SPIN OFF - Carta Para Você escrita por Carol McGarrett


Capítulo 4
Um Pãozinho No Forno


Notas iniciais do capítulo

Avisinho básico: cheguem até o final antes de jogar pedras em qualquer personagem!!
Divirtam-se com essa bagunça tamanho família!
Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/799091/chapter/4

Lembra que eu disse que nós iríamos viajar de novo neste ano. Então... a viagem para Israel não vingou. Nem saímos do chão. Não foi culpa de ninguém, ou foi, se eu escutar as lamúrias de meu pai, mas eu vou com calma senão ninguém vai entender nada.

Tudo começou com a volta de Kelly. Ela chegou faltando poucos dias para o meu aniversário, no finzinho de março, e já chegou querendo saber do roteiro que a Abbs tinha preparado, porque ela tinha que dar o pitaco dela.

O certo de tudo era que a Tia Ziva é quem tinha que dar o pitaco dela, pois é ela quem mais conhece Israel entre todos. E tia Ziva manteve-se caladinha.

Assim, Abby e Kelly, quando estava de folga do hospital, terminaram de organizar tudo, do hotel ao roteiro e os voos de ida e volta.

Tudo estava pronto e até Henry, que tinha ganhado as eleições e era o mais jovem prefeito da cidade de Washington, D.C., iria.

E nesse clima de férias, seguimos o restante dos dias, torcendo para que Agosto chegasse logo, até a Tia Ziva estava animada, e, toda vez que eu a encontrava, ela começava a falar que sentia falta de Israel, mas que não se arrependia de ter aberto mão da sua cidadania se fosse para ter a família que tem, e logo passava para a parte onde discorria sobre o que veríamos quando chegássemos.

O único pedido que ela tinha era que a deixássemos sozinha por um dia, pois ela gostaria de ter uma conversa com o pai dela.

— Sabe, Pingo de Gente, eu estou pronta para perdoá-lo por tudo, inclusive pelo que aconteceu na Somália. Eu deveria ter sabido à época, ele jamais me defenderia daquela forma se não fosse por interesse. Eu jamais deveria ter desconfiado de Tony, ter dado as costas para seu pai e sua mãe...

— E você acha que vai ficar tudo bem, tia Ziva?

— Como assim?

— Você acha que o Diretor do Mossad – ninguém o chamava de pai da Ziva mais no NCIS. – vai aceitar o seu perdão e o fato de que você virou americana e está viajando com a sua família para Israel?

— Vai sim, além do mais, se ele não aceitar, agora eu sei que tenho o melhor backup do mundo! – Ela piscou para mim. – E você, algum ponto de Israel que queria conhecer?

— A Fortaleza de Masada! – Olhei para ela. – Me prometeram isso há muito tempo, sabe?

Minha tia deu uma risada.

— Você tem uma memória de dar medo, Pingo de Gente!

Como eu já estava quase de férias, minha tarde foi gasta dentro do NCIS, na verdade, era para eu estar com Kells, mas ela disse que estava doente e não queria que eu pegasse o que quer que ela tinha, assim, sem mais aula de balé, sem mais apresentações, só as provas para fazer, eu estava passeando pelo NCIS, enquanto meus pais estavam presos no MTAC.

Depois de andar por todo o prédio e conversar com todo mundo, inclusive com os jardineiros, voltei para o escritório da minha mãe, onde meu material estava, ia revisar a matéria da próxima prova, quando dei de cara com meus pais saindo do MTAC.

— O que você está fazendo aqui, Sophie? – Mamãe me perguntou.

— Kells está doente. Ligou para o Melvin e ele me trouxe para cá, já que Noemi está de férias. – Expliquei.

— E o que você estava fazendo que não era estudar? – Papai me perguntou com aquele olhar de quem já sabia a resposta.

— Dando uma volta no prédio e conversando com os funcionários.

Mamãe só indicou a sala dela.

— Eu já estava voltando para lá. – Afirmei.

— É bom mesmo, só quero ver o resultado dessa prova de amanhã...

Corri para o escritório de mamãe, Cynthia só escondeu a risada.

— Ah, Pequena, você ainda vai se encrencar por ficar passeando pelo prédio.

— Qualquer coisa eu peço reforço para o Tony, tomar tapão em dupla dói bem menos! – Falei e fui estudar.

Fiquei por lá um tempão, eu posso até fazer hora para começar a estudar, mas é só pegar o livro que eu esqueço de largar. E foi assim que mamãe me encontrou, já tarde da noite, com a matéria da prova revisada e com a cara enfiada em um livro de ciências que a Abby tinha me dado.

— Isso vai cair na prova?

— Pior que vai! – Respondi. Mas mamãe não me deu atenção, estava com uma cara estranha. – Aconteceu alguma coisa? Tem outro maluco à solta? Porque vocês pegaram o Porto-a-Porto, não pegaram?

— Sim, pegamos. Isso está resolvido.

— Então o que é? – Minha mãe não é pessoa que dá uma resposta dessas e volta a ficar em silêncio.

— Kelly.

— É grave o que ela tem?

Mamãe fez uma careta.

— Depende do ponto de vista.

— Mamãe, eu não entendi nada.

Minha mãe respirou fundo, deu um mísero sorriso de lado e só disse, com um tom de profecia:

— Você vai entender na sexta-feira à noite.

Bem... o mistério misterioso envolto em uma aura enigmática só seria resolvido depois das minhas provas.

A semana passou rápido, eu não vi Kells nenhum dia, ela nem ligou lá para casa, mas eu sei que minha irmã estava conversando com a minha mãe, até porque eu vi Henry passar lá em casa, entrar no escritório de mamãe, pegar uma bolsa e sair, achando que tinha feito tudo isso escondido.

Como uma boa filha de investigadores, assim que Henry saiu, desci até o escritório e vasculhei o lugar, seja o que for que eles estavam fazendo, papai não sabia de nada.

Não encontrei uma mísera pista. Tinha me esquecido que quem planejou o crime foi mamãe. Assim, voltei para o meu quarto e decidi esperar a chegada do pessoal, sim, eu estava estranhamente sozinha dentro dessa casa, só Jet me fazia companhia, ele e o chat do NCIS que eu estava autorizada a acessar somente em caso de emergência.

Peguei um livro, me sentei no meu assento de janela, Jet ficou deitado no chão, bem ao meu lado, me protegendo como papai sempre o mandava fazer e lá fora, eu podia ouvir o detalhamento de segurança patrulhando.

Ducky tinha me dado um livro de Jane Austen, um dos favoritos de Kelly, que também era um dos favoritos de minha mãe e da Tia Shannon. Se chamava Orgulho e Preconceito, e eu me vi sendo transportada para a Inglaterra de mil setecentos e qualquer coisa.

Voltei tanto no tempo que dormi com o livro na cara e quase morri de susto ao cair de cara no chão depois de ouvir o assobio de papai ao chegar em casa.

— Jethro, pare de fazer isso, sua filha não é um cachorro! – Mamãe reclamou.

— Não estava chamando a Ruiva, estava chamando o Jet.

— Você bem sabe que a Sophie escuta esse assobio e sempre aparece. – Mamãe disse, pude escutar os passos dela subindo a escada. Me levantei meio grogue, tentando me lembrar em qual parte do livro tinha parado, Jet, por sua vez, estava parado, sentadinho, na porta do meu quarto, como se dissesse para quem aparecesse: “ela está bem e segura! Fiz meu trabalho, agora, cadê o petisco?”

— Miniatura? – Mamãe me chamou.

— No quarto. – Falei.

— Já está pronta para o jantar? – Ela tinha ido direto para o quarto, o que era mais estranho do que a visita sorrateira de Henry.

— Não. Dormi.

Os passos de mamãe mudaram de rumo na hora e ela parou na porta do meu quarto com cara de espantada.

Tive que me justificar diante das mil e uma perguntas que ela tinha no olhar.

— Não tinha nada para fazer, comecei a ler este livro, – Apontei para o livro que eu teria que começar a ler de novo, porque não me lembrava nada da história! – caí no sono e, bem, acordei com o assobio do papai.

— E pelo visto bateu o rosto no chão! – Ela entrou e andou até onde eu estava, pegou meu rosto nas mãos e olhou atentamente a minha testa.

— Nem tinha percebido.

— Não me impressiona, você é cabeça dura igual ao seu pai. – Ela deu um beijo no meio da minha testa. – Agora vá tomar um banho e escolha uma roupa bem fresquinha, está um forno lá fora, mesmo sendo só maio!

Fiz o que ela mandou e, assim que fiquei pronta, desci a escada, para encontrar papai sentado, com cara de poucos amigos, no sofá, acariciando as orelhas de Jet.

— Tá bonita, filha. – Ele comentou olhando o conjunto que vestia.

— Obrigada. E o senhor não tá nada mal. A mamãe te mandou usar um terno hoje à noite?

— Ao que parece toda a família Sanders vai estar nesse jantar.

— Ainda dá tempo de fingir que estou passando mal?

Papai só levantou a sobrancelha e olhou para trás de mim.

— Acho que isso é um não. – Murmurei e me virei para ver mamãe pronta, de braços cruzados me encarando um tanto enfurecida.

 - Eu estou passando bem. Era só uma brincadeira.

Como se estivesse de birra, papai se levantou, foi até o escritório dele, voltou com um molho de chaves e seguiu para a garagem.

— Jethro, não faça isso! – Mamãe o alertou.

— Fazer o que? – Perguntei, porém, foi tarde, eu entendi o que mamãe quis dizer ao ouvir o ronco do Dodge.

— Eu não sei o motivo para ele insistir em dirigir aquilo. – Mamãe sibilou, pegou um pacote e com um sinal de cabeça, me mandou ir para a garagem.

Papai já estava com o carro na rua, e batia os dedos no volante quando entrei, agora eu não precisava mais de assento elevado, então era só afivelar o cinto.

— Por que esse carro?

— Não gosto de dirigir o seu, Jen. E sei que você não quer ir na caminhonete.

Mamãe tinha pequenos problemas com a pick up de papai, e o maior deles e mais repetido era: a coisa é velha. Ela sempre reclamava e papai sempre a ignorava, comigo ele dizia que mamãe não iria jamais escolher que carro ele irá dirigir. Nunca dei a minha opinião quanto a isso, Ducky disse que isso se chama casamento, que às vezes, uma das partes faz algo só para irritar a outra de propósito.

Papai acelerou tudo o que podia, para desespero de mamãe.

— Para quem não gostou de saber que irá se encontrar com toda a Família Sanders, você está correndo demais, Jethro.

— Quanto mais cedo chegarmos, mais cedo saímos.

