Pov. Uraraka Ochaco

Eu e o lobo estávamos passando pelo arco de madeira quando Katsuki resolve quebrar o silêncio:

— Então biscoito, que história é essa de ser o quinto elemento?

— Ah, minhas memórias estão fragmentadas, então não posso lhe dizer exatamente tudo. O que sei é que eu fui o primeiro elemento a existir antes de meus irmãos e que tenho poderes cujo não faço ideia de como os controlar. Ontem antes de dormir, pesquisei em uns livros de história antigos sobre os elementos e descobri que o vácuo pode absorver coisas e criar portais para o vazio do espaço.

— Hum, se precisar de alguém para te treinar...

— Oh, por acaso você está se voluntariando lobinho? — Aponto o meu dedo indicador em seu tórax, Katsuki cora e vira o rosto.

— Cansei de ficar chutando os cogumelos, preciso de um oponente a altura e não de uma planta.

Sorrio e observo o rosto do loiro, entendo que pode parecer estranho, mas ele me é familiar. Sinto como se já o tivesse visto antes do dia em que fomos dar a vacina nele. Não entendo por que me sinto a vontade perto dele, afinal o lobo é meio explosivo e até o Tamaki tem medo dele. Resolvo o perguntar:

— Katsuki, por acaso já nos conhecemos antes?

— O que? — Ele pergunta. — Não que me lembre, por que a pergunta, biscoito?

— Estou com uma sensação de déjà-vu. — Digo ao lobo. — Deve ser apenas minha mente pregando uma peça, esquece o que falei. Enfim, quer me contar sobre você? — Pergunto curiosa. — O que faz no tempo livre?

Katsuki pensa e diz:

— Gosto de caçar e lutar.

— Oh! Que legal, eu gosto de treinar arco e flecha e andar a cavalo, tem algum outro passatempo? — Pergunto e o lobo suspira.

— Existe um lugar na lua crescente que gosto de visitar, é o meu lugar preferido... Talvez um dia eu te leve lá.

— Sério? Que lugar é esse, você pode descrever? — Pergunto curiosa.

— Se eu te falasse perderia a graça, vai ser surpresa. — Ele diz, inflo as bochechas e cruzo os braços, Katsuki arqueia as sobrancelhas e ri, o que me surpreende e o encaro. — O que está olhando biscoito?

— Ah, eu... — Digo envergonhada. — Você deveria sorrir mais vezes, fica encantador ao sorrir. — Continuo o observando enquanto caminho e não percebo uma raiz de árvore a minha frente. Tropeço na raiz e me desequilibro prestes a cair de cara no chão quando sinto os braços do lobo envolverem a minha cintura, sinto meu rosto esquentar.

— Hum, olhe por onde anda biscoito. — Ele adverte. — Sei que sou lindo, mas cuide para não ficar hipnotizada ou vai acabar derretendo.

— Há, há, há engraçadinho, virou a medusa agora? — Dou um soco de leve em seus braços. — Como se isso fosse possível, existem garotos mais belos no reino do que você, sabia?

— A medusa não derrete as pessoas, espertinha, ela transforma-as em pedras. Então quer dizer que você me acha belo? — Katsuki se aproxima de mim com um sorriso presunçoso no rosto e coro, ele ri do efeito que me causou e prossegue floresta a dentro. — Foi o que pensei.

— Baka. — Resmungo baixo e o sigo. Quando chegamos na casa na árvore, vejo Toru, Nejire e outras duas pessoas. O garoto tinha olhos bicolores de azul e preto e o cabelo também em duas cores com branco e vermelho, logo o reconheço, Todoroki Shoto o elemento do fogo. A menina ao lado era muito fofa e tinha os cabelos verdes compridos e olhos negros, não a reconheço, porém, lembro que Toru falara o seu nome. — Tsuyu, Shoto! — Cumprimento.

Eles viram-se em minha direção e arregalam os olhos. Nos aproximamos deles e sou esmagada por quatro braços ao meu redor, meus irmãos elementares me abraçam de saudades e Toru se junta a eles no abraço em família. 

— Ochaco-niisan, é você mesma, kero? — Tsuyu pergunta entre lágrimas e sorrio acariciando seus cabelos.

— Irmã... — Todoroki diz. — Fico feliz que esteja de volta. — O elemento do fogo sorri.

— Ótimo, agora sobrei e estou segurando vela. — Ouço Bakugou resmungar e rio puxando-o pelos braços o abraçando também.  

