Dinastia 2: A Coroa de Espinhos escrita por Isabelle Soares


Capítulo 55
Capítulo 55




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Durante os seus 64 anos dentro da realeza, Esme podia dizer com certeza que havia aprendido muitas coisas. Primeiro que tudo era uma questão de jogo de poder. Dentro da família havia as suas hierarquias e dentro do palácio mais ainda. Funcionários se sentiam superiores uns aos outros por estar mais próximos ou não de membros sêniors da monarquia. Ela sempre achou isso bizarro! Era como se o sistema impulsionasse isso. Essa busca constante por poder.

Sua convivência com a sua falecida sogra tinha lhe ensinado que você poderia conseguir muitas coisas se apoderando de um séquito de funcionários ambiciosos. A rainha Elizabeth sabia bem que existiam forças poderosas que moviam as engrenagens do sistema. Um emaranhado de pessoas que serviam a instituição como um mantra e queriam seguir os protocolos e leis com adoração, achavam que controlavam tudo, a vida dos membros da família, o andar dos compromissos, os holofotes, a opinião pública. Pareciam que eram invisiveis diante da tamanha grandiosidade das pessoas para quem trabalhavam, porém Esme havia entendido, muito cedo por sinal, que eram essas pessoas que poderiam mudar tudo ao redor. No final, quem eram os peões, eram os próprios membros da realeza que recebiam os comandos. Então, sendo assim, era melhor tê-los ao seu lado do que longe.

E por que essas pessoas faziam isso? Pela busca da sensação de importância. Por sentirem que poderiam ter o controle de tudo pelas funções que exerciam. Esme bem sabia que não poderia ir totalmente contra o sistema. No final, só seria feita a vontade daqueles que consideravam protetores da realeza. Um bando de especialistas em legislação real, de protocolos e de imagem pública. Ela que imaginara no início que era o povo que deveria agradar. Era para eles que deveria aparecer. Mas não. O povo lá fora era influenciado demais por qualquer informação que tinham a respeito do que viam ou ouviam da monarquia. E que controlava essas notícias? Sim, os relações públicas que trabalhavam no palácio. Era esquisito, mas era a verdade.

Ela tinha tentado criar a sua própria imagem, ter o seu próprio domínio das coisas, mas começou a ver que não ganharia das forças que comandavam a instituição. A rainha mãe no começo ficava confusa. Por que quem via de fora não poderia imaginar que a vida da família real era 24 horas coordenada por uma porção de gente. Todos eram personagens dentro de um grande teatro inventado por um monte de gente. Ela sentia que muitas vezes suas ideias eram tratadas com desprezo ou tal como “deixe estar”, “dê esse agradinho a ela”, como diziam a uma criança que queria aparecer diante dos seus primos mais velhos. Esme sentia raiva, mas então entendeu que isso não adiantaria. A rainha Elizabeth tinha razão desde o princípio, no final vencia quem tinha o maior controle dessas pessoas.

Tinha que admitir que se sentia muito culpada por não ter exposto isso a Bella de maneira mais clara. Sua pobre nora fora se dar conta do “esquema do palácio” tarde demais. Esme reconhecia o grande potencial que ela tinha. Bella poderia ter sido uma rainha consorte incrível, alá rainha Mary. Tinha muita força de vontade para trabalhar e excelentes causas. Deus sabe o quanto Belgonia precisava de alguém como ela. Mas infelizmente, quem se importava com um bom trabalho? Como boas ações? Tudo era um grande jogo político. Ou você entra no sistema ou ele te elimina, simples! Tinha que haver uma polidez que Bella não tinha aprendido a ter.

Por isso, quando começou a ouvir uns burburinhos sobre o comportamento da duquesa de Richmond. Sobre o quão ela estava se tornando um problema, Esme tratou de aguçar os sentidos. Quando começou a notar que estavam planejando reprimir Bella, tratou de reveter a situação. Que as ordens de controle partissem dela, pois assim poderia dominar a situação de forma que não saísse dos limites e fosse pior para a duquesa. Tinha que proteger a monarquia, mas sua família também.