Eu não sei o motivo, mas eu tinha a estranha impressão de que nem tudo sairia como planejado. Não sei, algo no fundo do meu estômago me dizia que Kells tinha uma notícia para contar, e que papai não iria gostar.

Com papai dirigindo no limite da velocidade, chegamos na casa de Kells, pelo visto, dos outros convidados, só tinham chegado Claire e Louis,  o marido dela, o que não era ruim, pois Claire é quase da família! Meu pai parou o carro na entrada da garagem, bloqueando qualquer um que quisesse sair dali e novamente meu estômago deu uma volta.

Queria que a Abbs ou a Tia Ziva ou o Tio Ducky estivessem aqui para me falarem que isso não era nada.

Nem foi preciso tocar a campainha, Kelly abriu a porta assim que papai desligou o carro, e veio correndo em direção à mamãe e saiu rebocando-a para dentro da casa. Deixando papai com uma cara muito, mas muito razinza do meu lado.

— O senhor quer voltar para Alexandria? – Perguntei cheia de esperanças. Por um segundo ele parou, pensou, pesou a chave na mão e até mesmo a colocou na porta do carro para destrancá-lo. Contudo fez o oposto.

— Não, Ruiva, vamos entrar. Sua irmã está aprontando alguma coisa, sua mãe já sabe o que é, temos que descobrir antes de voltar para casa.

— Tudo bem! – Segui meu pai pelo passeio e logo estávamos na porta, que tinha ficado encostada.

— Comitê de recepção fraco esse. – Papai disse, pois o único que apareceu para no receber foi Nemo.

— Para onde nós vamos? – Olhei em volta, estranhamente Kelly não veio fazendo todo aquele estardalhaço como ela sempre fazia.

Papai me guiou até o sofá da sala de visitas e nós dois ficamos ali, ele quieto, testando o ambiente, eu brincando com Nemo, mesmo sabendo que Jet não vai gostar nada disso. E nisso se passaram quase quinze minutos, o que resultou em papai batendo o pé de nervoso.

Meu pai estava por um tris para voltar para casa, quando a campainha tocou.

É, tinha chegado o restante da família, agora não tinha mais como escaparmos. Como eu estava ajoelhada no chão, ajeitei minha roupa e me sentei ao lado de papai, tudo para que a Sra. Sanders não começasse a falar na minha cabeça e para que Alícia não debochasse de mim.

Henry foi atender a porta, e pelo menos para a família dele teve a devida recepção, pois logo Kells apareceu e cumprimentou a sogra com um abraço. Atrás dela vinham Claire e mamãe, que se sentou do meu lado e passava as mãos no meu cabelo, como se ela estivesse nervosa com algo. Eu só soube olhar para o meu pai, ele tinha a mandíbula contraída, não gostando de nada do que ele estava vendo.

A Sra. Sanders e o Senador vieram para sala e, como me ensinaram, me levantei para recebê-los e cumprimentá-los. Na verdade, era só um aperto de mão mesmo, eu não gostava de nenhum dos dois, mas era polida perto deles, sempre conversando e respondendo às suas perguntas da maneira mais gentil que eu conseguia.

— Ah, Sophie! Nossa Sophie! Tem tanto tempo que não te vejo! Olha o seu tamanho! Quer ser tão alta quanto o seu pai? Eu ainda acho que deveríamos te matricular em uma escola para modelos, você iria ser a próxima Gisele Bündchen!

— A senhora também está muito elegante, Sra. Sanders, adorei a cor do seu vestido. – Foi desse jeito que eu aprendi a sempre desconversar sobre uma possível carreira na moda que ela vivia falando, elogiando tudo o que ela vestia, o que acabava distraindo a sua atenção.

— Mas essa menina tem um olho para coisas bonitas! – Ela começou, me puxando pelo braço até onde ela queria se sentar e começou a falar sobre a dificuldade que foi para que ela comprasse aquele vestido. Ouvi tudo com muita atenção e falei meus Ah!, Oh! e Nossa! quando foi a hora e isso parecia agradar à sogra de Kelly.

Agradava à Sra. Sanders, mas não ao meu pai.

Quando o assunto se virou para a política, muito educadamente me levantei de onde estava e pedi licença, estava com sede e queria sair de perto da Bruxa do Capitólio, como ela foi apelidada por mim e por Tony. Corri até à cozinha, o pobrezinho do Nemo se escondia debaixo da ilha, peguei um copo de água para mim e outro para papai, e voltei para a sala, oferecendo aos demais.

Entreguei o copo à papai e me sentei ao lado dele, mamãe me puxou para o lado dela e sussurrou no meu ouvido.

— Continue sendo a garotinha do papai pelo resto da noite, ele vai precisar.

Não entendi o recado, mas algo no modo como mamãe olhou para Kelly me fez ter certeza de que iriam lançar uma notícia daquelas.

Kells e Henry se juntaram a nós na conversa, e, estranhamente, Henry não desgrudava de Kelly, eu sei que eles são casados, que eles sempre estão de mãos dadas, ou Henry está passando o braço ora nos ombros, ora na cintura da minha irmã, mas hoje a forma como os dois se abraçavam era diferente.

Fiquei me perguntando o que tinha mudado ali, porém sou a caçula do grupo e tudo o que eu faço é ficar sentada e calada, ou, às vezes, bancar a aprendiz de garçonete.

— Bem, a conversa está ótima, mas temos que jantar, não é mesmo? – Kelly se levantou de uma vez só como ela sempre faz, mas hoje ao fazer este movimento, ela parou e teve que levar a mão à testa. Henry a ajudou na hora.

Ao meu lado escutei meu pai prender a respiração e vi mamãe pegar a mão dele de uma forma bem firme.

— Sophie. - Ela me chamou. – Por favor, pegue outro copo de água para o seu pai?

— Sim. – Respondi me levantando e segui para a cozinha, devagar para não tropeçar no Nemo e ainda quebrar o copo.

Kelly estava lá dentro, e assim que me viu, se virou com os olhos arregalados e assustados na minha direção.

— Achei que era o papai. – Ela comentou.

— Ele está na sala, junto com o restante das pessoas. – Falei e abri a geladeira para pegar a água gelada.

— Como ele está?

Achei a pergunta de Kells tão estranha!

— Acho que ele sabe de algo que ninguém mais sabe... – Fui sincera. – Não sei o que é, mas ele ficou em um tom de vermelho diferente de tudo o que eu já vi.

Kelly mordeu o lábio.

— E, também não gostou de você não ter ido recebê-lo. – Emendei de uma vez e voltei para a sala, onde mamãe, discretamente, afagava o braço de papai enquanto conversava com o Senador Sanders.

Entreguei o copo a papai, que virou de uma vez só e depois me entregou de volta.

Sem querer ficar perto da Sra. Sanders e não entendendo nada da conversa, saí da sala, indo para cozinha para lavar e guardar os copos e, se desse sorte, poderia me sentar na porta dos fundos e brincar com Nemo. Na verdade, a única coisa que eu queria era entender o porquê que todo mundo estava agindo estranho.

Passei pela cozinha e Kells estava murmurando sozinha, fazendo contas com os dedos, Henry estava indo e vindo como um bobo, e toda as vezes que os dois se encontravam, sorriam. Achei aquilo extremamente meloso e quase que o pote de sorvete que tomei de tarde resolve fazer uma reaparição nada agradável.

Consegui chegar até a porta dos fundos e me sentei ali, estava doida para conversar com alguém que não estava agindo como um lunático, mas eu não tinha celular, então me contentei a ficar ali e observar a lua cheia e cantando as músicas do CD da One Direction.

Eu escutava os passos de todos, às vezes ouvia mamãe entrar na cozinha, murmurar alguma coisa com Kelly e depois voltar, os únicos passos que não ouvi foram de Alícia e de papai.

Não demorou muito e Henry chamou avisando que o jantar estava pronto, e foi só aí que notaram que eu estava “desaparecida”.

— Cadê a Ruiva? – Ouvi a voz de papai.

Eu sabia que ele me encontraria mais cedo ou mais tarde, mas não me mexi, preferia ficar com fome a ter que encarar uma mesa repleta de gente que estava fingindo que tudo estava bem. Acontece que na minha família esse tipo de coisa não existe, e logo ouvi papai parar atrás de mim, para a minha surpresa, ele não me deu um sermão sobre como eu devo me comportar quando sou visita, ele simplesmente se sentou do meu lado e disse a mais estranha das frases:

— Eu vou precisar que você fique do meu lado nessa noite, Ruiva. Mesmo que você não esteja entendendo nada.

— E pode apostar que eu não estou.

Ele suspirou do meu lado.

— Logo você vai entender, uma parte, pelo menos.

— Então vocês estão aqui! – Mamãe sibilou. – Jethro, era para você achar a sua filha mais nova, não se juntar a ela aqui do lado de fora!

— Lá dentro está muito quente, Jen. A Ruiva só estava respirando um pouco, não é filha?

Pensando no que tinha acabado de ouvir, eu só confirmei com a cabeça, eu não estava tomando um ar, estava fugindo da família mesmo.

— Andem, o jantar está servido. E Henry e Kelly têm algo para falar.

— Com coisa que você não sabe o que é, não é mesmo Jen? – Papai falou em um tom bem ofendido.

— Você também já sabe, Jethro.

— Deveria ter me contado.

— Prometi que não o faria. – Mamãe respondeu.

— Desde quando você é tão leal a eles, Jen?

Mamãe parou no meio da cozinha encarando papai. Ele a encarou de volta e tudo o que eu queria fazer era gritar para que as pessoas agissem normalmente na minha frente.

— Gente? – Kelly nos chamou e novamente não olhou para papai.

Escutei meus pais suspirarem e seguirem Kells. Não tive alternativa a não ser fazer o mesmo. Para minha completa infelicidade, me vi sentada ao lado da Sra. Sanders e de frente para Alicia. Agora quem teria que fingir algo era eu.

Todos estavam jantando calmamente, o papo sobre política imperava. A Sra. Sanders conversava com Alicia sobre qualquer coisa por cima da mesa, Claire estava em outro mundo com Louis e eu me vi encarando o purê de batatas, sonhando com um belo cachorro quente, quando Henry se levantou e pediu atenção, assim, desviei meu olhar do meu prato intocado para meu cunhado que estendia a mão para Kelly, ajudando-a a se levantar.

— Bem. – Ele começou olhando para todos que estavam à mesa. – Nós temos um anúncio para fazer.

— Espero que estejam anunciando o divórcio. – Alícia falou em tom de deboche. Todos olharam para ela, a Sra. Sanders meio que tentou fazê-la calar a boca. Já eu... ah, eu aturava as piadas dessa aprendiz de bruxa há muito tempo para ficar calada, ainda mais hoje que tudo estava tão louco, assim, aproveitando o fato de que a minha sapatilha tinha bico fino, sentei o chute mais forte que pude dar na canela dela por baixo da mesa.

