Lago Negro escrita por CGillard


Capítulo 4
Capítulo 4




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Put a price on emotion

I'm looking for something to buy

You've got my devotion

But man, I can hate you sometimes

I don't want to fight you

And I don't want to sleep in the dirt

We'll be a fine line

 

Ambos permaneceram em silêncio, apenas o som do trem passando sobre os trilhos preenchia o ambiente. Recolhidos aos seus próprios pensamentos, o inevitável sentimento agonizando da incerteza revirando seu âmago. O que seria de seu destino, nenhum deles sabia responder ao certo. Hermione não se sentia inclinada a aceitar a união, e Draco remoía-se em seu remorso.

“Não sei o que faremos.” Draco admitiu, finalmente quebrando o sagrado silêncio. “Creio que seja impossível desfazer o vínculo, mas talvez possamos, depois de pesquisar.”

“Sim, o faremos, mas em Hogwarts. Por hora, é melhor que retorne aos seus companheiros. Eu preciso de um tempo sozinha, para pensar sobre o que está acontecendo, e creio que precise do mesmo.” Ele se despediu com um simples e curto aceno de cabeça, que foi prontamente correspondido, sem contanto que ela lhe direcionasse o olhar. Estava perdida em sua mente, e ele a deixaria com seus pensamentos.

Retornou ao seu assento original, do lado de Theo. Quando o mesmo lhe perguntou por que havia demorado tanto e se algo estava errado, ele apenas respondeu que assuntos antigos precisavam ser discutidos, mas que não se passara nada demais. Optou por esconder o nome de Hermione, uma vez que não sabia qual caminho traçaria.

Em seu âmago, a verdade que se recusava a admitir era apenas uma: ele não estava tão desconfortável com o vínculo. Com toda razão ela estaria, afinal ele era um comensal da morte, mas ele estava quase... satisfeito. Com um pequeno sorriso agraciando os lábios, ele se permitiu deleitar-se com essa pequena informação. Talvez amanhã Hermione o matasse por isso, mas ele estava feliz em tê-la por alma gêmea. Espero não conseguir desfazer o vinculo ate conhece-la melhor.

Ele se arrependeria de tais pensamentos quando chegassem a Hogwarts e ela o olhasse com o sempre presente desprezo e desdém, mas permitiria sonhar. Por enquanto, pelo menos, ela o aceitava. Não imaginava que, alguns vagões de distancia, Hermione fugia dos olhares de reprovação e curiosidade dos seus amigos, enquanto se questionava se a reação de Draco havia sido verdadeira, legítima. Caso tivesse, ela não podia negar o estranho fascínio que a preenchia.

Encontrava-se em uma inesperada posição. Ele sempre a considerara interessante, mesmo quando crianças, e tal interesse despertava a mais profunda revolta em seu ser. Tal reação era fruto dos ensinamentos de seu pai, que sempre incitou ódio contra aqueles que não possuíssem o sangue puro. Logo, como uma forma de liberar sua raiva consigo mesmo, ele a perseguia e maltratava. Nunca fora uma boa pessoa, e nunca lidou com nada da melhor forma possível. Assumia os traumas que causara em Hermione, e a mágoa que talvez nunca conseguisse apagar, mas ele realmente se arrependia.

Fora criado para odiá-la, mas nunca o fizera. No fundo, ele sabia que a real razão de zombar tanto de sua aparência na infância, era esconder o real fascínio que sentia por tão inteligente bruxa. Mas, como é conhecido, uma mentira dita diversas vezes torna-se verdade, e passou a ser algo natural maltratá-la. Não só ela, como seus amigos. Toda sua criação deu-se em cima de tal princípio. Odiar os que nasceram como ela, e todos aqueles que apoiavam.

Era impossível mudar o passado. Caso pudesse, todavia, ele nunca seria um comensal da morte. Tal experiência causara marcas em sua alma muito mais profundas que a grotesca tatuagem, que não estava mais em sua pele. Era simbólico, que em tal momento, de redenção, o nome de Hermione estivesse cravado em sua pele. Depois da guerra, nada fora fácil. Momentos obscuros foram vencidos, mas mudanças muito mais catastróficas viriam a seguir.