— Quando a senhora começou a desconfiar que haviam funcionários aqui dentro com más intenções? – Adem a perguntou.

— Depois da morte da minha nora.

— Por que acha que algum subalterno seu possa estar envolvvido com alguma coisa? Eles não teriam nenhum poder contra vocês, teriam?

— Você precisa entender que existem várias monarquias por aqui. Existem aquela que vocês veem de fora. Glamurosa e poderosa. Existe a que tentamos fazer e existe aquela que criada por uma série de funcionários daqui. Só para você ter uma ideia, só no meu escritório e de meu filho existem 6 funcionários. Um secretário para organizar toda a nossa vida pessoal e profissional, um relação pública para nos aconselhar e indicar como devemos nos comportar em público, um profissional para atualizar o mundo de notícias sobre nós, um advogado, um motorista, um ou dois seguranças e outra série de pessoas que fazem absolutamente tudo por nós. Entende que não temos muito controle por aqui?

— Então, está querendo me dizer, que de alguma forma, são os funcionários que tomam as decisões aqui dentro?

— Nós tentamos trabalhar em conjunto, é claro. Discutimos agendas, discursos, projetos. Mas absolutamente somos regidos por um outro grupo de funcionários mais importantes que cuidam das regras da instituição. Então, estamos presos ao sistema sim.

— Que tipo de funcionários estaria supostamente envolvido com Aro Volturi?

— Aro tem muita influência por aqui, mas ele não chegaria tão facilmente aos funcionários de alto escalão. Ele é um homem muito astuto. Começou infiltrando funcionários no escritório de Bella. Ela andou contratando algumas pessoas, James e Emily são alguns exemplos. Minha neta deve ter mencionado isso para o senhor.

— Sim. James é o segurança e Emily era a secretária de Bella, isso?

— Correto. Através deles ele podia saber o que se passava por aqui e depois começou a plantar a ideia que com ele no comando as coisas serão melhor para eles e alguns funcionários deixaram-se levar. Há uma questão de poder aqui dentro. Quem mais exerce funções diretas a nós tem mais controle sobre o caminhar da monarquia. Isso dá um certo status.

— E como a senhora começou a desconfiar disso?

— Eu ouvia alguns funcionários do escritório geral do palácio começarem a falar a respeito. Aro passou a andar muito por aqui depois da morte de Bella. Acredito que a partir daí ele começou a dominar certas pessoas. Um comentário me chamou atenção. Uma pessoa afirmou que agora que a situação estava controlada, Aro poderia manter a ordem no palácio. Peguei essa fala sem querer, mas fiquei pensando. Que situação estava controlada? Meu marido estava doente e o país estava em crise. Só podia ser Bella. E acredite, ela causou muita dor de cabeça.

— Como a duquesa poderia ser um impecilho?

— Bella estava constantemente na mídia. Bono Donnalson chegou até a mandar um email para cá pedindo que a controlássemos. Havia um temor de uma crise com o parlamento e que as ações de minha nora pudesse a vir nos prejudicar de alguma forma. Bella queria fazer algumas mudanças importantes, mas elas não eram bem vistas, eram consideradas um risco. Na verdade, ela era uma potência midiática forte. Muitos temiam pelo que poderia sair da cabeça dela.

— Então, a situação só poderia voltar aos eixos com a morte dela?

— Radical, não é? Achei que não iriam chegar a esse ponto. Tentei controlar as coisas. Tive que censurar Bella algumas vezes para ver se ela se acalmava um pouco, mas hoje entendo que isso a deixou mais nervosa.

— Acha mesmo que o próprio palácio poderia mandar matá-la?