Alicia sabia quem a tinha chutado e olhou para mim, furiosa.

— O que você pensa que está fazendo, sua Peste?

— Cala a sua boca! – Gritei, eu já estava querendo gritar mesmo então aproveite o momento. – E pode parar de debochar da minha irmã e do Henry. Você nunca falou uma coisa boa dos dois, todas as vezes só soube criticar o que eles fazem, só soube rir e ser cínica em todas as suas respostas. CHEGA!! Pare com isso! Se você não gosta da Kelly, se não gostou de que o Henry a escolheu para se casar com ele, eu tenho um conselho para você: BASTA NÃO APARECER AQUI! Ninguém vai sentir a sua falta, PORQUE NINGUÉM TE SUPORTA, SUA NOJENTA, MIMADA! E se não gostou do que eu falei, saia da mesa e da casa da minha irmã, Aprendiz de Bruxa! – E para encerrar a cena que estava dando, simplesmente peguei o copo com água que tinha na minha frente, e arremessei o conteúdo na cara dela.

Eu sei que foi demais, porque todos me olhavam espantados. Alicia não disse mais nada, só ficou ainda mais vermelha e saiu marchando da mesa, eu quase que arremessei o copo na cabeça dela, mas me contive. Quando notei que todos os olhares recaíram sobre mim, tive vontade de pedir desculpas, mas não o fiz, fiquei quieta e não abaixei a cabeça, Alicia estava merecendo aquilo há muito tempo.

Eu sabia de quem era aquele suspiro zangado, eu sabia que Claire estava segurando a risada, sabia que papai estava me olhando e que eu receberia um sermão quando chegássemos em casa, mas eu não esperava escutar o que escutei.

— Alicia estava merecendo ouvir isso desde sempre, Caroline. Como você não controlou a sua filha caçula, alguém teve que ensiná-la da pior forma. Obrigado, Sophie, por fazer isso. Agora ela para de implicar com o restante da família. Henry, Kelly, por favor, continuem. Como Sophie bem frisou, Alicia não faz falta. – O Senador Sanders disse e olhou para o casal que estava na ponta da mesa.

Kelly apertou a mão de Henry, mas Henry, ele apenas olhou na minha direção e piscou para mim.

— Qual é o anúncio tão importante? – A Sra. Sanders perguntou do meu lado, definitivamente ninguém se importou com a ausência de Alicia, mas eu podia sentir o olhar de mamãe na minha direção, ela tinha se importado com o que eu tinha feito.

Henry e Kelly trocaram um olhar, o sorriso dele era imenso, Kelly ficou vermelha diante do olhar dele, depois os dois se viraram para todos nós e soltaram, juntos, como se fosse combinado.

— A família vai aumentar! – Disseram.

Claire deu um pulo e correu até eles, abraçando-os de uma única vez.

— Que lindeza!! Eu estou tão feliz por vocês! – Ela pulava e falava ao mesmo tempo.

— Já não era sem tempo. – O Senador falou ao abraçar minha irmã e dar um beijo na testa dela. Depois deu um abraço em Henry.

— MEU DEUS! – A Sra. Sanders gritou do meu lado. – Um bebê!

E foi só aí que minha ficha caiu.

A Kelly e o Henry iriam ser pais. Era por isso que ela estava passando mal nessa semana. Pelo que Ducky me contou uma vez, gravidez, principalmente no início, causa enjoos.

E Caroline Sanders ainda falava pelos cotovelos sobre o bebê, roupinhas, enxoval, batizado, padrinhos e um monte de coisas que só fizeram a minha cabeça dar um nó.

Fiquei tão desnorteada pelo falatório da Sra. Sanders, que agora estava abraçando Kelly, que só fui notar a ausência de reação da minha parte da família, quando levantei a minha cabeça e vi papai. Ele olhava para o casal esperando a vez dele de falar, talvez. Já mamãe se juntou à Sra. Sanders e juntas (SIM, ISSO ACONTECEU!!) estavam conversando com Kelly sobre como o início de uma gravidez poderia ser estressante.

— É claro que você já sabia, não é mesmo, Jenny? – Escutei a Sra. Sanders falar.

— Mas é claro, é minha filha quem está grávida. – Foi a resposta de mamãe.

Foi aqui que eu percebi o sentido do que mamãe havia dito e feito no início da semana e do que papai tinha me dito momentos atrás, e, sem falar nada, saí do meu lugar à mesa, dei a volta por onde ninguém estava e parei do lado da cadeira dele.

— Tá tudo bem, papai? – Perguntei baixinho.

— Em que parte, Ruiva?

— Não sei... – Dei de ombros e olhei para todos os presentes, todos, estavam circulando Kells e Henry, falando ao mesmo tempo. – Talvez com relação àquilo.

—  É, ela poderia ter conversado comigo como fez com a sua mãe.

— Mas não fez.

— Não.

— Por quê? – Eu quis saber, afinal, ela estava evitando papai de qualquer jeito.

Papai abriu um sorriso.

— Lembra que eu te falei que talvez você não entendesse tudo.

— Lembro.

— Por essa parte, que você ainda não entende.

— E lá vamos nós para um mistério. – Reclamei.

— Mistério só tem um aqui. – Ele disse e levantou uma sobrancelha na minha direção, e eu entendi na hora.

— Ela mereceu. – Respondi em russo, era assim que nós dois conversávamos quando não queríamos que mais ninguém entendesse o assunto.

— Disso eu não duvido. Mas precisava ser hoje?

— Eu poderia ter esperado. Mas eu já não aguentava mais o que ela estava fazendo, desde o noivado da Kells e do Henry que ela faz isso, ela tá sempre debochando da Kelly, da tia Ziva, da Cynthia, da Abby!! Fiquei calada por muito tempo.

— Você sabe que a sua mãe vai querer te por de castigo por isso, não sabe?

— Já imaginei. Contando que eu possa ir para Israel em agosto. Eu fico dentro do meu quarto até a data do embarque. – Não, eu não estava nem um pouco arrependida do que eu tinha feito, Alicia tinha magoado muita gente da minha família e saído sem ninguém falar nada.

— Não acho que vamos para Israel. – Papai falou tranquilamente.

— Já tá tudo arrumado, papai. Nós vamos.

— Não, Ruiva, não vamos. Kelly não vai poder viajar tanto tempo, se o que entendi da conversa está certo.

Isso foi um verdadeiro balde de água fria.

— Além do mais, sua mãe não vai deixá-la sob os cuidados da sogra. Jamais.

Encarei meu pai.

— Isso é sério? – Eu quase comecei a chorar. – Mas a Tia Ziva está tão animada em voltar lá e fazer as pazes com o Diretor do Mossad... a Abbs! Ela organizou tudo com carinho.

— Não se preocupe com elas, te garanto que elas vão entender os motivos.

Só que eu não entendia. Não via o porquê de Kelly, mesmo estando grávida, não pudesse viajar. No ano passado tinha um monte de mulher grávida dentro do aeroporto e no nosso voo, tanto quando fomos como quando voltamos de Paris.

— Elas vão ficar daquele jeito também? – Apontei para o grupo. Não cheguei a olhar para lá, estava virada para papai.

— Com certeza vão. Eu arrisco em dizer que Abby estará um pouquinho mais eufórica.

Arrisca? Papai o senhor não arrisca um palpite. – Falei.

Ele abriu um sorriso.

— Abbs vai ser dez vezes pior! – Ele disse sorrindo.

— Agora eu tô até com medo! – Respondi e caí na risada também.

Não tinha reparado que tudo estava em silêncio e só eu e papai conversávamos, até que Kelly soltou:

— Que bonito, agora conversam em outro idioma para ninguém entender?

Senti meu rosto esquentar. Papai só olhou para ela e soltou:

— Pelo menos a Ruiva conversa comigo.

— Jethro! – Mamãe disse toda ofendida.

— Isso é verdade. – Kells disse. - E então, pronto para ser vovô?

Vovô.... papai iria ser vovô do filho de Kelly. O que me tornava...

— Eu vou ser chamada de TIA???? – Perguntei para papai, era para ter sido baixinho, mas minha voz saiu meio esganiçada.

— Até que ela demorou para ligar os pontos! – Henry falou.

Tia... como eu poderia ser tia de alguém quando eu ainda chamo pessoas, que nem meus tios de verdade são, de Tia e Tio? Quando eu ainda, sem querer, chamo a minha professora de Tia, mesmo sabendo que não posso??

EU NÃO POSSO SER TIA! Eu sou uma criança! Crianças não são tias de ninguém, são sobrinhas!!!

— É, Ruiva, você vai ser tia. – Papai falou olhando para mim e segurando a risada.

— Mas eu sou criança!!! – Escondi meu rosto no ombro dele.

Foi o que bastou para todos caírem na gargalhada.

— Agora você é criança? Para defender a sua irmã você parecia a versão Ruiva da Ninja do Mossad! – Ele voltou a falar russo.

— Alguém tem que defender a Kelly, né? E eu não quero ser tia!

— Um tanto tarde para isso, Ruiva. Você já é tia!

— Como eu ia saber que é tarde, sendo que eu nunca pensei que seria tia?!

— Será que vocês dois podem fazer o favor de voltarem a falar um idioma que todos entendam? – Mamãe ralhou.

— Continuo não querendo ser tia! – Murmurei ainda em russo.

— E você acha que eu sou velho para ser avô?

Eu não soube o que responder!

— O que a Kells tem na cabeça?

— Por favor!! Eu não falo... que idioma é esse? – Kelly falou chegando perto da gente.

— Russo. – Respondemos.

— Por que eu pergunto? – Ela suspirou cansada e se sentou na cadeira do lado de papai. – E aí, Moranguinho, pronta para ser chamada de Tia?

Fiz uma careta.

— Vou aceitar isso como um não. – Ela disse. – Você tem sete meses e meio para se acostumar.

— Já tem a data, filha? – Papai conversou com Kelly pela primeira vez na noite.

— Sim, eu tenho. E, bem, isso ninguém sabe ainda, só eu, e acho que vou contar para todo mundo ao mesmo tempo. – Aqui, minha irmã parou e fez um suspense. Henry, na hora, veio para o lado dela.

— Chega de suspense, Kelly, conte logo. São gêmeos? – A Sra. Sanders falou alto.

Se um bebê me chamando de tia já tinha quase me matado, dois ia ser o meu fim.

— Não, não são gêmeos. Ainda bem. – Kelly disse com um sorriso. – Mas eu não vou fazer suspense quanto a isso. Estou esperando um menino.

