Lago Negro escrita por CGillard


Capítulo 3
Capítulo 3




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I've been running for some time

Too many people drew the line

Gone too far no turning back

Everything is blue and black

 

Sem tirar os olhos do jovem à sua frente, ela considerou todos os cenários possíveis. Em nenhum deles ela conseguira os imaginar juntos, como almas gêmeas. Não, tal futuro era impossível, ela refletiu, observando os loiros cabelos e a alva face, a textura de sua pele e o vermelho de seus lábios. Impossível negar que era atraente. Mas também o era vil. Harry pode ter perdoado Draco por tudo que ocorreu no passado, mas ela não conseguiria. Ele fizera coisas detestáveis, e mesmo que ao final tenha se juntada ao lado vencedor, o fizera pensando apenas em sua família. Ela disse a si mesma, mas no fundo sabia a real razão do ressentimento que nutria contra Draco.

Salvar sua família é sim um motivo válido, e ela grata a ele por, ao menos aparentemente, ter mudado sua visão com relação ao sangue puro. Ela não sabia o quão sincero estava sendo, mas o parecia suficiente. Uma guerra realmente muda a forma das pessoas pensarem, e talvez ele realmente tenha deixado seus preconceitos para trás.

Mas ele a havia atormentado por toda a infância, e isso era algo que não conseguia esquecer. Hermione passara grande parte de sua vida sentindo-se insuficiente devido aos insultos que ele lhe direcionava, a cada oportunidade que encontrava. Entendia sua raiva contra Harry, afinal, a serpente o invejava. Mas e ela? Qual grave crime havia cometido?

Sim, ela já o havia perdoado, mas não esquecido. Perdoado o suficiente para não olha-lo com desprezo, mas não o suficiente para sentir algo que não fosse ressentimento por tempos passados, e total indiferença com o que era agora. Ficava satisfeita que ele havia se reformado, e nada mais. Nenhuma empatia. Nada. Nunca conseguiria aceita-lo como sua alma gêmea.

Havia pedido a Harry levasse Ron da cabine para que ele não ouvisse as palavras que Draco proferiria ao perceber a grande cicatriz em seu braço. O ruivo nunca tivera um bom temperamento, mas a guerra o tornara ainda mais instável, e Hermione não confiava em seu autocontrole para não atacar Draco. Não, ela tomaria esse assunto em suas próprias mãos.

Mas que Draco odiaria tal condição, disso ela estava certa. Mesmo que ele tenha afirmado não possuir mais preconceitos quanto ao seu sangue, e prometer abandonar por completo o estilo de vida que sempre ostentara. Assim que acordasse e descobrisse ser ela sua alma-gêmea, com quem deveria passar a vida, sua fachada certamente cairia. Ele retornaria a suas raízes, e à ideologia puro sangue, desprezando-a.

Observava-o atentamente, aguardando tão esperado momento. Todavia, ao deleitar-se com suas feições, o percebia mais atraente a cada segundo. Quase inocente, com os cabelos loiros caindo na frente de seus olhos, a boca entre aberta, seu nome escrito em seu braço. Mal posso esperar quando acordar ela pensou consigo mesmo, sarcástica.

A iluminação penetrando por suas pálpebras incomodava-o novamente, e ele apenas desejava que estivesse envolto pela reconfortante escuridão da noite. Elevou as mãos aos olhos, bloqueando a luz que insistia em lhe recobrar os sentidos. Odiava estar acordado, odiava pensar e respirar, depois de tudo que acontecera em sua vida. Todavia, enquanto tornava-se mais atento, percebeu que não estava em sua casa, e tão pouco o estava em Hogwarts.

Permaneceu imóvel, até sua memoria aos poucos retornar. Já consciente de onde estava, e do que havia acontecido, ele retirou lentamente a mão de seu rosto, permitindo que seus olhos analisassem o local. Estava na cabine de Harry, deitado em uma das poltronas. Ele provavelmente o havia colocado ali após seu desmaio. A dor havia sido tamanha que Draco não suportara manter a consciência.

A marca... pensou assim que seu olhar pousou sobre a única pessoa que se encontrava em tão pequeno cubículo. Ela o fitava severamente. Não conseguia compreender sua expressão, mas sabia que ela estava séria. Draco, não suportando a intensidade, preferiu focar sua atenção na marca em seu braço. Já sabia qual nome estava lá, havia o lido antes de perder a consciência para dor. Mas iria verificar novamente, esperando que fosse um louco pesadelo.

Mas não, lá estava ela, o sangue já seco envolvendo-na. Hermione. Ele não sabia o que responder, o que fazer, qual reação adotar. Ao ver o nervosismo e preocupação por trás da expressão de Hermione, percebeu que ela também estava apreensiva. Mas não sabia precisar exatamente o quanto. “E agora?” ele disse, a voz impassiva.

Não sabia qual emoção demonstrar, uma vez que não sabia como estava se sentindo. Já que aparentemente ela já estava acordada a mais tempo, tivera a oportunidade de refletir sobre. “Como você se sente sobre isso?” foi tudo o que disse, a voz séria, o olhar ainda duro, fitando-o severamente.

Ele não desviou o olhar desta vez, olhando-a com equivalente intensidade. Naquele momento ele estava tentando infiltrar em suas barreiras da mesma forma que ela fazia, mas sem que nenhum obtivesse sucesso. Depois de alguns minutos, em que ele tentou responder de forma sincera, pensando sobre a situação.

“Não tenho preconceitos com seu sangue, se é isto que a preocupa. Genuinamente acredito que não há relevância nesse fato. Mas sei que a fiz muito mal no passado, e também não me sinto confortável com a ideia de uma alma gêmea. Não temos nada em comum, estivemos em lados opostos de uma guerra, passamos nossa infância inteira baseada em xingamentos. Não há sentido nenhum nisso, não me sinto confortável tendo seu nome em  meu braço, e entendo que deva se sentir muito pior do que eu.”

Ele disse de forma simples, a voz estável a todo momento, surpreendendo Hermione. “Está tão abalada comigo sendo civil?” ele sorriu, sua expressão relembrando muito do Draco que um dia fora. “Não se acostume, Granger, ainda sou uma péssima pessoa".

Ela suspirou profundamente, sentido todo o nervosismo escapar-lhe por entre os dedos. Estava com o corpo tão rígido, de preocupação, que mal percebeu que não respirara. Diante das palavras de Draco, suspirou profundamente, alongando-se. “Fico satisfeita por estarmos na mesma página então. Temia as profanidades que iria me direcionar, assim que se visse vinculado à alguém que não tivesse seu sangue puro”.

“Isso não importa, Granger. Mas não gosto de ter o nome de alguém que não escolhi marcado em meu braço, sendo obrigado a aceitar algo que nunca desejei....”

Ela pareceu acreditar em suas palavras, voltando o olhar à janela. “Sinceramente, não sei o que pensar. Mesmo que fique feliz com sua mudança de lado, não posso negar que me desconforta seja meu parceiro. Por tudo que ocorreu no passado, na nossa infância e no inicio da guerra.”

“Acredito que tenha mudado” continuou, “mas não significa que consigo apagar da memoria todas as coisas horrível que fez contra mim quando éramos mais novos. Posso perdoar, é claro, mas não ao ponto de aceita-lo como alma gêmea. Não que tenhamos a opção de escolher é claro”. Ela disse, a voz amarga. Não se importava em tê-lo ofendido ou não, ele sabia que falava a verdade.


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