— Não. Bella poderia ser temida, até provocar raiva, mas não era odiada. Muitos a respeitavam e ainda respeitam. Ela seria a futura rainha consorte desse país. Nenhum funcionário chegaria a tanto.

— Apenas os novos que não seguiam o mesmo mantra dos outros?

— Pode ser... Mas não tenho provas. Quando Aro começou a andar por aqui e começar a fazer propostas de casamento para a minha neta, comecei a pensar que tinha que vigiar as coisas ao redor. Eu sei bem o quanto ele pode ser ardiloso. Então coloquei o meu secretário pessoal para descobrir as coisas para mim.

— E o que ele descobriu?

— Que Aro tinha um complô maior do que eu imaginava. Ele estava aprontando algo, mas eu não sabia bem o que era. Eu tinha total noção que ele queria ser o rei postiço, porém, eu sentia que tinha mais. Com o tempo passando e eu vendo o desenrolar dos acontecimentos, percebi que talvez com Bella viva ele não teria tido tanto poder como conseguiu ter. Ela nunca deixaria que esse casamento acontecesse. Mesmo com todo o parlamento pressionando. A duquesa poderia ser explosiva quando queria.

— Esse é o mesmo pensamento da princesa.

— Sim, e quando ela tocou nesse assunto comigo, eu tive certeza que não era só Bono Donnalson que tinha espiões por aqui. Eu já sabia que James e Emily trabalhavam para ele, mas qual teria sido a contribuição deles para a morte de Bella? James teria sido essencial para protegê-la naquele dia, não?

— Com certeza. O que James declarou para vocês no dia do acidente?

— Que Bella havia o dispensado. Chegamos até a puni-lo por isso. Um membro da realeza não pode em hipotese alguma andar sem segurança. Às vezes é possível despistá-los quando se quer um pouco mais de privacidade, mas Bella não tinha saido escondida daqui. Emily sabia que ela iria para a casa de Jacob Black.

Adem coçou o queixo e ficou a pensar. Como deveria ser difícil a vida ali dentro. Você não ter um minuto de paz! Não queria nem imaginar viver numa situação como aquela.

— Se tinha desconfianças, por que a senhora não cortou o mal pela raiz na primeira oportunidade que teve?

— Você faz boas perguntas, meu rapaz.

Adem sorriu. Todo aquele caso estava sendo um tanto difícil para ele. Por que haviam vários fatores novos que eram difíceis para ele compreender. Vivia em um mundo totalmente diferente daquele e não passava pela sua mente o fato de que ele não teria controle sobre as suas próprias ações.

— O meu desejo era que Aro se enforcasse com a corda que ele próprio amarrou e ainda desejo que isso aconteça. Agora, você sabe tudo que eu sei. Ele pode não ter matado Bella, mas quero poder saber tudo que houve aqui dentro para enfim tomar as atitudes certas.

— É justo. – Adam falou enquanto fazia anotações em seu bloco de papel.

— Tenho aqui o nome de funcionários que deve entrevistar. Tenho certeza que eles têm uma ligação com Aro. – Esme entregou o pequeno papel para o detetive e ele se surpreendeu com a grande quantidade de nomes que havia ali. Já podia criar o cenário de como possívelmente o príncipe de Volterra tinha feito para conquistar tanta gente assim.

— Aro está ocupado com Volterra ultimamente e essa é a oportunidade que temos para fazer os interrogatórios que precisamos. Nenhum dos funcionários sabe que o senhor está aqui. Não queriamos levantar suspeitas.

— Quero entrevistar todos que tenham ligação com a duquesa. Assim parecera menos premeditado.

— Com certeza. Fique a vontade. Eu e a minha família estamos a sua disposição para responder mais alguma coisa que precisar.