Esse era o segredo? Grande coisa!

Eu posso não ter ligado, mas Henry achou a melhor notícia do mundo.

— Então vai ser William?

— Sim. William vai ser o nome dele. – Kelly disse com um sorriso. – E agora, Marine? Pronto para ter um garotinho correndo no seu quintal? Brincando com o seu cachorro?

O cachorro é meu!! E ninguém vai brincar com o meu Fuzileiro! – Pensei, mas me mantive calada, já basta uma cena por noite.

Senador Sanders comentou que era um bonito nome, forte também, e que ele tinha certeza de que o neto seria político como ele, afinal estava no sangue. Caroline Sanders pediu para o marido ter calma, mas já estava querendo fazer algo com o monograma do nome do neto.

Papai só respondeu para Kells.

— Vai ser diferente, mas...

— Mas? – Kelly e Henry quiseram saber.

— O cachorro não é meu! – Ele disse e olhou na minha direção.

Ainda bem que ele se lembrou disso.

Mamãe logo apareceu atrás dele e o abraçou, eu fugi do alcance dela na hora, sei que ela ainda vai falar horrores na minha cabeça.

Claire voltou ao assunto de bebês e começou a pensar no quarto.

— Eu que não vou comprar um berço! Tem um carpinteiro na família e é para isso! – Kelly olhou sugestivamente para papai. – E ele tem uma ajudante.

Quase que eu pedi para ela me esquecer!

— E não faz essa cara, Sophie! Você ajudou a fazer os móveis da minha casa, vai ajudar a fazer os móveis do quarto do bebê também! Ou eu nunca mais faço nada para você!!

Encarei a minha irmã. Ela realmente estava me ameaçando?

— Você vai ajudar o papai. – Ela mandou.

Fiquei calada. Vi que não valia à pena discutir, não hoje, e muito menos quando todos estavam ao lado dela. Eu precisava do Tony urgentemente! Pelo menos ele iria ficar do meu lado.

Os adultos se sentaram novamente, conversando sobre como seriam os próximos meses. E aí o assunto Israel entrou em pauta.

— Mas é claro que você não vai! Não pode se arriscar a viajar tanto tempo! – Sra. Sanders disse. – É perigoso!

— Eu sei. Não vamos mais. – Kells respondeu. – Mas o restante do pessoal pode ir tranquilo. Em agosto eu vou estar de... cinco meses e meio, quase seis, nada de anormal deve acontecer.

Fiquei feliz, Kelly e Henry não iriam, mas o restante do pessoal ia.

— Ninguém vai, Kelly. Vamos todos ficar aqui. – Mamãe falou firme. Por um segundo desejei que Alicia aparecesse, soltasse uma piada só para que eu pudesse descontar minha raiva nela.

POR QUE NÓS TÍNHAMOS QUE FICAR?? Kelly estava grávida, não doente. E ela é médica, sabe se cuidar!

— Acho que vocês devem ir. – Minha irmã falou.

— Não mesmo. E se vocês precisarem de algo? Não é, Jethro?

Papai concordou e eu tinha perdido o meu aliado!

Decidi não escutar mais nada, fiquei calada, mas não com cara de emburrada, apenas quieta, como se estivesse prestando atenção em algo. Até que me lembrei...

— Uhn... papai, me empresta o seu celular, por favor? – Pedi em uma pausa da conversa.

Ele só arremessou o aparelho na minha direção, sem fazer pergunta. Achei foi bom. Mas mamãe o interceptou e o devolveu para meu pai. Eu definitivamente estava de castigo novamente. E iria durar até setembro, pelo visto.

— Agora, vocês têm que contar para? – Claire começou.

— Nossos avôs. E o restante da família mesmo. Ninguém sabia até hoje. – Kelly disse.

— Seu avô vai ser bisavô!!! – Claire disse empolgada. - Gostaria de poder ver a carinha dele quando ele receber a notícia.

Kelly, creio que não deveria estar pensando direito, resolveu ligar para vovô na hora.

E, eu tenho que dizer, eu amo o meu avô. De verdade! Pois assim que o casal deu a notícia de que ele seria bisavô, ele os cumprimentou, deu os parabéns e depois, bem, depois... com a ligação em pleno viva-voz, meu avô me solta:

— Sophie, eu sei que você está aí, se começarem a só falar de bebês na sua cabeça, me fale que vou te buscar aí em Alexandria. E você vai poder trazer o seu cachorro também.

— Puxa-saco! – Kelly murmurou brincando.

Pelo menos tinha sobrado alguém, né?

— Tudo bem, vovô, eu te falo. Se tudo der errado.

Errado já estava, eu estava de castigo, jamais mamãe me deixaria ir para Stillwater nesse verão, ainda mais sozinha com o meu cachorro, porém eu não iria reclamar, aprendi que quanto menos eu falo, menos me encrenco. Claro, isso não vale para quando o Tony está por perto!

Ia ser o pior verão de todos.

—-----------------------------

— Eu ainda não acredito que a Peste Ruiva me abandonou aqui! – Tony murmurou.

— Ela não te abandonou, Tony. Por favor! – Falei pela décima vez. – Ela só foi visitar o Jack.

— Zee-vah! Ela se foi tem seis semanas. E nas últimas oito semanas tudo o que se fala aqui é: O Bebê de Kelly.

— Olha, eu até entendo que a Sophie esteja com ciúmes, ela é uma pré-adolescente prestes a perder o posto de criança da família, mas você, Tony?

— Nem estão chamando a Peste Ruiva pelos apelidos. Ela agora é Sophie ou a Futura Titia!! Vocês estragaram a minha parceira de crimes! – Ele reclamou.

Gibbs passou atrás dele e deu um sonoro tapa na sua cabeça.

— Vou calar, Chefe. – Ele disse e se sentou, tirando o celular do bolso.

— Lá vai ele ligar para a Sophie. – Abbs brincou. – Mas, vamos voltar, como vamos fazer o chá de bebê?

— Jenny disse que Kelly não quer uma coisa muito grande e que ela e a Sra. Sanders estão olhando os detalhes.

 - É por isso que a Peste Ruiva foi para Stillwater, nem ela aguentou a chatice da Esposa do Senador... – Tony murmurou.

Resolvemos ignorá-lo e partimos para as melhores datas, Kelly queria a festa antes do aniversário dela, assim, estávamos entre a última semana de agosto ou a primeira de setembro.

— Fico com a última de agosto. Não vou estar parecendo um balão, ainda. – A mamãe do ano chegou. Sua barriguinha já começando a aparecer. Gibbs logo deu a cadeira dele para a filha se sentar e ela a arrastou para perto da minha mesa. – Jenny e minha sogra?

— Saíram para almoçar. – Abby informou.

— E pensar que as duas se evitavam igual gato e cachorro! – Tony tornou a murmurar.

Logo Breena apareceu, ela era outra que estava nas nuvens com a notícia.

— Oi meninas!! Boa tarde! – Nos cumprimentou.

Passamos para a lista de convidados em um pulo, era uma sexta-feira bem tranquila no Estaleiro.

— Nossa, tá tão quieto e tranquilo aqui hoje! – Kelly comentou olhando em volta, sua mirada parando em Tony que tinha o celular na mão e ignorava tudo e todos.

— Isso é porque a Sophie não está aqui. Ela é quem fala pelos cotovelos. – McGee falou de sua mesa. – Junto com o Tony, é claro!

Kelly começou a rir.

— Deve ser isso mesmo.

E vendo que estávamos falando de Sophie, Tony apenas se levantou e deixou a sala.

— O que deu nele? – Breena quis saber, porque até mesmo Tony estava estranhamente calado nessas últimas semanas.

—  É a única pessoa que efetivamente está sentindo falta da Sophie. – Abby falou.

Essa eu achei injustiça, eu também estava sentindo falta da minha sobrinha ruiva.

— Abbs! – Gibbs disse da mesa dele.

— Sim, Gibbs? – Ela se virou rapidamente.

Gibbs só encarou a cientista.

— Não entendi. – Ela disse confusa. E nisso todos olhamos para ele.

— DiNozzo não é a única pessoa que está sentindo falta da Ruiva. E podem parar de falar nela como se, agora que ela não será mais a criança da família, ela fosse a pior pessoa do mundo. Esse foi um dos motivos que ela foi para Stillwater.

Depois dessa, até eu diminuí nas brincadeiras. Mas Gibbs não estava errado. Passamos as duas primeiras semanas depois do anúncio de Kelly, falando na cabeça de Sophie que agora ela deixaria de ser a criança e que tinha perdido o status de queridinha para o sobrinho ainda não nascido.

Falamos tanto, que em um sábado à tarde, quando estávamos na casa dos Gibbs, pegamos ela ligando para Stillwater, chorando e implorando para o avô vir buscá-la em D.C., no domingo cedo, Jackson chegou, mandou ela fazer as malas e contra as ordens de Jenny e de Gibbs, levou Sophie e Jet embora. Isso foi no começo de junho, já estamos no meio de julho, e ela, agora, só conversa com Tony, ligando quase todos os dias.

Ficamos em silêncio por um tempo, todo mundo com cara de culpado, afinal, no fundo, no fundo, essa viagem de Sophie tinha sido nossa culpa.

— Quando que ela volta? – McGee foi o corajoso a fazer a pergunta que todos queriam agora.

Gibbs deu um suspiro e olhou para o relógio, no exato momento em que Jenny e Caroline Sanders saíam do elevador.

— Por ela, só em setembro, quando as aulas retornarem, e se deixar, ela chega só na segunda e vai direto para a escola.

Definitivamente não era só Tony quem estava sentindo falta dela, o pai também.

Depois dessa, já com a presença de todas as mulheres, fomos para a sala de Jenny e acabamos de discutir todos os detalhes do Chá de Bebê, que ficou marcado para o último domingo de agosto, quase um mês antes do aniversário da mamãe.

—------------------------------

Eu nem conseguia acreditar que já estava entrando no último trimestre! Meu bebê já estava quase chegando e hoje seria o dia do Chá de Bebê de William. Tudo devidamente organizado pela minha sogra, minha mãe, minhas irmãs postiças e minhas amigas.

Faltou alguém, né? Pois então. Sophie ficou de fora. Não era essa minha intenção, mas acho que brincar com ela de que ela agora não era mais a queridinha de ninguém foi demais. Isso e o fato de que todo mundo parou de chamá-la pelos apelidos e de dar atenção a ela, pois todos, só olhavam por mim nos últimos meses.

Claro que eu gostei, mas me esqueci que minha irmã tem 11 anos e apesar de já entender muita coisa, merecia um pouquinho mais de explicações, afinal, eu a deixei de fora de tudo desde o início.

