponta de sua língua.

Entrou em uma nova onda de sentimentos, tão intensa quanto a primeira. Contudo, daquela vez, ela não queria fugir. Ela não se importava com a sua família ou com as ofensas que ele, um dia, havia proferido. Naquele momento, ela precisava dele e ele estava ali. Pare, isso não faz sentido! Vai se arrepender, pare!

Sua mente gritava, alarmada. Mas ele a olhava com adoração, como podia resistir? Como poderia se trair de tal forma, a negar algo que precisava com tanta intensidade? Ela precisava do conforto que ele a proporcionara. Ela precisava de sua presença, de seu toque, do sentimento de que tudo ficaria bem.

Em muitos momentos, durante a guerra, ela precisou desse mesmo sentimento, mas nunca o encontrou em lugar nenhum, e agora ali ele estava, na sua frente, olhando-a como se ela fosse a única do mundo. Era uma gentileza diferente daquela com a qual Harry ou Ron a tratavam. É a marca, é apenas a marca. Sua mente a alertou novamente, mas ela preferiu não prestar atenção. Não importava as razões por trás do que estava sentindo. Ela queria o que ele estava oferecendo.


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