Adem assentiu e fez uma reverência rápida a rainha antes de seguir a sala reservada para o interrogatório. Nunca em seus 30 anos de vida tinha visto um caso tão complicado como aquele. Começou a carreira muito moço, com apenas 18 anos no exército de Belgonia. Chegou a fazer alguns trabalhos no oriente médio, onde passou boa parte de seu trabalho militar. Porém, sua grande habilidade de descobrir os planos dos inimigos de guerra o fez ganhar a oportunidade de ser detetive no Serviço Secreto, algo que ele se sentiu muito orgulhoso. Faziam 5 anos que trabalhava nas operações especiais e vira muita coisa feia. Casos políticos, principalmente, e muita coisa envolvida com tráfico, mas jamais pensou em sua vida que iria chegar ao ponto de investigar o assassinato de alguém da família real.

Quando Timur o escalou para participar do caso como detetive principal, ele sentiu que era mais do que um grande desafio. Perdeu noites lendo tudo que havia sido descoberto até ali. Conversara muito com Joel a respeito. Admirava a dedicação dele ao caso e achava que ele merecia bem mais do que apenas um cargo na polícia. Joel tinha um grande potencial e o ajudou muito a entender certas coisas. Mas por mais que achasse que tinha uma ideia do que tinha acontecido à futura rainha consorte alguma coisa nova levava-o a outra hipotese totalmente diferente.

E agora conversando com a rainha mãe saiu ainda mais surpreso com o relato dela. Era inacreditável o fato de que aquelas pessoas viviam de forma tão restrita. Não tinham liberdade e nem vontade própria. Uma vida pública que confundia com a privada. Era quase como trabalhassem 24 horas por dia sem direito a descanso, ainda mais a mercê do que os outros decidissem por eles por que sua imagem exterior dependia de bons atos e nada de impulsos. Isabela devia ter sido mesmo um grande desafio para a monarquia. Talvez ela se sentisse mais liberta se revoltando contra eles do que vivendo a seu modo. Ele a admirava por isso.

O detetive entrou para a sala e nem se espantou com a agrandiosidade do local, assim como todo o resto, aquilo não significava felicidade. Era o velho ditado: “nem tudo que reluz é ouro”. Antes de sentar na poltrona para receber os funcionários que a rainha mandava, instalou uma câmera escondida para que o rei, sua filha e Joel, que estavam no escritório pudessem acompanhar em tempo real o que estava acontecendo. Respirou fundo e esperou que pudesse ter uma luz definitiva sobre o caso nessas entrevistas de hoje.

Fez questão de organizá-la do macro para o micro. Começando pelos funcionários que eram mais afastados da duquesa e trabalhavam em funções mais gerais até chegar a Emily e James, que eram os mais próximos.

Ao todo seriam 15 entrevistados. Seria bem cansativo, não só para ele, mas para os funcionários escolhidos também. Mas essa era a sua intenção. À medida que ia entrevistando sabia que o boato ia se espalhando. Queria que James se apavorasse, que tremesse com a possibilidade do que iriam descobrir e quanto mais demorasse, mais ele ficaria nervoso.

Os primeiros entrevistados eram funcionários que trabalhavam para serviços domesticos, cuidavam da limpeza dos aposentos da duquesa e do então príncipe, e responsáveis por cuidar das roupas. Adem imaginou que se Aro tivesse querendo descobrir algo, seria através deles, essas pessoas costumavam ser quase invisíveis diante dos patrões. E realmente pôde descobrir muitas histórias curiosas sobre Isabela. Contaram sobre as desconfianças dela e como ela os fazia revirar todo o quarto em busca de escutas que não existiam. Contavam também o quanto a duquesa era delicada com eles, os tratava pelo nome e sempre perguntavam sobre suas vidas. Adem imaginou que Bella se sentia sozinha ali e queria se conectar com pessoas que a ligava com o mundo em que ela viera.

Joel escutava tudo do escritório e se comunicava com Adem pelo ponto. Via todos aqueles depoimentos e os achou inocentes. Adem concordava. Apesar de oferecerem muitos detalhes, eles não pareciam ter ligação com Aro. Como eram os primeiros no interrogatório não tinham como ter combinado muita coisa para dizer.