E, a verdade é que ninguém, a não ser Tony, meu pai e Jenny, vê a Moranguinho desde junho. Estamos no último final de semana de agosto, as aulas dela voltam em três dias e eu nem sei se ela já chegou à Capital.

Sendo sincera, eu estava sentindo a falta dela, de chegar na casa de papai e vê-la sentada na sala de TV lendo um livro com o Jet aos seus pés, de escutá-la murmurando em outros idiomas enquanto ajudava Noemi a arrumar a casa, de me ajudar a escolher uma roupa para vestir! Principalmente isso. Ela nem participou da escolha do enxoval de William. Não comprou nem uma roupinha que fosse do gosto (caro) dela.

— Você já está pronta? – Maddie apareceu na porta do meu quarto.

— Não. Não sei o que vestir. – Falei sincera, ainda estava com um vestido de verão meio velhinho e bem larguinho. O calor desse ano tinha sido recorde, para a minha sorte, e eu mal entrava em alguma roupa de tão inchada que estava.

— Um vestido, talvez? Com essa barriga desse tamanho! – Ela mostrou os vestidos no meu closet.

— Eu só entro em vestidos agora. – Comentei. – Esse menino vai ser enorme.

Maddie correu até o cabide e me trouxe um vestido estampado. Como eu não estava com paciência para escolher nada, agradeci a ajuda e ela saiu do quarto, berrando para quem quisesse ouvir que o cérebro da grávida tinha dado pane e eu não sabia o que vestir.

Ela não entendeu minha agonia... eu sempre tive a minha estilista pessoal ao meu lado, para todos os momentos! Minha irmã, no alto dos seus sete anos, escolheu o meu vestido de noiva! Ela tinha que estar aqui para me ajudar agora!

Só que ela não estava. E eu não fazia ideia se ela iria aparecer, porque eu não sabia se o meu avô viria para o Chá de Bebê.

Me arrumei com o vestido que Maddie escolheu, nem me olhei no espelho para ver como ficou. Abri a porta e dei de cara com Henry.

— Está tudo bem?

E eu não sabia se era consciência pesada, ou se eram os hormônios, ou se era culpa dos dois, eu o abracei e comecei a chorar. Henry me levou para dentro do quarto e se ajoelhando na minha frente, apenas disse:

— O que tem de errado?

Então ele sabia que não eram os hormônios...

— Estou me sentindo culpada.

— Por?

— A Moranguinho. Ela não está aqui, está?

— Não, ainda não chegou.

— Eu afastei a minha irmã com todas aquelas piadas sobre ela ser tia, não ser mais a queridinha de ninguém, Henry. – Eu fungava. Só para variar sairia com o rosto e os olhos vermelhos nas fotos.

— Ela só está sendo criança, Kelly. Tudo sempre foi ela, é difícil para Sophie se acostumar com a mudança que está chegando. E chamá-la de tia, não foi a melhor das suas ideias, assustou até a Claire!

— Eu sei... mas a Claire aceitou rápido.

— Claire adora crianças, Kells.

— Sophie está naquela fase que ainda é e, ao mesmo tempo, não é mais criança... imagina o que ela deve ter pensado de todas essas brincadeiras?

— Kelly, Sophie é mais inteligente que mais da metade das pessoas que estão no nosso jardim, ela vai se acostumar com a ideia. Não se preocupe. E ela também vai se acostumar que todo mundo cresce.

— Ela teve que crescer há muitos anos, Henry... – Comentei.

— Não fica assim, sua irmã pode não ter dado pitaco em nada, mas ela ainda é sua irmã. E, cedo ou tarde, vai começar a encher a sua paciência.

— Será?

— Ou pelo menos a do seu pai ela vai, até porque ele a está esperando voltar para começar a fazer o quarto do nosso filho.

— Mas ela não está aqui! Não vai ter foto com ela!

— Você acha que a Jenny iria deixar a filha fazer isso? Não aparecer em uma festa da família?

— Acho que não. – Murmurei. Realmente Jenny não a deixaria fazer isso. Então me lembrei de outro fator. – Israel.

— O que tem Israel?

— Ela não foi por nossa causa. – Apontei para mim e minha enorme barriga. – E ela estava contando os dias para a viagem, tinha até os lugares onde ela queria ir!

Henry riu.

— Sophie vai viajar muito mais do que nós, pode ter certeza. Um dia ela vai até lá, e terá um roteiro só dela. Aposto tudo o que você quiser nisso.

— Mas eu queria ter ido com ela!

— Vocês vão ter oportunidades para viajar. – Ele me garantiu. – Pronta para encarar as feras e as fotos? Abby já estava desesperada quando eu subi.

— Mais ou menos. – Falei. – Porém, vamos lá, William merece! – Coloquei um sorriso no rosto e esperava encontrar a minha irmã mais nova lá embaixo.

—------------------------

— Vovô, não se esqueça que eu ainda tenho que passar em casa. Preciso de um banho. E temos que deixar o Jet lá também, o pobrezinho precisa correr para se alongar... – Falei para ele.

— Você está fazendo hora, não está?

— Sim. Festas na casa da Kelly são sem graça. Sempre são.

— Mas você vai poder rever todos os seus irmãos emprestados, depois de quase três meses, Pequena.

Dei de ombros.

— É, vou. – Sem querer ser a chata, mas passar três meses em Stillwater foi a melhor ideia que vovô me deu. Fiquei livre da sogra chata da Kelly, não precisei ficar dentro de casa sozinha e, o melhor, eu ganhei dinheiro! Trabalhei para vovô com um salário de vinte dólares por semana, fiquei doze lá, voltei para D.C. com duzentos e quarenta dólares, conquistados com meu trabalho. Eu ia conseguir isso, ficando em casa e vendo minha mãe se tornar amiga da Sra. Sanders? Claro que não, né? E, para falar a verdade, foi até legal esquecer todo mundo daqui. Pelo menos as piadas pararam e eu pude assimilar que agora, eu não era mais a caçula da casa e que o mundo não girava ao meu redor. Ninguém tinha culpa de nada, era só a realidade, todo mundo cresce, chegou a minha vez!

Vovô parou na porta de minha casa, peguei minhas chaves e abri a porta, Jet foi igual a uma bala atrás de sua vasilha de água. Corri atrás dele, não sabia se tinham deixado tudo pronto, não tinham, assim, ainda arrumei a água e a comida dele antes de subir para o meu quarto com as minhas coisas e tomar um banho.

Depois do banho, mexi no meu closet atrás de uma roupa, escolhi um vestido, ele ficou curto, outro, e ficou apertado...

Será que eu tinha engordado tanto assim?! Devia ter maneirado nos doces e nos chocolates, que eram a minha outra forma de pagamento, principalmente quando eu me voluntariava para carregar as compras do mais velhos até as casas deles.

Corri para o closet, atrás de outra roupa, até que vi que tinha um bilhetinho na porta, pela letra, era de papai.

Tem cinco semanas que não te vejo, filha, mas acho que o vestido vai te servir.

Meu pai tinha me comprado uma roupa! O MEU PAI?? Onde estava a minha mãe?? Foi abduzida pela família Sanders??

Peguei o vestido novo e coloquei, ficou certinho. Os sapatos foram outro problema, primeiro porque eu passei quase todo o meu tempo descalça, segundo, estavam pequenos! Credo! Ficar longe de casa muda até o guarda-roupa!

Escolhi uma sandália que não ficou pequena nem apertando, mas que eu sabia que não duraria muito mais tempo, e, depois de pegar uma bolsa, onde coloquei um livro – já sabendo que não vou ter nada para fazer lá, melhor prevenir e levar algum divertimento. – E desci para a sala.

— Agora estou pronta! – Falei para vovô.

— Já não era sem tempo. Daqui a pouco o seu pai coloca o NCIS...

Ele nem terminou a frase e o telefone tocou. Passei o olho no identificador de chamadas.

Era Tony.

— Oi, Tony?

— Vocês já estão vindo? Isso aqui já começou!

— Sim, vamos sair agora.

— Ótimo. Traz algo para fazer.

— Estou levando, Tony. E eu trouxe um presente para você!!! Vai ficar aqui em casa porque não pode ficar no sol, mas depois você pega!

— Agora eu gostei! – Escutamos Ziva o chamar e ele teve que desligar.

Vovô me ajudou a subir na caminhonete e eu fui guiando-o pelo caminho, ele não sabia, ainda, chegar na casa da Kells.

— Tem muita gente! - Comentou ao ver a quantidade de carro.

— Henry é o Prefeito, vovô. Devem ter chamado um monte de gente importante. – Falei.

Vovô parou distante da casa, afinal era o único lugar na rua onde tinha vaga. E, antes mesmo que eu visse a casa de Kelly, eu vi Tony.

— Peste Ruiva!! Ainda bem que você voltou!! – Só que antes de me abraçar, ele parou e me olhou. – Você andou comendo fermento?

— Não, por quê? – Perguntei assustada, pensando que tinha uma mancha branca no meu vestido novo.

— Você não era desse tamanho! – Ele parou do meu lado e eu vi que estava batendo quase no ombro dele.

— Então foi por isso que minhas roupas não me serviram! – Falei.

Tony e vovô riram. E começamos a ir na direção da casa.

— O que tem de presente para mim?

— Aqueles doces que você tanto gosta, lá de Stillwater, deixei lá em casa, depois você passa e pega.

Chegamos na porta e Tony a abriu, logo Nemo veio latindo, cheirando os novos visitantes. Demorou, mas o lesado do cachorro da minha irmã me reconheceu e começou a abanar a cauda me saudando, fiz um carinho nas orelhas dele e fiz meu caminho para a porta dos fundos, já que a festa era no jardim.

Parei na porta e a primeira pessoa eu vi foi Kelly. Ela parecia que estava me esperando, pois foi eu parar na porta que ela se virou e veio praticamente correndo na minha direção. Minha irmã estava imensa de grávida, era até estranho, parecia que ela tinha engolido uma bola de pilates, o que tornava as passadas dela iguais às de um ganso.

— MORANGUINHO!!! – Ela falou feliz! – Você veio! – Ela abriu um sorriso imenso ao me ver. E, ao escutarem o grito dela, todos olharam na minha direção, por um segundo pude ver as expressões de meus pais e eles estavam assustados, da mesma maneira que Tony ficou quando me viu.

 Com Kelly ainda vindo na minha direção, eu reparei em outra coisa, uma que a sua barriga de grávida não tinha me deixado ver.

O vestido que ela estava usando.

E eu não consegui ficar calada!