— Você não é o único, Bakugou. — Nejire o reponde. Após nos separarmos do abraço, sentamos a margem do lago enquanto conversávamos sobre alguns acontecimentos de eras atrás. Os espíritos estavam bem felizes e me relembravam algumas memórias que aos poucos fui recordando. Nejire prossegue. — Estão quase todos reunidos, só falta o Mirio, né?

O silêncio recai sobre nós, o espírito da Terra é um assunto delicado para todos. Fico me perguntando se irei conseguir trazer ele de volta, todos esperam isso de mim, mas... E se eu não conseguir? O quê será do mundo? É uma grande responsabilidade o que jogaram sobre mim, não quero magoa-los caso não tenha volta para ele. E se for impossível... é o meu dever ficar no lugar dele. Como o quinto espírito, também posso controlar os outros elementos. Percebendo o clima tenso, mudo o assunto:

— Então... Eu e o Katsuki viemos aqui para perguntar se ele pode vir morar com vocês?

— Mas é claro que pode! — Toru responde quebrando o clima.

— Por mim tudo bem, kero. — Tsuyu fala e Todoroki assente concordando.

— Que alívio, o local em que ele vivia antes era no campo de cogumelos. — Digo. — Ele fica resfriado muito fácil por causa do vento que passa direto lá. — Falo sorrindo de canto.

— Não fico não!!! — Katsuki grita emburrado e rio.

— Bakugou, não precisa ter vergonha em admitir. — Nejire fala e ele lhe lança um olhar bravo.

— Fadinha, você ainda me paga pela agulhada, quanto aos rabiscos no meu rosto não pensem que não esqueci também, correto princesa? — Katsuki me encara e me encolho.

— Que seja. — Respondo. — Pelo menos, agora ele tem onde ficar. — Mudo de assunto.

— Ochaco. — Tsuyu diz. — Como estais de volta, você precisa treinar os seus dons para não descontrolar, nós podemos começar hoje se você quiser.

Acento e a conversa mudou para outro assunto: All Might.

— Ele que nos criou. — Todoroki contava, estávamos sentados na grama ao redor do lago. — Quando você se apaixonou pelo ser da floresta e perdeu a memória, ele ficou muito preocupado com você. All Might nos considera como filhos, embora somos apenas suas criações. Ele já sabia que isso ia acontecer, por isso decidiu criar a regra em que não podemos nos apaixonar junto da deusa coelho Mirko.

— Não concordo com essa regra, eu já perdi a memória antes, então que diferença faz se eu me apaixonar de novo? Deve haver uma forma de mudar essa regra e... — Sou cortada pela Tsuyu.

— A questão não é o fato de se apaixonar e sim você perder os seus dons. — Tsuyu diz. — Poder não é importante, mas como somos espíritos, necessitamos de nossos dons para manter o equilíbrio na terra.

— Se ao menos o Mirio estivesse aqui... — Toru sussurra triste. — Também não acho certa essa regra, estamos falando do All Might!! Ele tem o dom para você voltar ao normal. Foi ele que nos criou, então deve saber as respostas. — Toru diz indignada.

— Está certa Toru. — Digo. — Seria legal treinar os dons, mas antes podemos comer? Posso preparar uma torta de maçã e um chá para a gente.

— Eu ajudo. — Nejire fala. Nos levantamos e seguimos para a cozinha e preparamos o lanche. Olhando pela janela da cozinha, vejo que Katsuki conversava com meus irmãos e se divertia. Foi uma boa escolha ele ter se mudado para essa casa. Sorrio feliz por ele e noto que o mesmo me observava, coro e sinto os meus batimentos acelerarem, tento disfarçar por ter sido pega o observando e vejo ele rir de mim. Mostro a língua pra ele e Katsuki arqueia as sobrancelhas mandando um beijo no ar com as mãos. Meu rosto se assemelhava a um pimentão com sua atitude e abaixo a cabeça escorando-a na mesa ficando longe da vista do lobo. Suspiro e sorrio, o que é essa sensação que está surgindo dentro de mim? Por que me sinto boba perto do lobo? Respiro fundo, Nejire e eu voltamos a nos juntar com eles e colocamos o lanche em cima de uma toalha laranja, enquanto lanchávamos, meus pensamentos voavam para outro lugar e um questionamento me veio a mente... Quando eu voltasse para o castelo, será que meu irmão ainda estaria com a Kyoka?

Continua...