Os próximos foram funcionários do escritório geral. Esses pareciam mais ensaiados. Falavam com o máximo de descrição e muito formalmente. Adem tentou se atentar nas entrelinhas. Já que por mais que fizesse perguntas mais diretas, eles não caiam na isca. Sentia sim que havia uma fidelidade entre eles e Aro, mas o detetive imaginou que ela pode ter sido construída depois. Confirmou o que Esme dissera sobre a lealdade a monarquia. Eles eram mais ligados à ideia de dever com os valores que eles imaginavam que deveriam ser da realeza do que com próprio Aro. O príncipe de Volterra devia ter noção disso e alimentava essa união colocando em suas mentes que ele iria ser o símbolo da ordem e progresso da família real belgã.

Por fim, entrevistou o motorista, o advogado, o chefe de comunicações, o fotografo e relação pública de Bella, deixando Emily e James por último, como planejara antes. A secretária da duquesa entrou com o nervosismo aparente, era tudo que Adem queria, que ela pusesse os pés pelas mãos.

— Quando começou a trabalhar com a duquesa?

— Dois anos antes do falecimento dela. Ela estava renovando seus funcionários e contratando uns novos e eu entrei nesse período.

— Como era o seu relacionamento com a duquesa?

— Bom no geral. Ela era muito simpática com todos nós. Convivíamos muito com ela e isso lhe dava uma certa intimidade conosco, afinal de contas, cuidávamos da vida dela, não é? – Emily falou sorrindo. – Mas comigo sempre foi algo bem profissional.

— Que tipo de trabalho você realizava para ela?

— Eu cuidava da agenda dela pessoal e profissional. Dava algumas orientações, discutiamos os projetos dela e revisarmos discursos, apenas isso.

— E o que você achava dos projetos que a duquesa vinha realizando antes de seu falecimento?

— Eu os achava audaciosos. Ela tinha boas intenções, mas eu achava que ela se arriscava muito. A família real não pode comprar briga com o parlamento.

— Você alguma vez chegou a interferir no que ela fazia?

— Bem... Quase sempre fazia tudo que ela me pedia, mas quando a sua alteza começou a ter as suas crises... O palácio me pediu para interferir na agenda dela e nos discursos.

— Você acreditava que ela tinha razão em achar que a estavam perseguindo?

Emily cruzou as pernas e coçou levemente a mão. Adem a observava atentamente.

— Não aqui no palácio, como ela acreditava. Sim, acho que Bono queria que ela fosse silenciada. A sua alteza o desafiava bastante.

— Você chegou a desconfiar que Tom Frost era espião dos “Águias” aqui no palácio?

— Não fazia a mínima ideia. Fiquei tão chocada como todos. Na verdade, eu não tinha muito contato com ele. Seus serviços eram com a princesa.

Adem sentiu a ambiguidade na última frase. O detetive estava sentindo que Emily estava tensa e tentava ao mínimo se comprometer, por isso resolveu apertá-la ainda mais.

— Você acredita que a duquesa pode ter sido assasinada?

Emily se remexeu na cadeira e demorou alguns segundos para responder.

— Na época, eu acreditava que ela poderia estar exagerando. A duquesa estava muito estressada, acho, e isso lhe deu um surto de ansiedade. As coisas por aqui eram normais, muito tranquilas, mas ela desconfiava que estávamos contra ela. Não éramos os seus inimigos, sempre queremos o bem da família real. Agora diante de tudo que foi descoberto... Acredito que se alguém fez algo contra ela foi Bono Donnalson.

Adem coçou o queixo e refletiu sobre as últimas palavras da secretária. Mais uma vez ela desviou da pergunta, mas se esforçava para defender a equipe de quaisquer desconfianças que ele poderia ter. Curioso! Isso dava mais margem para Adem pensar a respeito. Por que ela haveria de se preocupar com o fato dele pensar que os funcionários poderiam ser suspeitos se toda a bomba caia sob Bono Donnalson?