— O QUE É ISSO QUE VOCÊ ESTÁ VESTINDO, KELLS? – Falei assim que ela chegou perto de mim. – Nada disso, como você pôde vestir algo tão feio?? Quem escolheu isso? A mãe do meu sobrinho não vai vestir essa coisa horrenda! – Fui perguntando, reclamando e a puxando pelo braço até o quarto dela.

Antes mesmo de sairmos da cozinha, escutei Henry:

— Então, Sophie, finalmente, está de volta!!

Só soltei o braço de Kelly quando chegamos no quarto dela, deixei ela sentada na cama e corri para dentro do closet, lá tinha que ter algo que ela pudesse vestir. Procurei por um bom tempo, até que achei.

— Toma. Coloca esse vestido! – Entreguei um vestido liso, azul bebê para ela. Que marcava a cintura e não a barriga. – Agora eu vou procurar um outro sapato para você! Você não pode calçar isso, vai te machucar... – Reclamei ao ver que ela usava uma sandália de tiras que tinha apertado e muito o pé dela.

Kelly se levantou devagar e, ao invés de pegar o vestido, veio até a minha direção e me abraçou apertado.

— Me desculpe! – Ela começou a chorar!

Vovô tinha me dito que grávidas são instáveis, que vovó chorava por qualquer motivo quando estava grávida de papai, então eu tinha que ter paciência com Kelly.

— Por?

— Eu te mandei para Stillwater sem querer! Não deveria ter ficado brincado com você!!! E, você não estava aqui para me ajudar e eu só percebi a falta que você faz quando não consegui me arrumar hoje! Porque você não estava aqui para me arrumar!! – Ela apertou o abraço e eu me vi espremendo a barriga dela.

— Eu fui para Stillwater porque eu quis. – Falei.

— Moranguinho, nós duas sabemos que não era para Stillwater que você queria viajar...

— Ninguém iria sem você, Kells. Nem eu! Agora troca esse vestido horroroso, retoca essa maquiagem, coloca essa sapatilha aqui, que essa é a primeira festa do seu filho! – Falei a empurrei para o banheiro.

Não deu dois minutos...

— Preciso da sua ajuda para fechar o zíper!! Eu estou imensa! E ainda vou ficar maior!

Gravidez era assustadora! Mas não falei isso para a minha irmã!

Ajudei Kelly, até com a maquiagem... porque até nisso ela tinha exagerado, depois saímos do quarto, para darmos de cara com...

— Mamãe?!

Minha mãe correu até onde eu estava e me deu um abraço tão, mas tão apertado, que eu perdi todo o ar dos meus pulmões.

— Eu mandei uma menina de um metro e meio de altura para o interior da Pensilvânia, e me devolveram uma modelo! – Ela brincou. – Eu senti sua falta, Miniatura! Nunca mais fique tanto tempo longe de mim! – Ela ralhou, mas vi que seus olhos estavam marejados.

— Isso eu não posso prometer, Stillwater foi uma viagem bem lucrativa!

— Depois você em conta como foram seus três meses lá. Mas, só me conta, por que tão alta?

Eu não tinha visto essa mudança toda que todos estavam notando, mas preferi ficar calada.

— Essa aí quer ser tão alta quanto o papai. – Kelly comentou e puxou o meu braço. – E aí, agora eu pareço a esposa do Prefeito? – Brincou.

 Mamãe olhou para Kelly.

— Muito melhor!

— Moranguinho, você está proibida de passar tanto tempo longe de nós!! Eu não consigo pensar sobre roupas sem você por perto. E eu acho que a sua mãe exagerou na festa! Definitivamente, precisamos de você aqui! – Minha irmã falava enquanto descíamos a escada devagar.

Quando saímos para o jardim, todo mundo nos olhava, Kelly, que realmente deveria estar com o Tico e Teco batendo mal, só falou.

— O que, eu não posso ficar feliz por ter a minha irmã mais nova de volta?

Mesmo que baixinha, escutei a risada de vovô.

— Você tem certeza de que vai ficar bem? – Perguntei para a grávida doida que estava com o braço no meu.

— Vou sim, mas você vai aonde?

— Ver o papai, tem quase mais de um mês que eu não o vejo! – Falei e a entreguei para Henry. – Toma conta dela, o cérebro tá dando tela azul da morte atrás de tela azul da morte. – Falei para desespero da minha irmã.

Dei dois passos e literalmente trombei com a Sra. Sanders.

— Sophie! Você fez falta nos preparativos para essa festa! – Ela em abraçou de repente. – Mas teremos o aniversário de um ano, e esse deixaremos nas suas mãos!

— Sra. Sanders! Quanto tempo, tudo bem? – Fui educada, tentando sair de perto dela o mais rápido possível.

Só que ela resolveu que queria conversar comigo. E ficou falando sobre o batizado de William. O pobre bebê nem tinha nascido e já estavam brigando sobre onde seria o batizado, aqui em D.C. ou no Texas.

— Por que não esperamos o William nascer primeiro? Muita coisa pode acontecer até lá, não é?

— Sensata igual ao seu pai! – Ela comentou. Euzinha fiquei sem entender onde o meu pai era sensato! Ele é calado, sensato, na família é o Ducky, porque até mamãe age por impulso!

Dei um sorriso para ela e na direção das duas outras mulheres, que eu não conhecia.

— Peço licença, às senhoras, tenho que achar o meu pai!

Desviei delas e...

Olha a Maddie já pra lá de Bagdá.

— Graças a Deus que você veio! Por Cristo! Aquele closet da sua irmã é medonho! Fiquei com medo de me perder lá dentro.

Ela sempre foi exagerada, mas hoje o excesso de vinho estava piorando a situação. Porém, me lembrou de um pequeno detalhe. Eu realmente tenho que dar uma olhada no que tem dentro do closet de Kelly, vi umas coisas lá que não dá nem para a caridade de tão feias!

— Eu não poderia deixar a minha irmã na mão, né Maddie? – Brinquei.

— Continue assim e um dia você será a personal Stylist da Primeira-Dama dos Estados Unidos da América! – Ela me deu um tapa no ombro. – Foi mal, foi muito forte.

— Deixa pra lá.

— E só mais uma coisinha. NUNCA MAIS DESAPAREÇA POR TANTO TEMPO!! – Ela literalmente gritou e eu senti meu rosto esquentar na hora. – Alguém tem que ficar por perto para acalmar o Marine Mal-humorado que é o seu pai!

E eu achando que o papai estava até gostando da maluquice das mulheres nos últimos meses.

Me vi livre de Maddie, logo vi Claire, ela que me desculpasse, eu amo a irmã do meio de Henry, mas eu realmente queria ver meu pai, então tomei um desvio por entre duas mesas, onde estavam o Senador Sanders e um outro Congressista de quem não me recordava o nome, mas sei que era importante. Cumprimentei-os e cantando “aleluia!” mentalmente por nenhum dos dois terem esticado conversa, saí de perto, só para Tony me puxar pelo braço.

— Peste Ruiva! Onde você estava?

— Sendo educada, parece que as minhas férias de verão foram motivo de preocupação de muita gente!

— É claro, você simplesmente desapareceu.

— Você sabia onde eu estava.

— Sabia. – Tony ia conversando comigo e desviando dos demais convidados que nós não conhecíamos, mas cumprimentávamos por educação.

— Então... para onde estou indo?

Tony riu.

— Isso foi uma missão de resgate. A paciência do Chefe chegou no limite depois que Abbs o fez tirar mais de quinze fotos e ele ainda foi arrastado pela Bruxa Má do Texas para discutir onde será o batizado do neto.

Tadinho do meu pai!

— E? – Eu sabia o que Tony estava fazendo, só queria testá-lo.

— Depois de tanto tempo longe dele, você não acha que está na hora de bancar o calmante natural do seu pai?

— Se você está dizendo...

Tony só me olhou feio e eu fiz uma careta para ele. Dele eu tinha sentido falta! Muita falta mesmo!

— Chefe, eu achei a Peste Ruiva! – Anunciou assim que chegamos na mesa. Mamãe tinha desaparecido de novo, e lá só estavam papai e vovô.

— Oi papai! – Corri para abraçá-lo. – Obrigada pelo vestido, salvou a minha vida!

Papai me encarou.

— Desde quando você está tão alta? Está de salto?

— Até o senhor? E não, não estou de salto. De sandália baixa. Era a única que entrou no meu pé. – Mostrei o pé. – E tá apertando!

Papai fez cara de incrédulo.

— Cinco semanas e você esticou desse jeito?

— Deve ter sido o ar de Stillwater! Mais limpo... sabe como é? – Dei de ombros.

Vovô ria da cara de papai.

— É Leroy, não basta se tornar avô, tem que ver a caçula esticar de uma hora para outra também, hein?

Papai fez uma careta para a afirmação de vovô e depois me mandou me sentar por ali.

Tony logo se sentou do meu lado e eu notei que ainda não tinha visto o restante da família.

— Onde está o resto da equipe?

Tony fez cara de cansado.

Abbs arrastou todo mundo para tirar fotos.

— E vocês três escaparam?

— Mais ou menos.

— Até o Tim foi?

— Tim está te evitando. – Tony tinha aquela cara de quem iria começar a fofoca.

— DiNozzo! – Papai o alertou.

— O que o McGee fez?

— Simplesmente disse que você é quem faz toda a bagunça no NCIS. E que o prédio estava muito melhor sem você por lá nesses últimos meses.

Olhei para meu pai, ele fez aquela cara de quem concordava em partes com Tony.

— É mesmo? – Perguntei. – Estranho... quem escreve TRÊS LIVROS sobre a dinâmica da equipe é ele, e quem bagunça o prédio sou eu?!

— Para você ver.

— Tim está parcialmente certo. – Comentei e DiNozzo quase caiu da cadeira.

— Como assim, Peste Ruiva?

— Eu faço bagunça no prédio, mas não bagunço aquilo lá sozinha! Você sempre me ajuda! – Apontei para Tony.

— Eu?! – Ele soltou um grito alto, meio esganiçado, que foi bem no momento em que todo o jardim estava em silêncio.

Eu não consegui não rir.

— Mas tinha que ser o Tony para dar um grito desses! – Kelly falou alto.

— Aleluia! O Tony voltou! – Abbs disse.

Nos viramos para ver onde elas estavam, não muito longe de nós. Abby bancava a fotógrafa de Kelly e seu barrigão.

— Mas é claro que o Tony voltou, Abby. Olhe quem está de volta! – Ziva falou apontando para a nossa mesa.

Abby tirou o rosto da câmera e olhou na minha direção. Depois entregou a câmera para Tim e veio correndo.

— JIBBLET!!!!!! VOCÊ VOLTOU!!!

Papai me mandou me levantar na hora, e foi o tempo de ficar de pé e Abby me acertou com tudo, e quase que me mata sem ar.