E tal mudança estava diretamente ligado com o nome que trazia em seu braço. Era como uma maldição. No passado, as almas gêmeas não eram aceitas pelo mundo bruxo, com exceção das famílias mais tradicionais de sangue-puro, como sua mãe. Assim que conhecesse seu parceiro ou parceira, não havia mais saída. A união se tornaria inevitável.

Por eras, apenas as famílias mais tradicionais participavam de tal encantamento, sempre sob sigilo. Era mais uma forma de uni-los, e impedir que os bruxos e bruxas quebrassem a pureza da linhagem. Todavia, a guerra trouxera algo que ninguém esperava. A morte em massa de grande parte do mundo bruxo. Poucos sobreviveram aos horrores impostos por Voldemort, deixando vulnerável o futuro da comunidade bruxa britânica.

Assim sendo, o Ministério aprovou uma lei que chocou a todos. Através de tal lei, todos os bruxos e bruxas solteiros, com idade superior a dezessete anos, deveriam obrigatoriamente passar pelo ritual. Após encontrar sua alma gêmea, eles teriam o prazo de um ano para se conhecer melhor, até que fossem forçados a contrair matrimônio.

Tal lei causou grande revolta por parte dos jovens, principalmente aqueles que não tinham o sangue puro. Draco sempre soube que, um dia, iria passar pelo encantamento. Desde pequeno fora ensinado o quão normal todo o processo era, logo nunca questionou. O grande problema se deu quando, chocando a todos, Harry Potter se mostrou favorável a tal lei.

O encantamento tinha por prerrogativa unir os bruxos com a maior compatibilidade, tanto mágica quanto emocional e intelectual. A sua alma gêmea seria, a princípio, a pessoa mais perfeita para você. Quando incluía apenas uma pequena parcela dos sangue puros, tal encantamento por vezes dava errado. Mas quando a abrangência era de toda a Grã-Bretanha, a possiblidade de uniões bem sucedidas era consideravelmente maior.

Logo, Harry aprovou tal ideia. Segundo ele, iria tornar mais rápida a reconstrução da comunidade. E, como envolvia todos os jovens, era seguro de que cada um iria encontrar seu par ideal. No fundo, Draco não se opunha à ideia de juntar os jovens bruxos por meio do ritual, mas obriga-los a se casar em um prazo tão curto, isso ele não conseguia entender.

Obviamente o Ministério tinha o objetivo de garantir a preservação do mundo bruxo, mas tal obrigação parecia excessivamente invasiva. Draco ainda não sabia como Hermione sentia-se em relação a tudo isso. Certamente ela não concordaria com tal matrimônio¿ Difícil saber. Na realidade, ela aparentemente se opunha mais ao fato de ser Draco sua alma gêmea, e não outra pessoa.

Talvez a guerra havia afetado mais a mente das pessoas do que ele acreditava. Afinal, ninguém era o que realmente aparentava ser. Ele não sabia o que pensar, ou esperar, do futuro que os aguardava. Todos estavam lidando bem demais com a situação, e ele não sabia o que aquilo significava. Suspirando profundamente, ele encostou a cabeça no vidro, permitindo que o movimento do trem o trouxesse uma certa paz, se é que tal sentimento fosse possível.

Estava confuso, e era fraco. Todas as emoções que Hermione emanara nele sempre foram ambíguas, contraditórias. Ele se interessava por ela, ao mesmo tempo que a odiava por ser quem é. Ele estava feliz por ser ela sua alma gêmea, ao mesmo tempo em que sabia nunca ser possível um casamento entre ambos. Ela o desprezava muito para tanto. Certamente, por ser inteligente como era, encontraria uma forma de desfazer o vínculo.

Sua mente estava doendo, e por um segundo mal conseguia respirar. Nem o suave tremor do trem, ou a temperatura gélida da janela, foram capazes de evitar a crise de ansiedade que se insurgia em seu peito, prometendo engoli-lo. Por alguns segundos, permaneceu na agonia de seu próprio ser, até que Theo foi capaz de tirá-lo de lá. Com algumas palavras engraçadas, visando distraí-lo, Draco abraçou a oportunidade de ser jovem por alguns minutos, e distraiu-se. Era o máximo que, por hora, conseguiria fazer.


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