— Estive conversando com colegas seus e fiquei curioso... Muitos deles falaram de Aro Volturi com uma certa proximidade. O que tem a dizer sobre isso?

Emily olhou para Adem com perplexidade. Ela havia sido pega de supresa, certamente.

— O que tem a sua alteza sereníssima? – Emily descruzou as pernas. – Ele não poderia estar envolvido na morte da duquesa.

— Mas não foi isso que eu afirmei.

Renesme estava captando a ideia de Adem. Emily estava nervosa o suficiente para começar a falar e ela acreditava que deveria mesmo apertá-la. Então, resolveu sugerir um palpite alto só para ver a reação dela.

— Joel, peça a Adem que diga que descobriu sobre a relação dela com James.

O policial olhou para ela surpreso, mas não parou para questioná-la.  

— Adem, diga a ela que sabe do relacionamento dela com James.

A princesa imaginou que se ela tinha se envolvido com um funcionário por que Emily também não poderia? James e ela nunca deram bandeira disso, pelo menos não em seu frente, mas se os dois estavam ligados a Aro, então, por que não?

— Me disseram também que a senhorita está em um relacionamento com James. A duquesa sabia disso?

Emily ficou tão vermelha com a afirmação do detetive que Adem achou que ela poderia estar passando mal. Ela segurou firme nos braços da cadeira e respirou fundo. Ele achou que ela não responderia, mas foi o contrário.

— O que isso pode ter haver com alguma coisa? – Adem via lágrimas nos olhos de Emily.

— Só imagino que talvez esse seja o motivo para James não ter acompanhado a duquesa no dia do acidente por que ele estava com você.

— Me desculpe, mas eu não posso mais reponder tais absurdos. James já deu o depoimento dele e é a ele que deve fazer essa pergunta.

Adem assentiu e Emily levantou-se de sulpetão.

— Só mais uma pergunta.

Emily engoliu em seco e ficou estática no mesmo lugar.

— O que estava fazendo no dia do acidente?

— Eu já disse. Estava aqui no palácio, como sempre. A duquesa me comunicou que iria ao sítio e que cancelasse seus outros compromissos. Eu estava organizando a agenda dela.

— Ok, obrigado Emily.

A secretária saiu apressada da sala. Edward olhou sorridente para a filha. Como ela era astuta! Certeza tinha puxado o melhor dele e de Bella.

— Você sabia do caso dos dois, filha?

— Não. Mas imaginei que poderia ser uma possibilidade.

— Você foi muito sagaz, parabéns!

Renesme apenas sorriu sem olhar para o rosto do pai. Pegou o celular e mandou uma mensagem para William: “Se concentre em Emily e em James. Ele vai ser interrogado agora, mas devem se encontrar depois que ele sair da sala.”. Sim, o jornalista estava de volta ao palácio. Depois do encontro que tiveram no casamento de Antony, meio que ambos levantaram a bandeira da paz. Renesme sabia que era o momento de Adem vir até lá e queria William perto dela novamente. Então, o chamou de volta para armarem um plano de como seria os interrogatórios e se concentraram nisso por uns dias.

William respondeu afirmativamente para a princesa. Para ele era um prazer estar de volta ao palácio. Não voltou a se relacionar com Renesme como antes, mas só o fato de estar perto dela novamente já lhe era um alívio.

Ele observou Emily se aproximar dele com uma cara assustada e James passar por ela com uma expressão de preocupação. Certamente Adem estava pegando pesado. William gostava do trabalho do detetive. Ele era inteligente e agia na hora certa. Era tudo que precisavam no momento.

O jornalista ficou olhando de esguelha para a secretária, mas não disse nada. Apenas continuou a escrever aminuidades em seu notebook para não levantar suspeitas que ele poderia estar observando-a.