— Abbs.... eu não tô respirando!

— Epa! – Deu um passo para trás. – Agora a família tá completa. Você fez falta no Estaleiro. Nem o Tony nem o Gibbs são os mesmos sem você por lá.

Não soube o que responder. Mas Abby nem ligou, logo saiu me puxando para tirar fotos.

— Eu não quero fotos. – Gemi de desespero.

— Ah! Mas vai tirar. Com Kelly, com Henry, com todo mundo. E, só uma pergunta...

— Que é?

— Está de salto?

— Não.

— Meu Deus, perdi essa aposta, achei que você tinha puxado a Jenny na altura, mas você puxou o Gibbs. Aliás, quem ganhou essa? – Ela perguntou.

— Eu ganhei, Abigail. – Ducky apareceu perto de nós.

— Ducky!!! – Larguei Abby e abracei o meu Tio. – Saudades de você!

— Eu também, minha criança. Como foram as suas férias? Descansou muito?

— Nada... eu trabalhei muito. – Todos pararam para me olhar. – O que? Vou começar a fazer a minha poupança!

— Para comprar o que? – Ziva me perguntou.

— Por enquanto nada. Só vou guardar mesmo.

— Tudo bem, essa conversa fica para depois. Temos fotos para tirar. – Abbs nos interrompeu.

E como tiramos fotos. Várias, muitas, ao ponto de que comecei a ver flashes para todos os lados quando eu piscava.

Estava até um pouquinho ofuscada pelos flashes quando senti Kelly me arrastando para algum lugar.

— O que eu vou fazer? – Perguntei piscando.

— Simples. Você vai sortear o padrinho e a madrinha do William.

— Por que eu?

— Porque eu queria que fosse você a madrinha, mas você é muito nova para isso, assim, decidi que você seria o fiel da balança, já que todos os candidatos a padrinhos e madrinhas acham que vamos roubar.

— Tudo bem... – Falei e encarei os dois potinhos. É tanta coisa para se pensar quando se vai ter um filho, que, olha, que trabalheira, e só piora depois que nasce.

E, foi só aí que eu percebi uma coisa muito particular. EU NÃO TENHO MADRINHA OU PADRINHO!! Eita!

— Peste Ruiva, não tira o meu nome!! – Tony gritou lá do fundo.

Balancei o potinho para misturar os papeizinhos e depois abri a tampa e peguei um. Encarei o nome e, só para fazer um pouquinho de terror, sorri na direção de Tony.

— E o padrinho será... – Cantarolei olhando para ele. – Timothy McGee!

Kelly deu um pulo, nem ela sabia que Tim tinha se candidatado ao cargo!

— Anda logo, quero saber quem será a madrinha!! – Claire gritou.

Fiz a mesma coisa com esse potinho, balancei até revirar todos os papeis e...

— E a madrinha do meu sobrinho será....

— Você!!! – Alguém gritou, creio que era um dos amigos de faculdade e fraternidade de Henry.

— Ele já é sortudo o suficiente para me ter como tia, por isso não me candidatei à vaga de madrinha. Dei uma chance para as demais. – Retruquei.

Abby, Ziva e Breena começaram a rir.

Bem no fundo, vi a cara de minha mãe. Mas ela que me desculpasse, Will já era sortudo de nascer nessa família! E de me ter como tia!

— Então, voltando, a madrinha de Will será...

— Mas já colocou um apelido nele? – Kelly chiou do meu lado.

— Eu tenho quase uns dez apelidos, por que não posso chamá-lo de Will? William fica tão velho para uma criança. Até o ex presidente, que se chama William, tem o apelido de Bill!! E, admita, Will é fofo!

— Que seja. – Kelly desistiu de brigar comigo. – Sorteia logo.

— Já sorteei, só falta anunciar. – Falei para ela balançando o papelzinho na sua frente, e me virei para os demais. – E a madrinha do Will... – Parei só para escutar o som de desprezo de Kelly para o apelido. - É.... Abigail Sciuto.

Desnecessário dizer que Abby veio pulando até Kelly e dizendo mais de vinte mil palavras por segundo, sobre como iria mimar o pequeno Will.

Pelo visto o apelido já tinha pegado!

Ao final da festa, quiseram tirar mais fotos, dessa vez dos futuros papais com o casal de padrinhos. E adivinha para quem sobrou a árdua tarefa de ser fotógrafa?

Sim, para mim! Mas foi legal, eu tirei foto de quase todo mundo.

Minha ideia era tirar uma foto com a minha mãe, que finalmente tinha se sentado na mesa conosco.

— O que você quer, Magrela? – Ela brincou comigo. Afinal andou reclamando que eu cresci demais e estava magra demais.

— Uma foto! – Peguei a câmera e virei o obturador para a nossa direção.

Foi um clique e logo puxamos o papai, depois o vovô e quando vi, todo mundo estava na foto, até o Nemo!!

— Isso que eu chamo de foto em família! – Abby comentou ao ver a foto. – Me manda uma cópia.

— A câmera é sua, Abbs. Você é que tem que me mandar uma foto!

— Isso mesmo!

—-----------------------

Tínhamos chegado em casa não tinha trinta minutos, estava desfazendo as malas, quando meu notebook, que estava ligado para que eu pudesse ouvir música, apitou.

Olhei e era o chat. Fiquei até com medo.

LabQueen: só uma provinha das fotos.

E ela encaminhou mais de cem fotos.

LabQueen: Amanhã estarão todas impressas, principalmente para o El Jefe e o Jack.

— Mamãe!! Papai! Vô!! Vêm ver as fotos do Chá de Bebê! – Gritei do meu quarto.

E os três entraram no me quarto, se sentaram na minha cama e começaram a brigar porque sempre tinha um que não conseguia ver a tela direito. E quanto a mim? Só me restou me sentar no chão e tentar não rir das discussões dos três.

—--------------------------

Eu estava oficialmente uma bola. Estava gigante e já com trinta e quatro semanas de gravidez. E, toda vez que alguém passava perto de mim e me dizia que eu estava linda, eu tinha vontade era de gritar.

Eu não estava linda! Tinha engordado, estava inchada e nenhuma roupa me servia mais, a não ser, é claro, o meu uniforme, já que eu decidi não entrar de licença maternidade muito cedo, assim, iria trabalhar até quando desse, estava dentro do hospital mesmo, não faria diferença!

A única pessoa sincera ao meu redor era Sophie. Cada vez que ela olhava para a minha barriga tinha duas reações, fazia uma careta e exclamava:

— Minhas costas estão doendo para você!

E eu me sentia feliz, que, pelo menos minha irmã era solidária à minha dor.

A Moranguinho vinha me visitar sempre que podia, e, sempre tinha algo para eu comer ou beber, geralmente doces, nos últimos dias eu cismei que só queria tomar milkshake de morango de uma lanchonete específica, Henry disse que fazia mal, que tinha muito corante, eu fingia concordar com ele e pedia para Soph trazer para mim, o que ela fazia rapidinho.

Passou o Natal e eu me senti agradecida por ninguém ter me confundido com o Papai Noel. Sophie, que há muito tinha descoberto por ela mesma que o Bom Velhinho não existia, fazia questão de sempre se vestir de Elfo e ir, junto com Abby, para um abrigo de veteranos e se encarregar da Ceia de Natal de lá. Eu costumava ir com elas, mas com a data do parto se aproximando, deixei esse ano passar em branco.

Tanto a Noite de Véspera de Natal quanto o dia 25 foram tranquilos, meu maior presente foi o quarto montadinho de Will, todos os móveis feitos por meu pai com a devida ajuda de Sophie, que foi a responsável por colocar tudo no lugar e lavar cada uma das roupinhas do meu filho.

E, agora que até o Ano-Novo já tinha passado e eu estava com uma semana de folga, Sophie me fazia companhia, pois, por conta do mal tempo, as aulas dela ainda não tinham voltado, e, enquanto ela me ajudava de bom grado dentro de casa, eu falava sem parar na sua cabeça.

— Bem... agora falta a mala da maternidade. – Ela comentou. – Mamãe disse que é importante.

— Eu sei que é! – Respondi me sentando na cadeira de balanço. Essa foi a única peça do quarto que não foi feita por papai, mas sim por meu avô, que deu para a minha avó quando ela estava grávida do meu pai, depois, passou para a minha mãe e agora estava comigo.

— Quer que eu faça a mala dele?

— Seria pedir demais? – Perguntei.

— Claro que não, Kells!

— Ah, e me desculpe ter faltado ao seu balé. Sei que você virou a primeira bailarina da companhia.

— Não tem problemas. Abbs gravou tudo.

— Qual foi a dança desse ano?

Romeu e Julieta.

— Papai sobreviveu?

— Você sabe que ele bem que gosta, só não admite. Mas sim.

— Você foi a Julieta, então?

— Fui.

— Meu Deus! Esse eu nunca vi!

— Vai ver em alguma apresentação de companhias de verdade, Kells. Tudo ao seu tempo. – Ela respondeu e começou a arrumar as coisinhas de Will. Como ela sabia o que tinha que colocar na mala? Fácil! Jen tinha mandando uma lista com o que era imperioso estar na mala.

— Bem... só falta a roupinha com a qual ele vai sair da Maternidade... Qual será?

— Escolhe você! – Murmurei. Estava com uma dor nas costas terrível, mal conseguia mexer as pernas.

— Ciático incomodando de novo? – Minha irmã perguntou.

— Sim.

— Você deveria entrar no pilates depois que o Will nascer e você se acostumar com a presença dele nesse mundo. Ou pode fazer Yoga comigo e com a mamãe!

— Não vou fazer Yoga com vocês, já tem quantos anos que vocês fazem?

Sophie contou mentalmente.

— Cinco.

— Nem pensar que vou ser motivo de risada de vocês! – Respondi e busquei por uma posição mais confortável.

— Alonga o ciático igual a médica te falou. Não é só dobrar uma perna em cima da outra e inclinar a coluna para frente, soltando os braços e respirando livremente?

Em uma atitude infantil, mostrei a língua para minha irmã, que me fez uma careta de volta. Sim, só tinha crianças aqui. Ela se virou para acabar de escolher as roupinhas do meu filho e eu resolvi tentar alongar esse ciático.

Acontece que bastou eu colocar uma perna em cima da outra e inclinar só um pouco a coluna e uma dor rasgou o meu corpo por dentro.

— Mas o que foi isso? – Perguntei ofegante.

— Kelly? – Sophie, que tinha fechado a malinha, me olhou além de assustada. – Outra contração falsa?

Agarrei o braço da cadeira. Definitivamente isso não era uma contração falsa.

— Não. – Arquejei.