James entrou na sala mantendo a compostura. Adem o compreendia. Ele também sabia manter a calma mesmo em momentos de tensão. Quem passara por anos de treinamento militar podia adquirir tais táticas.

 - Você já deve saber por que está aqui, não é?

— Sim, senhor.

— Ótimo. Primeiro, gostaria de saber quanto tempo você tarabalhava para a duquesa.

— Quatro anos, eu substitui o George, o ex- segurança dela. Mas antes eu já havia sido contratado um ano antes pelo palácio.

— Você sempre a acompanhava?

— Eu sei o que o senhor quer saber. Por que eu não estive com ela no dia do acidente. Já dei o meu depoimento e repito. Eu sempre estava com a duquesa, mas em compromissos oficiais. Quando ela queria privacidade, eu dava. No dia em que tudo aconteceu, ela me dispensou.

— Mas você estava ciente da regra em que estabelece que membros sêniors da família real não podem ficar sem segurança em nenhum momento, não é?

— Sim, mas eu não poderia ir contra ao pedido dela. Eu respeitava muito a sua alteza. Não achei que fosse ser perigoso para ela. A duquesa iria apenas ao encontro do pai em Seraf.

Adem assentiu e sentiu o cansasso lhe abater. Suas costas já doiam e sua paciência já estava se esgotando. James estava determinado a repetir o seu depoimento inicial. Mas a semente já tinha sido plantada. Tinha que continuar regando.

— Emily me confirmou que vocês tem um caso.

James agora saiu da compostura e começou a dar sinais de desmoronamento. Por essa afirmação ele não esperava.

— Ela lhe disse isso? Por quê?

— Você estava com ela no dia do acidente?

— Não. Nós realmente temos um relacionamento, mas isso não tem nada a ver com o caso da duquesa.

— Ela sabia?

— Não. Mas se soubesse não seria contra. A duquesa era muito afável.

— Imagino. E sobre Tom Frost? Você devia conviver muito com ele, não? Ambos eram seguranças e ele afirmou que ouviu que queriam punir a duqesa.

— O que você quer dizer com isso? Eu não tive nenhum envolvimento com Tom. Eu o conhecia sim e nos encontrávamos algumas vezes, mas ele não tinha muitas amizades. Se ele ouviu algo do tipo, eu não tenho menor ciência disso.

— Acredito. Mexeram no carro da duquesa. Cortaram os freios e o acionamento do airbag. Quem você acredita que pode ter feito isso?

— Tom com certeza. Os freios eu não sei. Mas o airbag é difícil de ser cortado. Tem que ter as ferramentas certezas e tempo para isso. Ele estava envolvido com aqueles “Águias” imbecis e fez isso.

— Ok. Por enquanto é só, James. Muito obrigado.

Adem observou o segurança sair da sala e refletiu sobre tudo que ouviu. William aguardava ansioso por qualquer agitação. Emily que estava sentada tomando água em silêncio, se levantou de repente. William esperou um pouco e a seguiu. Não muito depois ele viu James e ela entrarem num corredor e os seguiu. Ficou parado em uma certa distância e ficou ouvindo.

— Eles sabem, James. Descobriram tudo.

— Calma Emily! Não tem como saberem de nada. Estão apenas apostando alto.

— Maldita hora que eu aceitei aquele dinheiro!

— Pare Emily! Precisávamos do dinheiro.

— Desculpa James. Eu não devia ter te arrastado para isso. Eu não devia ter caído nas conversas dele. Deus! Olha o que fizemos com ela!

Os dois pararam de falar. William imaginou que eles tivessem saido do corredor, mas não. Emily estava agitada e começou a chorar. O jornalista ligou o gravador e rezou para que ela dissesse mais alguma coisa.

— Vamos manter a calma, ok? – James pediu. – Eles descobriram sobre o nosso relacionamento, mas não podem fazer nada a respeito. Não tem nada contra nós.

— Não. Vamos continuar com a história que combinamos. Tom contou aos “Águias” sobre a saída de Bella e eles cortaram os freios do carro.

— Isso. Ninguém pode saber que foi você quem cortou os ligamentos do airbag, afinal de contas, você nem sabia quais os planos dele com essa ordem, não é?

— Esqueça disso, certo? Nenhuma palavra sobre isso.

William sorriu com aquela descoberta e esperou para ver se eles falariam mais coisas, mas sentiu os passos dos dois mais próximos. Desligou o gravador e seguiu para o escritório do rei com mil pensamentos na mente. Pediu para ser anunciado e abriram as portas para ele sem demora. Renesme focou os olhos nele e sentiu que ele havia conseguido o que tanto queriam.

— Então, William? – Ela perguntou afoita.

— Está tudo aqui. – o jornalista falou enquanto balançava o celular. – Era tudo como você desconfiava, Renesme. Emily e James armaram contra a sua mãe.

Renesme se reencostou na poltrona e sentiu uma sensação ruim. Já estava desconfiada dos dois a um tempo, mas no fundo não queria estar certa. Não era possível que convivera com duas pessoas inescrupulosas e correu todo esse perigo. Não podia mesmo confiar em ninguém.

William sentou-se no sofá e colocou o áudio gravado para todos escutarem. Adem tomava nota de tudo, mesmo já tendo formado uma opinião da versão dos acontecimentos logo quando terminou o interrogatório. No final, todos ficaram muito arrasados com o que ouviram.

— Bom, era como imaginei. – Afirmou Adem. – James recebeu o dinheiro para vigiar a família e quando viu que os planos do seu mandante exigiam mais trabalho, colocou Emily para ajudá-lo. Infelizmente, não podemos ainda acusar Aro Volturi de cara. Não acho que esses dois tenham tido reais intenções de prejudicar Bella, mas vamos interrogá-los até descobrirmos tudo.

— Os dois não estavam ligados a Bono. – Joel falou com certeza. – Se estivessem, Tom saberia. Alguém que não está ligado a Donnalson os contratou. Só consigo pensar em Aro.

— Vamos ter que descobrir! Adem chame Timur e mande-os para cadeia. Não quero benevolências com nenhum dos dois. – Edward ordenou.

— Eles vão precisar ser interrogados sim, mas creio que o mandante vai tentar escapar ou fazer alguma coisa para que eles não falem. – Renesme falou. – Acho que não devemos fazer nada por enquanto e ficar alerta. Tenho uma desconfiança que não foram os “Águias” que mandaram matar Tom na cadeia.

— Concordo com a princesa. – Joel falou. – Infelizmente, o mandante vai escapar se fizermos algo. Porém, eles já devem tê-lo alertado de que estamos desconfiando de algo.

— Eles não vão fugir. – disse Adem. – Se fizerem isso darão margem para termos certeza que eles são culpados. Os dois não são burros! O certo é mandarmos alguns policiais para cá para atuarem como vigias e esperarmos o mandante agir. Qualquer ato agora será crucial para descobrirmos algo.

— Que assim seja! – Edward falou.

— Enquanto isso, Timur e eu vamos pressionar Bengt. Tenho certeza que agora o depoimento dele sai.

— Diga a ele não o acusaremos de traição e nem o puniremos com a pena de morte se ele revelar o que sabe, mesmo ele merecendo.

— É o que ofereceremos a ele, majestade.

O rei assentiu batendo uma mão na outra. Renesme respirou fundo e se sentiu pior do que estava ao descobrir que Emily e James, as pessoas mais próximas dela ainda estavam à vista para fazerem qualquer maldade mais. Ela olhou para William buscando um pouco de tranquilidade e ele devolveu a ela um olhar aliviado, afinal de contas tudo estava próximo do fim. COMENTEM MUITO!


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