— O bebê está... – Minha irmã congelou no lugar e arregalou os olhos. – OH MEU DEUS!!! – Ela gritou. – Fica aqui, respira cachorrinho ou sei lá como chamar aquilo, que eu vou ligar para a emergência e para o Henry e para o papai.

— Anda logo!!!! – Gritei.

Sophie desapareceu pelo corredor e logo voltou, meu celular na orelha, enquanto ela passava o meu endereço para a atendente.

 - De quanto tempo ela está grávida? Trinta e oito semanas!! – Ela disse desesperada, enquanto me abanava, pois eu agora estava morrendo de calor. – Chegam em dez minutos, você consegue descer a escada?

— Se você em ajudar, sim.

— Tudo bem, te ajudo. – Sophie me deu a mão, pegou a malinha do meu filho e discava outro número no celular, tudo ao mesmo tempo, e tudo o que eu conseguia fazer era não gritar muito de dor.

— Ah... Henry. Dá um jeito de sair da Prefeitura porque seu filho está nascendo! – Ela falou de uma vez. – E nada de surtar, deixa isso para a Kelly! – Encarnou o próprio Leroy Jethro Gibbs ao falar isso. – Não, já liguei para os paramédicos, estamos na sala de estar, dentro de sete minutos eles chegam.  – Uma pausa. – É claro que eu te aviso para qual hospital.

— BETHESDA!! – Eu gritei.

— Bem, você ouviu. Vá para lá! – E ela desligou o telefone.

— Eu não vou chegar no hospital... – Comentei.

— Kells, eu amo você, mas eu não vou fazer o seu parto dentro dessa casa, eu não faço a menor ideia de como fazer isso! Não quero ficar traumatizada pelo resto da vida, então manda o seu filho ficar quietinho aí dentro. – Minha irmã disse e me sentou no sofá, escorando as minhas costas com várias almofadas. – Precisa de alguma coisa?

— Água.

— Vou buscar. – Ela saiu correndo, como celular na orelha. Quando voltou, conversava com papai.

— Não, papai já devem estar chegando. Sim, eu vou com ela. – A cada pausa que ela dava, ela olhava para mim, como se perguntando se tinha algo que pudesse fazer. – Ela quer ir para o Bethesda, ela trabalha lá, né?

Escutei as sirenes.

— Papai, os paramédicos estão chegando. Te ligo quando chegarmos no hospital.

Uma enorme pausa.

— É claro que eu não vou sair do lado dela! – Ela disse isso com uma certeza tão grande que me deu até um alívio. – Nos vemos lá. – Desligou a chamada e foi abrir a porta. – Ela está aqui dentro. – Anunciou.

Dois paramédicos entraram e começaram a fazer as perguntas que eu já tinha me feito e respondido mentalmente.

— Hospital de preferência?

— Bethesda, pelo amor de Deus, e rápido.

Fui levada na maca para dentro da ambulância, Sophie ficou responsável por pegar minha bolsa, a bolsa do meu filho, meus documentos e ainda de fechar a casa, minha irmãzinha é um anjo. Logo ela se sentou do meu lado na parte de trás da ambulância e já estava ligando para outra pessoa.

— Quem agora? – Era fácil de me distrair da dor, vendo ela ser tão competente e calma. Minha irmã de onze anos estava mais calma do que eu, e aposto do que o restante da família também.

— Senhora Sanders. – Ela me disse. Escutei a conversa, minha irmã em um tom de voz calmo, dava as devidas instruções para a minha sogra que tinha três filhos!

— Falta alguém? – Perguntei tentando conter um grito.

Sophie riu.

— Só mais uma.

— Quem?

— Abby. Ela espalha a notícia para o restante. – Falou e tornou a colocar o telefone no ouvido. – Oi Abbs!! Não, sou eu, a Sophie. Aqui, avisa para o restante da família que a Kelly está em trabalho de parto.

— AI MEU DEUS DO CÉU!!! COMO VOCÊ SABE DISSO? – Pude ouvir o grito de Abby.

— Eu estou com ela. Estamos indo para o Bethesda. Espalhe a informação!

— Eu vou sim!! Esse é o primeiro bebê que vemos nascer na família!!! – Abby gritou novamente.

Foram quinze minutos de agonia até que chegamos ao hospital, me colocaram em uma cadeira de rodas e me levaram para a ala da maternidade. Sophie ficou sempre do meu lado.

— Agora você entra de licença maternidade, não é mesmo? – Uma das enfermeiras que sempre trabalha comigo me perguntou.

— Pode ter certeza que sim! – Confirmei.

— Com o sem anestesia?

Pensei... pensei...

— Com! Não sou tão forte assim!

Sophie só saiu do quarto quando minha médica veio fazer o exame de toque. E quando a Doutora Amélia Dawson saiu do quarto, quem entrou foi Henry.

— Cadê a Sophie? – Perguntei. Ela estava tão calminha que estava me acalmando, a presença de Henry só serviu para me deixar ainda mais nervosa.

— Lá fora, sentada do outro lado do corredor.

 - SOPHIE ENTRA AQUI AGORA!! – Gritei e Henry me olhou assustado. - Ela está me tranquilizando, preciso dela aqui! – Expliquei.

E a Ruiva bateu na porta antes de entrar.

— Tudo bem?

— Sim. – Respondi aos dois. – No mínimo mais duas horas.

— E você vai ficar sentindo dor por mais duas horas? – Ela me olhou alarmada.

— Mais ou menos. Tenho que contar de quanto em quanto tempo vem as contrações e qual é a intensidade.

— Todas pareceram fortes para mim. – Sophie murmurou, se sentando no sofá de frente para mim.

— Serão piores quando o bebê realmente estiver nascendo.

— E essa é a parte que eu não vou ver! – Disse firme. - Ah! Avisei Mer e Maddie também. Elas disseram que quando você tiver alta, elas vêm te visitar.

O que seria de mim sem a minha irmã?

Meia hora se passou e minhas contrações começaram a ficar mais fortes e menos espaçadas. Estava quase na hora. Só que meus pais ainda não tinham chegado.

Sophie tinha saído mais uma vez para o meu último exame, e quando ela colocou a cabeça para dentro, antes que me levassem para a sala de parto, apenas disse:

— Eles chegaram. – E abriu a porta, dando passagem para papai e Jen.

— Ainda bem que chegaram! – Eu quase chorei de alívio. – Eu tô morrendo de medo!

— Vai dar tudo certo, filha! – Papai me deu um beijo na testa. – Tudo certo.

Jen só pegou na minha mão.

— E como foi com você? – Eu quis saber.

— Estava desacordada, Kelly, e foi uma cesárea de emergência, mas só posso te dizer que tudo vai dar certo. Daqui a pouco seu filho vai estar nos seus braços.

— Tá bom. Será que é pedir demais ter a Sophie na sala de parto? Ela é a única que está me acalmando agora.

— Sim, isso é impossível, Kelly. – Papai me respondeu.

Uma enfermeira deu um empurrão nele, era hora de me levarem.

Minha irmã estava do outro lado do corredor, seus olhos coloridos arregalados e quando me viu, veio correndo até a maca e me deu um beijo na bochecha.

— Kells vai dar tudo certo!! Já está quase acabando.

E a única pessoa que me acompanhou foi Henry.

—---------------------------

Já tinha quase duas horas que Kelly tinha sido levada para a sala de parto. Todo mundo já tinha chegado e estava na sala de espera. Uns andavam de um lado para outro, outros estavam sentados, batendo os pés, eu estava sentada, observando os arredores e ligando de tempos em tempos para vovô para atualizá-lo. Não adiantava ficar ainda mais nervosa, pois isso em nada ajudava Kelly.

Tudo estava em silêncio, até que ouvimos o primeiro grito. Um grito realmente alto.

— Foi a Kelly??! – Tony perguntou.

— É a voz dela. – Abby comentou.

— MAS COMO ISSO DÓI!!! – Ela gritava. – HENRY, QUANDO EU VOLTAR A ANDAR, EU VOU TE MATAR!!!

Não teve um que não começou a rir.

— Bem que ela falou que no final iria piorar. – Comentei.

Mamãe me deu um tapa no ombro, me mandando ficar calada, pois papai já tinha arregalado os olhos.

— Jen?!

— Jethro eu não sou parâmetro para nada! Nem me lembro do momento em que essa aqui nasceu! – Apontou para mim.

É, eu já tinha ouvido a história chocante do meu nascimento. Era um milagre que tanto eu quanto mamãe estivéssemos vivas!

E lá veio outra rodada de gritos de Kelly, para nosso desespero.

E a cada grito que a minha irmã dava na sala de parto, meu pai ficava ainda mais histérico na sala de espera, sempre falando que ainda ia fazer o Engomadinho sofrer tudo o que a menina dele estava sofrendo. Eu só soube olhar para a minha mãe, ela ria. Credo, meu pai era mais dramático do que a Kelly!!

— Credo pai, agora eu sei de onde vem todo o drama que a Kells faz... – Fiz o pior comentário que poderia, pois recebi como resposta:

— Em casa a gente conversa, Sophie Shepard-Gibbs.

Seis horas depois de muitos gritos, palavrões e xingamentos por parte de Kelly, eu virei oficialmente tia. De um garoto, que até agora tem os cabelos loiros e olhos verdes escuros, ou seja, é parecidíssimo com o pai. O que deixou metade da família eufórica e meu pai um tanto mal-humorado. Mas bastou que ele carregasse o neto no colo uma vez que ele ficou todo molenga.

Como Kelly havia dito:

— É um babão quando vê crianças!

Quanto a Henry? Ah, o Prefeito Sanders simplesmente desmaiou depois que Kelly quebrou o terceiro dedo dele. Está agora na emergência, tomando soro e sendo monitorado porque bateu a cabeça ao cair. Henry ainda não viu o filho, e Kelly quer porque quer encher a paciência dele assim que o marido passar pela porta do quarto.

Quando papai ficou sabendo disso, só soltou a seguinte pérola:

— Sempre soube que era um fracote!!

É, e assim começa mais um capítulo da história dessa família!


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Sim, Sophie deu um ataque de ciúmes, sumiu de D.C., mas todo mundo cresce, e às vezes só precisamos de tempo. Ela pode não ser mais a caçula da família, mas que é a preferida de DiNozzo, isso ela é!
Me diga que dupla de irmã-irmã; irmã-irmão nunca brigou e fez as pazes, né? Sophie e Kelly são exatamente assim. Brigam hoje, desaparecem, mas logo uma está ajudando a outra!
E agora temos mais um membro na família!! Deem as boas vindas à William!
Espero que tenham gostado!
Até o próximo!
xoxo



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "SPIN OFF - Carta Para Você" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.